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Categoria: Religiões

19 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

Asia Bibi e o crime medieval da blasfémia

Asia Bibi

Nos países onde vigoram as teocracias a vida é um detalhe banal perante os zeladores da vontade do deus autóctone. A tara não é exclusiva do islamismo onde a deriva fascista se acentua com a miséria e atraso a que a religião conduz os respectivos povos.

A violência xenófoba das teocracias do Médio Oriente recorda-nos a forma como foram tratados os mouros, em Portugal, nos reinados de D. Afonso Henriques a D. Afonso III, e os judeus até à sua quase extinção.

Cristãos, judeus, livres-pensadores e todos os que não acreditem em Alá e no seu único Profeta, não façam jejum no Ramadão, não rezem cinco orações diárias, não contribuam com as esmolas e, se puderem, não forem a Meca, terão sempre  a vida em perigo, para além de terem de comer, beber e vestir-se de acordo com as indicações que o arcanjo Gabriel ditou, em árabe, ao condutor de camelos, entre Medina e Meca.

Não esqueçamos que a liberdade religiosa só foi aceite pela Igreja católica no início da década de sessenta do século passado, no Concílio Vaticano II, liberdade que o actual pontífice suporta com visível azedume e que começou, de facto, com a Paz de Vestfália, que pôs termo à Guerra dos Trinta Anos, em 1648.

Em Portugal, a blasfémia ainda hoje é punível, por lei, apesar de ninguém admitir que um conceito medieval, que permanece no Código Penal, se sobreponha à liberdade de expressão.

Tal não acontece no Paquistão onde Asia Bibi (na foto), foi impedida de tirar água de um poço por ser infiel, designação que os cristãos mais trogloditas também usam para os crentes das outras religiões.

Sendo Asia Bibi católica, condição que afirmou, logo foi vítima de agressões até acabar por ser condenada à morte por enforcamento, pena que a descrença em Maomé justifica em países onde a lei do deus deles se sobrepõe à liberdade religiosa que só a laicidade dos países civilizados defende.

A eventual execução da católica Asia Bibi não é apenas mais uma morte por sectarismo religioso, é a negação da liberdade, a manutenção da barbárie e a prova da incapacidade mundial para defender os direitos, liberdades e garantias que a Declaração Universal dos Direitos do Homem consagra.

A eventual execução de Asia Bibi é um crime que envergonha o mundo e pesará sobre todos nós.

18 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

A Noruega e as mesquitas

Se há conquista de que a Europa se possa orgulhar é a da liberdade religiosa, liberdade que inclui o direito de ter ou não ter religião e a de renegar ou combater qualquer crença pelos meios que pautam as democracias.

Esta conquista deve-se à repressão política sobre o clero e não à vontade das diversas religiões. O secularismo tornou obsoletos os livros ditos sagrados e fez da Declaração Universal dos Direitos do Homem a referência para a acção dos cidadãos que defendem o pluralismo e o livre-pensamento.

Apesar do carácter totalitário e do proselitismo das religiões do livro, hoje com peculiar agressividade do islamismo, apesar da marca xenófoba, racista, violenta, homofóbica e vingativa do deus do Antigo Testamento, onde os três monoteísmos se inspiram, a Europa garante aos crentes – como deve –, a liberdade das suas práticas religiosas.

Talvez tenha sido frouxa na pedagogia contra crenças que põem em perigo a civilização e na vigilância a que deve submeter as homilias que incitam ao ódio e à violência.

Quanto mais tarde os dirigentes políticos acordarem para a prevenção do ódio que lavra entre comunidades religiosas, usando o multiculturalismo como álibi para a passividade, mais difíceis se tornam a inclusão pacífica e a democracia.

Para além das crenças cujo limite deve ser encontrado no respeito pelas leis dos países democráticos, deparamo-nos com o financiamento do proselitismo religioso por países onde é imposta a vontade única do deus autóctone, interpretada pelo clero ou dignitários que detêm o poder.

