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Categoria: Catolicismo

27 de Dezembro, 2007 Carlos Esperança

A canonização de Pio XII

Pio 12 não foi um celerado que arrancasse olhos aos sérvios, um carrasco que estivesse nos campos de concentração a assassinar judeus, um biltre que usasse as próprias mãos para despachar hereges a caminho do Inferno.

Pio 12 foi apenas um Papa católico, amigo da ordem e da paz, anti-semita como os seus pios antecessores e anticomunista como os sucessores. Foi com muita mágoa – dizem os panegiristas de serviço –, que assistiu em silêncio ao extermínio dos judeus e, depois da guerra, para compensar, converteu conventos e seminários em refúgios nazis, enquanto a diplomacia do Vaticano arranjava passaportes para a América do sul.

Não se pode condenar Pio 12 pelo anti-semitismo. É um dever que o Novo Testamento impõe, é o culto de uma tradição que alimentou as fogueiras do Santo Ofício e um preito de gratidão a todos os santos que perseguiram judeus e moiros e dilataram a fé.

Pio 12 apenas queria celebrar concordatas com os Estados fascistas, proteger as famílias cristãs dos malefícios do divórcio e assegurar às crianças o ensino obrigatório da sua fé. Haverá odor que mais agrade a Deus do que o de um herege a ser queimado? Ou maior delícia do que a tortura de quem siga uma religião falsa?

Claro que Pio 12 deve ser canonizado. Quantos biltres o não foram já? O problema que lhe complica a vida é não ser incluído em levas de centenas e, na sua singularidade, ter ainda quem se lembre de que o Vaticano foi um antro de conivência com o fascismo.

Mas não aconteceu o mesmo com JP2, um papa que fazia milagres em vida, apesar de só os mortos terem alvará para o negócio?

Ora, canonize-se o cadáver. Com os anos que já leva de morto, há muito que não fede.

27 de Dezembro, 2007 Carlos Esperança

A perversão de Blair

O antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, converteu-se ao catolicismo, informou este sábado a imprensa britânica. 

A imprensa britânica chama conversão àquilo que eu designaria por transferência e que, quando é ao contrário, o Vaticano chama apostasia – um dos pecados mais graves que o primata do camauro jamais perdoa.

Veio ao encontro do apelo prosélito feito pelo Vaticano na última campanha de Inverno. Blair fingiu-se anglicano para ser primeiro-ministro e fez-se católico para melhor aturar a família, com as crianças já cativadas pelo catolicismo militante da pia consorte.

Não deixa de ser intrigante que todos os invasores do Iraque explicitem publicamente a sua fé quando esta devia ser, em países laicos, um adereço particular como um angioma na face, um quisto sebácio no escroto ou uma verruga no pescoço.

Ao imaginar este belicista, com a língua de fora a aguardar a hóstia como um drogado à espera da heroína, vem à memória a desfaçatez de JP2 censurando a guerra sem nunca desautorizar os autores, todos amigos da hóstia e da missa. Excepto o cristão evangélico fundamentalista, pior do que católico, todos eram da seita do papa a que agora se junta o que andava refugiado na fé anglicana – Blair.

Blair, Aznar, Barroso, Berlusconi e, naturalmente, os devotos da Polónia e da Áustria, todos eram tementes a Deus no tempo do papa «tremente a Deus» e que via o Opus Dei em forma de pomba.

O trânsfuga resolveu dar uma prenda natalícia ao «Sapatinhos Vermelhos». Levou-lhe o corpo ao baptismo, a testa ao azeite e a língua à hóstia. O velho inquisidor já instruiu os vendedores da sua fé para usarem o troféu como argumento de vendas.

20 de Dezembro, 2007 Ricardo Alves

Vaticano contra «A Bússola Dourada»

O Vaticano, através do seu órgão central de propaganda, criticou o filme «A Bússola Dourada», que acusa de mostrar um «mundo sem Deus» e de promover a ideia de que os indivíduos podem controlar os acontecimentos e serem senhores do seu destino. Não é surpreendente: o ódio clerical à liberdade humana é recorrente. Desta vez, excitou-se com esta grande produção norte-americana que conta com Nicole Kidman e Daniel Craig nos papéis principais.

A campanha católica contra o filme, a mais violenta desde «O Código Da Vinci», é tanto mais estranha quanto o realizador teve o cuidado de eliminar (censurar) tudo o que pudesse «ofender os sentimentos religiosos» (ou a ICAR), o que prova, mais uma vez, que nem o mais «religiosamente corrigido» dos filmes satisfaz o zelo fundamentalista dos herdeiros da inquisição.

O filme «A Bússola Dourada» foi o mais visto em Portugal na semana de 6 a 12 de Dezembro, com mais de 74 mil espectadores. Todavia, há quem insista em que os portugueses (ainda) são muito católicos. Fantasias.
24 de Novembro, 2007 Ricardo Alves

RTP 1, 21 horas

Hoje, o programa «A Voz do Cidadão» (organizado pelo Provedor dos telespectadores da RTP) será sobre religião. Às 21 horas no canal RTP 1, e às 19h44m no RTP Internacional, com repetição amanhã às 14h45m no RTP 2, e às 19h45m no RTP N. Vamos ver.

