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Categoria: Religiões

26 de Setembro, 2012 Carlos Esperança

A ICAR está cada vez mais obsoleta

A ICAR, incapaz de inovar, para manter fiel a clientela, acaba por regressar aos velhos truques numa sociedade alfabetizada. Os milagres muito batidos, o aparecimento da Virgem (a obsessão pela virgindade é esquizofrénica) a uns pobres de espírito a quem transmite recados do seu divino filho, visitas do Cristo, ele próprio, a uns inocentes a quem faz pedidos patetas e um ror de prodígios capaz de adormecer crianças e imbecilizar adultos, são os truques em que reincide para manter a quota de mercado e alargar a base de apoio.

Nem ao menos se lembra de encomendar hóstias com sabores às pastelarias diocesanas, perfumar a água benta com aromas testados à saída da missa pela pituitária dos devotos, temperar a água com que batiza as crianças, evitando o choro e o resfriado, ou inovar a música e ultrapassar o cantochão. Até os chocalhos que anunciam a passagem da hóstia pelo sacrário estão desafinados e distorcem o som com o verdete acumulado.

Bem sei que o passado pouco recomendável de muitos papas, bispos e padres não ajuda à propagação da fé e à frequência do culto. O livro de referência – a Bíblia – tão arcaico e cruel, tão cheio de incoerências e maldições, não ajuda o prestígio de Deus, acusado de ser o seu autor.

Que resta, pois, à ICAR, perdido o medo do inferno, desinteressados homens e mulheres do destino da alma, incapaz de conter o consumo de carne de porco à sexta-feira, sem clientes para as bulas e com o dízimo caído em desuso?

Cada vez se encontra em maiores dificuldades para introduzir no código penal o pecado como crime. Não consegue para os pecados veniais uma simples coima nem para os mortais uma pena de prisão. A blasfémia é ignorada em juízo, o divórcio é facilitado e o adultério deixou de interessar o Estado. Apenas o aborto consegue ainda, em países de forte poder clerical, devassar a vida íntima das mulheres e submetê-las ao vexame de um julgamento e ao opróbrio da prisão. Mesmo a apostasia, que é para os pios doutores da ICAR, uma ofensa imperdoável, é uma prática corrente e um direito inalienável.

Assim, resta à ICAR vociferar contra o preservativo, atirar-se à pílula como São Tiago aos mouros e execrar a investigação em células estaminais. Já poucos lhe ligam quando apostrofa a eutanásia, afronta a proibição do ensino da religião nas escolas do Estado ou injuria os casamentos homossexuais.

Os padres vão enegrecer ao fumo das velas, abandonados pelos crentes, proibidos de ter uma companheira que lhes alivie a solidão, enquanto os bispos e o papa satisfazem o narcisismo com a riqueza e o colorido dos paramentos. Acabam por descrer da virtude da Igreja, da bondade do seu Deus e a renunciar à salvação da alma.

25 de Setembro, 2012 Carlos Esperança

É preciso topete

O secretário de Estado do Vaticano vai receber esta terça-feira o prémio internacional ‘Conde de Barcelona’ das mãos do rei de Espanha, num reconhecimento à sua ação pessoal e ao empenho da Igreja nos países afetados pela crise.

O galardão, na sua quarta edição, distingue personalidades e instituições que se tenham destacado pelo seu contributo no mundo da comunicação e foi instituído pela fundação homónima, ligada ao jornal ‘La Vanguardia’, sob a presidência do rei Juan Carlos I.

Comentário: A Igreja católica, além de parasitar o Estado espanhol a quem fica demasiado cara, nunca deixou de interferir nos assuntos internos do País. Mas não admira que uma monarquia que o genocida Franco deixou em herança se ajoelhe perante o Vaticano.

19 de Setembro, 2012 Carlos Esperança

O islão, a violência e a fé

A fúria que ataca os crentes de uma religião não se distingue da que aflige o adepto de um clube de futebol ou o fanático de um partido político.

Cada religião considera falsa todas as outras e falso qualquer outro deus que não seja o seu – e certamente todas têm razão –, o que faz de qualquer crente um ateu em relação à religião dos outros. Aliás, o ateu só considera falsos mais uma religião e mais um deus. No fundo, todos somos ateus.

Nas sociedades democráticas não há razão para persistir um crime tão anacrónico como a blasfémia. Era pior – e mantém-se em sociedades teocráticas –, a apostasia. Hoje é um direito inalienável, tão respeitável como as crenças, as descrença ou as anti-crenças. A liberdade de expressão é um valor maior do que as idiossincrasias pessoais ou coletivas.

A civilização árabe é uma civilização fracassada e o Islão, uma cópia grosseira do cristianismo, é o lenitivo de povos desesperados e submetidos à violência tribal. Com o seu primarismo, exerce um notável efeito mimético que contaminou a Turquia, o Irão, os berberes e franjas caucasianas na Europa e nos EUA. O proselitismo cristão, contido pelas democracias, depois de sangrentas guerras religiosas e da derrota do clero, persiste nas teocracias, apoiado por uma implacável máquina de intoxicação, entrincheirada nas madraças e mesquitas, e no carácter belicista com que os crentes são acirrados.

Na estrada de Damasco onde Paulo de Tarso teve a ideia de fazer a cisão do judaísmo, globalizando o deus autóctone, de matriz hebraica, não mais circulará o cristianismo, que ele inventou, e que Constantino utilizou para cimentar o Império Romano, ainda que ele próprio, no seu íntimo, se mantivesse fiel ao mitraísmo.

Nos países árabes restam pouco mais de 15 milhões de cristãos, metade dos quais no Egito onde a vitória democrática dos Irmãos Muçulmanos augura a sua erradicação. No Iraque já houve milhão e meio de cristãos, número que baixou nos últimos 30 anos e se acentuou depois de quatro abomináveis cruzados (Bush, Blair, Aznar e Barroso) terem anuído ao pedido que Bush garantiu ter-lhe sido feito por Deus e da prova da existência das armas de destruição maciça que os dois primeiros mostraram aos dois últimos.

O alarido da rua islâmica regressa ciclicamente quer o pretexto sejam as caricaturas de Maomé, um livro de Salman Rushdie ou um filme artesanal, independentemente de quem o provoca e da origem dos interesses que podem estar ligados à geopolítica ou à luta pelo petróleo.

Seja qual for a razão, quaisquer que sejam os patifes que lhe deem origem, não se pode tolerar que as mutilações, os ataques às embaixadas, as lapidações e as decapitações prossigam, para gozo de Maomé e divertimento pio.

A civilização e a barbárie têm fronteiras que nenhum deus pode franquear e a liberdade exigências incompatíveis com os dementes que se imolam para assassinar infiéis a troco de 70 virgem e rios de mel doce. Não há ressentimentos ou pretextos que o justifiquem.