Investigadora de Coimbra assegura
autenticidade de manuscrito de Lúcia sobre Fátima
Uma investigadora da Universidade de Coimbra (UC) assegura que “a terceira parte do manuscrito do segredo de Fátima é realmente um documento autêntico”, depois de, a convite do Vaticano, ter feito o seu estudo diplomático e paleográfico.
João César das Neves (JCN) dedica a habitual homilia de segunda, no DN, ao ‘Emprego e dignidade’, sem abdicar das tolices que lhe afiançariam um Nobel, se acaso o prémio as distinguisse.
Da escola do Sr. Jacques de la Palice trouxe esta máxima de grande recorte e erudição: “é a ociosidade que paralisa a economia” e acrescenta, na sua meditação profunda, que “Idosos, estudantes, crianças, donas-de-casa, artistas, políticos, sindicalistas, sacerdotes, têm funções decisivas, apesar de não terem emprego”. E lamenta que “Num tempo economicista, que liga personalidade à produção”, percam dignidade, sendo “caso gritante, o trabalho doméstico”, sem que as pessoas vejam que “O lar, um valor humano supremo, agora é desprezado”.
Referindo-se à família, assunto recorrente, onde seria uma autoridade no Concílio de Trento, lamenta que “muitas pessoas, em geral mulheres, se queixam de terem um ‘emprego não remunerado’ em casa, sem ver isso como muito mais digno e valioso do que trabalho” [sic].
Corroborando JCN, é preciso que as mulheres sejam muito estúpidas para não verem que um emprego não remunerado, em casa, é muito mais digno e valioso do que um emprego rentável que, embora menos digno, deve ser exclusivo do género masculino.
Sobre o ensino, limito-me a transcrever JCN, com a certeza de que qualquer comentário ofuscaria o brilho do seu cristalino pensamento: “Também o ensino está mal calibrado. (…) Mas muitos jovens perdem tempo na escola, aprendendo coisas inúteis para o seu futuro, em nome de cânones educativos abstratos”. E, quiçá, comprometem a salvação!
Gastar dinheiro com os filhos dos pobres, que podem ter um emprego muito mais digno e valioso a carregar baldes de cimento do que a frequentar uma universidade, é um mero preconceito subversivo que corrompe as almas simples e confunde a ordem divina que criou ricos e pobres.
JCN não se limita à produção teórica e ao ensino do catecismo económico na Madraça de Palma de Cima, também conhecida por Universidade Católica. JCN faz um programa para “rever certezas e ideologias que décadas de propaganda nos gravaram na mente”:
– «É preciso subir a idade de reforma e conceber processos educativos mais curtos, dirigidos e eficazes.
– Promover e dignificar o voluntariado, trabalho doméstico e outras atividades informais e virtuais (…) que a cultura obsoleta menospreza”.
E, arrasador, conclui: “Estas mudanças ajudariam até o pior problema nacional a que, por isso mesmo, ninguém liga: a decadência familiar e colapso da fertilidade”.
JCN, o último católico medieval, devia ser considerado património da Humanidade.
Quando a Senhora do Rosário, heterónimo com que a Senhora de Fátima se apresentou na Cova da Iria, à Lúcia, ainda criança (a Lúcia, naturalmente), era imprevisível que se tornassem tão chegadas.
O pedido para que o Papa consagrasse o Mundo ao seu Imaculado Coração (da Virgem, claro) foi uma prova de simpatia para com uma criança do concelho de Ourém porque o poderia fazer diretamente ao representante do filho, no Vaticano.
Desse encontro e dos que se seguiram nasceu uma amizade para a vida da que viria a ser a Irmã Lúcia. Começou por promover o terço, exercício que aliviava os cavadores das posições viciosas da enxada e permitia às mulheres aliviar a coluna das lides do campo e da casa. Passou a ter uma interlocutora privilegiada no Paraíso, donde recebia ordens e sabia novas. Soube do valor do terço para a conversão da Rússia, dos humores de Cristo agravados pelos pecados dos homens e ausências à santa missa, e do epílogo da guerra.
