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Categoria: Religiões

2 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

A Virgem Maria_1

A Virgem Maria, farta das companhias e do Céu, onde subiu em corpo e alma, aborrecida do silêncio e da disciplina, cansada de quase vinte séculos de ociosidade e virtude, esgueira-se às vezes pela porta das traseiras e desce à Terra.

Traz a ladainha do costume, a promoção do terço de que é mensageira e ameaças aos inocentes. Poisa em árvores de pequeno porte, sobe aos montes de altitude moderada e atreve-se em grutas, pouco recomendáveis para a virgindade e o reumatismo, sempre com o objetivo de promover a fé e os bons costumes,  de abominar o comunismo e anatematizar os pecados do mundo.

A receita é sempre a mesma: rezar, rezar muito, rezar sempre, que, enquanto se reza não se peca. Não ajuda a humanidade mas beneficia o destino da alma e faz a profilaxia das perpétuas penas que aos infiéis são reservadas no Inferno.

Surpreende que, sendo tão vasto o mundo, a Virgem Maria só conheça os caminhos dos seus devotos e abandone os que adoram um Deus errado e desprezam o seu divino filho que veio ao mundo para salvar toda a gente.

Fica-se pela Europa, em zonas não contaminadas pela Reforma, aventura-se na América Latina, eventualmente visita a África e nunca mais voltou a Nazaré e àqueles sítios onde suportou os maus humores do seu divino filho e as desconfianças do marido. Ficando-lhe as viagens de graça, por não precisar de reabastecer o combustível, não se percebe que não volte aos sítios da infância, não vá em peregrinação ao Gólgota, não deambule pela Palestina e advirta aqueles chalados de que o bruto e ignorante Maomé é uma desgraça que se espalhou pela zona como outrora a peste, que a única e clara verdade é o mistério da Santíssima Trindade.

Por ter hora marcada ou para não se deixar seduzir pelas tentações do mundo, a virgem Maria regressa ao Céu, depois de exibir uns truques e arengar uns conselhos, sem dar tempo que alguém de são juízo a interrogue, lhe pergunte pela saúde do marido e do menino e lhe mande beijos para os anjos e abraços aos bem-aventurados.

Um dia a Virgem Maria, com mais tempo e autonomia de voo, encontra um ateu e fica à conversa. Há de arrepender-se dos sustos que prega, das mentiras que divulga e chegar à conclusão de que o terço faz mal às pessoas, estimula o ódio às outras religiões e agrava as tendinites aos fregueses.

28 de Julho, 2013 Carlos Esperança

EGIPTO: Reflexões sobre o golpe de 3 de Julho…

Por

E – Pá

 Anteontem, novos e violentos confrontos assolaram o Egipto provocando muitas vítimas e lançando o País numa perturbadora confusão que se intensificou desde que um golpe militar interrompeu mais uma ‘deriva islâmica’ no Norte de África. link

Independentemente de aspectos formais relativos à ‘normal’ eleição deMorsi, enquanto candidato da Irmandade Muçulmana pelo Partido Justiça e Liberdade e que revelaram, mais uma vez e cedo, a capacidade de perverter à posteriori a essência democrática que procura a sua legitimação no voto e num programa político o que o processo em curso nos revelou foi o início de uma deriva para um ‘regime islâmico’ (onde a Democracia é a primeira das vítimas).

O exercício que se impõe fazer é compreender o que parecendo comezinho poderá estar por detrás da actual situação a influenciar os mais recentes acontecimentos.

Na verdade, a Irmandade Muçulmana apareceu ‘suavemente’ na ‘revolta egípcia’ que depôs Mubarak pretenso ‘sucessor’ do pan-arabismo Baas que inspirou Nasser. A queda de Mubarak que ficou a dever-se às manifestações de revolta públicas, aparentemente sem nítida direcção política, mas poderosas e impressionantes no capítulo da potencialidade de movimentação política. Concomitantemente, o vitorioso desfecho da rua provocou profundas dissensões no aparelho militar que não conseguiu impor aos ‘revoltosos da praça de Tharir‘ uma solução congeminada entre os altos comandos e o deposto Mubarak – o Conselho Supremo das Forças Armadas.

De facto, as Forças Armadas, ‘obrigadas’ pelas circunstâncias a alinhar num projecto complexo e confuso de democratização do Egipto ficaram, depois do último acto eleitoral ganho por Mohamed Morsi, numa posição desconfortável. E cedo começaram as intrigas, as retaliações e as movimentações contra a estrutura militar dirigente e contra os tribunais.

