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Categoria: Religiões

15 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Ainda a estátua do cónego Melo

O cónego Eduardo Melo foi um ditoso membro do cabido da Sé de Braga, um homem de ação, com provas dadas no Verão “quente” de 1975. Sabíamo-lo ao serviço de Deus e da sua Igreja, da fé e da sua difusão, do clero e dos seus interesses.

Coerente.
Sem medos.
Sem falsos pudores.
Em explosões constantes de proselitismo.

Sabíamo-lo o braço armado da Providência e o guardião da moral e dos bons costumes. Com muitos como ele ninguém lamentaria hoje a mancha negra na História de Portugal, como Sua Reverência considerava, em muitos aspetos, o 25 de Abril. Só não sabíamos que a sua santa alma pudesse explodir em desabafos de incontida admiração.

«O Dr. Salazar foi um estadista insigne, com um grande sentido de Estado e uma inigualável noção de autoridade », afirmou o Sr. Cónego Melo, defendendo outra vez um pulso forte como foi o dele.

Se ninguém duvidava dessa admiração, desse respeito, dessa gratidão, o que terá levado um homem de tanta devoção e provas dadas ao serviço do divino a prestar essa pública homenagem?

Há uma explicação plausível.

Tendo Deus deixado de o ouvir, ao longo de mais de três décadas, foi perdendo a fé.

Valeu-lhe o Dr. Mesquita Machado para lhe erigirem uma estátua condenada ao destino de outra que esteve em Santa Comba Dão. Na cidade que ignorou Salgado Zenha, uma referência ética e patriótica da luta contra a ditadura e da consolidação da democracia, é altura de se erguer um memorial ao padre Max e à sua aluna Maria de Lurdes, vítimas do terrorismo fascista do MDLP, associação de que o cónego Melo era avençado.

Assim, quando uma estátua voar nos céus da cidade dos arcebispos, ficarão os nomes do padre Max e de Maria de Lurdes como símbolos dos sonhadores de utopias.

13 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Fátima – destino inevitável da fé

É preciso não ter sentimentos para desrespeitar o sofrimento e a angústia dos peregrinos que têm como fetiche da sua devoção os dias 13, em especial, o do mês de maio, sem desprezar agosto, para os emigrantes, e outubro.

Aqueles septuagenários que vestem velhas camisas camufladas da época que os marcou, na guerra injusta e inútil, ainda hoje agradecem o regresso, como se as minas pudessem ter-nos matado ou estropiado a todos, como se tivessem de agradecer o regresso em vez de se revoltarem com a partida.

A fé é isto mesmo, não questionar os desígnios do acaso, agradecer a perna que sobrou em vez de reclamar a amputada, rezar pela sorte do olho que resta em vez de protestar pelo que os estilhaços da granada vazaram, enfim, caminhar de joelhos e rastejar num santuário, acreditando no poder miraculoso das azinheiras, onde saltitou a virgem, ou no espaço onde aterrou o anjo.

Há nos rostos sofridos e nos corpos doridos, a sangrar por dentro, uma dose enorme de esperança que não se esgota nos dedos delidos a desfiar o rosário como quem conta os dias de sofrimento que lhes coube. As chagas das longas caminhadas e os pés inchados não impedem os devotos de acrescentar ao sofrimento do quotidiano o da peregrinação.

É inútil explicar como nasceu Fátima, quem tinha interesse na devoção, quem fabricou os milagres que noutros sítios não vingaram. A República era a pedra no sapato do clero e a separação da Igreja e do Estado uma afronta à união centenária entre o trono e o altar. A rainha dos céus e o Cristo-Rei continuaram o paradigma da Igreja, com azia à democracia, que viu na ditadura de direita o doce amparo enquanto os «segredos» se multiplicavam a anunciar a conversão da Rússia à Senhora de Fátima.

A verdade é um mero detalhe nos caminhos da fé. Os peregrinos nutrem a tradição que procura no céu o que falta na terra. Olho-os com respeito, a caminho de Fátima, onde alguns serão atropelados antes de assistirem à procissão das velas.