A Arábia Saudita, onde a tortura, a mutilação, a lapidação, a humilhação da mulher e outras manifestações de barbárie são práticas correntes, para agradar ao profeta que se habituaram a respeitar, é hoje um país de onde saem enormes quantidades de dinheiro para subsidiar a  fé e o terrorismo.

A Noruega, onde os investimentos de determinada dimensão têm de ser autorizados pelo Governo, acaba de dar à Europa uma lição exemplar, ao recusar dezenas de milhões de euros do Governo saudita e de doadores ricos para financiarem a construção de mesquitas, apesar de legalmente aceitável.

O ministro dos Negócios Estrangeiros norueguês não se limitou a recusar a aprovação do financiamento e respondeu ao Centro Islâmico Tawfiiq que seria «paradoxal e contra natura aceitar o financiamento vindo de um país que não aceita a liberdade religiosa».

É este exemplo de dignidade e coerência que se exige de todos os países democráticos para com aqueles onde o estabelecimento de qualquer comunidade diferente da oficial é considerado crime. As ideologias que impedem a concorrência devem ser consideradas totalitárias e  fascistas os países que as impõem.

18 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

Pio IX, a ICAR e o anti-semitismo

Quando João Paulo II adjudicou um milagre para o seu antecessor Pio IX julguei que era um acto gratuito de quem tem a santidade como estado civil e profissão. Não me ocorreu que o anti-semitismo que levou a Igreja católica a matar judeus ao longo da História atingisse tal esplendor com Pio IX.

Pio IX não foi apenas o escriba de pérolas que envergonham uma pessoa de bem,  v. g., a encíclica Quanta Cura e o Sillabus, o Papa que decretou a sua própria infalibilidade e que, com outro dogma, restituiu a virgindade a Maria. Este pontífice foi o pai do anti-semitismo moderno, sendo a mais retrógrada das personalidades do século XIX.

Em 1871 declarou que os Judeus, ao repudiarem o cristianismo, se haviam transformado em cães e que «temos hoje em Roma, infelizmente, demasiados desses cães. E ouvimo-los ladrar em todas as ruas, e andando por aí a incomodar as pessoas em toda a parte».

Este pontífice que perseguiu os judeus de forma tão apaixonada como os talibãs actuais, recusou-se a devolver aos pais uma criança judia raptada por um inquisidor… porque, entretanto, a tinha baptizado. A criança chamou-se Edgardo Mortara.

Como ateu não me permito chamar a Pio IX o que ele chamou aos judeus, mas entendo onde foram buscar o vocabulário os beatos que, intoxicados em hóstias, vêm aqui bolçar impropérios no Diário Ateísta, a fazer ameaças e a insultar o livre pensamento.

São dignos uns dos outros.

17 de Novembro, 2010 Eduardo Patriota

Morto na guerra entre religiões no Brasil

A guerra santa está declarada também no Brasil. Desta vez, três membros da igreja Deus é Amor estavam em um local conhecido como Morro de Sapucaia (Sapucaia do Sul – RS), fazendo orações, quando viram um grupo de cinco umbandistas acendendo velas. Dois evangélicos foram em direção ao grupo de umbanda para, segundo a polícia, repreendê-los.

Qual é o problema de acender velas, eu não sei. Mas os umbandistas não gostaram muito. Houve discussão, e um dos membros da igreja acabou sendo esfaqueado no pescoço e morreu no local. Um outro foi esfaqueado no abdômen, virilha e na perna. Ele foi submetido a uma cirurgia e está internado em um hospital da região.

Talvez isso tenha sido uma represália, ainda que tardia, do episódio ocorrido em 2008 na Rua Bento Lisboa, no Catete, Zona Sul do Rio de Janeiro. Na ocasião, diversos evangélicos entraram num centro espírita e destruíram diversas imagens de santos alegando que aquilo era coisa do demônio.

16 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

Sindicato da oração com sede em Faro

Bispo apela a reza pelos desempregados da Groundforce

O bispo do Algarve, D. Manuel Quintas,pediu aos cristãos algarvios que rezassem pelos 366 trabalhadores da ‘Groundforce’, afirmando que a igreja está próxima das suas lutas e reivindicações

No encerramento do Lausperence Diocesano, na noite desta sexta-feira, o bispo pediu aos cristãos para incluirem na sua oração os trabalhadores despedidos esta quarta-feira.
(…)
Os algarvios estavam reunidos na oração ao Santíssimo Sacramento que decorreu nos últimos quinze dias para pedir vocações para o Algarve.

