Loading

Categoria: Catolicismo

6 de Abril, 2010 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_05_04_2010

João César das Neves (JCN) é um sacristão de serviço, Cireneu sempre disponível para carregar a cruz da sua Igreja.

Incapaz de parar o furacão levantado pelo bater de asas da borboleta mediática, JCN minimiza a dimensão do escândalo, ignora a perversidade dos actos de pedofilia e cala a cumplicidade dos Papas que preferiram o silêncio e a ameaça a quem denunciasse os crimes à denúncia que impedisse a dimensão da libertinagem.

JCN está desolado porque sabe que um povo que duvida da virtude dos padres descrê da omnipotência do seu deus; porque sente que os pecados pios afastam o rebanho do redil da sua Igreja; porque sente que as hormonas do clero criaram um mar de lama que suja as sotainas, mancha as mitras e a tiara.

O bem-aventurado esquece os pecados dos bispos e papas sem se dar conta que o mais grave não são os actos que os tribunais julgam mas o sofrimento das crianças e o crime de ocultação que os prelados cometeram e que, segundo a BBC, atinge os três últimos papas.

Desnorteado, acusa a comunicação social:

1 – «Parecendo combater a pedofilia, visa-se a promoção do aborto, eutanásia, divórcio, promiscuidade», obsessões que traz à colação em cada homilia;

2 – «A prática é tradicional. Assim se criou há séculos o mito da Igreja sanguinária nas cruzadas e Inquisição», como se tivessem sido inventadas para a denegrir;

3 – «Os processos [da Inquisição] foram rigorosos e transparentes, as condenações uma ínfima minoria dos casos julgados e pouquíssimas face às execuções civis…», como se a literatura sobre o assunto fizesse parte da conspiração judaica e do ódio jacobino»;

4 – Esqueceu-se de falar da evangelização e dos pogroms mas a um santo não se pode exigir tanto;

5 – A penúltima frase é lapidar: «Como Nero, os jornais hoje querem convencer-nos que os padres comem criancinhas».

Só de um bem-aventurado, com odor a santidade, podia ter saído o verbo «comer» para exonerar a responsabilidade dos funcionários do seu deus.

Amém.

3 de Abril, 2010 Ricardo Alves

Da futilidade dos pedidos de perdão

O Policarpo saiu-se com esta: «Continuamos a precisar do Vosso amor redentor, por causa dos nossos pecados. Perdoai os pecados da Vossa Igreja».

Para que raio serve um pedido de perdão? Não serve para nada. Policarpo está numa posição ainda mais recuada do que Ratzinger. Poderia apelar à colaboração com os tribunais. Poderia investigar o que houver para ser investigado. Poderia denunciar à polícia o que descobrisse. Não. Em vez disso, pede «perdão».

O catolicismo é isto.

2 de Abril, 2010 palmirafsilva

Nem sei que diga, cada tiro cada melro?

O pregador da Casa Pontifícia, o franciscano Raniero Cantalamessa, a única pessoa autorizada a pregar em nome do Papa, comparou hoje as críticas ao comportamento da Igreja católica relativamente aos escândalos de pedofilia envolvendo padres, à «violência colectiva» sofrida pelos Judeus. Na homilia que se seguiu à leitura da Paixão de Cristo na basílica de São Pedro, Cantalamessa referiu que as acusações de encobrimento dirigidas à Igreja «lembram-me os aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo».

As reacções de grupos judeus e de vítimas de abuso sexual a semelhante tolice umbiguista oscilaram entre a incredulidade e a fúria.

30 de Março, 2010 Carlos Esperança

A pedofilia e a Igreja católica

Bispos sob suspeita

A ICAR não tem o monopólio dos crimes sexuais nem sequer está provado que o seu clero seja mais licencioso ou perverso do que o islâmico, por exemplo.

Há, no entanto, razões que não deixarão em paz as sotainas. A alegada superioridade moral da Igreja católica chega ao absurdo de impor a continuação da gravidez a uma criança violada e grávida, a uma mãe em risco de vida ou com um feto com deficiências graves, às vezes incompatíveis com a vida.

