Januário Torgal: «Tenho vergonha deste país»
Em entrevista à TSF, o bispo das Forças Armadas e Segurança considera que «as pessoas estão desapossadas da sua dignidade», pede um um «compromisso competente» do Governo com os sectores mais frágeis da sociedade portuguesa e defende mais liberdade para o interior da Igreja.
A multinacional do Vaticano persiste no ramo dos milagres mas em Fátima minguam os prodígios. Foi preciso recorrer a três médicos servitas, de Leiria, pai, mãe e filha, para atestarem a cura da D. Emília dos Santos que, pouco tempo depois, morreu curada após ter servido para a beatificação do Francisco e da Jacinta com o milagre feito a meias.
Até o milagre da cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, queimado com óleo fervente de fritar peixe, foi feito numa casa de Ourém onde a miraculada tinha à mão uma imagem de D. Nuno que a ICAR desonrou com o milagre que lhe atribuiu. No entanto foi este prodígio que transformou o herói em colírio e o guerreiro em santo.
Fátima nasceu para combater a República e acabou na propaganda contra o comunismo mas nunca foi terreno fértil em milagres. São mais os peregrinos que morrem na estrada do que os doentes que se curam e não há memória de uma só ressurreição ou de uma perna que cresça a um amputado.
No entanto, a Cova da Iria é uma das sucursais da ICAR com maior rentabilidade. Dispõe da maior área coberta para orações e o que já foi um anjódromo, e o destino da Virgem que saltitava de azinheira em azinheira, é hoje o local de recolha de óbolos que aumentam na razão direta da pobreza a que vai sendo reduzido o povo. Já não surgem, talvez por pudor, barras de ouro fundidas com a cruz suástica, mas persistem as joias de quem sofre.
A coreografia deste ano foi abrilhantada por um cardeal, 22 bispos e 265 padres na missa que encerrou a peregrinação de maio. Bastam as sotainas de tanta criatura pia para dar aos crentes a ilusão de que se encontram numa paragem do Paraíso. Já nem é preciso pôr o Sol às cambalhotas. E ainda há quem diga que a Igreja procura a verdade, estranho eufemismo para designar as ofertas dos crédulos.
Durante o campeonato europeu a Igreja católica pretende evangelizar as multidões de aficionados que aí se deslocarão convencida de que pode transformar claques furiosas em devotos inflamados.
Que queiram ser católicos é um direito, que pretendam converter outros é abuso mas se os quiserem obrigar, como a ICAR fez na evangelização, é um ato gratuito e que revela a sua própria intolerância.
Por
Onofre Varela
A trilogia “Fátima, Futebol e Fado” que marcava a sociedade portuguesa no Estado Novo de António Oliveira Salazar, continua actual e o povo acata-a com fervor religioso.
Dos três efes, o Fado consegue saldo positivo. Reconhecido como Património Imaterial da Humanidade, tem nas vozes de Mariza, Carminho, e do meu amigo Filomeno, as mais belas interpretações da arte de Amália e do sentimento do povo português.
Os outros dois efes continuam na senda da miserável conspurcação da mente da maioria de nós. O Futebol (dito profissional) é cada vez mais um coio de interesses que pouco têm a ver com o Desporto; e Fátima já não tem salvação possível. A única parte em que se lhe pode encontrar algo de “benéfico” para os religiosos, é a anestesia da fé que, como placebo que é, permite esquecer as amarguras da vida e alimenta a esperança de que ocorra um milagre. Milagre que, definitivamente, não acontecerá se o crente se mantiver passivo e nada fizer, social e politicamente, para construir essa mudança.
Apenas rezas e meditações… não fazem caminho. Os dois, e cada um por si, arrebanham mais gente do que a que foi possível juntar nas praças das cidades portuguesas nos últimos 25 de Abril e Primeiro de Maio em luta por melhores salários e políticas sociais. A maioria dos portugueses espera mais dos dirigentes desportivos e dos milagres marianos, do que dos políticos que nos fazem cada vez mais miseráveis e que pretendem convencer-nos de que o desemprego e a fome são óptimas oportunidades de vida (!?!).
Relativamente a Fátima, deixo aqui as palavras de Lúcia em testemunho das aparições de 1917, que colhi de um livro insuspeito, escrito por António Augusto Borelli Machado, editado pelo Centro Cultural Reconquista, uma organização católica, com “Nihil Obstate” do P. Fernando Leite e “Imprimatur” do Con. Dr. Eduardo de Melo Peixoto, Vigário-Geral. Teve a primeira tiragem em 1967 e já alcançou mais de 120 edições, em dez línguas.
