A Turquia, o Islão e a laicidade
A Turquia era a última esperança de um país laico com religião muçulmana maioritária. Era o exemplo que os otimistas apresentavam para justificar a compatibilidade de uma religião com a democracia e do proselitismo religioso com a pluralidade de pensamento que é apanágio dos regimes democráticos.
Todos esqueceram que as democracias são recentes na história da Humanidade e que o cristianismo só foi tolerante graças à repressão política sobre o clero; que só no início da década de sessenta, do século passado, a Igreja católica reconheceu o direito à liberdade religiosa, durante o concílio Vaticano II.
A Guerra dos Trinta Anos acabou em 1648 e, só depois 3 a 11 milhões de mortos e da paz de Vestefália, houve liberdade religiosa pela primeira vez.
A Turquia tem hoje um primeiro-ministro democraticamente eleito, com a ajuda de Alá e a misericórdia de Maomé mas o desrespeito à Constituição é total.
Os conflitos em Istambul, Ancara e Esmirna, os mais violentos, são uma luta de vida ou de morte onde se confrontam as liberdades e a submissão ao Islão. A violência policial é a amostra do que são capazes os mullahs. As restrições sobre o vestuário, a comida e os afetos são o princípio do fim da laicidade.
Por ora a polícia ainda não cheira o hálito dos transeuntes para averiguar se consumiram álcool mas já adverte os namorados que desafiam a pudicícia de Maomé ao caminharem de mãos dadas. O beijo entre um homem e uma mulher, na via pública, começa a ser tão inaceitável como o presunto. A televisão do Estado ignora os milhares de feridos que os polícias fizeram, os 1700 detidos, os dois mortos e o bloqueio à Internet.
Importante é que cada vez mais turcos façam cinco orações diárias e jamais se atrevam a urinar virados para Meca, a cidade santa que recebe anualmente 13 milhões de crentes.
O Governo de Recep Tayyip Erdogan hesita, mas sabe que se perder esta batalha pode perder as delícias do Paraíso e o direito de impô-las aos que as desprezam. O mal não é de quem acredita no Paraíso, é de quem o quer impor aos outros. Na Turquia joga-se a nossa forma de viver e a liberdade de que gozamos. O rastilho do fanatismo está aceso.
El Salvador esqueceu a conquista pelos espanhóis e os doze anos sangrentos da guerra civil, dentro da Federação Centro-Americana, até à independência em 1839. Foram mais de 100.000 as vítimas que o pequeno país sacrificou à independência.
Ficou-lhe, todavia, um paradigma que deve à evangelização espanhola – um catolicismo jurássico –, que exorna o nome do país e se exacerba no da capital, São Salvador.
El Salvador anda na comunicação social de todo o mundo por causa de uma condenação à morte de uma mulher de 22 anos que os médicos se esforçam por salvar.
A jovem, portadora de lúpus, grávida de um feto anencéfalo, incompatível com a vida, não sobreviverá sem a interrupção da gravidez mas em S. Salvador a justiça proíbe que a gravidez seja interrompida por motivos terapêuticos. O Tribunal Constitucional já decidiu que «os direitos da mãe não podem prevalecer sobre os do indivíduo que vai nascer e vice-versa» e um dos juízes conselheiros, Rodolfo Gonzalez, até declarou a sua dúvida sobre a inexorabilidade da morte da jovem no caso de a gravidez prosseguir, não obstante saber que um feto, sem cérebro, não sobreviverá certamente.
Não sei o que mais indigna, se a insensibilidade cruel dos juízes ou a demência do seu preconceito religioso.
Os médicos, na sua humanidade decidiram retirar-lhe o feto inviável por cesariana pois a lei que proíbe o aborto não se pode opor à cesariana. Valerá à jovem, que já é mãe de um bebé com 1 ano, a humanidade de «médicos de alto nível» que, de acordo com a vontade da grávida, procederão à cesariana que lhe salvará a vida pondo termo ao risco e á angústia da jovem de 22 anos a quem, por prudência, se evita divulgar o nome.