A sanha contra a homossexualidade que nos pios ensinamentos seriam, como tudo, vontade do seu omnipotente deus, torna-a vulnerável perante a opinião pública que, à medida que duvida da virtude dos padres descrê da autoridade do seu deus.

Acresce que os padres foram quase sempre enclausurados em seminários, separados das mulheres, que os três monoteísmos depreciam, e tiveram de lidar com as hormonas na adolescência e chegaram à idade adulta sem maturidade sexual. O vulcão de lama que ora atinge a Igreja não é surpresa, é fruto da tolerância de que gozou, da conivência dos Estados e da hipocrisia das dioceses e do Vaticano.

O padre Frederico Cunha, condenado a 13 anos de prisão por homicídio de um jovem de 15 anos e por pedofilia, devia ter servido de lição ao bispo do Funchal, D. Teodoro, que o trouxe do Vaticano para secretário pessoal. O que restou de pias buscas à casa do padre, feitas alegadamente por castas freiras, era um manancial de pornografia e de provas das tendências pedófilas do reverendo padre cuja prisão o virtuoso bispo do Funchal comparou ao martírio de Cristo.

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) não tomou qualquer providência para saber se havia bispos pedófilos, se algum era portador de Sida, se todos eram heterossexuais não praticantes e se cada um deles seria capaz de entregar à Justiça padres delinquentes.

Pelo contrário, numa saída precária do padre Frederico logo apareceu um táxi para o levar a Madrid, um passaporte falso e dinheiro verdadeiro que lhe permitiram a fuga para o Brasil onde certamente continua a transformar a água normal em benta e as rodelas de farinha em corpo e sangue de Cristo. Ninguém, que se saiba, foi investigado por ter sido conivente na fuga ou o obrigou a mudar de profissão.

Quando este Papa encobriu padres pedófilos, como provaram o NYT e outros jornais, quando João XXIII ameaçou de excomunhão quem denunciasse os crimes sexuais do clero, incluindo as vítimas, só podemos contar com o braço secular para tratar os funcionários de deus como qualquer outro cidadão.

29 de Março, 2010 Carlos Esperança

Fatos & factos

A tragédia da Igreja católica reside nas sotainas. Têm a braguilha enorme, de cima a baixo, e a fé pára a meio do caminho.

29 de Março, 2010 Ricardo Alves

Lembram-se do padre Frederico?

Lembram-se? Foi condenado em tribunal por «acto sexual com menor» e por homicídio desse mesmo menor. No julgamento, o «afilhado» mentiu para o tentar ilibar. O padre Frederico fugiu de Portugal em 1998, depois de cumprir meia dúzia de anos de prisão, e até hoje não se sabe quem lhe forneceu o passaporte falso nem como conseguiu alugar um carro para ir apanhar o avião a Madrid. Vive actualmente no Rio de Janeiro e não se sabe se continua a exercer o sacerdócio, a contactar com crianças ou não. O que se sabe é que a ICAR jamais lhe impôs a menor sanção interna. E que o bispo do Funchal o defendeu sempre, sempre. Será que chegou o momento de a ICAR portuguesa «colaborar com as autoridades civis» sobre este caso?

(Nota positiva para o Diário de Notícias por ter feito o ponto da situação desta velha história.)

27 de Março, 2010 Ricardo Alves

Ratzinger protegeu ainda outro pedófilo… em 2007

É a semana de todas as revelações.

Soube-se agora que, em 2007, um responsável de uma ONG dirigiu-se à Santa Sé com denúncias de abusos sexuais de menores cometidos por um sacerdote italiano. A Santa Sé nada fez. A Conferência Episcopal Italiana também foi informada. E também nada fez.

O padre seria preso em 2008, acusado de abusos sexuais e prostituição de menores. Até hoje, a Congregação para a Doutrina da Fé não sancionou o padre, que só não exerce o seu cargo por se encontrar na prisão.

Em 2007, Ratzinger era Papa. E nada fez. Como nada fizera em 1996 quanto ao padre do Wisconsin que abusou de duzentas crianças surdo-mudas. Era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e nada fez. Como também não fizera nada em 1980 quando era arcebispo.

Agora, escreveu um texto a defender que se deve «colaborar» com os tribunais. Pois.

