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Categoria: Catolicismo

12 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

Ratzinger recentrado

Ratzinger conhecia a Fraternidade São Pio X e os seus (ir)responsáveis bispos, quanto mais não fosse porque foi ele próprio que, há duas décadas e enquanto prefeito da «Congregação para a Doutrina da Fé», tentou impedir o afastamento destes católicos tradicionalistas. Sabia portanto o que estava a fazer. Pode não ter adivinhado todas as consequências, mas sabia quem eram, e o que pensam, as ovelhas que voltariam ao redil.

Portanto, a verdadeira questão é o porquê destas re-comunhões. A resposta mais óbvia é que considera os católicos tradicionalistas parte da sua ICAR, da igreja que imagina e que deseja. E as opiniões políticas e históricas dos lefebvristas, provavelmente, não o chocam intimamente por aí além. Outra resposta é que Ratzinger deseja criar um contrapeso aos «católicos progressistas». E está a consegui-lo. Por compreender isto, Hans Kung pede a demissão do Papa e Leonardo Boff chama-lhe «pastor medíocre» e «politicamente desastrado», e sugere também o afastamento de Ratzinger. Para azar deles, Ratzinger parece preferir uma ICAR mais pequena mas mais coesa.

Nota final: Williamson não é o único anti-semita dos bispos reintegrados. Outro desses bispos, Tissier de Mallerais, já proclamou que «os judeus são os mais activos artesãos da vinda do anti-Cristo». Esse mesmo Mallerais já anunciou a intenção dos lefebvristas de «converter Roma». (E o próprio Lefebvre era crente no «complô judaico-maçónico-comunista».)

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

12 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

B16 pensa mas pensa mal

B16 não compartilha, no entanto, do evolucionismo radical. Em visita à Alemanha em Setembro de 2006, criticou o que chamou de “essa parte da ciência que se empenha em buscar uma explicação ao mundo na qual Deus é supérfluo”.

Joseph Ratzinger considerou na ocasião “irracionais” as teorias que consideram a existência da humanidade um “resultado do acaso” e destacou que, para os cristãos, “Deus é o criador do céu e da terra e que para entender a origem do mundo é preciso ter Deus como ponto de referência”.

11 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

Arredai!

Desde o Concílio Vaticano 2º que a ICAR aceita a laicidade no sentido da autonomia «administrativa» do Estado perante as igrejas (mas só porque insistimos muito, mesmo muito, durante séculos) mas, todavia, continua sem aceitar a laicidade no sentido da autonomia ética da sociedade perante a cultura cristã. Os mais mediáticos dos conflitos contemporâneos entre política e religião, da legalização da IVG aos casamentos entre homossexuais, têm aqui a sua origem.

A laicidade, ao contrário do que argumentam equivocadamente os clericais, não é simples «autonomia administrativa», ou seja, separação entre registo civil e ficheiros canónicos, entre poder democrático e cargos de nomeação do Vaticano, entre receitas públicas e remunerações do clero. É também a distinção entre regras legais para todos, e conceitos morais para os que são religiosos.

A ICAR tem todo o direito de não casar homossexuais. Tem também o direito de os excomungar. Já duvido de que tenha o direito de despedir alguém a quem pague salário – por esse alguém ser homossexual.

A laicidade garante a liberdade de expressão para todos. Até para os que gostariam de a restringir, ou que a ela se opuseram historicamente. A ICAR pode portanto bradar contra os casamentos entre homens, ou entre mulheres, ou entre pessoas estéreis. Está no seu direito. Como nós estamos no nosso ao criticar os argumentos apresentados e a sua fundamentação.  Por exemplo, que «detrimento» resulta para as famílias existentes do reconhecer-se novos tipos (legais) de família? Ou qual será o prejuízo para a «crise» de uma medida legislativa que cria novas famílias? Ou ainda, porque será a «família homossexual» mais «antropologicamente errada» do que o celibato? Finalmente, será que não compreendem que o que se deve mesmo dizer às novas gerações é que «sejam o que quiserem»?