Nota: Os dramas sociais servem para estimular as maratonas de ave-marias.

15 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

O LIVRE-ARBÍTRIO

Por

José Moreira

Quando acontece uma catástrofe natural – um violento e mortífero terramoto, por exemplo – é vulgar que alguns ateus, algumas vezes em jeito de provocação, perguntem aos crentes: “onde está o seu Deus?” tentando, dessa forma, argumentar que se Deus existisse e amasse os chamados “seus filhos”, certamente não permitiria que eles morressem daquela forma. As contra-argumentações dos crentes podem variar de estilo, mas a ideia permanece: Deus não interfere com o que se passa na Terra, pois deu-nos o “livre-arbítrio”, embora não se consiga perceber o que tem o “livre-arbítrio” a ver com os terramotos.

Alguns crentes, mais evoluídos e mais cultos, asseguram que os terramotos são causados pela extracção de petróleo, o que é aceitável, porque esta coisa de mexer nas entranhas da terra há-de ter os seus custos. O que me leva a ter inveja de quem viveu até 1846, data em que foi instalado o primeiro poço de petróleo moderno. Mas também me leva a suspeitar de que em 1755 já alguém andava a escarafunchar o planeta… Mas não vamos por aí…

A maioria dos crentes entende que o “livre-arbítrio” é a faculdade de escolhermos entre o Bem e o Mal. É uma visão convenientemente redutora, mas não é verdadeira. O livre-arbítrio é, segundo o Dicionário da Porto-Editora, “o poder de escolher ou não escolher um acto ou uma atitude, quando não temos razão para nos inclinarmos mais para um lado do que para o outro.” Por outras palavras, é o poder de decidirmos o que nos der na real gana.
Se perguntarmos a um ateu e a um crente aonde é que vão passar férias no próximo ano, as respostas, diferentes e prováveis, serão: Ateu – “ainda não decidi”; “estou a hesitar entre as Seychelles e a Costa da Caparica”; “depende das «massas» ”. Crente – “Deus sabe se lá chegarei”; “sei lá, Deus é que sabe”; “olhe, vou para onde Deus quiser”. Ou seja: quem, verdadeiramente, tem o “livre-arbítrio” é o ateu, e não o crente. Porque o crente pensará, sempre, que a sua decisão dependerá, inevitavelmente, da vontade de Deus; enquanto o ateu estará, quando muito, dependente do dinheiro, da concordância da sogra, ou de outros percalços perfeitamente terrenos e, quase sempre resolúveis. Mas sempre com hipóteses alternativas, que o ateu pode escolher a seu bel-prazer.

De acordo com as crenças religiosas, Deus sabe tudo. Ou seja, também sabe aonde o crente vai passar as férias no próximo ano. O crente ainda não sabe, mas “Deus é que sabe”. Ou seja: o crente pode correr e saltar, que tudo o que fizer para passar as férias – pedir dinheiro emprestado, consultar mapas, escolher a roupa para levar – vai conduzi-lo, inevitavelmente… ao lugar que “Deus é que sabe”. Porque é para aí que vai, queira ou não, e por muito que pense que planeou sozinho. Ele apenas se limitou a cumprir os “desígnios de Deus”.

Livre-arbítrio, isto?

14 de Novembro, 2010 Carlos Esperança

A religião como veículo do ódio (2)

O antijudaísmo cristão lançou os alicerces do anti-semitismo racial e genocida ao estigmatizar não só o judaísmo, mas também os próprios judeus como alvo do opróbrio e do desprezo. Assim, as teorias nazis encontraram um solo fértil para plantar o horror de uma tentativa de genocídio sem precedentes.

Conferência Católica dos Estados Unidos, Catholic Teaching
on the Shoah
: Implementing the Holy See’s «We Remember» (2001)