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Categoria: Catolicismo

5 de Julho, 2008 Ricardo Alves

«Igreja Católica Reformada»?!

A ICAR de Roma está nervosa com a fundação, na Venezuela, de uma «Igreja Católica Reformada», que lhe ameaça disputar quotas de mercado. A iniciativa dos seguidores de Hugo Chávez é reveladora de por onde vai o cristão populista que governa a Venezuela. Mas as acusações de plágio dirigidas à nova igreja são injustas: todas as novas religiões nasceram copiando outras mais antigas.

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4 de Julho, 2008 Carlos Esperança

Nuno Álvares Pereira – de herói a colírio

Quando se ganham batalhas facilmente se esquece a bondade das causas, a legitimidade das posições e a personalidade do autor.

Nuno Álvares é um herói que as batalhas tornaram famoso e o sangue dos castelhanos glorioso. Pode parecer hoje anacrónica a razão dos combates, interesseira a escolha da trincheira e exagerado o número dos que sangrou, mas em época de crise alimenta a vaidade e anestesia o povo.

Nuno Álvares mudou a história da Península Ibérica, tornou possível a dinastia de Avis e serviu sempre, em momentos de crise, para estimular o orgulho nacional.

O antigo escudeiro de D. Leonor Teles era danado para batalhas. Começou cedo a matar castelhanos, em 1384, no recontro dos Atoleiros. Em 1385 saciou-se em Aljubarrota e, tendo-lhe ficado o vezo, ainda se deslocou a Valverde, território castelhano, para aviar mais alguns.

Farto de matar castelhanos, foi a Ceuta experimentar os mouros, em 1415. Depois, aborrecido da espada e de andar fora de casa, recolheu-se ao Convento do Carmo, que fundara, e aí viveu o tempo que ainda teve, até ao ano de 1431.

Era um herói. Agora passou a taumaturgo. Uma sexagenária queimou um olho com óleo de fritar peixe, invocou o D. Nuno e logo ficou boa. Os médicos não sabem dizer se foi do óleo ou do beato a cura repentina e o Vaticano tem a certeza do milagre.

Mas é triste ver um herói acabar como colírio para queimaduras de óleo de fritar peixe.

Carlos Esperança

2 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Fátima vista por Pessoa

O poeta português Fernando Pessoa encarava Fátima como o lugar mítico da construção do nacionalismo católico e monárquico que ele repudiava, sustentou hoje o historiador José Barreto, antes de revelar um texto inédito do escritor sobre aquele lugar de culto.

«É um texto irónico, a roçar a sátira anticlerical, em que Pessoa parece regressar ao seu radicalismo de juventude. A intenção não é propriamente anti-religiosa mas anti-católica – uma ‘nuance’ que se deve sublinhar”, disse José Barreto numa conferência sobre “Pessoa e Fátima. A prosa política e religiosa», proferida hoje na Casa Fernando Pessoa.

Começa assim: «Fatima é o nome de uma taberna de Lisboa onde às vezes… eu bebia aguardente. Um momento… Não é nada d’isso… Fui levado pela emoção mais que pelo pensamento e é com o pensamento que desejo escrever», diz o poeta.

O texto inédito descoberto pelo historiador e investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa é apenas «o preâmbulo de um artigo maior que teria um carácter de estudo de caso, permitindo caracterizar aquilo a que Pessoa chama ‘esta religiosidade portuguesa, o catolicismo típico deste bom e mau povo’», explicou, citando o poeta.

«Fatima é o nome de um lugar da provincia, não sei onde ao certo, perto de um outro lugar do qual tenho a mesma ignorancia geografica mas que se chama Cova de qualquer santa», observou.

«Nesse lugar – esse ou o outro – ou perto de qualquer d’elles, ou de ambos, viram um dia umas crianças aparecer Nossa Senhora, o que é, como toda gente sabe, um dos privilégios (…) a que se não (…). Assim diz a voz do povo da provincia e a ‘A Voz’ (jornal católico e monárquico) sem povo de Lisboa», prosseguiu.

