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Categoria: Catolicismo

10 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_09_12_2013

João César das Neves (JCN) dedica a habitual homilia de segunda, no DN, ao ‘Emprego e dignidade’, sem abdicar das tolices que lhe afiançariam um Nobel, se acaso o prémio as distinguisse.

Da escola do Sr. Jacques de la Palice trouxe esta máxima de grande recorte e erudição: “é a ociosidade que paralisa a economia” e acrescenta, na sua meditação profunda, que “Idosos, estudantes, crianças, donas-de-casa, artistas, políticos, sindicalistas, sacerdotes, têm funções decisivas, apesar de não terem emprego”. E lamenta que “Num tempo economicista, que liga personalidade à produção”, percam dignidade, sendo “caso gritante, o trabalho doméstico”, sem que as pessoas vejam que “O lar, um valor humano supremo, agora é desprezado”.

Referindo-se à família, assunto recorrente, onde seria uma autoridade no Concílio de Trento, lamenta que “muitas pessoas, em geral mulheres, se queixam de terem um ‘emprego não remunerado’ em casa, sem ver isso como muito mais digno e valioso do que trabalho” [sic].

Corroborando JCN, é preciso que as mulheres sejam muito estúpidas para não verem que um emprego não remunerado, em casa, é muito mais digno e valioso do que um emprego rentável que, embora menos digno, deve ser exclusivo do género masculino.

Sobre o ensino, limito-me a transcrever JCN, com a certeza de que qualquer comentário ofuscaria o brilho do seu cristalino pensamento: “Também o ensino está mal calibrado. (…) Mas muitos jovens perdem tempo na escola, aprendendo coisas inúteis para o seu futuro, em nome de cânones educativos abstratos”. E, quiçá, comprometem a salvação!

Gastar dinheiro com os filhos dos pobres, que podem ter um emprego muito mais digno e valioso a carregar baldes de cimento do que a frequentar uma universidade, é um mero preconceito subversivo que corrompe as almas simples e confunde a ordem divina que criou ricos e pobres.

JCN não se limita à produção teórica e ao ensino do catecismo económico na Madraça de Palma de Cima, também conhecida por Universidade Católica. JCN faz um programa para “rever certezas e ideologias que décadas de propaganda nos gravaram na mente”:

– «É preciso subir a idade de reforma e conceber processos educativos mais curtos, dirigidos e eficazes.

– Promover e dignificar o voluntariado, trabalho doméstico e outras atividades informais e virtuais (…) que a cultura obsoleta menospreza”.

E, arrasador, conclui: “Estas mudanças ajudariam até o pior problema nacional a que, por isso mesmo, ninguém liga: a decadência familiar e colapso da fertilidade”.

JCN, o último católico medieval, devia ser considerado património da Humanidade.

9 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e as aparições sigilosas

Quando a Senhora do Rosário, heterónimo com que a Senhora de Fátima se apresentou na Cova da Iria, à Lúcia, ainda criança (a Lúcia, naturalmente), era imprevisível que se tornassem tão chegadas.

O pedido para que o Papa consagrasse o Mundo ao seu Imaculado Coração (da Virgem, claro) foi uma prova de simpatia para com uma criança do concelho de Ourém porque o poderia fazer diretamente ao representante do filho, no Vaticano.

Desse encontro e dos que se seguiram nasceu uma amizade para a vida da que viria a ser a Irmã Lúcia. Começou por promover o terço, exercício que aliviava os cavadores das posições viciosas da enxada e permitia às mulheres aliviar a coluna das lides do campo e da casa. Passou a ter uma interlocutora privilegiada no Paraíso, donde recebia ordens e sabia novas. Soube do valor do terço para a conversão da Rússia, dos humores de Cristo agravados pelos pecados dos homens e ausências à santa missa, e do epílogo da guerra.

