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Categoria: Catolicismo

11 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

Arredai!

Desde o Concílio Vaticano 2º que a ICAR aceita a laicidade no sentido da autonomia «administrativa» do Estado perante as igrejas (mas só porque insistimos muito, mesmo muito, durante séculos) mas, todavia, continua sem aceitar a laicidade no sentido da autonomia ética da sociedade perante a cultura cristã. Os mais mediáticos dos conflitos contemporâneos entre política e religião, da legalização da IVG aos casamentos entre homossexuais, têm aqui a sua origem.

A laicidade, ao contrário do que argumentam equivocadamente os clericais, não é simples «autonomia administrativa», ou seja, separação entre registo civil e ficheiros canónicos, entre poder democrático e cargos de nomeação do Vaticano, entre receitas públicas e remunerações do clero. É também a distinção entre regras legais para todos, e conceitos morais para os que são religiosos.

A ICAR tem todo o direito de não casar homossexuais. Tem também o direito de os excomungar. Já duvido de que tenha o direito de despedir alguém a quem pague salário – por esse alguém ser homossexual.

A laicidade garante a liberdade de expressão para todos. Até para os que gostariam de a restringir, ou que a ela se opuseram historicamente. A ICAR pode portanto bradar contra os casamentos entre homens, ou entre mulheres, ou entre pessoas estéreis. Está no seu direito. Como nós estamos no nosso ao criticar os argumentos apresentados e a sua fundamentação.  Por exemplo, que «detrimento» resulta para as famílias existentes do reconhecer-se novos tipos (legais) de família? Ou qual será o prejuízo para a «crise» de uma medida legislativa que cria novas famílias? Ou ainda, porque será a «família homossexual» mais «antropologicamente errada» do que o celibato? Finalmente, será que não compreendem que o que se deve mesmo dizer às novas gerações é que «sejam o que quiserem»?

Evidentemente, tudo isto me parece pouco relevante. Apesar de se anunciarem indicações de voto especificando os partidos políticos «catolicamente correctos», já vai sendo tempo de ignorar a ICAR nestes debates. Nos dois referendos sobre a IVG, mostraram a sua inigualável capacidade de envenenar o debate público com panfletos terroristas, imagens sanguinolentas, manipulação de crianças, abuso das plataformas públicas que lhes oferecem (geralmente, para outras finalidades) e, não esquecer, as atoardas sobre as famigeradas «leis naturais». Querem fazê-lo em eleições legislativas? Se sim, convém recordar que há limites legais às intervenções de sacerdotes em campanhas eleitorais. Mas o melhor é mesmo arredarem, porque já não há pachorra.

A terminar, não posso deixar de registar como uma novidade positiva as declarações de dirigentes do PS sobre este assunto. Não vi a mesma clareza aquando dos referendos à IVG. Só falta que Pedro Silva Pereira diga que a ICAR não deve meter o bedelho nesta questão. Mas não deve tardar, penso eu…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

10 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

O peso das sotainas

Madrid, 09 Fev (Lusa) — José Samarago aproveita a recente visita a Espanha do secretário de Estado do Vaticano para, no seu blog, criticar o que considera ser a “displicência com que o papa e a sua gente tratam o governo” espanhol.

10 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

A morte de Eluana Englaro

Ninguém estranha as palavras de Sílvio Berlusconi mas não podemos deixar de nos preocupar com as suas exóticas decisões.

Sabemos que o homem é pródigo a produzir legislação em benefício próprio e que não hesita em produzi-la também para satisfazer as crenças dos caciques políticos e religiosos que o conduziram ao poder.

Mas há um limite para tudo e para todos. Até para Berlusconi.

Agora que os pais de Eluana Englaro podem fazer o luto, agora que terminou um calvário de 17 anos para os pais da mulher que os preconceitos condenaram à respiração assistida por tempo indeterminado, é tempo de julgar no pelourinho da opinião pública o comportamento do Bento 16 e o de Berlusconi, este pelo decreto à medida de um caso concreto.

Não censuro as crenças, mas condeno ao primeiro que as quisesse impor a todos e ao último que tenha desprezado o veredicto dos Tribunais e se dispusesse a alterar a Constituição para satisfazer as convicções papais.

Hoje, em Udine, algures em Itália, os pais da jovem que morreu, de facto, há 17 anos, podem finalmente começar a fazer a luto após a luta dolorosa para que lhes fosse possível libertar a filha da vida vegetativa.
Sobram argumentos para execrar a atitude dos cúmplices da lúgubre novela em que Bento 16 e Berlusconi, dois aliados de há muito, se envolveram.