  • Linque RTP (agradeço ao kavkaz esta indicação).
31 de Outubro, 2007 Ricardo Alves

A consciência que objecta

O papa dos católicos romanos quer que os farmacêuticos aleguem «objecção de consciência» para não venderem a «pílula do dia seguinte». Duvido que os comerciantes do ramo dos medicamentos concordem em reduzir o âmbito do seu negócio, mas é divertido imaginar um mundo onde todos pudéssemos invocar «objecção de consciência» em cada aspecto da nossa vida profissional. Por exemplo: os médicos poderem recusar-se a fazer transfusões de sangue; os comerciantes poderem recusar vender fosse o que fosse a homossexuais, ou a mulheres com a cara destapada; os vendedores de calendários poderem recusar fornecê-los a casais que os utilizassem na sua estratégia contraceptiva; os professores poderem negar-se a ensinar a teoria da evolução; os produtores de vinho poderem recusar vender carrascão para ser usado nas missas católicas… Pensando melhor, o mundo da «objecção de consciência» de Ratzinger não parece divertido: parece assustador.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
28 de Outubro, 2007 Ricardo Alves

Beatificai-os também

O Ratzinger e o Saraiva Martins andam a beatificar franquistas abatidos durante a guerra civil espanhola. Por mim, também podem beatificar estes:

E mais estes:

  • «[A guerra é] a Cruzada mais elevada que os séculos já viram (…) uma cruzada onde a intervenção divina a nosso favor é bem patente» (bispo de Pamplona);
  • «A guerra é cem vezes mais importante e sagrada do que o foi a Reconquista» (bispo de Segóvia);
  • «A guerra foi pedida pelo Sagrado Coração de Jesus que deu forças aos braços dos bravos soldados de Franco» (arcebispo de Valência);
  • «A igreja, apesar do seu espírito de paz (…) não podia ficar indiferente na luta (…) Não havia em Espanha nenhum outro meio para reconquistar a a justiça e a paz e os bens que dela derivam que não fosse o Movimento Nacional» (carta pastoral dos bispos espanhóis);
  • «[O General Franco] é o instrumento dos planos de Deus sobre a Terra» (cardeal Goma)
  • «[A guerra é] uma luta entre a Espanha e a anti-Espanha, a religião e o ateísmo, a civilização cristã e a barbárie» (cardeal Goma);
  • «Judeus e maçãos envenaram a alma nacional com ideias absurdas» (cardeal Goma);
  • «Ninguém pode negar que o ‘deus ex machina’ de esta guerra foi o próprio Deus, a sua religião, os seus foros, a sua lei, a sua existência e a sua influência atávica na nossa história» (carta pastoral dos bispos espanhóis);
  • «Os galantes mouros (…) embora tenham retalhado o meu corpo apenas ontem, merecem hoje a gratidão da minha alma, pois estão a combater pela Espanha contra os espanhóis… Quero dizer os maus espanhóis… Estão a dar a sua vida em defesa da sagrada religião espanhola, como prova a sua presença no campo de batalha, escoltando o Caudillo e amontoando santos medalhões e corações sagrados nos seus albornozes» (General Millan Astray, fundador da Legião Estrangeira);
  • «Para milhões de espanhóis (…) o cristianismo e o fascismo misturaram-se e é impossível odiarem um sem odiarem o outro» (François Mauriac, em carta ao cunhado de Franco);
  • «[A guerra é] um teste de força entre o comunismo judeu e a nossa tradicional civilização ocidental» (Hilaire Belloc);
  • «Elevando a nossa alma a Deus, congratulamo-nos com Vossa Excelência pela vitória tão desejada da Espanha católica. Formulamos os nosso votos de que o vosso querido país, uma vez obtida a paz, retome com vigor acrescido as suas antigas tradições cristãs que lhe grangearam tanta grandeza. É animado por estes sentimentos que dirigimos a Vossa Excelência e a todo o nobre povo espanhol a Nossa benção apostólica» (Pio 12, papa da ICAR, em mensagem dirigida a Franco na véspera da conquista de Madrid).

E não se esqueçam do bispo de Málaga:

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
20 de Outubro, 2007 Ricardo Alves