Tal como os documentos do Pentágono e da CIA, desclassificados depois de 25 anos, também os escritos da Irmã Lúcia guardados numa gaveta fechada à chave no Carmelo de Coimbra, gaveta para a qual tinha uma autorização especial, foram agora publicados na extensa biografia da Irmã Maria Lúcia de Jesus.

Ficou assim a saber-se, que à sorrelfa, sem que a madre superiora suspeitasse, a vidente «recebeu, várias vezes, na clausura do convento em Coimbra, a presença de Nossa Senhora». São textos inéditos, num livro de 495 páginas, que Lúcia nunca compartilhou com as outras carmelitas, ora autoras da publicação.

Já não eram visões, como no princípio, eram aparições, como refere o livro, e não é uma questão de semiótica, uma alteração da significância das palavras, é uma transformação dialética de visões para aparições que, “além doutras, ocorreram a 22 de agosto de 1949, a 31 de dezembro de 1979 e em outubro de 1984”, segundo o DN de 8 de dezembro, da era vulgar de 2013, página 29.

A amizade era tal que, sobre a aparição de 1979, escreveu a Irmã Lúcia: “Assim orava com a fronte inclinada, na cela às escuras, com a janela cerrada, quando sinto uma mão suave pousar-me no ombro esquerdo”, para depois adicionar a mensagem que escutara: “Deus ouviu a tua oração e envia-Me [sic] para te dizer que é preciso intensificar a oração e o trabalho pela união da Igreja, dos bispos com o Santo Padre e dos sacerdotes com os bispos (…).

Estas descobertas valiosas, estes tesouros ocultos, só puderam ser desvendados após a morte da vidente, que se esqueceu de respirar em 13 de fevereiro de 2005.

Espero que estas informações agucem o apetite para a leitura pia de “Um caminho sob o Olhar de Maria: Biografia da Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado» (ed. Carmelo, 2013; 20 euros) – prefácio de D. Virgílio Antunes, atual bispo da diocese de Coimbra, onde se pode ler: “Acreditamos que as aparições de Nossa Senhora que a Irmã Lúcia teve no Carmelo de Coimbra, ao longo dos 57 anos que aí viveu, se tenham dado na sua cela, lugar de recolhimento, intimidade e oração da carmelita. Mas tudo se passou sempre com muita discrição e ninguém adivinhava quando andaria por aí Nossa senhora», um prefácio que é uma pérola e mais uma razão para comprar e ler o livro.

Observações:

1 – A discrição de “Nossa Senhora” teria de ser muita, para não derrubar uma cadeira, atirar com um castiçal ou esbarrar num crucifixo, o que levaria o pânico ao Carmelo;

2 – O recado de Deus para intensificar as orações, o trabalho, etc. ganham consistência pela semelhança com as orientações da troika, noutro campo, ao Governo português;

3 – O facto de Deus ter ouvido as orações da Lúcia foi motivo para uma aparição que o confirmou, o que pode levantar dúvidas sobre a audição das orações dos crentes que não privam com a Senhora de Fátima, mas um crente não pode ter dúvidas, tem certezas.

2 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

A Irmã Lúcia e o folhetim dos segredos

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Lúcia de Jesus dos Santos ou Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Irmã Lúcia, para os mais chegados, fez a 1.ª comunhão aos 6 anos e aos 14 tornou-se reclusa, como pensionista, na escola das Irmãs de St.ª Doroteia, em Vilar, próximo do Porto.

A 3 de janeiro de 1944, já com letra aprimorada e intimidade com o divino, escreveu, a pedido, a “Terceira Parte do Segredo de Fátima”, quando ainda usava o pseudónimo de Maria das Dores e vivia enclausurada em Tui, Espanha.

Já era então vasto o currículo místico, com amplo traquejo no campo das visões, desde as entrevistas com a Virgem, que saltitava de azinheira em azinheira, até aos rodopios do sol, transformado em bola de fogo, a brilhar em numerosas cores, e à viagem ao Inferno onde encontrou o Administrador do Concelho de Ourém, a frigir como merecia, por, em vida, ter faltado à missa.

