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Categoria: Catolicismo

3 de Março, 2014 Carlos Esperança

Legionários de Cristo: a oportuna ‘ressurreição’ pré-pascal…

Por
O silêncio apostólico que tem envolvido os ‘Legionários de Cristo’ parecia ser a antecâmara da dissolução desta tenebrosa organização, depois de conhecidas as múltiplas tropelias do seu fundador – padre Maciel.
A decisão do actual papa em nomear um novo director e prosseguir com a actividade desta congregação link, apesar dos crimes (civis, entenda-se) já denunciados, reflecte as dificuldades como a ICAR lida com o Mundo, nas situações difíceis e intoleráveis.
 Trata-se de um escândalo de tal modo grave que o anterior responsável pelo Vaticano (B-16) foi ‘obrigado’, em 2010, a nomear um ‘delegado pontifício’ (Mons. Velasio De Paolis link)  para administrar esta estranha ‘Legião’ que, na prática, foi uma dos sustentáculos (a par da Opus Dei) do pontificado de João Paulo II.
O Mundo ‘acreditou’ que, perante o descalabro visível e a enormidade dos crimes, o ‘delegado’ (oriundo da Prefeitura para os Assuntos Econômicos da Santa Sé) seria o natural representante da Cúria na comissão liquidatária desta instituição católica. Na verdade, esboroada toda a sua missão apostólica assente em colégios e missões, restavam os avultados aspectos económicos inerentes à ‘crapulosa’ e miserável acção destes ‘legionários’.
Aliás, o comunicado sobre esta instituição e objectivamente sobre o trabalho do padre Maciel, documento que antecede a nomeação do delegado pontifício é, para um documento oriundo do Vaticano, muito claro: “Os comportamentos muito graves e objectivamente imorais do P. Maciel, confirmados por testemunhos irrefutáveis, representam às vezes verdadeiros delitos e manifestam uma vida sem escrúpulos e privada de autêntico sentimento religioso… link”.
Muita gente esperava a dissolução desta instituição onde os actuais membros não deixam de mostrar alguma nostalgia e admiração pelos ‘bons tempos’ do falecido padre Maciel link¸ link. Mas por detrás desta ‘montra’ estão duas questões fundamentais: o poderio económico desta instituição e a capacidade em municiar a ICAR com milhares de seminaristas/ano.
Dificilmente o Vaticano consegue escamotear uma infame situação: o padre Maciel esteve à beira da beatificação link.
Conhecida é também a incapacidade da Cúria para controlar e evitar os crimes (é disso que se trata) em algumas (e não só dos ‘Legionários’) congregações. Sob o ponto de vista de trajectória histórica é plausível admitir que desde há largos anos (décadas) o Vaticano conhecia o execrável comportamento do ‘comandante’ desta ‘Legião’, mas os proventos que daí vinham eram ‘irrecusáveis’ e davam ‘jeito’ (orçamento anual superior a 500 milhões de euros).
Este ano, em Abril, Francisco deverá canonizar JP II. A reabilitação da Legião serão as ‘matinas’ desse ofício santificador para um indefectível protector desta congregação e um relapso encobridor dos seus crimes a troco de ’30 dinheiros’.
Nada que acrescente especial valor à actual administração do Vaticano que diariamente usa os media. Esta é indubitavelmente uma resposta ‘vulgar’, acintosa e inaceitável da ICAR às acusações que foram objectivamente formuladas por organismo da ONU link.
Uma resposta totalmente condicionada pela torrente de dinheiro que flui desta congregação para o Vaticano, não sendo ‘aconselhável’ bulir, estrangular ou exorcizar.
É  a velha e pia doutrina do ‘Per omnia saecula saeculorum”…
27 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança

Falta de pudor

O Ministro do Interior de Espanha, Jorge Fernández Díaz, concedeu a mais alta condecoração policial à Virgem María, concretamente a Nuestra Señora María Santísima del Amor, possivelmente pelo seu silêncio em relação aos escândalos do Governo.

Texto completo en: http://actualidad.rt.com/actualidad/view/120967-policia-espanola-medalla-virgen

El Ministerio del Interior de España concede una medalla a la Virgen
actualidad.rt.com
El ministro del Interior de España, Jorge Fernández Díaz, concedió la más alta condecoración policial a la Virgen María, concretamente a Nuestra Señora María Santísima del Amor.
24 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança

Momento zen de segunda_24-02-2014

João César das Neves (JCN) intitula a homilia de hoje, no DN, “Liberdade, igualdade e amor” numa síntese constrangida entre a Revolução Francesa e a sacristia. Depois de debitar umas trivialidades sobre as revoluções “ britânica de 1688, americana de 1776, francesa de 1789 e seguintes”, sem dizer, talvez por pudor pio, quais foram as seguintes, demorou a chegar à sua obsessão, antes de afirmar que “a luta cultural deslocou-se para questões de sexo e limites da vida”.

