Loading

Categoria: Catolicismo

26 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

É um padre católico quem o diz

  • «Na devoção a Fátima, “há muita ignorância e ingenuidade”»
    (Luciano Guerra, «Reitor do Santuário de Fátima»).

O senhor Luciano poderia ter dado o passo seguinte e ter assumido que a ignorância e a ingenuidade sempre foram lucrativas para a ICAR.

24 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

As vítimas

Não consigo deixar de me espantar com a obsessão dos católicos em imaginarem-se vítimas de horrorosas perseguições. Em Timor, por exemplo, os católicos não hesitaram em dizer-se «perseguidos» quando a Educação Moral e Religiosa Católica deixou de ser obrigatória (ou seja, acham que não obrigar é sinónimo de perseguir). O caso da 1ª República portuguesa, em que o facto de a ICAR ter sido desestatizada foi considerado uma tentativa de «extinção», é outro caso clássico.

O exemplo mais recente vem da Espanha: o governo instituiu uma disciplina de formação cívica, e em Ibiza há uma exposição considerada blasfema pela ICAR. Tanto bastou para que o arcebispo de Toledo da ICAR, um tal de Antonio Cañizares que até parece que é cardeal, considerasse que existe um «projecto» para «eliminar a Igreja Católica» (!). Num país como a Espanha, em que a ICAR tem mais de vinte mil delegações, controla importantes meios de comunicação social, e o Estado recolhe impostos para a ICAR, qual é o risco de «eliminação» que a ICAR corre? Sem dúvida, o mesmo risco que o futebol, as telenovelas ou o consumo de açúcar: nenhum.

Sempre que ouço falar em «eliminar» uma religião, imagino leis que proíbam cerimónias religiosas na privacidade da casa das pessoas, templos a serem destruídos a camartelo e crentes a serem queimados na praça pública. Tudo isso já aconteceu, em Portugal e também em Espanha. Chamou-se Inquisição, e não creio que os perseguidos fossem católicos. Até desconfio que na sua maioria não seriam católicos.

Falar em «eliminar a Igreja Católica» a propósito de uma exposição artística ou de um curso de cidadania é absurdo e ridículo. A ICAR não é tão frágil que fique «eliminada» ou «erradicada» se o Estado leccionar cidadania aos alunos sem fazer referência à religião. Muito menos fica «eliminada» e «erradicada» por causa de uma colagem na parede de um museu onde se calhar até se paga para entrar. Nem sequer ficaria «eliminada» e «erradicada» se os crentes a abandonassem todos de uma vez, o que, todavia, não me parece que aconteça já amanhã.

Esta obsessão católica em imaginar que os católicos são «perseguidos» é um apelo ao cerrar de fileiras do grupo contra o inimigo externo, e atinge uma histeria só compreensível se pensarmos que toda a ICAR vive da manipulação de emoções, e que tem como seu mito fundamental um drama de perseguição religiosa. Mas de tanto se esganiçarem a gritar «lobo», não se espantem se um dia ninguém acudir. Até porque há igrejas que de cordeiro só têm a pele.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
18 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Pedofilia, igreja e encobrimento

Na Austrália, o sacerdote católico Terrence Melville Pidoto foi condenado a sete anos de prisão por ter violado quatro rapazes entre 1972 e 1984. Uma das vítimas criticou a sentença e considerou que «é necessário responsabilizar a igreja».

Responsabilizar a ICAR é justamente o que se passará em Los Angeles, onde um cardeal será acusado de encobrir casos de abuso sexual de menores na sua diocese. Será apresentado em tribunal um famoso documento, o «Crimen sollicitationis», que exige aos sacerdotes católicos o segredo absoluto, sob pena de excomunhão, sobre os abusos sexuais que sejam investigados dentro da ICAR. É este documento de 1962 que explica que numerosos casos de abuso sexual de menores sejam sistematicamente encobertos pela hierarquia da ICAR, que, quando há escândalo, geralmente limita-se a mudar o padre pedófilo para outra paróquia.

Linque recomendado para quem ainda não compreendeu a dimensão do problema da pedofilia clerical: Survivors Network of those Abused by Priests.
13 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Capelanias hospitalares: o que está em causa

A Associação República e Laicidade produziu recentemente um comunicado e dois estudos auxiliares que podem ajudar a dissipar alguma da confusa neblina que a ICAR tem produzido em torno da questão da assistência espiritual nos hospitais.