A Terceira Parte do Segredo de Fátima foi um ponto alto da sua bibliografia pois era a profecia que o papa João Paulo II, na sua superstição, entendeu ser a seu respeito. Esse recado celeste vai agora ser investigado por uma professora catedrática de Coimbra, Maria José Azevedo Santos, não porque tenha a santidade no apelido, mas por ser uma cientista em Paleografia, Diplomática e Codicologia, ciências terrenas que hão de ajudar a compreender as idiossincrasias do Paraíso.

A Congregação para a Doutrina da Fé, ex-Santo-Ofício, de passado pouco estimável, é a possuidora do valioso documento, ora emprestado, pelo prazo de 1 ano, ao Santuário de Fátima onde integrará a exposição «Segredo e Revelação», evento que acordará paixões pias e êxtases místicos.

Espera-se que no acervo dos alvitres da Senhora do Rosário – nome com que a virgem se apresentou aos pastorinhos –, não faltem as cartas que a experiente vidente dirigiu a Marcelo Caetano pedindo legislação adequada para a altura das saias e o tamanho das mangas dos vestidos femininos.

Sabe-se que a Ir.ª Lúcia está no Céu porque, no dia do seu funeral, o Papa João Paulo II e o futuro Papa Bento XVI disseram que ela iria para o céu e Deus seria incapaz de lhes contrariar as previsões.

26 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

A 1.ª Cruzada – 27 de novembro de 1095

Há cinco versões diferentes, cada uma de acordo com a recetividade dos povos a quem era dirigido, do discurso que Urbano II entregou no Concílio de Clermont-Ferrand, mas, como sempre acontece em coisas religiosas, não há nenhuma garantidamente fidedigna.

Certo é o apelo feito aos cristãos, convocados em nome de Deus, e o perdão garantido dos pecados a todos os que “morressem, em terra ou no mar”, na guerra contra os infiéis muçulmanos, a fim de reconquistar Jerusalém.

Urbano II lambia ainda as feridas do Grande Cisma do Oriente e disputava a hegemonia com Henrique IV (Sacro Imperador Romano (1056-1106) sobre o diferendo que opunha o Papa ao Imperador, em que o primeiro pretendia nomear os Imperadores, em nome de Deus, e o segundo, em nome do Império, queria nomear o clero. Além disso, Urbano II tinha ainda a competição do antipapa de Roma.

A Igreja, débil, assistia a lutas internas, violações, roubos, pilhagens, matanças e casos de corrupção nos quais o clero estava envolvido, contra a vontade de Urbano II.

A palavra Cruzada não fora ainda inventada mas o alvoroço pelas indulgências plenárias vinha ao encontro do Papa, para resolver os problemas internos e a luta contra os turcos seljúcidas que formavam um perigoso império islâmico sunita, medieval, turco-pérsico, que ameaçava a Europa.

A Abadia de Cluny esteve na origem, juntamente com as suas filiais de Saint-Alyre de Clermont e Mozac, da primeira Cruzada. Além dos problemas internos do papado, urgia libertar os cristãos do poder dos turcos seljúcidas, reabrir o caminho para peregrinações à Terra Santa, bloqueado pelos referidos turcos e impedir a invasão da Europa, o plano turco que acabaria por ter início em 1453 com a conquista de Constantinopla.

As Cruzadas, pelo pavor que provocaram, pelos episódios horrendos, pelo proselitismo que as animou, ficaram como marca indelével de uma época violenta de que a Igreja era o reflexo.

Evocar o início da primeira Cruzada é o pretexto para reflexão do horror simétrico que a mesma demência mística encontra hoje nos suicidas islâmicos, na Jihad e no sectarismo.

A violência terrorista da turba de crentes, fanatizada pelo clero, tem hoje o equivalente na intoxicação das madraças e mesquitas e na demência que viaja em sentido inverso.

Lembrar as cruzadas é a forma refletir no proselitismo islâmico que ameaça a Europa.