«Deve portanto ser verdade, visto que é sabido que a voz das aldeias e ‘A Voz’ da cidade de ha muito substituíram aquelas velharias democraticas que se chamam, ou chamavam, a demonstração científica e o pensamento raciocinado», ironizou.

Pessoa denunciava o aproveitamento da crença do povo por parte do poder político e afirmava: «o facto é que ha em Portugal um lugar que pode concorrer e vantajosamente com Lourdes. Ha curas maravilhosas, a preços mais em conta», escreveu.

«O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja de Fatima, tem tomado grande incremento, com manifesto gaudio místico da parte dos hoteis, estalagens e outro comércio d’esses jeitos – o que, aliás, está plenamente de accordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo – não vão eles lembrar-se de o seguir!», comentou. 

O artigo sobre Fátima – que teria sete páginas tipográficas, de acordo com o sumário que Pessoa deixou escrito – destinava-se a ser publicado no primeiro número da revista Norma, um dos três projectos editoriais de Pessoa no ano da sua morte, em 1935, um quinzenário sobre Literatura e Sociologia que não chegou a concretizar.

Fonte: Sol, 02 de Julho de 2008.

2 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Reitor dos santuários de Lourdes investigado

A Justiça francesa está a investigar a origem de 427 mil euros na conta corrente pessoal do reitor do santuário de Lourdes, o padre Raymond Zambelli, que nega qualquer ilegalidade.

O dinheiro tinha sido detectado em Maio por funcionários da «Tracfin», um organismo dependente do Ministério das Finanças francês cuja missão é seguir os movimentos monetários suspeitos e possíveis operações de bloqueio de fundos.

Segundo o jornal satírico «Le Canard Enchaîné», o caso ameaça estragar a festa da visita do Papa a Lourdes, a 13 de Setembro, pelo que a Justiça decidiu adiar o interrogatório e a detenção do padre para depois da viagem de Bento XVI.

O reitor dos santuários, cujo salário oficial anual ronda os 8.700 euros, incluiu, no ano passado, na sua conta 16.500 euros em dinheiro, em seis ocasiões, e 26 cheques de particulares, no valor de 14.328 euros, adianta o mesmo jornal.

Raymond Zambelli alega que o dinheiro provém da venda, em 1996, de uma casa doada por uma paroquiana e dos investimentos que efectuou. A 13 de Setembro cumprem-se, em Lourdes, os 150 anos das aparições da Virgem Maria.

Fonte: Sol, 02 de Julho de 2008.

2 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Papa apoia indígenas

O papa Bento XVI garantiu hoje a dois líderes indígenas brasileiros que «tudo fará» para ajudar e proteger as suas terras na reserva da Raposa Serra do Sol.

Na véspera de se deslocarem a Portugal para divulgar a campanha de defesa do direito da terra «Anna Pata, Anna Yan» (Nossa Terra, Nossa Mãe) e denunciar as violações e crimes de que dizem ser alvo na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, Norte do Brasil, os dois delegados entregaram uma carta ao Pontífice apelando à sua intervenção no conflito.

«Faremos tudo o possível para vos ajudar a protegerem as vossas terras», afirmou Bento XVI, durante o encontro que foi mantido em sigilo a pedido do Vaticano.

A reserva indígena da Raposa Serra do Sol tem sido alvo de disputa entre tribos indígenas e seis grandes fazendeiros, que ocupam cerca de seis mil hectares do território e se recusam a sair, considerando que os índios «apenas atrapalham o progresso».

Jacir José de Souza, de 61 anos, da tribo Makuxi, e Pierlangela Cunha, de 32, da tribo Wapixana, coordenadora das escolas da reserva Raposa Serra do Sol, foram nomeados pelo Conselho Indígena de Roraima como representantes dos seus povos, e desde 16 de Junho viajam pela Europa para sensibilizar os governos e organizações para a sua causa.

Foram recebidos terça-feira pelo secretário do Conselho Pontifício Justiça e Paz, D. Giampaolo Crepadi, que reconheceu o valor da luta e exemplo dos indígenas da região.

«A Santa Sé vem a comprometer-se na defesa dos direitos dos povos indígenas, principalmente no que diz respeito à promoção humana, o reconhecimento de sua identidade cultural e a defesa do direito de propriedade intelectual», afirmou o responsável.

