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Categoria: Catolicismo

11 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Estatísticas da santidade

“Bento XVI (em dois anos e meio) fez 555 beatos e 14 santos; João Paulo II tinha elevado, entre santos e beatos, 1827 (em 27 anos). E João Paulo II fez mais santos e beatos do que todos os seus predecessores, desde 1588, juntos.
Antes de João Paulo II, entre 1588 e 1978, tinham-se feito só 808 beatos e 296 santos (total: 1104) … e o Papa João Paulo II ao fazer tantos santos e beatos não fez senão aplicar o Concílio e chamar todos à santidade, dando modelos para imitar e assim também chegarem à santidade. (…) na Congregação para as Causas dos Santos há actualmente mais 12200 causas de beatificações e canonizações à espera de ser examinadas e estudadas.”
 
Declarações do cardeal Saraiva Martins, o anterior prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, numa longa entrevista ao Diário de Notícias de ontem (4 páginas). A não perder.
Fiquei maravilhado com tanta santidade! Não será por falta de santos e beatos que Deus irá zangar-se com os homens, julgo eu.
a) AC
10 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

José Saraiva Martins – o Cardeal que mais santos criou

Nunca um santo criou um só cardeal e jamais um só cardeal criou tantos santos.

A entrevista do cardeal Saraiva Martins (JSM), ao Diário de Notícias de hoje, é uma peça de antologia distribuída por quatro páginas da edição impressa.

Não se sabe onde termina o ingénuo pesquisador de milagres, supersticioso e crente, semelhante ao caçador de gambozinos, e onde começa o frio contabilista da empresa que lhe confiou o marketing da santidade.

Engana-se quem vê no ar rústico do velho cardeal um homem tolerante e aberto ao mundo, um homem que já não se lembra em quem votou no último conclave mas tem bem presente que os padres devem aconselhar os fiéis sobre os partidos políticos em que devem votar.

JSM quer esquecer a cumplicidade da sua Igreja com Salazar mas gosta de recordar que o preservativo nunca deve ser usado. Fala dos beatos e santos que promoveu em doses industriais, dos milagres que inventou e do negócio das canonizações sem se dar conta que Portugal mudou. Sabe de cor o nome de todos os bem-aventurados portugueses que ajudou a içar aos altares.

Só com Bento XVI já criou 555 beatos e 14 santos o que significa uma clara aceleração do veículo que conduz à santidade depois das beatificações em série do antecessor – 1887, entre beatos e santos.

São quatro páginas inteiras de uma entrevista que há quarenta anos alvoroçava o Portugal rural e beato de Salazar mas que hoje deixa um sorriso de incredulidade em quem o lê, que diz acreditar na santidade de Alexandrina da Costa, a bem-aventurada que viveu 13 anos sem comer nem beber, em anúria, apenas com uma hóstia consagrada por dia.

Fala de Fátima como se as «aparições» não fossem uma forma de combater a República, mais tarde reciclada para o combate ao comunismo, como se as azinheiras fossem plataformas de aterragem da Virgem e a Cova da Iria um anjódromo feito à medida para o Paraíso organizar viagens ao concelho de Ourém para enviar recados através de três inocentes pastorinhos.

JSM é uma figura medieval no pensamento mas astuto na defesa dos milagres. Quando a ciência não explica, é milagre… e reconhece que o Vaticano se preocupa em distribuir os santos e os milagres de forma equitativa pelos países católicos embora os emolumentos não sejam baratos.

A Espanha ficou a ganhar por causa dos mártires da Guerra Civil mas – embora não o diga – isso foi um privilégio para promover a vitória do PP e apelar à Espanha franquista contra o PSOE, tentativa gorada para desespero do cardeal Rouco Varela.

Homofóbico, reaccionário e fiel às mais ortodoxas posições do Vaticano, admitindo que ele próprio pudesse ter sido papa, não esconde o medo do Islão e o perigo das alterações demográficas na Europa que podem tornar hegemónica a religião concorrente.

Este cardeal nascido numa aldeia do distrito da Guarda, em Portugal, que presidiu no último 13 de Maio a uma peregrinação contra o ateísmo, nunca mudou. Há anos afirmou que «Não há coisa mais bonita do que ver os homens de joelhos ou deitados».

6 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Proselitismo e amnésia

As vozes da Igreja do silêncio
Sobrevivência da Igreja na China pode ser considerada como um “milagre”, mas é ultrapassado pelo seu crescimento quase imparável, nos nossos dias

Comentário: A ICAR já esqueceu as perseguições que fez, as Cruzadas, a Inquisição e a evangelização dos índios.

3 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Bento 16 e a virgindade

«O Vaticano deu o primeiro passo para a beatificação da jovem espanhola de 22 anos assassinada em 1992 por Pedro Luis Gallego, que queria violá-la. Se a elevação aos altares acontecer, será a primeira mártir da era moderna, pela defesa da virgindade em nome da fé cristã».

 

Longe de mim acreditar que o actual Papa é um crente. É demasiado culto e inteligente para acreditar na virgindade de Maria, na infalibilidade papal e na transubstanciação da hóstia por acção dos sinais cabalísticos da praxe.

