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Categoria: Catolicismo

11 de Abril, 2012 Carlos Esperança

Juan Antonio Reig Pla, bispo de Alcalá de Henares

Reig Pla na idiota homilia

O clero espanhol herdou do franquismo o espírito do Concílio de Trento. Os seus bispos são frequentemente notícia pelos piores motivos, tantos anos depois do fim da guerra civil, da cumplicidade unânime e do silêncio com que, durante muitos anos, assistiram à execução sumária dos adversários de Franco.

À medida que mais valas comuns são encontradas e exumados cadáveres de mulheres e crianças, entre as centenas de milhares de assassínios perpetrados pela ditadura, a orgia de sangue não cessa de indignar o mundo e de comprometer a Igreja que silenciou os crimes abençoados pela bula do Vaticano que considerou o derrube da República, eleita, como cruzada em defesa da fé.

Estão bem documentados o horror e a violência praticados dos dois lados da barricada mas é ultrajante que a Conferência Episcopal Espanhola (CEP) condene a investigação dos crimes contra a humanidade e que o Vaticano, numa atitude provocatória, tenha criado centenas de beatos e santos entre apoiantes, cúmplices e panegiristas da sedição franquista e da vingança sectária, em que se destaca monsenhor Escrivá de Balager.

Depois de Rouco Varela cardeal de Madrid e de Antonio Cañizares, de Toledo, este ano destacou-se o bispo Reig Pla, de Alcalá de Henares, cuja homilia da Sexta-feira Santa, transmitida pelo canal público (RTVE), o guindou para a galeria dos mais reacionários num país onde é feroz a competição dos prelados por tal epíteto.

Reig Pla adotou o aforismo dos anarquistas de maio de 68: “quem sabe faz, quem não sabe, ensina” e a homilia foi sobre o sexo, velha obsessão católica que eleva a castidade a símbolo máximo da virtude, apesar de ser a mais implacável forma de contraceção.

O virtuoso bispo investiu contra os homossexuais e as mulheres que abortam e associou a homossexualidade à prostituição e a “certas ideologias que corrompem as pessoas”.

A violência homofóbica e misógina de Reig Pla, presidente da comissão episcopal da Pastoral da Família e da Defesa da Vida, que prometeu o encontro no Inferno a todos os prevaricadores dos pecados que execrou, levou o cardeal de Barcelona a distanciar-se das suas posições e o Conselho de Administração da RTVE a debater um protesto contra a homilia que transgrediu os limites aceitáveis. O exaltado talibã cristão, que se diz bem acompanhado pelo Vaticano, aterroriza os crentes e promove a descrença.

Para azar do obsoleto prelado, a Espanha dos Reis Católicos e da Inquisição é hoje uma memória de que o país se envergonha e a intolerância clerical é a alavanca do processo de secularização em curso.

11 de Abril, 2012 Carlos Esperança

Quem é aqui o anencéfalo?

O Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar nesta quarta-feira o processo que pode descriminalizar a interrupção de gravidez quando o feto tiver má formação cerebral – a chamada anencefalia, que pode também ser a ausência de cérebro. O tema tramita há oito anos na Suprema Corte e começará a ser julgado em sessão extraordinária, a partir das 9h de hoje.

(…)

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é contra a descriminalização do aborto nesses casos, mas não deve fazer a defesa durante a sessão do STF desta quarta. O cardeal d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, afirma que todo ser vivo tem direito ao nascimento e que a preservação da mãe não deve se sobrepor ao bebê.

Comentário: Só a insensibilidade do clero pode querer manter como crime a IVG, numa situação destas.

29 de Março, 2012 Ricardo Alves

Orwell em Cuba

Talvez por ter sido poupado a uma educação católica, espanta-me sempre o respeito e até veneração que rodeiam um homem que espalha pelo mundo (livre ou não) uma mensagem totalitária e menorizadora da mulher. Refiro-me a Ratzinger. Em Cuba, disse que “a obediência na fé é a verdadeira liberdade”. Imediatamente me recordei do “liberdade é servidão” no Mil Novecentos e Oitenta e Quatro de George Orwell. A semelhança é aumentada porque poucas palavras antes o papa católico elogiara a escravatura (divina) na pessoa da “Virgem”, a quem atribuiu o dito “eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”.

O duplipensar foi definido por Orwell como “o poder de manter na mente simultaneamente duas crenças contraditórias, aceitando ambas”. Ratzinger, nota-se, é um cultor do duplipensar: já em 2005 afirmara que “a fé vem da razão”, no fundo uma variante fina do slogan “ignorância é força”. Será lícito supor que alguém que a quase unanimidade dos mediocratas lusitanos jura ser um grandessíssimo intelectual desconheça Orwell? E que não saiba portanto que quase plagia os slogans do totalitarismo ficcionado (e satirizado) nesse célebre romance? O leitor que responda, que eu não consigo.