Não há mitra que se erga em defesa da vida da jovem, báculo que aponte o caminho da benevolência ou sotaina que se agite perante a decisão do Tribunal. Nem em Roma há o mais leve remorso perante a vida que o preconceito sacrifica e a angústia de uma jovem que aguardaria a morte se a deontologia médica não se sobrepusesse ao anacronismo da lei e à piedosa indiferença dos juízes.
O suspeito de atacar um soldado em Paris é, à semelhança do que ocorreu em Londres, outro convertido ao islamismo que o ministro do Interior francês designou «defensor de um islamismo tradicionalista e radical», como se houvesse um islamismo diferente.
Esquecem as almas piedosas, habituadas a crer em afirmações para as quais não exigem provas, que o respeito pelas outras religiões ou pelas ideias dos não crentes não tem o mais leve acolhimento nos textos sagrados de qualquer monoteísmo, donde se conclui que o alegado apelo ao ecumenismo não passa de um golpe de marketing para disfarçar a vocação totalitária do proselitismo.
Se a Igreja não tivesse sido politicamente reprimida no Ocidente, não teria sido possível o livre-pensamento. A liberdade religiosa só foi aceite pela Igreja católica no Concílio Vaticano II, sem evitar o posterior azedume de Bento XVI e o mais absoluto repúdio da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) cujo antissemitismo demente levou à cisão com o Vaticano, que a excomungou, para voltar a ser desexcomungada por Bento XVI.
Os crentes moderados são fundamentalistas sedados ou detentores de uma fé que os leva a acreditar em dias alternados ou a desconfiar em intermitência.
O combate às crenças religiosas (não a perseguição aos crentes) é uma necessidade para evitar a detonação do ódio e dos crimes daí resultantes, porque há uma ligação evidente entre as crenças e a ação.
Como é que um islamismo moderno e não radical, se o houvesse, entenderia estas duas passagens do alcorão?
– «Ó Profeta! Combate os descrentes e os hipócritas! Sê implacável com eles. E a sua morada é o Inferno – e que péssimo destino. (9:73)
– «Ó fiéis, combatei os vossos vizinhos incrédulos para que sintam severidade em vós; e sabei que Deus está com os tementes. (9:133)
A tolerância generalizada no mundo islâmico para com os comportamentos terroristas dimana do próprio Islão que, para além do Corão, conta com a literatura dos hadiths que o excede. Basta um único exemplo para se apreciar o carácter pacífico do Islão:
«A jihad é o teu dever sob qualquer governante, seja ele ímpio ou devoto».
Muitos crentes católicos, que nunca leram o Levítico ou o Deuteronómio, ou que apenas os ignoram, ficam ressentidos com a persistência na denúncia dos crimes religiosos mas a obstinação em frases sem sentido, como «islamismo tradicionalista radical», é suicida.
São expressões politicamente corretas, mas falsas, que fomentam a condescendência com os crimes religiosos, como se a fanatização de crianças em nome da fé diferisse da preparação para integrar uma associação de malfeitores laicos.
A cumplicidade dos Governos laicos com as religiões dominantes retira argumentos à luta contra a dominação do poder e das consciências pelas religiões mais implacáveis.
Por
João Pedro Moura
Vejamos as acções bélicas imperialistas, cometidas pelos fascistas italianos e nazis alemães e as respectivas “respostas” do Vaticano:
1- 3/10/1935: invasão da Etiópia pelas tropas italianas. Um dos actos mais imperialistas e belicistas do séc. XX. Esta invasão foi pura conquista à moda antiga, a fim de que a Itália também pudesse ter um “império” e colónias, como a França e Inglaterra, suas inimigas. Nos dias seguintes a essa invasão, a imprensa italiana rejubilava com o facto e dizia que “Já temos um império!”…
O Vaticano manifestou o seu apoio, desde a mobilização, logo no dia 2, através do toque de “todos os sinos das igrejas de Roma, incluindo os de S. Pedro” (sede do Vaticano e maior igreja do mundo).
Em 12/5/1936, uma semana após a tomada de Adis-Abeba, capital etíope, Pio XI discursou nestes termos, à abertura duma exposição de imprensa católica:
“A coincidência da data entre [este dia] e [aquele] da alegria triunfal de todo um grande e bom povo para uma paz que quer ser, que pensa ser o coeficiente válido desta verdadeira paz europeia e mundial de que a própria Exposição é o claro símbolo.”
