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A. J. Martinho Marques
Ando farto de chamar a atenção aos meus amigos que se pensam mais tolerantes e a quem eu chamo “ceguetas”. Ainda hoje ao almoço me irritei (eu que só saio de casa às vezes e ao almoço… e não me posso irritar) porque veio a velha teoria de “a culpa é dos americanos”.
Tive de regressar ao meu “estado antigo habitual” e dizer-lhe que “ser de Esquerda não é ser estúpido”, pelo contrário, “é ser tolerante mas não tolo, é defender ideias e não idiotices”.
Depois de, exaltadamente, lhe chamar a atenção para o facto e o perigo de a Europa estar a ser apertada numa tenaz islâmica com pontas em Marrocos e já a partir da Alemanha, que abarca todo o Mediterrâneo, de lhe ENSINAR o que foi os turcos terem estado às portas de Viena, no que consistiu a batalha de Matapan, e sei lá mais quê que eu disse, acabei por referir o caso da Argélia, com um início igual a este do Egito e que só acabou (adormeceu) depois das autoridades respetivas terem usado a mesma atuação dos fundamentalistas: degolá-los!
Pôrra, não custa muito aceitar que não se pode pactuar com assassinos de novos e velhos, polícias, militares ou simples cidadãos, crianças, velhos, indefesos, que discordam (às vezes nem isso!) deles!!!
Ainda me irrito mais com a “teoria dos coitadinhos”, e porque cometem estes crimes horrendos em nome de um merdas de um deus misericordioso.
Ainda bem que pensas assim. Não deixes de esclarecer quando e quem quiseres do que verdadeiramente está em jogo.
Abraço.
No Egito trava-se um combate cruel e sanguinário. De um lado encontram-se os que foram apeados do poder a que acederam democraticamente, odiando a democracia; do outro, os que o conquistaram por um golpe de Estado e repudiam a submissão à sharia.
Há quem pense que a democracia confere à maioria o direito discricionário e que tudo é permitido, mas não há democracia onde os direitos das minorias não forem respeitados.
Entre a força das armas dos militares e as hordas de fanáticos islâmicos não se brinca à democracia e à incerta laicidade, é a geoestratégia global que arma os militares e excita os Irmãos Muçulmanos. Por entre uma confrangedora orgia de sangue e violência.
E não acusem os suspeitos do costume desta manifestação de intolerância fascista.
Líder muçulmano prega que bebés devem usar burca
Xeque árabe acredita que meninas de 2 anos podem “gerar tentações em seus agressores”
O xeque Abdullah al-Daoud, conhecido pregador saudita, propôs durante um programa da rede de religiosa Al-Majd, que meninas recém-nascidas já deveriam cobrir o corpo.
Quando a Al-Qaeda celebra 25 anos de fé e terrorismo, com o Paraíso a abarrotar de virgens que esperam suicidas dementes, é legítimo pensar se, à semelhança do que a Alemanha legislou contra a propaganda nazi, não fará sentido conter a do Corão cuja ideologia rivaliza com Mein Kampf.
A alegada bondade das religiões e o espírito pacífico do Islão não resistem à letra e ao espírito dos livros sagrados nem ao historial sangrento das guerras religiosas. Não foi à clarividência dos exegetas que ficou a dever-se a interpretação benigna da Bíblia, foi à Reforma, ao Iluminismo e à Revolução Francesa. Onde o poder eclesiástico se consegue impor mantêm-se constrangimentos autoritários de sabor medieval, seja em Timor, nas Filipinas, na Hungria ou na América do Sul.
O proselitismo demente do protestantismo evangélico americano tanto pôde conduzir ao assassínio de médicos e enfermeiros de clínicas de aborto como à invasão do Iraque.
O que modera a agressividade dos desvarios da fé é o Estado de direito e a laicidade. No dia em que a religião, qualquer religião, dominar o aparelho de Estado, a democracia vai de férias e instala-se a teocracia. Não se pode esquecer que os Estados modernos foram erguidos contra o poder da Igreja. A Itália só existe porque os patriotas não temeram a excomunhão nem os exércitos papais.
O Islão não teve, infelizmente, a sua reforma. Nas madraças começa a fanatização das crianças e nas mesquitas apela-se ao ódio e à guerra santa, com os crentes genufletidos e virados para Meca.
Não há no Islão lugar para a coexistência entre o agnosticismo e a vida, a laicidade e o pescoço, o livre-pensamento e o direito de existir. O medo, o constrangimento social e o aviltamento da mulher acompanham as decapitações, vergastadas públicas e lapidações com que os clérigos imaginam extasiar o Profeta e fazer Alá babar-se de gozo.
Os países de mais sólidas raízes democráticas são herdeiros do direito romano que tem características civilistas, enquanto o direito helénico é de natureza política e o árabe de raiz teocrática.
As repetidas ameaças da rede terrorista Al-Qaeda são incompatíveis com a benevolência com que a Europa assiste à pregação do ódio nas mesquitas.
Respeitar e defender o direito à crença, à descrença e à anti crença é igual ao dever de vigiar, deter e fazer julgar pelos tribunais quem incite ao ódio, à violência e à xenofobia. Trata-se de fazer cumprir as leis e as constituições dos países democráticos, sem excluir as religiões que se julgam com direitos especiais.