Na segunda semana de Agosto, o Supremo Tribunal Federal brasileiro (STF) deve decidir se é constitucional ou não a homologação das terras em área contínua, feita pelo presidente brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, em 2005.

Os delegados indígenas exigem que o STF ratifique o decreto de homologação e que faça cumprir a retirada dos agricultores, que «além da violência e intimidação» desenvolvem actividades com um «impacto ambiental altamente prejudicial na zona e nos recursos naturais dos índios», segundo disse à o padre Elísio Assunção, director da Fátima Missionária, que coordena a visita a Portugal.

Fonte: Sol, 02 de Julho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Fátima vista por Fernando Pessoa

O historiador José Barreto vai revelar quarta-feira, em Lisboa, um texto inédito de Fernando Pessoa a propósito de Fátima, assunto sobre o qual o poeta fez várias referências desde 1920 até à sua morte.

«Trata-se de um texto inédito de cinco páginas manuscritas em que Pessoa reflecte sobre o fenómeno de Fátima», disse José Barreto.

«Pessoa e Fátima. A prosa política e religiosa», será o título da palestra que o historiador apresentará na Casa Fernando Pessoa, quarta-feira às 18h30, no âmbito de um ciclo dedicado ao 120.º aniversário do seu nascimento.

No ano da sua morte, em 1935, Fernando Pessoa «tinha três projectos editoriais ligados a Fátima», afirmou o investigador.

Segundo José Barreto, o poeta «não tinha uma referência especialíssima com Fátima e era, aliás, anti-católico, mas acompanhou o fenómeno desde a sua génese à oficialização do culto e à construção da igreja».

Apesar de anti-católico, «em prol da liberdade, Pessoa defendeu a Igreja Católica contra o radicalismo republicano, em especial do Partido Democrático», explicou o investigador do Instituto de Ciências Sociais.

Esta não é a primeira vez que José Barreto aborda a figura de Fernando Pessoa, sobre a qual tem estado a investigar.

Já publicou na imprensa um artigo sobre esta temática religiosa, mas é a primeira vez que traz a lume o texto inédito intitulado Fátima.

A sua área de investigação tem sido, desde a década de 1990, a história social e política do século XX em Portugal, com destaque para a política católica, as relações Estado-Igreja e Fátima, bem como a história do pensamento político e dos intelectuais portugueses.

Fonte: Sol, 01 de Junho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Vaticano ecológico

O Papa recebeu o primeiro de dois mil painéis solares que serão montados nos telhados da cidade do Vaticano, uma oferta do presidente do Estado alemão da Saxónia.

A oferta do primeiro painel ocorreu na segunda-feira, quando o presidente do Estado da Saxónia, Stanislaw Tillich, foi recebido por Bento XVI em audiência privada.

A instalação dos painéis solares, a cargo de uma empresa alemã e que fornecem à Santa Sé uma quantidade considerável da energia gasta, foi recentemente classificada pelo Vaticano como um sinal do seu «compromisso ecológico».

A Santa Sé conseguiu, aliás, alcançar a meta de «emissões zero» de carbono, ao ter criado, no ano passado, uma área florestal na Hungria.

Fonte: Sol, 01 de Julho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Cavaco conversa com o Papa

As relações entre Portugal e a Santa Sé, a União Europeia (UE) e o Tratado de Lisboa, África e Timor-Leste foram os assuntos abordados entre o Papa Bento XVI e Cavaco Silva, recebido numa audiência no Vaticano.

«Foi uma conversa útil» , concluiu o Presidente da República em declarações aos jornalistas no final da audiência, na embaixada de Portugal, em Roma.

«Para mim, como católico e chefe de Estado de uma nação que tem uma forte tradição católica, é sempre um acto de alguma emoção, mas eu trazia uma agenda bem definida para as conversas como o Santo Padre e com o secretário de Estado, o cardeal Bertoni» , confessou.

Para Cavaco Silva – que enquanto primeiro ministro esteve no Vaticano em 1987 para uma audiência como Papa João Paulo II – o actual Papa, Bento XVI é «com certeza, sem dúvida nenhuma um papa diferente do antecessor», mas foi uma «conversa útil».

