3 de Dezembro, 2010 Carlos Esperança
Deus e os crentes no mercado da fé
Deus é a explicação por defeito para todas as angústias, a mezinha que substitui os chás e evita os calmantes, o placebo a que se agarram todos os crédulos em horas de aflição.
Sabe-se que os livros sagrados foram reescritos e alterados ao longo da história para que as histórias se tornassem mais verosímeis e que as mentiras e crueldades estão a ser mitigadas por especialistas encartados, para as explicarem de forma a torná-las menos detestáveis. Os alquimistas das ideias chamam-se teólogos e os charlatães da fé são os sacerdotes.
Ninguém se são juízo e razoável bondade aceita a discriminação da mulher, mas todas as religiões, sem excepção (que eu saiba), sofrem do espírito misógino que torna os livros sagrados afrontosos e os dignitários religiosos hediondos.
O pecado original ou o direito de vender as filhas como escravas, forjados pelo Antigo Testamento, são afloramentos do pensamento tribal da Idade do Bronze e reflexos do carácter patriarcal das tribos. Mas quando se sabe que, ainda hoje, as religiões mantêm como verdades divinas as tolices humanas, devemos reivindicar a igualdade de género como condição civilizacional. E se o deus dos crentes ficar muito zangado é com ele. Que temos nós a ver com os humores divinos? Esse peditório já devia ter sido extinto.
Quando é que um Papa, Aiatola, Arcebispo de Cantuária ou Rabino supremo de Israel se pronunciou a favor da igualdade de género e admitiu que havia mentiras nos livros sagrados ou loucura no deus de cada um?
Enquanto não pedirem perdão às mulheres, pelas humilhações a que ainda as sujeitam, os líderes das religiões não merecem o respeito das pessoas de bem. Nem o deus que os nutre à custa da crença dos simples e da cobiça dos embusteiros da fé.