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Categoria: Religiões

26 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

A Turquia, o véu islâmico e a liberdade religiosa

Há cerca de quatro anos o único país laico do mundo muçulmano resolveu flexibilizar o uso do véu islâmico nas universidades, onde era interdito, esquecendo que por cada mulher que deseja usar tal adereço há centenas que são obrigadas.

O ocidente e, sobretudo, certa esquerda, viram no gesto um ato de liberdade religiosa e esqueceram os juízes assassinados porque tinham subscrito o acórdão que legitimava a interdição, crime que o primeiro-ministro disse compreender.

Desde então a piedade não deixou de crescer enquanto a Europa e os EUA juram que há um islamismo moderado – o da Turquia –, por oposição ao que segue o Corão.

Todos conhecemos a obsessão de Deus pela roupa feminina e a predileção pelo homem, a ponto de o ter feito primeiro, e dele, depois, uma espécie de subproduto – a mulher.

O santo doutor, Paulo de Tarso, intérprete encartado do Criador, pregou a misoginia que agradava a Deus e deliciava os homens, avaros do poder. A mulher, cuja igualdade foi reclamada por homens contaminados pelo Iluminismo e pela Revolução Francesa, e por ela própria, é ambiciosa mas a vontade divina é interpretada pela legião de profissionais que a estudam e promovem. E são os únicos com alvará para transformar a água normal em benta.

Foi a cópia grosseira e ampliada da misoginia judaico-cristã que levou os estudantes de teologia do Afeganistão à criação do ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício.

À semelhança do que já se passa na Europa, que parece esquecer a Guerra dos 30 Anos e a carnificina a que a Paz de Vestfália pôs termo, a separação do Estado e da Religião, na Turquia, é uma herança de Atatürk que vai sendo liquidada.

O uso do véu não é o alegado desejo que as mulheres islâmicas querem ver satisfeito, é um ato de liberdade que qualquer homem muçulmano quer obrigatório. Estão em causa a laicidade, a liberdade individual e, sobretudo, a igualdade de género.

O catolicismo considerava o cabelo e a voz das mulheres coisas obscenas. Maomé, mais ousado, considerou o corpo todo. É por isso que, num país que impôs o laicismo à força, se exige agora a autorização do véu que terminará na imposição da burka.

O véu islâmico não é um mero símbolo religioso, uma tradição que possa ser subvertida por um estilista, é o símbolo da humilhação da mulher, a condição imposta pelo Corão. A mulher é, como se sabe, propriedade do homem e um direito irrenunciável que agrada ao Profeta e dá imenso jeito aos homens, que dele não abdicam.

Só surpreende a cumplicidade dos países democráticos no regresso ao obscurantismo.

 

25 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

A Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado e os direitos humanos

É sempre com uma ponta de comiseração que, nos meus passeios diários, pela cidade de Coimbra, observo o Carmelo onde a Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado ou, simplesmente, Irmã Lúcia, para os amigos, passou seis décadas de intensa clausura.

Saía apenas para votar na União Nacional quando as listas eram únicas, guardada por outras freiras, e, durante a democracia, de que a Virgem nunca lhe falou, para votar não se sabe onde. A estas saídas precárias acrescentou duas idas a Fátima, para ser exibida com dois Papas de turno, Paulo VI e João Paulo II, em distantes 13 de maio.

Já antes passara cerca de 25 anos enclausurada, primeiro no Porto, desde os 14 anos, por decisão do bispo de Leiria, para ser protegida de peregrinos e curiosos, no Colégio das Doroteias, antes de professar, como doroteia, em Tui, em 1928. Regressaria a Portugal em 1946 onde estagiou para carmelita, tendo professado três anos depois nessa rigorosa Ordem. Esteve ininterruptamente enclausurada quase 84 anos, tornando-se a mais antiga prisioneira do mundo.

Penso que a renúncia à liberdade é um direito da própria liberdade que, se Lúcia o fez de livre vontade, não merece qualquer reparo. Todavia, se foi coagida, houve da parte do Estado português um atentado, por omissão, não lhe garantindo direitos, liberdades e garantias que a Constituição consagra a todos os cidadãos portugueses.

O facto de estar convencida de que Salazar foi enviado pela Providência para governar Portugal, segundo confidenciou ao cardeal Cerejeira, que, por sua vez, o transmitiu ao ditador, leva à presunção de que precisaria de uma consulta médica especializada. Mais do que o prurido da sarna que a atormentou, as conversas com Cristo, em Tui, e a visita ao Inferno, posteriormente abolido sem efeitos retroativos, indiciam confusões mentais à espera de um acompanhamento médico. E o Estado não cumpriu o seu dever para com uma cidadã que já em criança via, enquanto guardava cabras, uma Virgem a saltitar de azinheira em azinheira e a pedir-lhe para rezar pela conversão da Rússia.

Dos três pastorinhos de que o clero se serviu, primeiro contra a República, e contra o comunismo, depois, a Irmã Lúcia foi a única que viu e ouviu a Senhora de Fátima, já que a Jacinta só ouvia e não via, e o Francisco não via nem ouvia. Esta singularidade merecia que o Estado a não tivesse abandonado e lhe levasse o apoio médico de que carecia. Nunca saberemos se Lúcia suportou de motu proprio o mais longo cativeiro de que há memória ou se foi vítima de cárcere privado para propaganda religiosa.

A liberdade é um bem que não pode ser deixado ao poder discricionário de quaisquer instituições privadas nem ao capricho exótico de um deus qualquer.

23 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

A santa estava de férias

Mau tempo força a retirada de fiéis do Santuário de Lourdes

Vinte províncias espanholas estão, desde este sábado, em alerta máximo devido ao mau tempo.

