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Categoria: Catolicismo

2 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Deus e os padres

Deus criou o Mundo e não consta que, depois disso, tenha feito algo mais. Não fez obra asseada nem mostrou regular bem da cabeça, mas não faltam voluntários a enaltecer a obra nem candidatos a testamenteiros da vontade divina.

Quem se julga feito à imagem e semelhança de Deus tem direito a essas e outras tolices. Mas não tem o direito de impor a vontade à força, de converter incréus pela violência, de purificar os pecadores pelo fogo, com lapidações e outras formas de pedagogia ativa de que as religiões gostam.

O clero é uma classe parasitária que vive da venda de uma mercadoria cuja existência não pode provar, que exerce poder e influência graças a truques de utilidade duvidosa, que promete o Paraíso a preços insuportáveis com o alibi de que tem o monopólio da verdade e o alvará da única agência de transportes. O que me surpreende é a clientela que mantém, a fidelidade dos fregueses e a sua dedicação.

Em 2005, o Grande Oriente Lusitano – Maçonaria Portuguesa entregou na Torre do Tombo um dossiê de 121 folhas, em papel almaço dactilografado, com agentes daquela organização fascista que recolhia informações sobre os democratas. Ora, na cáfila de delatores e gente de mau porte, havia duas páginas de párocos. Acontecia, aliás, o mesmo na PIDE onde piedosos bufos de sotaina denunciavam democratas antes ou depois da confissão.

Como cidadão lamento que os esbirros não tenham sido julgados e os crimes da PIDE e da Legião Portuguesa tenham ficado impunes mas, como ateu, – e é isso que interessa aqui –, fico perplexo com a boa fé dos crentes que se genufletem aos pés de primatas tão abjetos. Sempre me nauseou a bajulação de quem é capaz de beijar a mão de um padre, a fragilidade de quem é capaz de confessar atos cuja indignidade uma reta consciência devia impedir de cometer.

Claro que não são todos. Pudera! Mas alguém duvida da poderosa arma que constitui a confissão e das numerosas vezes que foi, é e será usada para benefício da santa máfia que se dedica aos negócios de Deus e à conquista metódica e persistente do poder?

Comemorou-se em 2005, em França, o centenário da separação do Estado e da Igreja. Esta, sem a laicidade comportar-se-ia em Portugal de forma diferente do que em Timor? Em Espanha a ICAR respeita a legalidade democrática?

Já repararam como regridem em Espanha as leis sobre a família depois de o Opus Dei ter infiltrado o atual Governo do PP?

31 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_30-12-2014

João César das Neves (JCN), saprófita do episcopado, funâmbulo do Vaticano e devoto contumaz de todos os pontífices, andou desorientado com o atual, sem saber se o devia adular na homilia de segunda, no DN.

Saído de longa confissão, com joelhos doridos e síndrome de privação da hóstia, teve de cumprir a expiação adrede decidida pelo confessor – dizer bem de Francisco –, dar o seu testemunho de regozijo pela escolha do Espírito Santo, o da Trindade, e mostrar o júbilo público, para evangelizar réprobos, sem aliviar o cilício.

No exórdio da homilia que lhe serve de refrigério – “O furacão Bergoglio” –, afirma que “Todos gostam do Papa Francisco”, que, com ele, aconteceu “uma lufada de ar fresco, não só na Igreja mas em todo o mundo”, distraído de que há mais Igrejas e mais mundo, além do romano, e que no Iémen ou na Arábia Saudita nem uma brisa soprou.

JCN está para a penitência como o Governo para a troika, quer ir sempre além. Por isso, criou este mimo de retórica para a antologia da parenética: “A novidade foi inesperada, apesar de acontecer repetidamente nos pontificados anteriores». Não referiu antipapas, não evocou os Bórgias, mas até Pio IX citou, o papa mais reacionário do século XIX, o criador dos dogmas da Imaculada e da Infalibilidade.

JCN disse ainda que “Bento XVI se revelou caloroso, mediático, comovente” e que com Francisco a lufada de ar fresco se tornou um furacão. “Neste caso, é mesmo justificada a paixão e o encanto (como nos casos anteriores)” [sic]. As piruetas a que é obrigado para cumprir a expiação! E vai avisando que “O consenso à sua volta [do Papa] sofre de um cisma fundamental, ainda oculto”.

Vê-se que teme discordâncias com o ultraliberalismo da madraça da Palma de Cima, em Lisboa, onde leciona. Teme “que o fascínio inicial se venha a transformar em críticas, zangas e perseguições dos que apoiaram o novo Papa sem ser realmente suas ovelhas”.

E, sábio, adverte que “o maior equívoco está em achar a Igreja obsoleta…”. “A Igreja sempre precisa de reforma, por estar abaixo do ideal transcendente. Mas essa reforma é feita com os olhos no Céu, não nas conveniências do momento. A sua missão é converter o mundo, não ser aceite por ele”.

JCN cumpriu a penitência mas vê-se que se assusta com os ventos e teme a pneumonia.

28 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

O Opus Dei enfrenta contestação à sua lei

La reforma del aborto despierta voces críticas dentro del PP

La delegada del Gobierno en Madrid defiende la ley de plazos

La ley del aborto promovida por Alberto Ruiz-Gallardón empezó ayer a sumar voces críticas dentro de su propio partido. Varios altos cargos del Partido Popular expresaron a lo largo del día su discordancia con una ley que permitirá el aborto solo en dos supuestos (violación y daño físico o psíquico para la madre) y añade nuevas exigencias, en una regresión del derecho de la mujer a decidir una interrupción del embarazo que había quedado consolidado en la ley socialista de 2010.