12 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_ 12_08_2013-08-12

João César das Neves (JCN), devoto avençado da Igreja católica, é a fonte de inspiração de agnósticos, ateus, livres-pensadores e até de alguns crentes com sentido do ridículo.

Na homilia de hoje, no DN, não desilude. JCN combate a testosterona, exacerbada por sensações visuais de corpos esbeltos que resplandecem nos cálidos dias de verão, com reflexões pias. O devoto de todos os papas diviniza hoje o atual e exulta com os 5 meses de pontificado como se extasiava com o dos anteriores, quer expirassem em decadência física e intelectual (João Paulo II), por motivos cujo segredo está bem guardado (João Paulo I), ou resignação, a que não foram alheios o lóbi gay e a lavagem de dinheiro no IOR, como sucedeu com Bento XVI, que preferiu conservar a vida a manter a santidade.

É cativante o embevecimento de JCN com o papa Francisco, «um grande homem de Deus, límpido, sábio, transparente», e apoquenta-se com o deslumbramento, que julga generalizado, aliás, « paralelo à espantosa surpresa de 1978 com João Paulo II, 1958 com João XXIII, 1939 com Pio XII, e tantos outros». O branqueamento do passado de Pio XII deve estar ligado ao processo de canonização desejado pelos mais reacionários.

JCN insurge-se contra os «apelos para que a Igreja se adapte aos tempos modernos» e não poupa adjetivos a incensar o papa de que – segundo ele –, todos gostam. Para JCN, «os crentes querem ser, não populares, mas fiéis» e interroga-se: «Para que serve uma doutrina que pactue ou tolere injustiças, abortos, interesses, adultérios, ficções, libertinagem, abusos?». O que dói ao bem-aventurado é a legislação sobre a família, que despenalizou o aborto, permitiu o divórcio e não remete o adultério para o código penal. Mas isso é um azedume antigo que lhe altera o ph gástrico e exacerba a úlcera.

A sua homilia, «Pedra de tropeço», termina em apoteose: « Quem considera a Igreja ou o Papa deve saber que eles pertencem a Deus. Neste mundo de pecado, a divindade choca sempre. Não é Deus que se adapta ao mundo, mas o mundo que anseia por Deus. Como dizia S. Paulo, citando o profeta Isaías, “Reparai que ponho em Sião uma pedra de tropeço, uma rocha de escândalo, e só quem nela acreditar não ficará frustrado” (Rm 9, 33, cf. Is 28,16). Uma pedra em cruz».

Ámen. 

11 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Na celebração dos 25 anos da Al-Qaeda – A fé é um direito. E a religião?

Quando a Al-Qaeda celebra 25 anos de fé e terrorismo, com o Paraíso a abarrotar de virgens que esperam suicidas dementes, é legítimo pensar se, à semelhança do que a Alemanha legislou contra a propaganda nazi, não fará sentido conter a do Corão cuja ideologia rivaliza com Mein Kampf.

A alegada bondade das religiões e o espírito pacífico do Islão não resistem à letra e ao espírito dos livros sagrados nem ao historial sangrento das guerras religiosas. Não foi à clarividência dos exegetas que ficou a dever-se a interpretação benigna da Bíblia, foi à Reforma, ao Iluminismo e à Revolução Francesa. Onde o poder eclesiástico se consegue impor mantêm-se constrangimentos autoritários de sabor medieval, seja em Timor, nas Filipinas, na Hungria ou na América do Sul.

O proselitismo demente do protestantismo evangélico americano tanto pôde conduzir ao assassínio de médicos e enfermeiros de clínicas de aborto como à invasão do Iraque.

O que modera a agressividade dos desvarios da fé é o Estado de direito e a laicidade. No dia em que a religião, qualquer religião, dominar o aparelho de Estado, a democracia vai de férias e instala-se a teocracia. Não se pode esquecer que os Estados modernos foram erguidos contra o poder da Igreja. A Itália só existe porque os patriotas não temeram a excomunhão nem os exércitos papais.

