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Categoria: Catolicismo

24 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Loucura e santidade

Já sabíamos que é preciso ser doido para acreditar em santos. Só não sabíamos que a Igreja católica partilha da mesma convicção.

 Ao anunciar uma exposição sobre a Inquisição, onde não são exibidos os instrumentos de tortura, como se compreende, a Agência Ecclesia – a voz do dono – afirma a certa altura: «É possível encontrar ainda o missal de um santo do século XVII que acreditava ser a reencarnação de Cristo, os primeiros mapas dos bairros judeus da Itália e os decretos com os quais a Igreja ordenava a censura de livros».  Um santo que acreditava ser a incarnação de Cristo? Se o doido pensasse que era a incarnação da Virgem Maria levantava suspeitas mas se pensasse que era a incarnação de S. José só teria chegado a beato.

 E há quem leve a Igreja a sério. Para transformar o Vaticano num manicómio seguro bastava erguer um muro à volta. Para ser santo talvez não seja obrigatório ser doido, mas ajuda. Outro caminho é o apoio aos ditadores sádicos. Veja-se o caso de S. Josemaria Escrivà.

23 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Itália – Combate à laicidade

A Itália é o país onde os crentes se queixam de viver longe de Deus e perto do Vaticano, embora dependa da fé a distância do mito e da geografia a que separa o antro papal.

É um facto histórico que o bairro de 44 hectares mal frequentados, onde se concentram os mais bizarros e garridos vestidinhos por metro quadrado, a acompanhar as barrigas de eminentes eclesiásticos, foi criado pelos acordos de Latrão, sob os auspícios de Benito Mussolini a quem o Papa de serviço definiu como enviado da Providência.

Não se duvidaria da maldade da Providência se, acaso, fosse provável a sua existência. Já o Papa, os cardeais, arcebispos, bispos, monsenhores e padres são uma realidade que infesta o Vaticano e polui numerosos países. Foi essa gente que apoiou o fascismo, na sua quase totalidade, que conseguiu a troco de umas indulgências e bênçãos especiais tornar o ensino católico obrigatório e plantar cruzes em todos os edifícios públicos, especialmente nas escolas e tribunais.

Acontece agora que um juiz, na defesa do laicismo, se recusa a proceder a julgamentos com o sinal mais dependurado na parede, com ou sem o atleta espetado com ar de ter sido crucificado por um bando rival da Camorra.

E o que sucede ao juiz por este acto de civismo, pela atitude pedagógica, pela dignidade do seu comportamento? É louvado? Promovido?
– Não, é simplesmente perseguido.

Um tribunal italiano condenou quinta-feira esse juiz a um ano de prisão e outro de suspensão de carreira por ter suspendido três audiências devido à existência de um crucifixo na sala.

Um cirurgião não pode operar num bloco infectado, mas um juiz é obrigado a julgar numa sala onde se impõe o símbolo de uma religião particular que ainda beneficia do seu conluio com o fascismo. Está em causa a laicidade do Estado e a higiene pública.

20 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Os vampiros

O cardeal italiano Tarcisio Bertone, secretário de Estado e «número dois» do Vaticano, inicia hoje uma visita oficial de seis dias a Cuba, um dia depois de decisão de Fidel Castro de renunciar à presidência da ilha.

«No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés veludo
Chupar o sangue fresco da manada

Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada (bis)

A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas»

(…) in Os Vampiros – Zeca Afonso