Evidentemente, tudo isto me parece pouco relevante. Apesar de se anunciarem indicações de voto especificando os partidos políticos «catolicamente correctos», já vai sendo tempo de ignorar a ICAR nestes debates. Nos dois referendos sobre a IVG, mostraram a sua inigualável capacidade de envenenar o debate público com panfletos terroristas, imagens sanguinolentas, manipulação de crianças, abuso das plataformas públicas que lhes oferecem (geralmente, para outras finalidades) e, não esquecer, as atoardas sobre as famigeradas «leis naturais». Querem fazê-lo em eleições legislativas? Se sim, convém recordar que há limites legais às intervenções de sacerdotes em campanhas eleitorais. Mas o melhor é mesmo arredarem, porque já não há pachorra.

A terminar, não posso deixar de registar como uma novidade positiva as declarações de dirigentes do PS sobre este assunto. Não vi a mesma clareza aquando dos referendos à IVG. Só falta que Pedro Silva Pereira diga que a ICAR não deve meter o bedelho nesta questão. Mas não deve tardar, penso eu…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

10 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

O peso das sotainas

Madrid, 09 Fev (Lusa) — José Samarago aproveita a recente visita a Espanha do secretário de Estado do Vaticano para, no seu blog, criticar o que considera ser a “displicência com que o papa e a sua gente tratam o governo” espanhol.

10 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

A morte de Eluana Englaro

Ninguém estranha as palavras de Sílvio Berlusconi mas não podemos deixar de nos preocupar com as suas exóticas decisões.

Sabemos que o homem é pródigo a produzir legislação em benefício próprio e que não hesita em produzi-la também para satisfazer as crenças dos caciques políticos e religiosos que o conduziram ao poder.

Mas há um limite para tudo e para todos. Até para Berlusconi.

Agora que os pais de Eluana Englaro podem fazer o luto, agora que terminou um calvário de 17 anos para os pais da mulher que os preconceitos condenaram à respiração assistida por tempo indeterminado, é tempo de julgar no pelourinho da opinião pública o comportamento do Bento 16 e o de Berlusconi, este pelo decreto à medida de um caso concreto.

Não censuro as crenças, mas condeno ao primeiro que as quisesse impor a todos e ao último que tenha desprezado o veredicto dos Tribunais e se dispusesse a alterar a Constituição para satisfazer as convicções papais.

Hoje, em Udine, algures em Itália, os pais da jovem que morreu, de facto, há 17 anos, podem finalmente começar a fazer a luto após a luta dolorosa para que lhes fosse possível libertar a filha da vida vegetativa.
Sobram argumentos para execrar a atitude dos cúmplices da lúgubre novela em que Bento 16 e Berlusconi, dois aliados de há muito, se envolveram.

Mas basta, para a posteridade, registar os argumentos das duas criaturas para obrigarem a medicina a manter viva a mulher que jazia em coma profunda há 17 anos:

Pode haver um milagre, asseverou o Vaticano, habituado a fabricá-los. Ainda «está em condições de ter bebés» – garantiu Berlusconi.

Não sei o que é mais indigno, se o humor negro ou a falta de sensibilidade.

9 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

Basta

D. Januário Torgal Ferreira revelou que existe uma “preocupação muito séria” entre os capelães militares após notícias vindas a público sobre uma proposta de decreto-lei que regula o exercício da assistência religiosa nas Forças Armadas, prevendo que deixem de ter um bispo a coordenar essa assistência e a extinção do actual quadro de capelães.

Nota: Num país democrático não se percebe que exista um comandante espiritual dos católicos fardados.

9 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

Bento 16 e Berlusconi – Unidos como sempre

Cidade do Vaticano, 8 fev (EFE).- O Vaticano manifestou o seu “apreço” oficial a favor do projeto de lei proposto pelo Governo do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, para evitar a morte de Eluana Englaro, a italiana em estado vegetativo a quem a família quer ajudar a morrer.

Em comunicado, o Vaticano manifestou seu “vivo apreço pela aceleração dada pelo Parlamento para a aprovação do projeto de lei” que poderá evitar a morte de Eluana.