Portanto, um palavreado bacoco, que nada objecta à invasão imperialista em curso.
A cúria romana deu cerca de 500 milhões de liras para a campanha italiana na Etiópia, de Agosto de 1935 a Junho de 1936.
2- 9/4/1939: Pio XII faz uma homilia de Páscoa, 2 dias depois da invasão da Albânia pelo banditismo militarista e imperialista italiano, omitindo este nefando acto.
3- 20/4/1939: Pio XII enviou, com transmissão pessoal do núncio apostólico, Cesare Orsenigo, em Berlim, um telegrama de felicitações pelo 50º aniversário de Hitler (que desfaçatez!). Isto após a invasão da Checoslováquia e seu despedaçamento, em Março de 1939, pelas tropas nazis, que levantou um grande clamor entre os democratas europeus e provocou um toque a rebate de preparação para a guerra, por parte do Reino Unido e França.
4- Em 1/9/1939, começou oficialmente a 2ª Guerra Mundial com o ataque alemão à Polónia. Pio XII começou a receber, pouco depois, informações da própria igreja polaca, como foi o caso das religiosas do comité de socorros de Nazaré, contando-lhe as atrocidades que os nazis faziam à população civil, mas, tal pio papa nada fez para denunciar tais crueldades, oficialmente…
…Antes procurou justificar e compreender o ataque alemão dizendo que “A Polónia infelizmente tinha atraído contra ela o ataque alemão devido a certos excessos cometidos contra as populações germânicas”…
…Mas o cardeal Montini (futuro papa Paulo VI), admitiu, no início de Dezembro, que o papa Pio XII estava “plenamente instruído sobre as atrocidades que os alemães cometiam na parte da Polónia ocupada por eles”…
Em 30 de Setembro, tendo que dizer qualquer coisa, Pio XII discursou na presença do embaixador polaco no Vaticano, cardeal-patriarca e padres polacos, “exortando os polacos à aceitação cristã do sacrifício” e ao perdão das ofensas, rematando: “vós viestes, não para formular reivindicações, nem para exalar lamentações barulhentas, mas para Nos pedir (…) uma palavra de consolação e de reconforto no sofrimento.”
Pio XII nem disse nada sobre a invasão soviética do lado oriental da Polónia, desencadeada em 17 de Setembro, pois que esta dupla invasão, alemã e soviética, havia sido acordada no Pacto Germano-Soviético de 23 de Agosto de 1939, 9 dias antes da invasão alemã…
5- Acrescente-se a cumplicidade activa do Vaticano, através de associações católicas como o Instituto de S. Jerónimo e de organizações afectas à ICAR, como o Comité Internacional da Cruz Vermelha, na organização da fuga para a América do Sul por parte de criminosos nazis croatas e alemães, sobretudo, com passaportes da Cruz Vermelha…
Não foi por acaso que o nazi “monsenhor” Alois Hudal, adjunto de Pio XII, e em cooperação com o cardeal Montini (futuro papa Paulo VI), que dirigiu a operação de reciclagem e fuga de carrascos nazis, revelou no seu livro, “Römische Tagebücher. Lebensbeichte eines alten Bischofs”, (“Diário Romano. Confissões de Vida dum Velho Bispo”), de 1976:
“Agradeço ao céu por me ter aberto os olhos e dado a graça de ter podido visitar nos seus cárceres e campos tantas vítimas do pós-guerra, para os consolar, os ajudar e provê-los de falsos papéis, permitindo-lhes fugir para um país mais feliz.”
E foi assim que este facínora do Hudal safou Franz Stangl, antigo comandante dos campos de concentração de Sobibor e Treblinka, entregando-lhe um passaporte da Cruz Vermelha, sob beneplácito americano…
E mais haveria para dizer, mas chega…
… Mas a ICAR sempre colaborou com todos os Estados e poderes monárquicos, absolutistas, totalitários e repressivos com que se mancomunou, ao longo da sua história, sobretudo desde o Édito de Salónica, no ano de 380…
Já são 16 séculos de torpezas, de opressão antidemocrática, antiliberal e anticientífica.
