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Categoria: Catolicismo

15 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

Gostos pios

Fundão Padre admite que se deitava com alunos

O ex-vice reitor do Seminário do Fundão, acusado em tribunal de abusos sexuais, nega qualquer crime, mas admite que se deitava com os seminaristas na cama, garantindo, no entanto, que não fazia mais do que as mães e os pais fazem aos filhos, escreve o Jornal de Notícias.

10 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

A superstição, a remissão dos pecados e os negócios pios

Eu, ateu, me confesso.

Estou solidário com o papa na preocupação e condenação da aventura belicista contra a Síria. Reconheço-lhe a corajosa atitude no saneamento do banco do Vaticano (IOR) e na limpeza da Cúria, seja nas ligações à máfia ou no desmantelamento do lóbi gay, de que se queixou, não por ser gay, mas pelos interesses obscuros que representa.

Admiro o risco de vida que corre e a coragem de que precisa, mas não o levo a sério nos jejuns e orações, como armas da paz, do mesmo modo que não me atemorizo com maus olhados ou com as pragas que as ciganas rogam a quem não lhes deixa ler a sina.

Confesso que, tendo simpatia pelo atual papa, o exercício do múnus fortalece em mim a descrença, como se ainda precisasse de qualquer suplemento de ânimo para ouvir a voz da razão. Quem pode aceitar que a indústria dos milagres continue próspera sem a mais ténue explicação para a superstição que embrutece os crédulos? Que canonize um bem-aventurado de reputação dúbia, como João Paulo II, é uma opção de quem tem alvará para conceder a santidade. Não precisava de adjudicar milagres que ridicularizam a fé e não são benzina que limpe nódoas.

Como é possível que, após a abolição do Purgatório, retirado do catálogo das veniagas da fé, pelo antecessor, volte ao cardápio dos produtos pios, com desconto na estadia das almas penadas, se os vivos seguirem o papa no twitter?

Finalmente, só faltava o perdão dos pecados, outrora fonte de receitas da Igreja católica, passar por uma maratona pia, rumo ao santuário de Nossa Senhora do Carmo da Penha, em Guimarães. As peregrinações voltaram com direito ao perdão dos pecados.

Não há indulgência que perdoe tão atrevida promoção da crendice e do ensandecimento.

15 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Ainda a estátua do cónego Melo

O cónego Eduardo Melo foi um ditoso membro do cabido da Sé de Braga, um homem de ação, com provas dadas no Verão “quente” de 1975. Sabíamo-lo ao serviço de Deus e da sua Igreja, da fé e da sua difusão, do clero e dos seus interesses.

Coerente.
Sem medos.
Sem falsos pudores.
Em explosões constantes de proselitismo.

Sabíamo-lo o braço armado da Providência e o guardião da moral e dos bons costumes. Com muitos como ele ninguém lamentaria hoje a mancha negra na História de Portugal, como Sua Reverência considerava, em muitos aspetos, o 25 de Abril. Só não sabíamos que a sua santa alma pudesse explodir em desabafos de incontida admiração.

«O Dr. Salazar foi um estadista insigne, com um grande sentido de Estado e uma inigualável noção de autoridade », afirmou o Sr. Cónego Melo, defendendo outra vez um pulso forte como foi o dele.

Se ninguém duvidava dessa admiração, desse respeito, dessa gratidão, o que terá levado um homem de tanta devoção e provas dadas ao serviço do divino a prestar essa pública homenagem?

Há uma explicação plausível.

Tendo Deus deixado de o ouvir, ao longo de mais de três décadas, foi perdendo a fé.

Valeu-lhe o Dr. Mesquita Machado para lhe erigirem uma estátua condenada ao destino de outra que esteve em Santa Comba Dão. Na cidade que ignorou Salgado Zenha, uma referência ética e patriótica da luta contra a ditadura e da consolidação da democracia, é altura de se erguer um memorial ao padre Max e à sua aluna Maria de Lurdes, vítimas do terrorismo fascista do MDLP, associação de que o cónego Melo era avençado.

Assim, quando uma estátua voar nos céus da cidade dos arcebispos, ficarão os nomes do padre Max e de Maria de Lurdes como símbolos dos sonhadores de utopias.

13 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Fátima – destino inevitável da fé

É preciso não ter sentimentos para desrespeitar o sofrimento e a angústia dos peregrinos que têm como fetiche da sua devoção os dias 13, em especial, o do mês de maio, sem desprezar agosto, para os emigrantes, e outubro.

Aqueles septuagenários que vestem velhas camisas camufladas da época que os marcou, na guerra injusta e inútil, ainda hoje agradecem o regresso, como se as minas pudessem ter-nos matado ou estropiado a todos, como se tivessem de agradecer o regresso em vez de se revoltarem com a partida.

A fé é isto mesmo, não questionar os desígnios do acaso, agradecer a perna que sobrou em vez de reclamar a amputada, rezar pela sorte do olho que resta em vez de protestar pelo que os estilhaços da granada vazaram, enfim, caminhar de joelhos e rastejar num santuário, acreditando no poder miraculoso das azinheiras, onde saltitou a virgem, ou no espaço onde aterrou o anjo.

Há nos rostos sofridos e nos corpos doridos, a sangrar por dentro, uma dose enorme de esperança que não se esgota nos dedos delidos a desfiar o rosário como quem conta os dias de sofrimento que lhes coube. As chagas das longas caminhadas e os pés inchados não impedem os devotos de acrescentar ao sofrimento do quotidiano o da peregrinação.

É inútil explicar como nasceu Fátima, quem tinha interesse na devoção, quem fabricou os milagres que noutros sítios não vingaram. A República era a pedra no sapato do clero e a separação da Igreja e do Estado uma afronta à união centenária entre o trono e o altar. A rainha dos céus e o Cristo-Rei continuaram o paradigma da Igreja, com azia à democracia, que viu na ditadura de direita o doce amparo enquanto os «segredos» se multiplicavam a anunciar a conversão da Rússia à Senhora de Fátima.

A verdade é um mero detalhe nos caminhos da fé. Os peregrinos nutrem a tradição que procura no céu o que falta na terra. Olho-os com respeito, a caminho de Fátima, onde alguns serão atropelados antes de assistirem à procissão das velas.