O que está em causa? Principalmente três questões: as modalidades de acesso aos hospitais de quem presta assistência religiosa ou espiritual, a continuidade da remuneração de quem actualmente presta essa assistência com o estatuto de funcionários públicos (são, exclusivamente, sacerdotes católicos), e a gestão dos espaços de recolhimento espiritual nos hospitais públicos.

Na primeira questão, a situação actual (que resulta de uma lei de 1980), permite que os capelães hospitalares, que são todos católicos, abordem qualquer pessoa que se encontre internada num hospital. A ICAR tem protestado contra uma alegada intenção do governo de tornar a assistência religiosa dependente de solicitação do doente. Acontece que o princípio correcto é justamente o de que só pode ser oferecida assistência religiosa a quem a solicitar expressamente. Se eu estou numa cama de hospital, fragilizado e vulnerável, não quero ser incomodado por padres ou outros sacerdotes. E quem é crente não católico tem o direito de requerer assistência religiosa sem ter o seu pedido «filtrado» por um sacerdote católico.

Em segundo lugar, refira-se que apesar da insistência da ICAR na questão do acesso, aquilo que sem dúvida mais lhes poderá doer será uma diminuição no número de sacerdotes salariados pelo Estado para funções hospitalares. Actualmente, serão cento e sessenta e cinco católicos (zero das outras religiões), o que significa para a República uma despesa anual de cerca de cinco milhões de euros (ou um milhão de contos, em moeda antiga) num momento em que o governo se empenha em diminuir a despesa do Estado. Sinceramente, não percebo por que deve um Estado laico remunerar sacerdotes para fins espirituais. Os crentes podem perfeitamente organizar-se para o fazer.

Finalmente, verifica-se que muitos espaços que são construídos em hospitais públicos para o recolhimento espiritual de todos os utentes são apossados pela ICAR, que os consagra como capelas católicas e seguidamente monopoliza a sua utilização. Existe mesmo o exemplo de um hospital de Lisboa que o capelão quer transformar em santuário. É desejável que estes abusos terminem, e que esses espaços sejam suficientemente neutros e flexíveis para qualquer opção espiritual.

Refira-se ainda que nada na Concordata em vigor (ou sequer na de 1940) obriga à situação actual, com uma lei exclusivamente para católicos (o Decreto-Lei nº 58/80), o que é sem dúvida inconstitucional. O governo deve aplicar a Constituição da República e não esta ou aquela Concordata.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
4 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Criacionismo nas escolas públicas portuguesas

Conforme os leitores mais antigos do Diário Ateísta talvez se recordem, o criacionismo é ensinado nas escolas públicas portuguesas na disciplina de Educação Moral e Religiosa Evangélica. No novo programa de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), o criacionismo aparece, a par da «evolução das espécies», nos «conteúdos» do «ensino secundário» (página 159 do programa de EMRC):
  • «A origem do ser humano e a evolução das espécies vs o criacionismo, numa visão literal da Bíblia; A visão científica sobre a origem do universo; Is 64,7: Deus é o criador do ser humano; Sl 136(135),1-9; Jr 10,6.10a.11-13.16 A origem do universo e a doutrina da criação».

Temos assim que nas aulas de biologia e física se ensinam (espero eu) teorias comprováveis sobre a origem do universo e da humanidade, e uma hora depois, nas mesmas salas, pessoas investidas pelo Estado de idêntica autoridade escolar colocam mitos inventados por uns pastores do Médio Oriente a par de teorias revisíveis, quantificáveis e corroboradas pela observação. Assim se mergulha os alunos no pior relativismo epistemológico, convencendo-os de que a relatividade geral e a narrativa do génesis são abordagens igualmente válidas da realidade.

O criacionismo aparece também, por exemplo, na página 104 («conteúdos» para o 7º ano de escolaridade):

  • «A mensagem fundamental do Génesis (1-2,24): A origem de todas as coisas é Deus; Deus mantém as coisas na existência; O amor de Deus cria e alimenta a natureza; Todas as coisas materiais são boas; O ser humano é a obra-prima de Deus; Sl 8: Hino ao Criador do ser humano».