Mas basta, para a posteridade, registar os argumentos das duas criaturas para obrigarem a medicina a manter viva a mulher que jazia em coma profunda há 17 anos:

Pode haver um milagre, asseverou o Vaticano, habituado a fabricá-los. Ainda «está em condições de ter bebés» – garantiu Berlusconi.

Não sei o que é mais indigno, se o humor negro ou a falta de sensibilidade.

9 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

Basta

D. Januário Torgal Ferreira revelou que existe uma “preocupação muito séria” entre os capelães militares após notícias vindas a público sobre uma proposta de decreto-lei que regula o exercício da assistência religiosa nas Forças Armadas, prevendo que deixem de ter um bispo a coordenar essa assistência e a extinção do actual quadro de capelães.

Nota: Num país democrático não se percebe que exista um comandante espiritual dos católicos fardados.

9 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

Bento 16 e Berlusconi – Unidos como sempre

Cidade do Vaticano, 8 fev (EFE).- O Vaticano manifestou o seu “apreço” oficial a favor do projeto de lei proposto pelo Governo do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, para evitar a morte de Eluana Englaro, a italiana em estado vegetativo a quem a família quer ajudar a morrer.

Em comunicado, o Vaticano manifestou seu “vivo apreço pela aceleração dada pelo Parlamento para a aprovação do projeto de lei” que poderá evitar a morte de Eluana.

8 de Fevereiro, 2009 Carlos Esperança

Bispo pior que o Papa (2)

Por

E – Pá

Temos de “congratular-nos” – pela negativa – com este acto de desobediência ao Vaticano.
Bento XVI que, pelo menos publicamente não é um negacionista, deveria saber que, a História não retrocede.

A “re-habilitação” dos chamados “integristas”, sucessores de Mons. Lefebvre , não é possível, sem ferir uma “outra Igreja”, a pós-conciliar.

É impossível, mesmo para místicos, retroceder centenas de anos.

Ele que comandou, durante 24 anos a Congregação da Doutrina da Fé, deveria ter aprendido que as chamadas heresias (sejam quais forem) não são domáveis.
Como não aprendeu, passa por mais este opróbrio.

Donde se conclui que, nem sempre, um fidelíssimo prefeito do ex-Santo Ofício (…ofício de mandar para a fogueira) será um bom chefe da Igreja. A ICAR começa, sob os auspícios de Bento XVI, a desconjuntar-se.

O que não é um acto prematuro. Dura há mais de 2.000 anos…

O bispo não abandona o Papa.
O bispo afronta o Papa, com as mesmas armas com que este afrontou outras derivas doutrinárias, como o do frade franciscano Leonardo Boff, etc.

Bento XVI, perdeu a noção do carácter universal que permitiu à Igreja sobreviver tantos séculos e está confinado a um âmbito eurocêntrico, redutor e limitadíssimo.

Não progride na América do sul onde as seitas surgem como cogumelos depois das chuvas e, no Oriente, não consegue contornar uma cultura milenar, com muitos vectores identitários, que lhe é, temporalmente, anterior.

Mas o grande embate estará a decorrer com a religião judaica, onde as declarações de Richard Williamson que, Bento XVI, não conseguiu abafar, estão a incendiar o diálogo inter-religioso.

A cometer erros deste quilate, por quanto tempo perdurará o seu magistério?

É que a ICAR apesar da sua aparente bonomia é impiedosa em resguardar-se das previsíveis hecatombes…

7 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

A evolução de Fátima

Foi colocado no arquivo da Associação República e Laicidade um ensaio sobre Fátima publicado, em Dezembro, pela revista L´Idée Libre: «Fátima e a transformação do catolicismo português». O artigo descreve a evolução de Fátima, da manifestação anti-republicana de 1917 ao actual «centro comercial da fé», passando pelo santuário anticomunista do Estado Novo.

Resumo: «As «aparições» de Fátima, entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917, nasceram em reacção ao laicismo da República e nas circunstâncias da 1ª guerra mundial, mas o culto e o santuário ali instalados adaptaram-se facilmente ao regime reacionário de Salazar, designadamente ao seu anticomunismo, e constituem hoje o coração do catolicismo português, que seria inimaginável sem Fátima e o seu capital simbólico e financeiro».

Conclusão: «O catolicismo português, religião oficial do Estado até 1910, substituiu o apoio estatal pelo apoio na crença na visita a Portugal de uma figura celestial».

Da bibliografia consultada, foi-me particularmente útil «As “aparições de Fátima” – Imagens e Representações», de Luís Filipe Torgal (editado pela primeira vez pela Temas e Debates em 2002), na minha opinião o estudo histórico mais sério e sistemático, actualmente existente, sobre a maior aldrabice do século 20 português.

Guardado também no meu arquivo pessoal.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]