25 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

O Papa, o catolicismo e o Cristo-Rei

Com a celebração da solenidade de Cristo Rei, neste Domingo 24 de novembro, o Papa [Francisco] fez a conclusão do Ano da Fé, uma «iniciativa providencial» de Bento XVI, apresentando Jesus Cristo como o “centro da história da humanidade e de cada homem”.

Não se vê no evento promocional de uma religião onde possa entrar a Providência, nem como um judeu, nascido há 2 mil anos, possa ter emigrado para o «centro da história da humanidade» ou para o centro de «cada homem», sabendo-se que apenas cerca de 20%, na mais favorável das hipóteses, é cristã e a Humanidade já leva milhões de anos.

Concluído o Ano da Fé, talvez venha o Ano da Razão. Entre o defeito de acreditar sem provas e a virtude de duvidar, por método, é preferível a segunda hipótese. É natural que quem não exige provas para acreditar também as dispense para duvidar.

O que espanta na ICAR é o paradigma monárquico, que permanece após o descrédito da realeza, depois de os princípios do Iluminismo terem contrariado os dogmas e destruído os privilégios hereditários.

A mãe de Jesus é referida como Rainha dos Céus e até a hipotética legião de assessores, que aconselham o Deus-Pai, é referida como ‘corte’ celeste. Demorará muito até que as orações e a mentalidade se adaptem, ao menos, ao espírito democrático e republicano.

Pode ser que um dia, em vez da salve-rainha se recite a salve-presidenta [sic] e surjam monumentos a Cristo-Chanceler ou a Cristo-Presidente, mais adequados à nomenclatura profana e aos hábitos modernos, já que o Cristo-Xá ou o Cristo-Imperador são pouco ajustados à História recente dos povos onde o cristianismo resiste e os de Führer ou Mahatma totalmente improváveis.

O Vaticano é que, por mais que queira, continua um anacronismo onde ‘Santidade’ é a profissão e o estado civil .

22 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

D. Francisco Javier Martinez e a felação matrimonial

D. Francisco Javier Martinez, arcebispo de Granada, defende que a mulher deve praticar felações ao marido sempre que ele lho ordene – lê-se em Diario Popular – El Mundo, terça-feira, 13 de novembro.

«Não é uma perversidade», diz o prelado no livro «Casa-te e sê submissa» [tradução literal]. «A felação pode fazer-se, pensando em Jesus».

«O sexo matrimonial também é obra do Senhor e, por isso, sempre se regeu pelas leis da Igreja»

O livro, que pretende ser uma orientação pia para mulheres casadas, acrescenta muitos outros conselhos preciosos:

“Deus colocou-te ao lado do teu marido, esse santo que te suporta apesar de tudo. Obedece-lhe e submete-te com confiança”

Apostila: A verdade já é suficientemente grave para que não sejam necessárias referências jocosas de duvidosa proveniência.

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20 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

João César das Neves (JCN) e o Faceboock

A sanha contra JCN já levou à criação de uma página do FB «Correr com o César das Neves do DN, TV, Rádio e U.C. (Universidade católica)». Só falta pedir a exclusão do devoto, do próprio FB, do Banco de Portugal e da missa. A vocação censória iguala a do bem-aventurado e o senso aproxima-se do dele.

JCN diz muitas tolices? – claro que diz, e grandes, mas não fica sob a alçada do Código Penal. Acha que o ordenado mínimo deve ser reduzido e que os pensionistas são ricos? – De facto, ele pensa isso e revela a formação da madraça onde é aiatola, mas não sendo um pensamento digno, não é crime.

JCN gostaria que a sharia romana fosse a legislação que substituísse o direito de família, sem divórcio, com cadeias abertas para a IVG e a lapidação para mulheres adúlteras?
– É de crer que sim, mas há outros que pensam o mesmo e andam à solta.

JCN gostaria de confiar a saúde, o ensino, os Tribunais, a assistência e as polícias aos Irmãos Católicos e transformar o Estado num departamento da Conferência Episcopal? – É natural, mas pensar que a demência mística possa abalar os fundamentos do Estado de Direito é não acreditar na democracia.