Teresa de Ávila

  • «(…) Neste estado, agradou ao Senhor dar-me a visão que aqui descrevo. Vi um anjo perto de mim, do meu lado esquerdo; não era grande, mas sim pequeno e muito belo; o seu rosto afogueado parecia indicar que pertencia à mais alta hierarquia, aquela dos espíritos incendiados pelo amor. Vi nas suas mãos um longo dardo de ouro com uma ponta de ferro na extremidade da qual ardia um pouco de fogo. Às vezes, parecia-me que ele me trespassava o coração com esse dardo, até me chegar às entranhas. Quando o retirava, parecia-me que as levava consigo, e ficava em chamas, totalmente inflamada de um grande amor por Deus. Era tão grande a dor, que me fazia dar gemidos, mas ao mesmo tempo era tão excessiva a suavidade que me punha essa enorme dor, que não queria que terminasse, e a alma não se podia contentar com nada menos do que Deus. Este sofrimento não é corporal, mas sim espiritual, e no entanto o corpo participa, e não participa pouco.»
A prosa que se lê mais acima, caras leitoras e caros leitores, é da autoria de Teresa de Ávila, uma pobre rapariga espanhola que foi freira durante mais de meio século, no século 16. Entrou para a vida de convento aos dezasseis anos e, como se pode depreender do texto exposto, sentia-se sexualmente frustrada de uma forma terrível. Os católicos consideram-na «santa», mas deveriam realmente meditar nas vidas ardentes que se estragaram em tantos conventos e seminários, e das quais esta mulher é um mero exemplo.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
14 de Outubro, 2007 Ricardo Alves

Solidariedade com o catolicismo silenciado!

Confesso (!) que não posso, em consciência, concordar com o Ricardo Carvalho, o Bruno Resende e o Ricardo Silvestre. Eu acho que o Tarcisio Bertone tem razão: existe realmente uma tentativa para silenciar o catolicismo. E vou prová-lo.

Em primeiro lugar, considerem o caso do canal estatal RTP 1: no Sábado, dia 13 de Outubro, apenas 7h15m em 21 horas e 30 minutos de emissão foram preenchidas por programas exclusivamente sobre Fátima; na programação de domingo, o canal do Estado dedicou somente oito horas e meia em vinte e uma a Fátima, o que significa que 60% da emissão não foi monopolizada pelo fatimismo!

Em segundo lugar, constate-se que os jornalistas abordam Fátima de uma maneira crítica, eu diria mesmo obscenamente científica. Um caso particularmente grave é Fátima Campos Ferreira, que é notada por ostentar as suas convicções anti-religiosas e por fazer perguntas difíceis e embaraçosas aos cardeais. Outro, é Marcelo Rebelo de Sousa, um conhecido anticlerical que no seu tempo de antena de Domingo à noite não perde uma ocasião de criticar Fátima e os católicos.

Um terceiro sinal do silenciamento do catolicismo é o facto de o congresso do PSD ter sido marcado para este mesmo fim de semana, o que me leva a suspeitar de que o PSD faz parte de uma tenebrosa conspiração ateísta para silenciar o catolicismo, que conseguiu não apenas que os telejornais começassem com reportagens laranjas e não com homilias de tipos vestidos de branco, mas também que dedicassem meros quinze minutos ao culto fatimista.

Portanto, só me resta dizer aos católicos que a parte afectiva do meu cérebro está solidária com eles, e que chora indignada por serem tão horrendamente silenciados. Coitadinhos!

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
12 de Outubro, 2007 Ricardo Alves

Se

Se alguém disser que viu a Lua a bailar por cima da Charneca da Caparica, e que Júlio César ali desceu numa nuvem e conversou com algumas pessoas para transmitir uma mensagem da maior importância, o mais provável é internarem esse alguém no Hospital Júlio de Matos.

Se um grupo se organizar para isolar as pessoas que «conversaram» com Júlio César, as mantiver incomunicáveis até à morte, e for revelando as «mensagens» de Júlio César, por exemplo «prevendo», em Outubro de 2001, a guerra do Afeganistão, ou apelando a que se usem togas romanas nos tribunais, o mais provável é esse grupo ser tratado como um bando de lunáticos ou charlatães.

Se esse grupo, chamemos-lhes os «cesaristas», comprar o terreno na Charneca da Caparica «visitado» por Júlio César, lá construir um templo, e recolher dinheiro das pessoas que lá vão prometendo-lhes vagamente que talvez se possam curar do cancro ou das micoses, é bem possível que sejam visitados pela ASAE e até talvez responsabilizados em tribunal pela fraude que organizaram.

Se mesmo assim alegarem que a crença na descida de Júlio César dá sentido à vida de algumas pessoas, e que por isso as vozes críticas se devem calar, serão tratados como oportunistas e hipócritas.

Se encorarajarem as pessoas que lá vão a flagelarem-se e a passarem fome, serão atacados pelos conservadores como uma seita perigosa que deve ser ostracizada, e que talvez devesse mesmo ser vigiada pela polícia.

Se afirmarem que as pessoas que vão ao terreno da Charneca da Caparica legitimam as ideias que os «cesaristas» têm sobre o casamento e a contracepção, ou ameaçarem que, se o Estado não lhes der dinheiro, incitarão as pessoas que lá vão a revoltar-se contra o Governo e os cidadãos que não acreditam na «aparição» de Júlio César, o escândalo será enorme.

Se a dimensão do movimento «cesarista» for grande, o normal será que os jornalistas investiguem, os media denunciem e os fazedores de opinião se indignem contra esta aldrabice organizada. Talvez até alguns políticos queiram dizer publicamente que enganar as pessoas para as manipular politicamente e ficar-lhes com o dinheiro é feio.

Todavia, se tudo isto se passar num contexto religioso católico, as consequências normais não se seguirão e a aldrabice ficará impune.