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Categoria: Catolicismo

24 de Julho, 2012 Raul Pereira

A vitória da persistência e a força das convicções

Uma sócia da AAP – Associação Ateísta Portuguesa conseguiu que o seu Actus Formalis Defectionis ab Ecclesia Catholica (acto de apostasia) fosse registado no livro de baptismos da paróquia onde foi baptizada, na área do Patriarcado de Lisboa. Um modelo para outros ateus/ateias que pretendem o mesmo, mas que têm adiado o seu pedido devido ao processo burocrático necessário.

A nossa associada teve a gentileza de nos enviar a sua carta para divulgação, o que muito agradecemos. Adaptando o texto a cada caso particular, este é, sem dúvida, um óptimo ponto de partida.

O documento está disponível neste link.

24 de Julho, 2012 Carlos Esperança

Zangam-se as comadres

Videla denuncia que Igreja Católica ajudou ditadura militar

O ex-ditador argentino, Jorge Videla disse que o ex núncio apostólico Pio Laghi, o ex-presidente da Igreja Católica da Argentina Raúl Primatesta, e outros bispos da Conferência Episcopal assessoraram o seu governo sobre a forma de manejar a situação das pessoas detidas-desaparecidas. Segundo Videla, a Igreja “ofereceu seus bons ofícios” para que o governo de fato informasse da morte de seus filhos a famílias que não vieram a público, de modo que pararam de buscá-los.

17 de Julho, 2012 Carlos Esperança

A guerra civil de Espanha

Hoje, 18 de Julho, completam-se 76 anos sobre o golpe de Estado que ensanguentou a Espanha e que, de algum modo, iniciou a carnificina que o nazi/fascismo prolongaria até 8 de Maio de 1945.

Na sarjeta da história jazem José Sanjurjo, Emilio Mola y Francisco Franco, os generais que derrubaram o Governo constitucional da Segunda República, de que era presidente Manuel Azaña e primeiro-ministro Santiago Casares Quiroga.

Já no dia anterior tinha havido tentativas de sublevação mas foi no final do dia 18 que se iniciou a guerra civil que havia de deixaria um rasto de sangue, com centenas de milhares de assassínios e incontáveis feridos, entre espanhóis.

O requinte dos fuzilamentos nos campos de touros e o garrote, como instrumento de tortura e morte, foram a imagem de marca da ditadura de Franco que Hitler, Salazar e Moussolini apoiaram.

É a memória sinistra de Franco que, estátua a estátua, foi derrubada em Espanha por Zapatero. É tarde para julgar os cúmplices mas é tempo de divulgar a verdade sobre o mais baixo e inculto dos três generais, que acabou por tomar o poder, com a cumplicidade e o entusiasmo da Igreja católica.

A Espanha de hoje é um país democrático, livre e culto, que sob as cinzas da infâmia soube erguer a tolerância e o diálogo. Sobre os escombros de uma sublevação fascista, apoiada pela Espanha conservadora, rural e beata, com monsenhor Escrivà a integrar as tropas sobre Madrid, há um país novo que se impõe pela sofisticação urbana e cultura democrática, apesar da situação financeira e da tragédia do desemprego a que a crise internacional não é alheia.

Esta Espanha moderna que renasceu das cinzas dos horrores e se transformou num Estado de direito, progressista e civilizado, merece a paz e a felicidade.

8 de Julho, 2012 Carlos Esperança

Os castrati

Por

Kawkaz  

O jornal Público publicou um artigo muito interessante sobre os castrados em nome da arte do canto que se praticou na Europa cristã e em Portugal no século XVIII.O trabalho tem a assinatura de Cristina Fernandes.

Ela conta-nos, e vou reproduzindo algumas partes desse texto, que no período barroco os homens castrados dominaram nos principais palcos europeus e deliciavam com os seus cantos e vozes especiais as cortes dos reis, as igrejas e os teatros.

Em Portugal haveria muitos cantores castrados italianos ao serviço dos teatros e da Capela Real e Patriarcal no século XVIII. Menos conhecido será o facto de também terem existido castrati portugueses e de que essa prática desumana em prol da arte do canto e do eventual êxito de uma carreira futura também ocorreu entre nós.

O culto da beleza vocal sobrepunha-se à crueldade da operação a que os jovens cantores do sexo masculino eram submetidos antes da puberdade no intuito de preservar o registo vocal agudo das crianças durante a vida adulta. Impedia-se assim o desenvolvimento da laringe e das cordas vocais, mas não o crescimento do resto do corpo e da caixa torácica, o que permitiria sustentar notas longas por muito tempo. A visibilidade dos castrati como superestrelas da ópera faz por vezes esquecer que as suas primeiras funções se encontram ligadas à música sacra. A Capela Sistina empregava-os pelo menos desde meados do século XVI, o mesmo acontecendo com algumas catedrais espanholas ou com a capela da corte de Munique no tempo de Orlando di Lassus. Mesmo num país como a França, cuja tradição operária era alheia a esta prática, eram contratados castrati para a Capela Real de Versalhes nos meados dos séculos VII e XVIII.