Tal como os documentos do Pentágono e da CIA, desclassificados depois de 25 anos, também os escritos da Irmã Lúcia guardados numa gaveta fechada à chave no Carmelo de Coimbra, gaveta para a qual tinha uma autorização especial, foram agora publicados na extensa biografia da Irmã Maria Lúcia de Jesus.
Ficou assim a saber-se, que à sorrelfa, sem que a madre superiora suspeitasse, a vidente «recebeu, várias vezes, na clausura do convento em Coimbra, a presença de Nossa Senhora». São textos inéditos, num livro de 495 páginas, que Lúcia nunca compartilhou com as outras carmelitas, ora autoras da publicação.
Já não eram visões, como no princípio, eram aparições, como refere o livro, e não é uma questão de semiótica, uma alteração da significância das palavras, é uma transformação dialética de visões para aparições que, “além doutras, ocorreram a 22 de agosto de 1949, a 31 de dezembro de 1979 e em outubro de 1984”, segundo o DN de 8 de dezembro, da era vulgar de 2013, página 29.
A amizade era tal que, sobre a aparição de 1979, escreveu a Irmã Lúcia: “Assim orava com a fronte inclinada, na cela às escuras, com a janela cerrada, quando sinto uma mão suave pousar-me no ombro esquerdo”, para depois adicionar a mensagem que escutara: “Deus ouviu a tua oração e envia-Me [sic] para te dizer que é preciso intensificar a oração e o trabalho pela união da Igreja, dos bispos com o Santo Padre e dos sacerdotes com os bispos (…).
Estas descobertas valiosas, estes tesouros ocultos, só puderam ser desvendados após a morte da vidente, que se esqueceu de respirar em 13 de fevereiro de 2005.
Espero que estas informações agucem o apetite para a leitura pia de “Um caminho sob o Olhar de Maria: Biografia da Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado» (ed. Carmelo, 2013; 20 euros) – prefácio de D. Virgílio Antunes, atual bispo da diocese de Coimbra, onde se pode ler: “Acreditamos que as aparições de Nossa Senhora que a Irmã Lúcia teve no Carmelo de Coimbra, ao longo dos 57 anos que aí viveu, se tenham dado na sua cela, lugar de recolhimento, intimidade e oração da carmelita. Mas tudo se passou sempre com muita discrição e ninguém adivinhava quando andaria por aí Nossa senhora», um prefácio que é uma pérola e mais uma razão para comprar e ler o livro.
Observações:
1 – A discrição de “Nossa Senhora” teria de ser muita, para não derrubar uma cadeira, atirar com um castiçal ou esbarrar num crucifixo, o que levaria o pânico ao Carmelo;
2 – O recado de Deus para intensificar as orações, o trabalho, etc. ganham consistência pela semelhança com as orientações da troika, noutro campo, ao Governo português;
3 – O facto de Deus ter ouvido as orações da Lúcia foi motivo para uma aparição que o confirmou, o que pode levantar dúvidas sobre a audição das orações dos crentes que não privam com a Senhora de Fátima, mas um crente não pode ter dúvidas, tem certezas.
Lúcia de Jesus dos Santos ou Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, Irmã Lúcia, para os mais chegados, fez a 1.ª comunhão aos 6 anos e aos 14 tornou-se reclusa, como pensionista, na escola das Irmãs de St.ª Doroteia, em Vilar, próximo do Porto.
A 3 de janeiro de 1944, já com letra aprimorada e intimidade com o divino, escreveu, a pedido, a “Terceira Parte do Segredo de Fátima”, quando ainda usava o pseudónimo de Maria das Dores e vivia enclausurada em Tui, Espanha.
Já era então vasto o currículo místico, com amplo traquejo no campo das visões, desde as entrevistas com a Virgem, que saltitava de azinheira em azinheira, até aos rodopios do sol, transformado em bola de fogo, a brilhar em numerosas cores, e à viagem ao Inferno onde encontrou o Administrador do Concelho de Ourém, a frigir como merecia, por, em vida, ter faltado à missa.