Nesse livro, a “sexta e última aparição”, registada a 13 de Outubro de 1917, é descrita assim, com base nos depoimentos de Lúcia:
“Chovera durante toda a aparição. Ao encerrar-se o colóquio de Nossa Senhora com Lúcia, no momento em que a Santíssima Virgem se eleva e que Lúcia grita: Olhem Para o Sol; as nuvens entreabriam-se, deixando ver o sol como um imenso disco de prata. Brilhava com intensidade jamais vista, mas não cegava. Isto durou apenas um instante. A imensa bola começou a bailar. Qual gigantesca roda de fogo, o sol girava rapidamente. Parou por certo tempo, para recomeçar, em seguida, a girar sobre si mesmo, vertiginosamente. Depois os seus bordos tornaram-se escarlates e deslizou no céu, como um redemoinho, espargindo chamas vermelhas de fogo. Essa luz reflectia-se no solo, nas árvores, nos arbustos, nas próprias faces das pessoas e nas roupas, tomando tonalidades brilhantes e diferentes cores. Animado três vezes por um movimento louco, o globo de fogo pareceu tremer, sacudir-se e precipitar-se em ziguezague sobre a multidão aterrorizada. Durou tudo uns dez minutos. Finalmente, o sol voltou em ziguezague para o ponto de onde se tinha precipitado e ficou novamente tranquilo e brilhante, com o mesmo fulgor de todos os dias”.
Como facilmente se compreende, aquilo que Lúcia viu (se acaso viu) foi tudo menos o sol… porque o sol não se movimenta assim, em estilo yó-yó! Se, em vez de no ano de 1917, este fenómeno tivesse sido testemunhado 60 anos depois, na década de 70, era arquivado numa pasta com a etiqueta “Observação de OVNI no lugar da Cova de Iria”. Os três pastorinhos eram esquecidos, os cépticos riam-se muito, e a Igreja não lhes atribuía qualquer importância. Em consequência, hoje não havia basílica, e a Igreja Católica não possuía a choruda fonte de receitas em que Fátima se transformou!
Onofre Varela
Jornalista
(Carteira profissional nº 1971)
Maria
Se a alva e meiga Senhora que há noventa e cinco anos poisou numa azinheira, vestida com um manto de luz, para gáudio de três inocentes pastorinhos, por erro de navegação celeste houvesse poisado numa azinheira errada e encontrado um só pastor, mancebo de vinte e tantos anos; se a falta de energia lhe tivesse apagado o manto, sendo a beleza tanta quanto dela disseram as criancinhas, e entre o manto e o corpo nada houvesse, como é de crer, por ser a luz que resplandecia o único vestido que a cobria, poderia o dito pastor chamar-se José, como o humilde e humilhado carpinteiro de Nazaré, e a história seria outra.
Se o dito pastor, mancebo de vinte e tantos anos, na flor da idade e do desejo, impelido pelos sentidos, fosse tão rápido e eficaz a tomar a dita Senhora como o era a conduzir o rebanho, não seria o papa, muitos anos depois, a entrar em êxtase; seria ele, pastor, ali e então.
E, em vez de serem criancinhas a ouvir “eu sou a Nossa Senhora”, pitoresca apresentação que só ouvi a um sargento, apresentando-se aos soldados, “eu sou o nosso primeiro Vieira”, em vez dessa apresentação que os exegetas atribuem à Virgem Maria, teria ouvido o pastor, mancebo de vinte e tantos anos, mais afeito ao rebanho que ao corpo feminino, à guisa de apresentação e despedida, com voz lânguida e conformada, “eu sou Maria”.
Tudo leva a crer que a referida Senhora, de tão rara beleza, teria esquecido a conversão da Rússia, poupado o dito pastor à oração e, em vez de duas ou três aparições, poderia tentar outras, sabendo embora que não era a azinheira certa aquela em que poisava, mas adivinhando à sua sombra o pastor, mancebo de vinte e tantos anos.
Dizem-me que o País deveria duplicar o número de azinheiras para igualmente duplicar as probabilidades de novas aparições. Tenho a esse respeito opinião diferente, tese igualmente respeitável, embora nestas questões pouco valha a dialética, impossível que é formular a antítese, pois a ciência certa nunca a teremos. Penso que o caminho, o caminho correto, está em duplicar o número de crianças que prefiram à escola a oração e se dediquem à pastorícia, de preferência longe dali, que os milagres raramente se repetem perto, e se acontecem, como há sobejas provas na Ladeira e noutros sítios, nunca são reconhecidos, por se desconfiar da abundância e se temer a concorrência.
E se no futuro apenas houver pastores crianças, com joelhos no chão e olhos no Céu, nunca mais haverá qualquer pastor na flor da idade e do desejo, mancebo de vinte e tantos anos, a ofender a virtude e a mudar o sítio às azinheiras, a perturbar a circulação celeste e os milagres.
Vaticano investiga 7 padres por suspeita de pedofilia
A Congregação para a Doutrina da Fé investiga sete sacerdotes da congregação Legionários de Cristo por supostos abusos sexuais a menores, disse à agência EFE o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
O porta-voz declarou que não entende o revoo midiático surgido com esta investigação, uma vez que os Legionários de Cristo informaram os casos à Congregação para a Doutrina da Fé no curso deste ano e o organismo está realizando seu trabalho há muito tempo.
Comentário: O padre Maciel foi o fundador desta Congregação e estava destinado à canonização. As denúncias confirmadas impedem-no de fazer milagres. A pederastia persegue outra vez os Legionários de Cristo.
O cardeal de Nova Iorque, Timothy Dolan, criticou as declarações do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a favor do casamento homossexual e disse que o “único matrimónio é entre um homem e uma mulher”, informou hoje a Rádio Vaticano.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.