JCN atira-se aos juízes do Tribunal Constitucional como um Cruzado aos mouros, mas não é diferente do PM que, com isso, perde legitimidade para o ser ou do presidente da CE, Durão Barroso, cuja chantagem devia ter sido repudiada pelo PR, se o houvesse.

JCN cilicia-se, viaja de joelhos, empanturra-se em hóstias, inala incenso, encharca-se em água benta e extasia-se com o brilho da púrpura, a beleza do báculo e o fulgor da mitra? – E o que temos nós a ver com isso? O homem flagela-se e acha que «no [seu] medíocre quotidiano, continua a mesma mesquinha criatura que sempre foi»? – E que temos nós a ver com um raro momento de lucidez?

A censura é sempre um ato inadmissível e, vendo bem, JCN é um manancial de humor que diverte muito mais com as tolices que diz do que António Sala com «Anedotas» que publica.

18 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

18 de novembro – o pior

1929 – Manuel Gonçalves Cerejeira foi designado cardeal-patriarca de Lisboa e foi, na longa carreira cardinalícia, um aliado do ditador fascista, António de Oliveira Salazar.

1936 – A Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini reconheceram o Governo fascista de Espanha, do ditador Francisco Franco.

18 de Novembro, 2013 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_18_11-2013

Mal refeito das 4 páginas da entrevista de João César das Neves (JCN), com a digestão ainda por fazer, cai-me no regaço, desprendendo-se da NET, a homilia da segunda-feira, subordinada ao tema «Ano da Fé».

A homilia começa por esta exultação pia: «Não há felicidade maior do que saber que Deus, o Deus supremo, sublime, transcendente, que fez o céu e a terra, se entregou à morte para me salvar. A mim pessoalmente».
JCN não calcula os inimigos que, com tal denúncia, arranja para o Deus dele.

Confessa, a seguir, que «Ele está dependurado por minha causa» o que, em boa verdade, muitos, que não conhecem Deus mas conhecem JCN, hão de considerar que é bem feito. Num gesto de narcisismo e de autocrítica, JCN lembra aos incréus que «Nas paredes das salas, nas frontarias das igrejas, nos quadros dos museus, até no meu peito, em todo o lado a imagem da cruz lembra que Aquele ali, coberto de sangue, foi condenado à morte por minha causa».

Sempre achei que, num país laico, a profusão de cruzes era um abuso mas o catecúmeno delira com a abundância dos instrumentos de tortura. Eu abomino o sofrimento, o meu e o dos outros, sou contra a pena de morte, mas não absolvo quem morre para salvar JCN.

Depois de perorar sobre a morte e outros sustos com que nas aldeias os padres incutiam a fé, JCN, em transe místico e delírio pio, afirma que «a morte não é só um justo castigo dos nossos males, mas também um alívio terapêutico dos mesmos males». Podia aliviar-se de vez e aliviar-nos, mas preferiu a autocrítica, mantendo-se vivo na U. Católica e no Banco de Portugal, confessando que «Se tirar a máscara de respeitabilidade e elegância, se esquecer as justificações retóricas e os enganos convenientes, se for ao fundo das minhas razões, vejo com clareza que um juiz justo e imparcial teria de me condenar». JCN sabe bem o que faz e o que merece. Se Deus existisse…

Na pungência do desvario místico, julgando que os Cristos dependurados das cruzes, e bem crucificados, não tiram os olhos dele, acaba por afirmar o que todos sabemos dele:

«Eu, no medíocre quotidiano, continuo a mesma mesquinha criatura que sempre fui».

E lá continua a homilia, na obsessão da cruz, na adoração do crucificado, convencido de que está lá pendurado por causa dele, JCN, e que não se vai embora, «por grandes que sejam os meus crimes», desconhecendo que o crucifixo só baqueia se for maior a força da gravidade do que a resistência do prego que o segura.