Em Portugal o uso de castrati na música religiosa e na ópera encontra-se documentado a partir do reinado de D. João V. A importação regular de cantores italianos (cerca de 140 entre 1750 e 1807), dos quais dezenas eram castrati, prosseguiu nos reinados de D. José e D. Maria I e durante a regência de D. João VI. E quando a corte se transferiu para o Brasil em 1807, na sequência das invasões francesas, o Príncipe Regente continuou a contar com castrati na Capela Real do Rio de Janeiro.

Os estatutos do Real Seminário de Música Patriarcal (1764), a principal escola de música em Lisboa antes da criação do Conservatório em 1835, mencionam que a idade de admissão dos alunos deveria ser de oito anos, podendo ingressar posteriormente no caso de já saberem música ou se fossem “castrados, com voz de soprano ou alto”.

Ao contrário dos seus colegas italianos, nenhum dos alunos do Seminário Patriarcal identificados como castrati fez carreira operática, mas tiveram cargos profissionais respeitáveis no âmbito da música sacra ou do ensino.

Após ter assistido à cerimónia da sagração da primeira pedra da Igreja da Memória em 1760 (celebrada pelo patriarca na presença da família real e do Marquês de Pombal), o italiano Giuseppe Baretti escreve ironicamente: “Terminou a missa e terminaram a fefautada e a rabecada de um bom número de castrados e de instrumentalistas, dos quais se mantém na corte um número muito superior ao dos professores de Letras de Coimbra.”

A Igreja Católica e a Monarquia encantava-se com o canto dos castrados e os “Direitos Humanos” não faziam parte da inspiração de “Deus”!

P.S. Não havendo qualquer relação com castrati proponho-vos a audição do
Contratenor Philippe Jaroussky em “Vivaldi aria”.
5 de Julho, 2012 Carlos Esperança

Argentina – o roubo de bebés e outras sevícias

A crueldade humana não tem limites e as ditaduras, convictas da sua impunidade, não hesitam nos crimes mais hediondos. Dois ditadores, Jorge Rafael Videla e Reynaldo Bignon, estão entre os 11 réus responsáveis pelo mais sórdido dos muitos crimes que o regime cometeu – a apropriação sistemática de bebés cujas mães eram sequestradas e, não raro, após o parto, lançadas ao mar a partir de aviões militares.

Casais inférteis, tal como na Espanha de Franco, tiveram os filhos que queriam, graças à sucessão de crimes e cumplicidades que nos deixam estarrecidos.

Sílvia Mónica Quintela foi sequestrada, grávida de 4 meses, com 28 anos de idade. Após o parto foi-lhe retirado o bebé e feita desaparecer enquanto o oficial Victor Gallo e a esposa, Susana Ines Colombo, assumiam a paternidade da criança que recetaram.

O regime assassinou adversários e  compensou os cúmplices com os filhos dos pais que matava. Foram largas as dezenas de crianças a quem assassinaram os pais e converteram em filhos de cúmplices.

Não faltaram sacerdotes para abençoar as armas da ditadura e dar força aos homens que fizeram os voos da morte. Perante a angústia dos que quiseram saber quem foram os pais biológicos, a Igreja católica não ajudou. Pelo contrário, era contra a investigação.

A Argentina espera a condenação dos autores e cúmplices do roubo de bebés da ditadura. Não é só a Argentina, é o mundo civilizado que espera a justiça que a Espanha impediu com o afastamento do juiz Baltasar Garzón.

26 de Junho, 2012 Carlos Esperança

Ateísmo para religiosos

Por

Kavkaz

O padre Anselmo Borges escreveu mais um dos seus habituais artigos no jornal DN, intitulado “Religião para ateus”. Sabemos que os padres têm um “calcanhar de Aquiles”: o ateísmo. Por mais que digam que o ateísmo tem pouca expressão na sociedade, este é manifestamente o alvo da frustração religiosa. Compreende-se, indicarem algo atual sobre os deuses é que lhes será impossível, pois nada têm para relatar deles. Os deuses não existem!

O padre colunista relata ter encontrado um ateu convicto, Alain de Botton, que escreveu um livro intitulado “Religion for Atheists”. Só pelo título do livro e pelo apoio caloroso do padre Anselmo Borges já estaremos a imaginar o “ateu”. Estarão bem um para o outro.

O tema que os entusiasmou a escrever é o da “solidão” e o da “vulnerabilidade perante o fracasso profissional”. Ambos elogiam a “Missa”, lugar de encontro de conhecidos e desconhecidos”. Criticam os centros comerciais, onde as pessoas também se encontram e convivem.

