2 de Junho, 2015 Carlos Esperança
Homenagem ao rei espanhol Juan Carlos
Faz hoje, 2 de junho de 2015, 1 ano que o rei, nomeado por um dos maiores genocidas do séc. XX, abdicou. Nomeado em 1969 para a monarquia abolida em 1931, o neto de Afonso XIII, nascido em Itália, durante o exílio, reinou de 22 de novembro de 1975 a 19 de junho de 2014.
O descendente da família Bourbon tornou-se rei, mais pela graça do ditador Francisco Franco do que da de Deus, alegada pelos clérigos reacionários, cúmplices do fascismo, e que viram na guerra civil contra a República, democraticamente sufragada, a ‘cruzada’ que o Papa de turno outorgou à sedição franquista.
Franco foi o déspota que assassinou dezenas de milhares de patriotas depois de finda a guerra, que garrotou presos políticos com a mesma displicência com que comungava e odiou a liberdade com a sanha com que rezava contra a República e a democracia.
Juan Carlos, educado numa madraça franquista, ganhou esporas de democrata no golpe do anacrónico tenente-coronel Tejero Molina, sob comando do gen. Milans del Boshe e tendo como cérebro o precetor real, general Alfonso Armada, com a comunicação social a imputar ao rei o mérito democrático, como se a intentona não tivesse fracassado com 3 homens que, nas Cortes, não se deitaram no chão, desafiando a ordem e os tiros, Adolfo Suárez, Gutiérrez Mellado e Santiago Carrillo.
Depois de anos a merecer a benevolência do país saído da ditadura terrorista, com 7,5 de aprovação, deve-se a Juan Carlos o facto de a monarquia ter atingido a aprovação de 3,72 numa escala de 0 a 10.
A erosão da instituição monárquica não se deveu apenas ao seu carácter anacrónico, foi mérito do rei que decididamente ajudou, com o apetite sexual dos Bourbons, a que fez jus, as caçadas, os negócios escuros da família, as relações pouco recomendáveis, onde não faltou o português Dias Loureiro, e o inenarrável genro Iñaki Urdangarín para quem o Ministério Público espanhol pediu 19 anos e meio de cadeia, acusado de desviar mais de seis milhões de euros de dinheiros públicos.
O descrédito que adicionou à monarquia não faz de Juan Carlos herói da República, mas merece gratidão pelo contributo para a decadência da instituição, que o imobilismo dos povos preserva e, sobretudo, por ter arrastado consigo o desprestígio da Igreja católica, pilar da monarquia e esteio da ditadura franquista.