Os cubanos, submetidos a uma ditadura idêntica às que Orwell criticou, viram Ratzinger oferecer-lhes um sistema de pensamento tão parecido e tão totalitário. Pobres deles.

27 de Março, 2012 Carlos Esperança

Milagres e exorcismos_1

Os judeus eram exímios em milagres. Sem exclusivo, gozavam de larga experiência no ramo com peritos conceituados como os profetas Elias e Eliseu e o próprio Moisés.

Melhor em curas só Asclépio, também conhecido por Esculápio, com vários templos espalhados pela Grécia onde era deus e curandeiro, tão famoso que ainda hoje empresta o nome aos médicos. Perdeu-o, diz a lenda, a mania de ressuscitar mortos, tendo-o Júpiter fulminado a pedido de Plutão que temia que os seus reinos – os  Infernos –, se despovoassem.

No tempo em que Jesus nasceu, além dos milagres estavam em voga os exorcismos, imprescindíveis para expulsar demónios que procuravam o corpo dos humanos como as bactérias o intestino.

Foi nessa cultura que Jesus nasceu, quando o demo ainda não se afligia com o sinal da cruz nem se deixava intimidar com água benta. Temia os profetas e estremecia com o aramaico como mais tarde havia de fugir dos padres, da cruz e do latim.

Jesus seguiu cedo a carreira de pregador e ofícios correlativos – milagres e exorcismos.

A cura de um possesso em Cafarnaum tornou-o conhecido e em breve outros vieram para que os curasse e ele curou. À Galileia chegaram possessos de Jerusalém,  da Judeia, da Idomeia, de além-Jordão, de Tiro e de Sídon e a todos ele curou.

Jesus expulsou inúmeros demónios, incluindo sete alojados em Maria Madalena, sendo-lhe mais difícil contá-los do que espantá-los.

Isaías profetizou que os leprosos seriam curados, os profetas acertam sempre, e Jesus curou os que lhe apareceram na consulta. Tempo viria, mas Jesus não sabia, em que as sulfonamidas, os antibióticos e a higiene erradicariam a doença.

O Vaticano já não adjudica milagres em leprosos, por falta de doentes, na Europa e na América latina, regiões privilegiadas na agenda das canonizações. É mais eficaz um médico de segunda do que a intercessão através do cadáver de um padre do Opus Dei ou de um mártir que na guerra civil de Espanha tivesse tomado o partido de Franco.

Hoje, perdido o caldo de cultura onde medravam Deus e o Diabo, restam famintos que estrebucham e rolam pelo chão em locais recônditos de países pobres onde os padres com a cruz e o hissope enxotam demónios, em latim, sem sacrificar porcos como Jesus soía.

Jesus foi pioneiro a atravessar a pé o mar da Galileia a caminho de Gerasa, para quem acreditaem Marcos e Lucas, ou de Gadara,  para quem prefere Mateus. Talvez soubesse o caminho das pedras mas o feito ainda hoje é debitado nas homilias para gáudio dos crédulos e proveito dos oficiantes.

Depois de morrer, Jesus apareceu ressuscitado a Pedro, depois aos Doze, mais tarde a mais de quinhentos, depois a Tiago, a seguir a «todos os Apóstolos» e, em último, ao próprio Paulo. Hoje, só a Virgem se desloca em viagens de propaganda e manifestações de piedade.

22 de Março, 2012 Ricardo Alves

A secularização da sociedade portuguesa acelera

Em 1977, 1991 e 2001, a ICAR portuguesa fez «contagens de cabeças» nas missas dominicais, a nível nacional e que nos dois últimos casos coincidiram com datas de censo nacional. A evolução que essas contagens permitem vislumbrar (ver artigo de 2007) é de uma secularização progressiva da sociedade portuguesa, com as percentagens (de pessoas presentes na missa católica sobre a população nacional) a caírem de 26% para 23% e depois para 19%.
Em 2011, a ICAR optou por não fazer essa contagem. Todavia, parece que a diocese de Viseu a fez. O resultado é que foram contadas nas paróquias dessa diocese, em fevereiro do ano passado, 43375 pessoas. Dez anos antes, seriam 70752. Ou seja, 39% dos católicos praticantes deixaram de o ser (por falecimento ou desinteresse). A diocese de Viseu resume: a percentagem da população da região que é católica praticante caiu sucessivamente de 33% (1991), para 29% (2001) e agora para 20% (2011).
Extrapolando os resultados de Viseu para o todo nacional, pode ser-se tentado a concluir que a percentagem nacional de católicos praticantes poderá estar agora nos 13%. E parece que os políticos não sabem.