Este homem é um escravo do sexo obcecado com a castidade e um defensor da vida que começa nos óvulos ou nos espermatozoides, julgando que a ejaculação, durante o sono, é um genocídio involuntário. Acordado, é um pecado.

A êxtase religioso atinge-o quando afirma que “Vêem-se os conceitos, as lógicas e os métodos que os antigos aplicavam à nobreza, escravatura, pena de morte, proletariado ou racismo, utilizados em assuntos eróticos e hospitalares».

Só quem esteja acostumado ao devoto percebe a linguagem exotérica e a piedade que o devora antes de continuar a leitura: “ O direito ao aborto e à eutanásia tomam o lugar do direito ao voto; a emancipação de mulheres ou jovens vem na vez dos escravos; o doente terminal ou o homossexual surge na posição do operário ou negro. Casamento é contrato; adopção, sociedade”.

JCN lamenta que ao direito ao voto seja acrescentado o direito ao aborto e à eutanásia; que após a abolição da escravatura se emancipem as mulheres; que o casamento seja um contrato e não um sacramento; enfim, é um fóssil do Concílio de Trento.

Há pérolas de que não quero privar os leitores. Ei-las: “Dentro da fraternidade familiar, liberdade e igualdade tomam sentidos estranhos. Por isso, divórcio, aborto ou eutanásia só retoricamente libertam; de facto, matam. Fora da metáfora não existe igualdade entre jovem e velho, homem e mulher, casamento e união de facto, pais e filhos, amor conjugal e promiscuidade, sexo e perversão».

A obsessão do sexo é, em JCN, síndrome de privação. E termina com uma frase banal: “A família é o que sempre foi e será. Ela constitui o verdadeiro mundo sempre novo.”

«Bem aventurados os pobres de espírito…», como diz a Igreja de JCN.

20 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança

O negócio das almas

O Paraíso não é uma casa de diversão nem um lugar bem frequentado. A avaliar pelos santos que os últimos Papas resgataram das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje numerosos patifes a jogar as cartas com o divino mestre e a servir bebidas ao Padre Eterno.

Não sei se é Torquemada quem toma conta do armazém das almas de crianças por nascer ou de adultos por batizar, pois sabe-se de ciência certa, com aquela honestidade que se reconhece ao clero, que os não batizados têm como destino o Limbo, um sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades como os que o Deus de Abraão criou para o destino dos bem-aventurados ou das almas penadas, respetivamente o Paraíso e o Inferno.

No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão demográfica a que se assiste mas os clérigos são negociantes insaciados que querem despachar a mercadoria.

É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contraceção, o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozoide e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação noturna são uma catástrofe para o negócio.

Os clérigos, incumbidos de tratar das almas e olhar pelo negócio, andam estarrecidos com o fim da perseguição criminal às mulheres que interrompem a gravidez.

Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para reprodução e louvores ao Deus da zona de residência.

19 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança

Um bispo reformado de professor era o general que faltava

Num país laico há professores a fazer proselitismo à custa do Orçamento, professores que os bispos nomeiam e exoneram livremente, prestando serviço a uma religião particular, mas pagos por todos contribuintes.

Podem acabar as aulas de humanidades mas mantêm-se como oferta obrigatória as aulas de Religião e Moral católica. Há quem comece a acumular tempo de serviço a doutrinar os alunos, acabe por ultrapassar colegas mais classificados e progrida como professor de biologia.

Agora é nas Forças Armadas, a que a Igreja católica conseguiu juntar as forças policiais, que vai ser nomeado um novo bispo com a patente de major-general. Se os católicos fardados precisam de um comandante, não tardará que um major divulgue a bondade do Corão e um tenente as delícias da Tora. O que surpreende é a obrigação do Estado ter de pagar a salvação eterna dos militares e polícias.

Manuel Linda era o bispo auxiliar de Braga que o múnus retirou das funções docentes, com a pensão de 1429 euros, situação que complica a integração na função militar ativa.

Neste momento já dispõe de gabinete, automóvel, motorista e secretária, e tudo indica que o ministro da Defesa e a ministra das Finanças o autorizem, por despacho conjunto, a acumular a pensão de professor com a de comandante supremo dos católicos fardados, uma tença de mais 3518,62 €.

O novo bispo, cuja falta é visível, precisa do reconhecimento oficial. Como ele próprio se interroga: «Como é que eu de Braga posso prestar assistência, por hipótese, à GNR de Vila Real de Santo António?». De facto, como pode um cabo, ansioso por se crismar, recorrer ao bispo se ao alvará para administrar o sacramento da confirmação, não juntar a patente de major-general, contra-almirante ou superintendente-chefe?