A Irmandade Muçulmana terá a nítida percepção de que precisa de começar por domesticar para depois ‘comandar’ – segundo as suas leis – o maior exército de África (muito próximo do meio milhão de efectivos). A acção política visível da Irmandade Muçulmana assenta no largo conceito de ‘assistencialismo islâmico’ que é suportado pela manutenção e desenvolvimento de uma intrincada rede de assistência social, educativa e sanitária aparentemente ‘neutra’ mas politicamente comandada por princípios religiosos (inflexíveis e dogmáticos) que não demoram muito tempo a revelar-se. Esta ‘rede assistencialista’, enquanto a Irmandade esteve interdita de actuar na sociedade egípcia (tempo de Mubarak e antecessores), foi sub-repticiamente ganhando força (conseguiram como ‘independentes’ 20% dos votos nas eleições de 2005) e esta organização cresceu (e sobreviveu) à custa de dinheiros árabes e dos seus militantes tornado possível cobrir – na clandestinidade – uma significativa parcela da população (provavelmente muito acima dos 20% eleitoralmente revelados em 2005).

A extensão dessa rede dando-lhe uma dimensão nacional e um estatuto universalista necessário para ‘sossegar’ os fiéis islâmicos (crentes na providência divina) e outros (coptas, p. exemplo) arrasta consigo sérios problemas de sustentabilidade financeira.

E, então, coloca-se uma questão crucial: onde arranjar esse dinheiro?

– Obviamente que a ‘solução’ passa pelas Forças Armadas egípcias.

Esta imensa corporação domina vastas e estratégicas áreas económicas como foi recentemente revelado pela Wikileaks. São um exemplo único de um ‘Exército/Empresa’ capaz de ‘representar’ cerca de 50% do PIB egípcio. Trata-se de uma enorme holding fortemente armada. Estas ‘qualidades’ colocaram as Forças Armadas na mira da Irmandade Muçulmana tornando indispensável o seu controlo para sustentar, financiar e levar a bom porto a acção político-religiosa.

Resumindo: a Irmandade Muçulmana já vencedora no campo eleitoral aparece interessada no controlo hegemónico da economia egípcia instrumento necessário para financiar as suas políticas. As Forças Armadas tratando-se de um grande empório económico não se deixam expropriar porque ficam sem garantias quanto à sobrevivência e à manutenção do status quo (privilégios e mordomias) da corporação militar.

Daí o golpe de 3 de Julho que aparece à luz do dia apoiado por forças estranhas a este diferendos primários: a oposição liberal e laica, onde a heterogeneidade campeia.

O desfecho é, também, previsível: Num país maioritariamente islâmico (sunita) um dia haverá um acordo, uma partilha que encaixe no mesmo barco as Forças Armadas e os movimentos islâmicos que se acoitaram na sombra da Irmandade.

E quem será excluído?

– Os liberais e as correntes laicas que agora aparecem ao lado dos militares sem controlar os seus desígnios.

A História tem destas particularidades. Nem sempre os lutadores, uma vez vitoriosos, conseguem distribuir a vitória por todos e permanecer no terreno a liderar as mudanças qualitativas que protagonizaram.

Há sempre ‘alguém’ que, apesar de gostar de actuar na sombra, aparece a apropriar-se, a expropriar… a (re)tirar dividendos.

23 de Julho, 2013 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_23_07_2013

João César das Neves (JCN) na homilia desta segunda-feira, certamente sobrecarregado de pecados, regressou aos temas da moral da sua Igreja e à interpretação da vontade do Deus do Papa Francisco, embora desconheça a interpretação do atual mandatário.

JCN aponta o ano de 2006 como a data em que Portugal foi conduzido «ao extremo desmiolado na regulamentação familiar», dando como exemplos «a lei da reprodução artificial», seguida da «banalização do divórcio», «educação sexual laxista» e, rangendo os dentes, as leis do «casamento entre pessoas do mesmo sexo» e a da «mudança do sexo».

A estas leis chama JCN, na devota crispação, «o triunfo súbito do fundamentalismo extremista», com que «a sociedade assustada adotou a posição cómoda e irresponsável de tolerar a libertinagem». Nota-se-lhe o corpo dorido, com fratura exposta e a sangrar por dentro, quando confessa que «As forças de defesa da família, em particular a Igreja Católica, suportaram derrota atrás de derrota fragorosa».