O Islão não teve, infelizmente, a sua reforma. Nas madraças começa a fanatização das crianças e nas mesquitas apela-se ao ódio e à guerra santa, com os crentes genufletidos e virados para Meca.

Não há no Islão lugar para a coexistência entre o agnosticismo e a vida, a laicidade e o pescoço, o livre-pensamento e o direito de existir. O medo, o constrangimento social e o aviltamento da mulher acompanham as decapitações, vergastadas públicas e lapidações com que os clérigos imaginam extasiar o Profeta e fazer Alá babar-se de gozo.

Os países de mais sólidas raízes democráticas são herdeiros do direito romano que tem características civilistas, enquanto o direito helénico é de natureza política e o árabe de raiz teocrática.

As repetidas ameaças da rede terrorista Al-Qaeda são incompatíveis com a benevolência com que a Europa assiste à pregação do ódio nas mesquitas.

Respeitar e defender o direito à crença, à descrença e à anti crença é igual ao dever de vigiar, deter e fazer julgar pelos tribunais quem incite ao ódio, à violência e à xenofobia. Trata-se de fazer cumprir as leis e as constituições dos países democráticos, sem excluir as religiões que se julgam com direitos especiais.

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8 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

O regresso da intolerância religiosa_1

Oriana Fallaci, escritora e célebre jornalista italiana, foi das poucas pessoas de esquerda que percebeu o perigo que a demência religiosa representa para os direitos e liberdades individuais. Pode dizer-se que quase roçou o racismo na denúncia vigorosa do fascismo islâmico nos dois últimos livros, «Raiva e Orgulho» e «A Força da Razão», tal a raiva e a força da denúncia, mas dificilmente se encontrará alguma falsidade.

A comunicação social dos países democráticos ignora o duelo sangrento, travado em África, entre o Islão e o cristianismo evangélico, apoiados respetivamente pela Arábia Saudita e pelas Igrejas evangelistas e os EUA. O genocídio ruandês de 1994 parece esquecido, bem como as implicações religiosas, nomeadamente católicas, na carnificina.

Os atentados de 2011contra os cristãos de Alexandria foram vistos como mais uma das muitas reincidências (52) dos que desejam islamizar o Egipto. A Europa só se assusta se a ameaça chega às suas cidades e, mesmo assim, disposta a invocar o multiculturalismo como atenuante das atrocidades de que é vítima. E só se forem cristãs as vítimas, como se a vida de um cristão não valesse o mesmo que a de um muçulmano, ateu, budista ou judeu.

No Iraque, onde a horda de cristãos levou o caos, morrem hoje milhares de xiitas que o ódio sectário dos sunitas se esforça por liquidar na esperança de construírem o Estado islâmico sobre os escombros de um país desfeito. Os cristãos e judeus, cuja existência era garantida pelo estado laico de Saddam, estão a desaparecer, mortos, emigradas ou convertidos à força.

A Europa, dilacerada por guerras religiosas, impôs a laicidade com a repressão política sobre o clero e, após a Paz de Vestefália (1648), impôs a liberdade religiosa mas nos pontificados de João Paulo II e Bento XVI foi incapaz de condenar a ingerência política do Vaticano nas lutas partidárias de numerosos países, as pressões políticas da Igreja ortodoxa, as punições a quem renunciou ao Islão e a proibição islâmica de outros cultos. Como se o dever de reciprocidade face à Europa laica não devesse ser uma exigência ética em terras de Maomé obrigatório!

O islão só aceita uma lei – a sharia. E um método para a impor – a jihad. Só a laicidade pode conter o sectarismo e defender a diversidade religiosa. O Europa tem de ser firme na sua defesa, dentro das fronteiras, e exigente fora delas.

Pio IX considerava o catolicismo incompatível com a liberdade, a democracia e o livre-pensamento. A herança do Iluminismo foi mais forte.