O padre Anselmo Borges escreve: “As religiões, porém, são mais realistas em relação ao ser humano e, por isso, sabem dar orientações concretas para os vários domínios da existência”. Aqui, engana-se. As orientações dos padres podem servir para alguns, mas não servirão para muitos. Ensinar a viver é o objetivo deles, mas quantas vezes encontramos os padres com uma vida pouco exemplar para ser seguida? Que interessa ter uma “boa” teoria formatada, se a prática que apresentam é claramente contrária ao que “ensinam”? São os outros que têm de fazer bem e os padres podem fazer mal?

As religiões são expansivas e agressivas. Tentam impor regras e colocar as pessoas a cumprir o que o clero lhes indica. Intrometem-se demasiadas vezes na vida alheia com as suas indicações, instruções, para “corrigirem” o que entendem ser o “caminho errado” nas suas ideias formatadas. De tanto se intrometerem na vida dos outros chega-se, tantas vezes, às vias de facto, às guerras. É que nem todos estão disponíveis e precisam das “lições” velhas e desfasadas da realidade dos religiosos. Estes querem sempre dominar e mandar. Pensam que eles é que sabem e têm a “sabedoria” máxima. E mesmo que isso fosse verdade, que não é, teriam a obrigação de respeitar as posições diferentes dos outros, mesmo que entendessem ser erradas. O que não fizeram tantas vezes ao longo da História!

Anselmo Borges não quer dizer que há muitas formas de fazer amizades nos nossos dias, se as pessoas o desejarem, claro. Só a missa é que garante uma amizade? Será ridículo pensar isso. Um ateu não precisa da missa e pela razão séria de não desejar pagar para ouvir as mentiras religiosas dos padres. Um ateu estudou e concluiu que os deuses não existem. Não faz sentido convidarem-no para a missa. Será criancice dos religiosos propor tal. Queremos conversar? Há tantos oportunidades para tal, a família, vizinhança, grupos de interesses, os museus, cafés, estádios, internet, lojas, etc., etc. Basta querer conversar! Não proponham aos ateus a Missa cantada. Para o ateu isso seria como propor-lhe a “pobreza franciscana” e o atraso mental. Os ateus merecem e querem mais que a mentira religiosa!

O padre Anselmo Borges não fala dos custos da religião. São imensos e incomportáveis para boa parte da sociedade que empobrece ao manter as igrejas e sustentando todo o clero. Isto ele omite, propositadamente, no seu artigo. Não deveria fazê-lo em nome da “honestidade intelectual”.

25 de Junho, 2012 Carlos Esperança

D. João V, Alberto João Jardim e outros biltres

António José da Silva, o Judeu, foi um escritor e dramaturgo que sofreu as torturas da Inquisição mas, contrariamente a outros membros da sua família, teve a sorte de ser garrotado antes de ser queimado, em auto-de-fé.

Este iluminista era provavelmente judeu, uma abominação que o Concílio de Trento, antecipando-se a Hitler, desejou erradicar, numa época em que a Igreja católica não admitia a incineração dos mortos, talvez porque a destinava aos vivos suspeitos de heresia, bruxaria, judaísmo e outras abominações.

O Judeu, como era conhecido, chamou ao senhor D. João V «grande governador da Ilha dos Lagartos», labéu que não merecia um rei magnânimo que mandou fazer para Mafra um sino de 10 mil quilos e dois carrilhões com mais de 200 toneladas. O esmagamento das mãos foi o aviso para tal ousadia, embora a solução final lhe estivesse reservada.

O que chamaria hoje ao Governador da Ilha das Bananas, um pequeno arquipélago de 300 mil habitantes, situado no continente africano, e que ao futebol, à Igreja e às festas tem dado o apoio que lhe garantiu perpetuar-se no cargo, por eleições, e tornar-se o mais antigo governante africano?

Alberto João Jardim concedeu em dez anos cerca de 100 milhões de euros em subsídios a obras e instituições religiosas embora, como é seu hábito, mesmo para fins piedosos, grande parte esteja por pagar. Claro que o velho salazarista não compreende o que é a laicidade e, daí, que se tenha comprometido com 3,5 milhões de euros para a igreja do Livramento, no Funchal, enquanto o Centro Regional de Segurança Social entraria com meio milhão de euros e a Câmara do Funchal com 325 mil. Pode não haver comida para os mendigos da Madeira mas não faltam casas para o serviço divino.

No último domingo, 24 de junho, foi inaugurada mais uma imponente igreja na Calheta pois os fiéis cansaram de rezar sempre na mesma. A igreja do Atouguia foi benzida pelo Sr. Bispo, que presidiu à cerimónia, e lançou incenso às pituitárias do presidente do Governo Regional, do presidente da Câmara, do pároco e do Sr. Duarte Pio, alegado pretendente ao imaginário trono de Bragança que, talvez à falta de sacristão autóctone, foi importado do Continente.

O Governo Regional, dada a folga orçamental, comprometeu-se com 1.000.000 de euros e a Câmara Municipal com 300.000 e, assim, foi Deus servido de dispor de mais 857,6 m2 de área coberta ao serviço da fé de Roma, da autoria do arquiteto do costume.