La delegada del Gobierno en Madrid y figura emergente dentro del PP, Cristina Cifuentes, se declaró partidaria de la ley de plazos (la que está en vigor), aunque anunció que acata la voluntad de su partido. Borja Sémper, portavoz en el Parlamento vasco, expresó sus discrepancias con algunos aspectos y pidió a su formación que permita a los diputados votar “en conciencia”. “Los partidos no deben ser sectas”, aseguró. El alcalde de Valladolid, el ginecólogo Francisco Javier León de la Riva, criticó la exclusión de ciertas malformaciones de los supuestos. Y el Gobierno de Castilla y León defendió que se “matice y mejore” la reforma legal. (El País)

27 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

I V G – Recordar Natália Correia

Agora que o PP espanhol, por influência nefasta do Opus Dei, fez retroceder a lei sobre a IVG, aqui fica o poema de Natália Correia, feito na A.R., enquanto o deputado Morgado combatia a descriminalização:

«O ato sexual é para ter filhos» – disse na Assembleia da República, no dia 3 de Abril de 1982, o então deputado do CDS João Morgado no debate sobre a legalização do aborto.

A resposta de Natália Correia, em poema – publicado depois pelo Diário de Lisboa em 5 de Abril desse ano – fez rir todas as bancadas parlamentares, sem exceção, tendo os trabalhos parlamentares sido interrompidos por isso:

Já que o coito – diz Morgado –
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;

e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou – parca ração! –

uma vez. E se a função
faz o órgão – diz o ditado –
consumada essa exceção,
ficou capado o Morgado.

( Natália Correia – 3 de Abril de 1982 )

Apostila – Natália Correia, ao saber que o deputado Morgado era pai de 2 filhos, pediu-lhe desculpa, dizendo que desconhecia que tivesse feito truca-truca duas vezes.

25 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

A troika, a fé e a vida (alegoria)

Nasci sob a asfixia da troika – Pai, Filho e Espírito Santo –, sob o terror das ameaças de quem tinha em todas as paróquias funcionários durões que zelavam pela amortização do empréstimo da vida, pela remissão do pecado original e pelos juros agiotas, fixados pelo credor a quem não pedira para nascer com a dívida do empréstimo.

O batismo era o pacto de pagamento da dívida – dom da troika –, e um imperativo a que ninguém podia eximir-se. Começava-se em criança a rezar ave-marias e aos sete anos já a salve-rainha, o credo e as bem-aventuranças abrangiam os juros que eram pagos com a eucaristia e, antes dela, com a penitência que não dispensava o ato de contrição.

A dívida não diminuía e os juros não baixavam. As crianças queriam ser boas alunas da troika, e ir além das suas exigências, mas a dívida crescia, as ameaças eram constantes e o Inferno uma inevitabilidade. Aos dez anos o delgado paroquial, exigiu às crianças que um novo pacto fosse assinado para que a troika libertasse a segunda tranche da salvação eterna. Era a confirmação, que tinha como notário o bispo e como selo branco uma cruz desenhada a óleo na testa dos devedores. Aos 10 anos, as crianças da aldeia tinham sido fustigadas com quatro sacramentos e a comunhão solene sem que a dívida abrandasse.

Cansados do ónus ou tornados malhadiços com tanta exigência, começou a relaxação da fé. Ficavam por pagar as penitências, chegava-se tarde ao mês de Maria e hilariavam-se as crianças durante a missa, mas quem nunca se riu na missa que atire a primeira hóstia.

Foi assim, com uma dívida crescente, com exigências impiedosas, que renunciei à vida eterna e à dívida. Fiz então um pacto com Deus que ainda perdura. Eu comprometi-me a não fazer milagres e ele não escreve crónicas.

18 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

As mulheres são sempre culpadas

Não sei se é maior o nojo ou a perplexidade perante a violência misógina, a demência clerical e a injustiça que causa danos irreparáveis a metade do género humano.

As autoridades eclesiásticas mexicanas culpam as mulheres das agressões sexuais que sofrem, devido à roupa “provocativa” que vestem. A culpa é sempre de Eva, pensam as obtusas criaturas na mentalidade de quem vê o mundo pelos versículos do Levítico.

«Com decotes pronunciados e minissaias “estão provocando ao homem”, disse o arcebispo de Santo Domingo, México, Nicolás de Jesús López Rodríguez, durante o sexto Encontro Mundial das Famílias. Maldita alegoria da maçã colhida no Paraíso inventado na Idade do Bronze.

– “As mulheres expõem-se a violações, a que as usem, que as tratem como um trapo velho, porque estão desvalorizando a sua pessoa e sua dignidade”, disse por sua vez o bispo auxiliar de Tegucigalpa, Darwin Rudy Andino.

As informações são de 2009 e 2012. Pode-se dizer que são velhas como notícias, mas são recentes e reincidentes na violência contra a mulher, no incitamento à discriminação e no empedernido ódio que move velhos celibatários contra a libertação feminina. Dar tréguas é permitir-lhes reacender velhas fogueiras e novas perseguições alimentadas pelo ódio demente de antigos preconceitos. É absolver os agressores e culpar as vítimas, relevar os crimes  e responsabilizar quem os sofre.

Que raio der moral de sentido único, onde a liberdade é um crime para a mulher e uma bênção para os predadores masculinos!

http://www.mdig.com.br/?itemid=4976

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/18901/para+arcebispo+espanhol+mulher+que+aborta+merece+ser+estuprada.shtml