No entanto, não é só o país vizinho que está a ser afectado por chuvas torrenciais. Em Lourdes, no sudoeste francês, a precipitação elevada causou inundações, o que levou à retirada de peregrinos do famoso Santuário de Nossa Senhora de Lourdes.

O rio Gave transbordou, o que acabou também por inundar a célebre gruta local.

Comentário: Nem a santa lhes valeu!

19 de Outubro, 2012 Ricardo Alves

Uma corajosa e necessária denúncia das perseguições à ICAR no Portugal do século 21

Enquanto defensor da liberdade religiosa, não posso deixar de assinalar a publicação desta pasta de papel que denuncia as perseguições a que está sujeita a igreja católica no Portugal contemporâneo, perseguições essas que são piores – mas muito piores – do que aquelas a que foram sujeitos os judeus no Portugal do século 16. É portanto particularmente significativo o título escolhido: hoje, os católicos são quinzenalmente queimados na praça do Rossio, mortos nas ruas por turbas furiosas (o livro foi apresentado num edifício do Largo de S. Domingos, onde começou o pogrome de 1506) e, no mínimo, despedidos dos seus empregos (o livro foi apresentado por Manuel Braga da Cruz, reitor da Católica). O entrevistado é conhecido por não publicar nos jornais os seus pontos de vista ultraconservadorese a entrevistadora, bem, é a Zita Seabra.

Deixo-vos com um excerto do livro: capítulos como «Os católicos: uma espécie em extinção?» e «Opus Dei: uma controversa obra de Deus?» permitem formar uma opinião sobre o realismo e a imparcialidade desta denúncia da «nova inquisição».

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

18 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

Vaticano igual a si mesmo

O patriarca de Moscovo disse hoje que o papa  Bento XVI apoiou a igreja ortodoxa russa na condenação do grupo “Pussy Riot”  por este ter interpretado uma “oração” anti Putin no principal templo ortodoxo  da capital da Rússia.

Nota: Curiosamente não se ouviu ao Papa, nem ao patriarca de Moscovo, nem ao grande rabino de Jerusalém, qualquer condenação da fatwa contra Salman Rushdie . Quando se trata de combater a liberdade, unem-se.

14 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

Igreja católica recusa pagar IMI

Por

E – Pá

A Igreja Católica não aceita que os templos e os edifícios destinados à formação e à pastoral paguem Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI). O CM sabe que Vítor Gaspar tentou acabar com essas isenções, mas esbarrou na Concordata, acordo em que Igreja não quer voltar a mexer”. “A Concordata é um tratado internacional que tem de ser cumprido”, disse ao CM o padre Manuel Morujão, porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa. link.

Confrontar esta posição com as recentes declarações do cardeal patriarca – “Não se resolve nada contestando, vindo para grandes manifestações” link – mostra até que ponto a Igreja é uma instituição assustadoramente hipócrita e que, nestes tempos de austeridade, resolveu definitivamente tornar-se cúmplice da selvática espoliação que o Governo pretende – no OE2013 – efectuar aos portugueses. Para memória futura.

De facto, o artº 26 da Concordata de 2004 link é um longo ‘rosário’ de isenções fiscais cheio de armadilhas onde se explicita o âmbito geral, regional ou local. Um pormenor: apesar de não ter sido efectuada a Regionalização do País, esta, ‘à cause des mouches’,  cautelarmente, já  consta do rol de isenções… (futuras!).

Uma intolerável situação de privilégio e de discriminação já tinha sido constatada pelo Governo no levantamento da situação de Fundações. Verificou então que as situações das Fundações religiosas estão acauteladas – artº. 26, 3., c., da Concoradata de 2004).

Resta saber como pretende a Igreja encaixar o problema das Misericórdias que se apressou – segundo deduzimos – a ‘negociar’ com Vítor Gaspar no silêncio dos gabinetes. Estas veneráveis instituições que transitaram para o regime (fiscal) que regula as IPSS, sob a forma de ‘Irmandades’ (onde recentemente ouvimos esta designação?).

Quanto ao IMI – um dos impostos que têm alimentado parte substancial da contestação social que o patriarca verbera – estas IPSS tem o pedido de isenção condicionado ‘ao ano em que se constitua o direito de propriedade’ (em favor das Misericórdias). Simples, barato e dá milhões! …

Para haver uma noção da amplitude destas isenções basta termos em conta que a Misericórdia do Porto é a maior “senhoria” da cidade link sendo o seu património imobiliário de valor ‘incalculável’. De facto, depois de, pela rama, conhecermos estes meandros (outros haverá na escala nacional) de que fala e o que pensa a Igreja quando prega equidade na distribuição dos sacrifícios?

Pergunta necessária:

Partindo do princípio que a sacrossanta ‘Concordata’ funciona como um tratado internacional (Portugal/Vaticano) e cuja denúncia será, no contexto político actual, irrealista, não tem o Governo capacidade para alterar unilateralmente a legislação sobre o regime jurídico e fiscal das IPSS cujo estatuto foi aprovado pelo Decreto-Lei nº 11/83, de 25 de Fevereiro?

Bem, se o Governo tivesse, em nome da justiça e da equidade fiscal, a ousadia de alterar o actual estatuto das IPSS, cuja competência parece inquestionável, provavelmente, o senhor cardeal Policarpo pensaria doutra maneira e rapidamente estaria a promover e abençoar as contestações de rua. Na verdade, a Igreja, no passado recente, já enveredou por este caminho. Todos nos recordamos das manifestações de 1975 contra o ‘gonçalvismo’, a pretexto da RR e a liberdade religiosa…’piedosamente‘ promovidas pela ICAR.

Deste modo e concluindo o purpúreo cardeal, dirigente da CEP, desperdiçou uma soberana oportunidade de não insultar os portugueses…