«Penso que foi um encontro importante. As conversas incidiram basicamente sobre as relações entre Portugal e a Santa Sé, sobre a União Europeia e o Tratado de Lisboa, sobre África e sobre Timor-Leste» , explicou.

No que diz respeito às relações entre a Santa Sé e Portugal, Cavaco Silva e Bento XVI falaram sobre a Concordata.

«Há uma comissão paritária que est á neste momento a trabalhar com resultados positivos e Portugal irá respeitar totalmente a letra e o espírito da Concordata» , disse o chefe de Estado, referindo que os trabalhos da comissão paritária estão «ultrapassados e estão a trabalhar bem».

«Há já propostas no que diz respeito à acção da Igreja nas prisões, nos estabelecimentos militares e nos hospitais. Isso foi muito bem acolhido pela Santa Sé» , disse ainda aos jornalistas a propósito do processo de regulamentação da Concordata.

Durante a conversa de cerca de 20 minutos que o chefe de Estado português teve com o Papa, na sua biblioteca privada, Cavaco Silva teve ainda ocasião de mencionar o contributo de Portugal ao longo da sua história para que cinco países em África, Brasil e Timor Leste sejam hoje países de influência forte por parte da Igreja.

Sobre a UE, o Presidente da República comentou ao Papa que a Europa leva um momento «difícil» em resultado do referendo na Irlanda.

«Sabemos a influência da Igreja Católica na Irlanda, que apoiou o referendo, no sentido do voto pelo sim, mas talvez tenha sido um pouco tarde» , disse.

«Tive ocasião de sublinhar que é importante para o mundo e para os valores que a Igreja e a Europa partilham, uma Europa unida, uma Europa forte, esperemos que num futuro referendo, a igreja irlandesa possa esclarecer algumas ansiedades que foram exploradas pelos partidários do não na Irlanda» , acrescentou.

Sobre África, que tem sido um dos temas preferidos de Bento XVI, Cavaco Silva lembrou que Portugal tem uma relação «muito especial» com o continente, nomeadamente por ter feito parte da agenda das últimas presidências do Conselho Europeu.

«Como é óbvio falámos sobre os países de língua oficial portuguesa que são exemplos positivos em comparação com a situação trágica que se vive no Zimbabué e que a comunidade internacional não pode ignorar» , disse.

Para Cavaco Silva, «não pode dar legitimidade à limitação de acto eleitoral que ocorreu neste país», especialmente numa altura em que vão ocorrer eleições em Angola em Setembro.

«Moçambique tem sido um bom exemplo do funcionamento das instituições democráticas, tal como Cabo Verde» , frisou.

A situação de Timor Leste foi o último assunto abordado por Cavaco Silva, que sensibilizou o Papa Bento XVI para o facto de a Igreja católica constituir «uma referência decisiva» na identidade cultural do país.

«As instituições são ainda frágeis em Timor e a voz dos bispos é talvez uma voz mais forte do que a voz dos líderes dos partidos políticos» , frisou.

No final do encontro, em que Cavaco Silva diz ter ficado satisfeito ao verificar «que o Santo Padre estava bem informado sobre as questões de política internacional abordadas durante as conversações»,o chefe de Estado português aproveitou a ocasião para dizer a Bento XVI que «seria uma grande honra» acolher o Papa em Portugal.

A visita dependerá, no entanto, de uma actuação por parte da Conferência Episcopal, mas Cavaco Silva teve ainda tempo para lembrar das passagens de João Paulo II por Portugal e Angola.

Para Cavaco Silva, Bento XVI falou de uma forma «muito positiva» relativamente a Portugal, enquanto país com uma história ligada à difusão da fé pelo mundo.

A visita de hoje de Aníbal e Maria Cavaco Silva ao Vaticano – a que a Lusa teve acesso com algumas restrições de protocolo – ocorreu pelas 11h00 locais (10h00 em Lisboa) no segundo andar da biblioteca da Santa Sé.