Para o bem-aventurado «Portugal tornou-se um paraíso mundial de comportamentos desviantes e perversos», justificando « o colapso do casamento, ausência de fertilidade, envelhecimento galopante, multiplicação de patologias sociais». Faz chorar as pedras quando lastima que «em 2011 os casamentos foram só mais 34% que os divórcios» e ameaça que «sorveremos a infâmia até à última gota». Segundo JCN, especialista em água benta, incenso e moral familiar, «a escalada não abranda, atingindo já os temas de requinte, como a co-adoção por casais do mesmo sexo». «A espiral devoradora exige-o, como exigirá as vergonhas seguintes» – garante o bem-aventurado.

Finalmente, antes das orações do dia, termina em tom profético com um assomo de otimismo: «Resta-nos o consolo de o futuro vir a aprender com os nossos horrores».

22 de Julho, 2013 Carlos Esperança

A fé esclarecida e o ateísmo ignorante

«Não existem apenas fundamentalistas religiosos. Também existem fundamentalistas ateus e sem religião. Também existem ateus sem religião que combatem o fundamentalismo de um ateísmo ignorante». (Frei Bento Domingues).

Ateus sem religião deve ser o oposto de crentes com religião. Os crentes sem religião são supersticiosos não filiados.

Os ateus não têm livros sagrados nem são incitados a combater os fiéis. Ao contrário dos crentes, não têm o Paraíso à espera. Não os aguardam setenta virgens nem rios de mel em recompensa de atos terroristas; não ascendem aos Céus por participarem em cruzadas; não comprazem Deus a carrear lenha para queimar hereges.

É verdade que os ateus se livram do Purgatório, sítio mal frequentado, com aposentos despojados de qualquer eletrodoméstico, sem divertimentos nem conforto, donde se sai à custa de missas de quem tem cabedais e devoção para mandar rezar.

Também o Inferno é reservado aos crentes que discordam da teologia do latex, comem carne de porco à sexta-feira, faltam à santa missa e amam sem intuitos exclusivamente reprodutivos.

O ateísmo pode ser ignorante, ao contrário da fé. Fr. Bento lê o Diário de uns Ateus e tem-nos em má conta. Mas pensar que a fé é esclarecida e que a devoção não é ignara, é miopia ou necessidade de preservar o futuro da ICAR, os seus ativos financeiros e os negócios do Vaticano.

 

21 de Julho, 2013 Carlos Esperança

O Islão no seu labirinto

Islamismo político enfrenta o seu mais severo teste com golpe de estado no Egito

A implosão de Morsi, retirado do governo, abalou a Irmandade Muçulmana no país.

Cairo – Não foram apenas as tumultuosas multidões da praça Tahrir que saudaram a implosão de Mohammed Morsi e do islamismo político convencional no país mais populoso do mundo árabe. Enquanto o golpe de estado se desenrolava no Cairo, o presidente sírio Bashar Assad praticamente dançava sobre sepultura da Irmandade Muçulmana.

Diário de uns Ateus – O Islão vive o paradoxo de ter uma democracia que suspende os direitos humanos ou uma ditadura que suspende a democracia.

12 de Julho, 2013 Carlos Esperança

O perigo dos Irmãos Muçulmanos

O Islão não é um problema religioso, é uma questão política e, em última instância, um caso de polícia.

No pântano da fé, cujo primarismo dos 5 pilares atrai cada vez mais seguidores, há uma força – os Irmãos Muçulmanos – que se vem impondo politicamente em vários países, do Egito, onde são a causa do caos e também vítimas, até à Turquia, que a Europa e os EUA tratam com estranha benevolência.

A Europa pagou com imenso sangue a demência da fé e a origem divina do poder. Só a partir da sangrenta Guerra dos 30 Anos conseguiu libertar-se da crença imposta à força. E só a na década de 60 do século passado o Concílio Vaticano II acabou por reconhecer a liberdade religiosa pela Igreja católica, liberdade que Bento XVI nunca digeriu.

Enquanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos não se sobrepuser à vontade de qualquer Deus, não há liberdade e felicidade a que algum homem, e sobretudo mulher, possa aspirar.

Reitero que o Islão é um caso político e como tal deve ser tratado. Não é impedindo os crentes de rezarem cinco orações diárias, de se virarem para Meca ou de viajarem com o tapete, que se resolve o problema. É reprimindo os pregadores do ódio nas madraças e nas mesquitas e, sobretudo, entravando a imposição, a quem não queira, de fazer jejum ou de prescindir do presunto e da cerveja.

O argumento da tradição é uma monstruosidade que justifica as piores afrontas.