LA DOUTORA WAFA SULTAN FALA SOBRE A SUA EXPERIÊNCIA COMO MULHER MUÇULMANA
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Anteontem, novos e violentos confrontos assolaram o Egipto provocando muitas vítimas e lançando o País numa perturbadora confusão que se intensificou desde que um golpe militar interrompeu mais uma ‘deriva islâmica’ no Norte de África. link
Independentemente de aspectos formais relativos à ‘normal’ eleição deMorsi, enquanto candidato da Irmandade Muçulmana pelo Partido Justiça e Liberdade e que revelaram, mais uma vez e cedo, a capacidade de perverter à posteriori a essência democrática que procura a sua legitimação no voto e num programa político o que o processo em curso nos revelou foi o início de uma deriva para um ‘regime islâmico’ (onde a Democracia é a primeira das vítimas).
O exercício que se impõe fazer é compreender o que parecendo comezinho poderá estar por detrás da actual situação a influenciar os mais recentes acontecimentos.
Na verdade, a Irmandade Muçulmana apareceu ‘suavemente’ na ‘revolta egípcia’ que depôs Mubarak pretenso ‘sucessor’ do pan-arabismo Baas que inspirou Nasser. A queda de Mubarak que ficou a dever-se às manifestações de revolta públicas, aparentemente sem nítida direcção política, mas poderosas e impressionantes no capítulo da potencialidade de movimentação política. Concomitantemente, o vitorioso desfecho da rua provocou profundas dissensões no aparelho militar que não conseguiu impor aos ‘revoltosos da praça de Tharir‘ uma solução congeminada entre os altos comandos e o deposto Mubarak – o Conselho Supremo das Forças Armadas.
De facto, as Forças Armadas, ‘obrigadas’ pelas circunstâncias a alinhar num projecto complexo e confuso de democratização do Egipto ficaram, depois do último acto eleitoral ganho por Mohamed Morsi, numa posição desconfortável. E cedo começaram as intrigas, as retaliações e as movimentações contra a estrutura militar dirigente e contra os tribunais.
A Irmandade Muçulmana terá a nítida percepção de que precisa de começar por domesticar para depois ‘comandar’ – segundo as suas leis – o maior exército de África (muito próximo do meio milhão de efectivos). A acção política visível da Irmandade Muçulmana assenta no largo conceito de ‘assistencialismo islâmico’ que é suportado pela manutenção e desenvolvimento de uma intrincada rede de assistência social, educativa e sanitária aparentemente ‘neutra’ mas politicamente comandada por princípios religiosos (inflexíveis e dogmáticos) que não demoram muito tempo a revelar-se. Esta ‘rede assistencialista’, enquanto a Irmandade esteve interdita de actuar na sociedade egípcia (tempo de Mubarak e antecessores), foi sub-repticiamente ganhando força (conseguiram como ‘independentes’ 20% dos votos nas eleições de 2005) e esta organização cresceu (e sobreviveu) à custa de dinheiros árabes e dos seus militantes tornado possível cobrir – na clandestinidade – uma significativa parcela da população (provavelmente muito acima dos 20% eleitoralmente revelados em 2005).
A extensão dessa rede dando-lhe uma dimensão nacional e um estatuto universalista necessário para ‘sossegar’ os fiéis islâmicos (crentes na providência divina) e outros (coptas, p. exemplo) arrasta consigo sérios problemas de sustentabilidade financeira.
E, então, coloca-se uma questão crucial: onde arranjar esse dinheiro?
– Obviamente que a ‘solução’ passa pelas Forças Armadas egípcias.
Esta imensa corporação domina vastas e estratégicas áreas económicas como foi recentemente revelado pela Wikileaks. São um exemplo único de um ‘Exército/Empresa’ capaz de ‘representar’ cerca de 50% do PIB egípcio. Trata-se de uma enorme holding fortemente armada. Estas ‘qualidades’ colocaram as Forças Armadas na mira da Irmandade Muçulmana tornando indispensável o seu controlo para sustentar, financiar e levar a bom porto a acção político-religiosa.
Resumindo: a Irmandade Muçulmana já vencedora no campo eleitoral aparece interessada no controlo hegemónico da economia egípcia instrumento necessário para financiar as suas políticas. As Forças Armadas tratando-se de um grande empório económico não se deixam expropriar porque ficam sem garantias quanto à sobrevivência e à manutenção do status quo (privilégios e mordomias) da corporação militar.
Daí o golpe de 3 de Julho que aparece à luz do dia apoiado por forças estranhas a este diferendos primários: a oposição liberal e laica, onde a heterogeneidade campeia.
O desfecho é, também, previsível: Num país maioritariamente islâmico (sunita) um dia haverá um acordo, uma partilha que encaixe no mesmo barco as Forças Armadas e os movimentos islâmicos que se acoitaram na sombra da Irmandade.
E quem será excluído?
– Os liberais e as correntes laicas que agora aparecem ao lado dos militares sem controlar os seus desígnios.
A História tem destas particularidades. Nem sempre os lutadores, uma vez vitoriosos, conseguem distribuir a vitória por todos e permanecer no terreno a liderar as mudanças qualitativas que protagonizaram.
Há sempre ‘alguém’ que, apesar de gostar de actuar na sombra, aparece a apropriar-se, a expropriar… a (re)tirar dividendos.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.