Portugal pode ter carências e não se justifica que faltem capelães aos católicos fardados, tal como não faltam nos hospitais e nas prisões. Agora, os evangélicos também querem meter um bispo nas FA. Espera-se que, pelo menos, lhe paguem como cabo-mor.

1754-1363285684-D.Manuel.Linda

18 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança

Carta para Giordano Bruno

Meu caro Giordano:

Mesmo para um frade dominicano, habituado às maldades da ordem e à substituição da inteligência pelas orações, foi terrível suportar sete anos de julgamento. Uma coisa é a reclusão voluntária no convento, na convicção de que um ser imaginário se rebola de gozo com o silêncio e as súplicas, para lhe reservar um lugar vitalício no Paraíso; outra, é a prisão nas masmorras da Inquisição, a antevisão permanente da fogueira que espera o réprobo, a sindicância perversa à inteligência, as ameaças pias e o convite à retratação.

Nos finais do século XVI, pensar era heresia, redigir livros profanos, uma abominação, e ter ideias, o caminho mais rápido para a fogueira e o Inferno.

Foste acusado de blasfémia, conduta imoral e heresia porque os teus livros divergiam da teologia dogmática e referiam doutrinas diferentes da filosofia e cosmologia que a Igreja católica ensinava.

O teu crime era a ciência a que te dedicavas e para os néscios que te julgaram, incapazes de imaginar que havia outros mundos para lá da sua ignorância, só restava acusarem-te de sustentares opiniões contrárias à fé católica.

Depois, para fingirem que sabiam o que diziam, acusaram-te de coisas tão graves como
opiniões contrárias à fé católica, sobre a Trindade, a divindade de Cristo e a encarnação, de dúvidas sobre a virgindade de Maria e os sinais cabalísticos da consagração da hóstia que a transformam em corpo e sangue de Cristo, como qualquer cego claramente vê.

O que mais os ofendeu foi a tua premonição de que havia mais mundos e, sobretudo, de que era infinito o Universo – como sabias –, e os laivos de panteísmo que faziam ranger os dentes às cavalgaduras pias que, por isso, te acusaram de magia e adivinhação.

Giordano Bruno, por maior raiva que o Vaticano alimente pela estátua que os maçons te erigiram, por mais esforços que tenha feito para a demolirem, ela é destino obrigatório dos livres-pensadores, enquanto os santos enegrecem desprezados com o fumo da velas.

Hoje, 414 anos após aqueles pulhas te queimarem, por todo o mundo há quem despreze as orações e recorde a frase com que uma vez mais desafiaste a Igreja quando os sádicos inquisidores te condenaram à fogueira: «Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la».

Sábias palavras, inexcedível coragem, Giordano Bruno.

17 de Fevereiro, 2014 Carlos Esperança

Saudades para Vanessa

Há nove anos, nos primórdios de 2005, lia e não acreditava. Voltava a ler. Julgava estar a perceber mal, e relia. Pensava que havia gralha, que o jornalista tivesse cometido um lapso e dissesse o contrário do que queria. Li uma última vez.

Senti comoção e a raiva. Sabia das baixezas de que os homens são capazes. Estive 26 meses na guerra colonial. Mas, talvez, a estupidez não seja o pior dos males. Pior só a estupidez e a crença reunidas.

Paulo, drogado, saído da prisão de Custóias há quatro meses, desempregado, fazia filhos em várias mães no Bairro do Aleixo, bairro de problemas e miséria da cidade do Porto. Uma das filhas chamava-se Vanessa. Tinha cinco anos e a vida para viver. Paulo matou-a à pancada.

A mãe de Vanessa mandou rezar-lhe missa do 7.º dia na igreja de Lordelo do Ouro, no Porto. Foi o mimo que lhe faltou em vida.

Copiei devagar o que li e reli na pg. 90 da “Visão”, desse dia. Domingos Oliveira, padre que celebrou a missa, por Vanessa, criança de cinco anos, morta à pancada pelo pai, disse na homilia: “matar uma criança no seio materno ainda é mais violento do que matar uma menina de 5 anos” e invetivou a sociedade “que favorece o uso de preservativos”.

Havia na demência mística do padre Domingos Oliveira uma tal insensibilidade, um tão grave insulto à memória de uma criança mártir, um desrespeito tão grande pela mãe que encomendou a missa e um tamanho ultraje à vida, que estupefazia e arrepiava.

Esse almocreve de Deus, apóstolo da fé, santa besta fiel ao Papa, padre católico, achava preferível matar uma criança de cinco anos à pancada do que interromper a gravidez de um embrião de cinco semanas.

Queriam que eu esquecesse esse facto cuja data exata não registei? Que esquecesse as Vanessas mortas aos cinco anos por pais violentos e drogados? Que ocultasse o nome dos padres que perpetuam a violência e os preconceitos?