Esta semana, Ratzinger ganhou uma nova alcunha. Depois de ser «Nazinger» e «Sapatinhos Vermelhos», é o «Santo Protector dos Pedófilos».

26 de Março, 2010 Ricardo Alves

Ratzinger sabia… e nada disse à polícia

O New York Times traz hoje um novo artigo sobre a protecção e indulgência de Ratzinger para com sacerdotes responsáveis por crimes de abuso sexual de menores.

Em 1980, um certo padre Hullerman foi acusado, na diocese de Essen, de forçar um menor a ter relações sexuais com ele. Deve dizer-se, em abono da verdade, que a diocese o suspendeu das suas funções. Mas houve uma diocese que o aceitou: a de Munique, onde o arcebispo era o próprio Ratzinger. E que fez Ratinzger? Não colaborou com as autoridades judiciais (como recomenda agora) nem considerou o perigo que o padre representaria para as crianças da sua diocese. Pelo contrário, aceitou que o padre se mudasse para a sua diocese (ou seja, reabilitou-o), e até permitiu que ensinasse «Religião e Moral» numa escola pública. Em 1986, o padre foi condenado por um tribunal civil por um crime de abuso sexual de menor.

A semana passada, Ratzinger escreveu um texto a afirmar-se «escandalizado» com os abusos sexuais clericais na Irlanda, e convidando ao «arrependimento». Não explicou se ele próprio está arrependido.

Como já se vai dizendo, é a altura de perguntar «o que é necessário para um Papa se demitir»?

26 de Março, 2010 Carlos Esperança

Dois pesos e duas medidas

Carl Sagan, no seu livro «Um mundo infestado de demónios», lembra-nos que o abade Richalmus escreveu um tratado sobre os demónios, por volta de 1270. Os sedutores demoníacos de mulheres chamavam-se íncubos e os de homens, súcubos. Santo Agostinho acreditava que as bruxas eram o produto dessas uniões proibidas tal como a maioria das pessoas da antiguidade clássica ou da Idade Média.

Compreendem-se hoje as freiras que, num estado de confusão, viam semelhanças entre o íncubo e o padre confessor ou o bispo e que ao acordarem se sentissem conspurcadas como se se tivessem misturado com um homem, como escreveu um cronista do século XV (pág.126, ob. citada).

A fé e a superstição confundem-se. Ainda hoje vemos crentes que rumam a Fátima e à santa da Ladeira e quem promete a bilha de azeite ao santo e não dispensa conselhos da bruxa quando a adversidade lhes bate à porta.

Esta é a parte inofensiva da fé, pelo menos para os não crentes. Os únicos prejudicados são os crédulos que esportulam o óbolo sem qualquer benefício. O mesmo não se pode dizer do proselitismo e das perseguições aos que recusam partilhar a mesma fé.

Dir-se-á que hoje ninguém é molestado por comer carne de porco, por trabalhar nos dias santos ou por desprezar os sacramentos, mas isso só acontece onde foi contido o clero. É uma conquista contra o poder eclesiástico e não um direito outorgado pelas religiões. A lei seca dos EUA teve origem no radicalismo religioso  [fruto do esforço conjunto da União Feminina da Temperança Cristã e das pressões de certas associações missionárias protestantes]. O porco continua o animal imundo para judeus ortodoxos e muçulmanos, escravos de um deus que está com o olho neles a cheirar o bafo e a vigiar os hábitos alimentares, a forma de vestir e a frequência das rezas para decidir o que lhes reserva:  as penas perpétuas ou o Paraíso.

Não se aceitam crenças diferentes sobre higiene básica, epidemiologia e alfabetização e, no entanto, apesar da ligação directa entre as crenças e a acção, aturam-se crenças que apelam à violência, ao racismo e ao genocídio em nome da tolerância religiosa e/ou do multiculturalismo.

Enfim, dois pesos e duas medidas para as crenças religiosas e para as políticas, ambas com efeitos directos sobre os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Proíbe-se o incitamento ao ódio, a xenofobia, a discriminação de género, a mutilação e muitas outras barbaridades excepto quando praticadas sob os auspícios da fé.