Bento XVI recebeu Cavaco Silva na Sala do Trono Pequeno (ante-câmara da biblioteca e decorada com gravuras de Rafael de S. Pedro e S. Paulo) com um «Welcome Mr. President» e um grande sorriso, convidando o chefe de Estado português a entrar na sua biblioteca privada para uma conversa a sós.

Após esta audiência, que teve a duração aproximada de 20 minutos, os jornalistas presentes puderam entrar na sala e presenciar os cumprimentos de Maria Cavaco Silva e da restante delegação portuguesa que acompanhou o presidente nesta cerimónia.

Seguiu-se uma rápida troca de presentes entre Cavaco Silva e Bento XVI.

O chefe de Estado português ofereceu uma reprodução da Bula papal que reconheceu a independência de Portugal, assinada pelo Papa João Paulo III, em 1179.

O documento provém da Torre do Tombo e foi encadernado de acordo com o formato original pela Fundação Ricardo Espírito Santo.

Durante a entrega do presente português Aníbal e Maria Cavaco Silva explicaram ao Papa que aquela Bula – que reconheceu D. Afonso Henriques e a independência de Portugal – se trata “do documento mais importante” para a Nação.

Fonte: Sol, 28 de Junho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Vinte minutos com Bento XVI

«Welcome Mr. President» , foram as palavras usadas por Bento XVI, para dar hoje as boas vindas a Cavaco Silva, que 21 anos depois regressou ao Vaticano para um audiência privada com um papa.

O encontro a dois, na biblioteca privada do papa, começou poucos minutos depois das 11h00 locais (10h00 de Lisboa), durou cerca de 20 minutos e foi seguida de uma pequena cerimónia de cumprimentos à primeira-dama, Maria Cavaco Silva, e à restante comitiva portuguesa que acompanha o Presidente da República.

Seguiu-se uma troca de presentes entre Cavaco Silva e Bento XVI.

O chefe de Estado português ofereceu uma reprodução da Bula papal que reconheceu a independência de Portugal, passada pelo papa Alexandre III, em 1179.

Este documento provém da Torres do Tombo e foi encadernado pela Fundação Ricardo Espírito Santo.

Bento XVI ofereceu uma medalha comemorativa do pontificado, em ouro, que habitualmente oferece aos chefes de Estado que o visitam, e a Maria Cavaco Silva um rosário em madrepérola.

Fonte: Sol, 28 de Junho de 2008.

28 de Junho, 2008 Carlos Esperança

Casal presidencial visita hoje o Papa

As viagens de Estado são uma obrigação do Presidente da República sem relevância para a diplomacia, cuja condução compete ao Governo, mas necessárias ao prestígio do País, quer se realizem ao Vaticano ou ao Burkina Faso.

Percebe-se mal a agitação que a reincidente visita do casal Cavaco Silva levanta nos órgãos da comunicação social e o frenesim desmesurado por uma deslocação que não ultrapassa os limites estreitos do protocolo. E entende-se ainda pior que a mulher do PR, que goza no aspecto simbólico de algum relevo, se mostre ansiosa com a visita – como declarou – e, que leve como missão «pedir uma bênção especial para Portugal».

Não está provada a eficácia das bênçãos, normais ou especiais, e certamente não resulta daí qualquer benefício ou malefício para o País, mas não deve a mulher do presidente da República de um país laico prestar-se a um gesto de subserviência ou misturar assuntos de Estado com as suas legítimas convicções pessoais ou superstições.

Carece a primeira-dama de legitimidade para pedir uma bênção, logo especial, para o país que é de todos: crentes de várias religiões, ateus, agnósticos, cépticos e outros. A bênção do Papa pode ser ofensiva para um judeu, irritante para um islamita e insultuosa para um cristão ortodoxo ou para um devoto da IURD. Não cabe à D. Maria Cavaco ser portadora de uma bênção que Bento XVI lhe dará com facilidade. Nem sequer lha devia implorar por respeito ao pluralismo religioso e à laicidade do Estado de que o marido é, ou devia ser, o principal garante. 

Em Portugal é difícil respeitar a separação Igreja/Estado, uma imposição constitucional, mas quando a primeira-dama se comporta com o Papa Ratzinger como uma adolescente em presença de uma estrela pop, a situação só tende a piorar.

Carlos Esperança