As citações que referi neste artigo foram retiradas do melhor livro de referência, em matéria de relações entre a ICAR e Estados europeus no séc. XX:
“LE VATICAN, L`EUROPE ET LE REICH – DE LA PREMIÈRE GUERRE MONDIALE À LA GUERRE FROIDE, Annie Lacroix-Riz, Ed. Armand Colin, Paris, 1996
ADENDA
E mesmo agora, em pleno liberalismo político e social em que vivemos, mais ou menos, a ICAR continua com as suas manias conservadoras, disparatadas e opressivas:
A Igreja é contra o divórcio, contra a união de facto, contra os contraceptivos, contra o coito sem casamento (como se uma pessoa precisasse de se casar para poder fornicar…), contra a masturbação, contra o aborto (mesmo que a grávida corra risco de vida, tivesse sido violada, fosse vítima de incesto ou o feto estivesse gravemente malformado), contra a eutanásia, contra o nudismo, contra os homossexuais, contra o casamento de homossexuais, contra a investigação em células estaminais, contra o sacerdócio feminino, contra o casamento dos padres (a única Igreja do mundo que proíbe o casamento dos seus padres…) …
São também a favor da discriminação entre rapazes e raparigas nos colégios católicos, sobretudo os da Opus Dei e Companhia de Jesus, pois que, não só, não admitem turmas mistas, como também não admitem sequer turmas de sexos diferentes na mesma escola, contrariando a livre convivência entre pessoas, mais do que entre sexos.
Acrescente-se a mania obsessiva da obrigação de usar fardeta, por parte dos alunos desses colégios, uniformizando-os, em atitude própria de maníacos da unicidade e do dogma, violando, opressivamente, a individualidade de cada aluno e o seu livre uso de roupas.
E fazem isto tudo, não porque se queiram aureolar de impolutos, sexualmente falando, mas sim porque têm uma mente e uma doutrina obcecadas com sexo, doentiamente obcecadas, por mais contrários ao mesmo que se aparentem mostrar.
São tarados sexuais.
Só assim é que se compreende a tamanha quantidade de padres que, apesar do voto tresloucado, estúpido e antinatural da castidade, que tiveram que fazer, aparecem em inúmeros casos de fornicação, homossexualidade e pedofilia. Não é um, mas sim 3 “pecados”!
Apelo aos católicos, que lêem este Diário de Uns Ateus, para que reflictam seriamente sobre a doutrina e história da Igreja Católica e que deixem o… catolicismo…
Com a ajuda deste Diário, o resto virá depois.
Depois do papel higiénico, dos medicamentos e de alguns bens alimentares, a escassez de produtos atinge agora o vinho e a farinha para fazer hóstias, duas coisas necessárias à realização das missas. Quem o diz é a própria Igreja da Venezuela.
Um documento de 1942 sobre a absoluta cumplicidade da Igreja católica com o marechal Pétain.
Nenhum menino nasce assassino mas quando um deus, na sua divina demência, pregada nas mesquitas e madraças, desde a infância, lhe transmite o ódio de que só a xenofobia é capaz, pode surgir o monstro que degola um desprevenido soldado londrino.
«Juramos por Alá, o todo poderoso, que nunca deixaremos de vos combater».
À solta continuam os pregadores do ódio, a corja imensa de parasitas de deus capaz de semear a morte e a tortura em nome de uma esquizofrenia que goza de complacência por se chamar religião.
Advogado condenado por ofensas ao Santuário
Para fundamentar a condenação, o tribunal considerou que as declarações do arguido foram “ofensivas”, punham em causa a e foram proferidas de “forma livre e deliberada”, e sem mostrar “qualquer arrependimento”.
Recorde-se que as declarações de Cândido Oliveira contra o Santuário de Fátima e a Igreja Católica surgiram numa contestação no âmbito de um processo movido contra a Câmara de Ourém em que o Santuário reclama a posse de uma parcela de terreno em Fátima, que o município diz ser do domínio público.
No documento, Cândido Oliveira teceu várias considerações sobre o santuário, acusando-o de “ganância desmedida, ocupando tudo de borla e deixando as pessoas na miséria”.
Diário de uns Ateus – Não se impede o direito de defesa do que a ICAR considera os seus direitos mas causa perplexidade a criminalização das ofensas à “doutrina defendida pela igreja”. O Santo Ofício não está de regresso.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.