A Terceira Parte do Segredo de Fátima foi um ponto alto da sua bibliografia pois era a profecia que o papa João Paulo II, na sua superstição, entendeu ser a seu respeito. Esse recado celeste vai agora ser investigado por uma professora catedrática de Coimbra, Maria José Azevedo Santos, não porque tenha a santidade no apelido, mas por ser uma cientista em Paleografia, Diplomática e Codicologia, ciências terrenas que hão de ajudar a compreender as idiossincrasias do Paraíso.
A Congregação para a Doutrina da Fé, ex-Santo-Ofício, de passado pouco estimável, é a possuidora do valioso documento, ora emprestado, pelo prazo de 1 ano, ao Santuário de Fátima onde integrará a exposição «Segredo e Revelação», evento que acordará paixões pias e êxtases místicos.
Espera-se que no acervo dos alvitres da Senhora do Rosário – nome com que a virgem se apresentou aos pastorinhos –, não faltem as cartas que a experiente vidente dirigiu a Marcelo Caetano pedindo legislação adequada para a altura das saias e o tamanho das mangas dos vestidos femininos.
Sabe-se que a Ir.ª Lúcia está no Céu porque, no dia do seu funeral, o Papa João Paulo II e o futuro Papa Bento XVI disseram que ela iria para o céu e Deus seria incapaz de lhes contrariar as previsões.
Há cinco versões diferentes, cada uma de acordo com a recetividade dos povos a quem era dirigido, do discurso que Urbano II entregou no Concílio de Clermont-Ferrand, mas, como sempre acontece em coisas religiosas, não há nenhuma garantidamente fidedigna.
Certo é o apelo feito aos cristãos, convocados em nome de Deus, e o perdão garantido dos pecados a todos os que “morressem, em terra ou no mar”, na guerra contra os infiéis muçulmanos, a fim de reconquistar Jerusalém.
Urbano II lambia ainda as feridas do Grande Cisma do Oriente e disputava a hegemonia com Henrique IV (Sacro Imperador Romano (1056-1106) sobre o diferendo que opunha o Papa ao Imperador, em que o primeiro pretendia nomear os Imperadores, em nome de Deus, e o segundo, em nome do Império, queria nomear o clero. Além disso, Urbano II tinha ainda a competição do antipapa de Roma.
A Igreja, débil, assistia a lutas internas, violações, roubos, pilhagens, matanças e casos de corrupção nos quais o clero estava envolvido, contra a vontade de Urbano II.
A palavra Cruzada não fora ainda inventada mas o alvoroço pelas indulgências plenárias vinha ao encontro do Papa, para resolver os problemas internos e a luta contra os turcos seljúcidas que formavam um perigoso império islâmico sunita, medieval, turco-pérsico, que ameaçava a Europa.
A Abadia de Cluny esteve na origem, juntamente com as suas filiais de Saint-Alyre de Clermont e Mozac, da primeira Cruzada. Além dos problemas internos do papado, urgia libertar os cristãos do poder dos turcos seljúcidas, reabrir o caminho para peregrinações à Terra Santa, bloqueado pelos referidos turcos e impedir a invasão da Europa, o plano turco que acabaria por ter início em 1453 com a conquista de Constantinopla.
As Cruzadas, pelo pavor que provocaram, pelos episódios horrendos, pelo proselitismo que as animou, ficaram como marca indelével de uma época violenta de que a Igreja era o reflexo.
Evocar o início da primeira Cruzada é o pretexto para reflexão do horror simétrico que a mesma demência mística encontra hoje nos suicidas islâmicos, na Jihad e no sectarismo.
A violência terrorista da turba de crentes, fanatizada pelo clero, tem hoje o equivalente na intoxicação das madraças e mesquitas e na demência que viaja em sentido inverso.
Lembrar as cruzadas é a forma refletir no proselitismo islâmico que ameaça a Europa.
A Idade Média persegue a Igreja católica
A ministro da Saúde, Serviços Sociais e Igualdade, Ana Mato, juntou-se a onda de críticas que tem despertado o livro Casar e ser submisso , escrito por Constance Miriano e publicado pela Arquidiocese de Granada
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