Este Papa é um gestor, um homem de negócios que conhece a clientela e que desistiu da mais sofisticada, para manter a mais primária e rudimentar. Em marketing escolhem-se os segmentos de mercado. Não se discute com um biólogo a capacidade reprodutiva do Espírito Santo nem com um obstetra a virgindade depois de um parto por via baixa.

Os milagres, cada vez mais frequentes e fúteis, não são o número para que se convidem cadáveres ou se aliciem crentes alfabetizados. B16 sabe que as canonizações rendem grossos cabedais ao Vaticano e atraem ouro, jóias e euros para as caixas de esmolas dos taumaturgos quer se trate de um torturador franquista, canonizado por lapso ou de uma descrente como Madre Teresa de Calcutá, desde que fosse cúmplice com o papa no ódio ao preservativo.

A virgindade é uma virtude que a ICAR resolveu estimular no seu santo ódio e nojo ao orgasmo e à sexualidade em geral. Esgotada a lista de franquistas destinados ao altar, é agora a vez de procurar novas minas de santos para manter o entusiasmo dos fiéis.

Marta Obregón foi assassinada numa tentativa de violação. Como a jovem era dada à oração, a violação e o assassínio não mereceram a atenção do Papa. Para ele só contou a heróica renúncia à alegada perda da virgindade. Mais uma santa. O deus do Papa serviu-se de um canalha para fazer uma santa. Com a ajuda de um embusteiro.

2 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

João Paulo II e o ateísmo

Creio que há uma dívida de gratidão dos ateus para com João Paulo II (JP2), dívida que o extinto polaco involuntariamente mereceu.

JP2 era um Papa que acreditava na existência de deus, na navegação celeste de anjos e virgens, suficientemente supersticioso para afiançar que os mortos obravam milagres.

Não passou pela cabeça do crédulo polaco que o ridículo e os escândalos faziam pior à Igreja do que as mentiras que pregava. Acreditar que a santinha de Balazar se alimentou de hóstias consagradas durante mais de uma década, sem comer nem beber e em anúria, seria motivo de interdição das funções, por falta de siso, a quem não tivesse a profissão de santo.

JP2 era o rural poliglota, casto, fiel à ICAR, protegido do Opus Dei e protector da CIA, que acreditou que o comunismo era obra do diabo. Só um rústico podia acreditar que os regimes ditatoriais de esquerda são obra do demo e os de direita fruto da vontade divina.

As suas viagens eram um espectáculo coreografado para atrair multidões e esconder o vazio da Igreja e a mentira de deus. No Vaticano era dos poucos que lia a Bíblia e que acreditava nas suas fábulas.

Foi graças aos espectáculos mediáticos e à crença de que deus existia que promoveu o seu próprio culto. Quanto aos milagres que rubricou e aos numerosos santos que criou, levou o ridículo aos cinco continentes, entusiasmou os crédulos e divertiu os ateus.

JP2 foi um produto do marketing, tão genuinamente convencido de que tinha uma missão divina que se chegou a acreditar que figurava num segredo de Fátima inventado para combater a República e prolongar o obscurantismo português.

Antigamente os santos eram poucos e os milagres fruto da tradição oral. Quando JP2 industrializou a criação de santos e passou a certificar milagres, vulgarizou as mentiras da ICAR e escarneceu os santos antigos que o tempo tinha consagrado.

Fez mais pelo ateísmo o papa polaco a rezar do que os investigadores a divulgarem a ciência.  

1 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

A Espanha e a ICAR

A Espanha, país onde nunca entrou a Reforma mas onde a Contra-Reforma assumiu as mais desvairadas formas de violência, mantém, ainda hoje, bispos maioritariamente reaccionários, nostálgicos do fascismo e dispostos a enfrentar o poder legal.

Curiosamente a Espanha católica com que sonham os bispos é mais anticlerical do que crente. A pungente nota eleitoral do episcopado, em 31 de Janeiro, pedindo aos eleitores para que votassem no partido que «defenda o casamento entre homem e mulher», isto é, no PP, saldou-se por uma derrota que reconduziu o PSOE ao poder.

Rouco Varela, frio cardeal de 71 anos que trocou o funeral do irmão mais velho por um encontro com o Papa, é o velho franquista e entusiasta do Opus Dei que destila ódio de estimação ao PSOE e um azedume pio perante a o processo de secularização espanhola.

O combate político nos jornais católicos, no púlpito e nas ruas de Madrid, em manifestações raivosas contra o PSOE, fizeram dele um dos maiores derrotados das últimas eleições legislativas espanholas.

No dia seguinte à derrota que o humilhou e que contribuiu para a progressiva laicização de Espanha, quando os dados eleitorais já eram irreversíveis, anunciou que rezava por Zapatero e, que «A Conferência Episcopal Espanhola reza para que o Senhor lhe conceda a sua luz e a sua força no desempenho das responsabilidades de que o povo o incumbe, ao serviço da paz, da justiça, da liberdade e do bem comum dos cidadãos».

Quanto às orações bem sabe o rancoroso cardeal da sua ineficácia e quanto à justiça, liberdade e bem comum, respondeu-lhe o eleitorado.

No País dos reis católicos, a igreja que «evangelizou» os índios da América do Sul, que torturou hereges, expulsou judeus e apoiou o assassínio metódico dos republicanos pelos franquistas, é a Igreja que vive da generosidade do Governo, das largas verbas que este lhe concede, com a advertência do PSOE de que «os privilégios não são eternos».