O programa de EMRC tem ainda as suas pitadas de propaganda anti-ciência, por exemplo na página 158:

  • «O determinismo cientista e a liberdade e dignidade do ser humano; (…) A ordem e a racionalidade do universo vs o acaso como hipótese explicativa; A rejeição da hipótese «Deus» como factor explicativo na ciência».

Uma pessoa estremece só de imaginar o que um professor de EMRC (que, recorde-se, não pode ser nomeado nem demitido sem o «acordo» da «autoridade eclesiástica») pode fazer com estas indicações: desde extrapolações simplistas de que «a ciência determinista tira a liberdade ao Homem», até falsas alternativas entre a «ordem divina» do universo e o «acaso» que erradamente se atribui à visão científica (na realidade, a formação da Terra ou a selecção natural não são «acasos», da mesma forma que a queda de um objecto ou a extinção de uma espécie por predação também não são «acasos»; são, isso sim, acontecimentos sem propósito ético).

Note-se que o direito de acreditar em mitos antiquados, e até o direito de ensiná-los, é intocável. Simplesmente, é inaceitável que esse ensino tenha lugar na escola pública, paga pelos contribuintes e mantida pelo Estado para difundir o conhecimento e a ciência. Como é inaceitável que na escola da República se ensinem valores anti-republicanos.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

4 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Defende-se a pena de morte na escola pública portuguesa

O nº2 do artigo 24º da Constituição da República Portuguesa é claro:
  • «Em caso algum haverá pena de morte».

Presume-se, portanto, que a oposição à pena de morte é um valor importante da nossa comunidade política. E, em boa lógica, espera-se que na escola pública não se defenda a pena de morte. E no entanto, do programa de uma disciplina oficial e paga pelo Estado (embora os professores sejam nomeados pelos delegados de um Estado estrangeiro), faz parte o seguinte tópico:

  • «Razões para a manutenção da pena de morte».

O programa escolar em causa é elaborado por uma organização com sede em Roma que «não exclui (…) o recurso à pena de morte», embora tenha perdido há muito a capacidade de a fazer aplicar em massa. E, por incrível que pareça, o Estado limitou o seu direito a alterar o programa desta disciplina leccionada na escola pública.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

23 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Atentado contra quem?

  • «O fenômeno dos sacerdotes pedófilos na diocese de Los Angeles tem uma amplitude assustadora e é um atentado contra a identidade da missão que temos que desempenhar» (cardeal Tarcisio Bertone na Zenit).

Importa-se de repetir? O abuso sexual de menores é um «atentado contra a identidade da missão» católica? Não será antes um atentado contra a auto-determinação das crianças? Contra o seu direito a uma livre escolha da sua sexualidade? Senhor cardeal, um pouco mais de respeito pela liberdade e pela sexualidade das crianças ficaria bem à sua igreja…

17 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Arcebispado de Madrid ocultou caso de pedofilia

O Supremo Tribunal espanhol confirmou que o arcebispado de Madrid da ICAR deveria ter vigiado um padre pedófilo que abusou sexualmente de uma criança dentro de uma igreja de Madrid. A sentença é dura com o arcebispado católico, que não cumpriu o seu dever de vigilância de um padre pedófilo, e que expulsou da paróquia as catequistas que denunciaram às autoridades estatais o caso de abuso sexual. A ICAR espanhola terá que pagar 30 000 euros de indemnização.

A emissora católica espanhola COPE ignorou este caso nos seus noticiários. Não me apercebi de que os media portugueses o tivessem noticiado, mais ocupados que andaram a apresentar as reivindicações da ICAR portuguesa, que pretende mais dinheiro para os ATL´s católicos das crianças portuguesas.

O padrão comportamental das autoridades eclesiásticas católicas em Espanha, nos EUA, no Brasil, na Argentina, em Portugal, e em todos os outros países onde sacerdotes são acusados de abuso sexual de menores, é semelhante: jamais um padre pedófilo foi denunciado às autoridades estatais pela hierarquia da sua igreja, que protege sistematicamente este tipo de criminosos, limitando-se, quando o escândalo já é grande, a mudá-los de paróquia. Os pais de família católicos deveriam reflectir nestes factos.