Loading

Categoria: Fátima

16 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

MARIA

Se a alva e meiga Senhora que 1917, poisou numa azinheira, vestida com um manto de luz, para gáudio de três inocentes pastorinhos, por erro de navegação celeste houvesse poisado numa azinheira errada e encontrado um só pastor, mancebo de vinte e tantos anos; se a falta de energia lhe tivesse apagado o manto, sendo a beleza tanta quanto dela disseram as criancinhas, e entre o manto e o corpo nada houvesse, como é de crer, por ser a luz que resplandecia o único vestido que a cobria, poderia o dito pastor chamar-se José, como o humilde carpinteiro de Nazaré, e a história seria outra.

 Se o dito pastor, mancebo de vinte e tantos anos, na flor da idade e do desejo, impelido pelos sentidos, fosse tão rápido e eficaz a tomar a dita Senhora como o era a conduzir o rebanho, não seria o Papa, muitos anos depois, a entrar em êxtase; seria ele, pastor, ali e então. E, em vez de criancinhas a ouvirem eu sou a Nossa Senhora, pitoresca apresentação que só ouvi a um Sargento, falando aos soldados, eu sou o nosso primeiro Vieira, em vez dessa apresentação que os exegetas atribuem à Virgem Maria, teria ouvido o pastor, mancebo de vinte e tantos anos, mais afeito ao rebanho que ao corpo feminino, à guisa de apresentação e despedida, com voz lânguida e conformada, eu sou Maria.  

Tudo leva a crer que a referida Senhora, de tão rara beleza, teria esquecido a conversão da Rússia, poupado o dito pastor à oração e, em vez de duas ou três aparições, teria tentado outras, sabendo embora que não era a azinheira certa aquela em que poisava, mas adivinhando à sua sombra o pastor, mancebo de vinte e tantos anos.

É preciso aumentar a probabilidade de novas aparições, seja pela duplicação do número de azinheiras ou do número de crianças que, vítimas da fome e da ignorância, prefiram a oração à escola e se dediquem à pastorícia, de preferência longe dali, que os milagres raramente se repetem perto, e, se acontecem, como há sobejas provas na Ladeira e noutros sítios, nunca são reconhecidos por se desconfiar da abundância e se temer a concorrência.

E se, no futuro, apenas houver pastores crianças, com joelhos no chão e olhos no Céu, não haverá qualquer pastor na flor da idade e do desejo, mancebo de vinte e tantos anos, a ofender a virtude e a mudar o sítio às azinheiras, a perturbar a circulação celeste e os milagres.

(Post repetido)

14 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

A canonização da Lúcia

A Irmã Lúcia e a Virgem Maria jogavam à macaca no Paraíso, com a Madre Teresa de castigo por não acreditar em Deus, quando a Lúcia soube que em Coimbra lhe disse missa um cardeal e que no Vaticano se preparam os papéis para lhe outorgarem a santidade.

A vida longa que a carmelita expiou na cela, as confidências que ouviu da Virgem, as recordações que levou do anjo que aterrou na Cova da Iria e as conversas que teve com Cristo, quando a visitou em Tuy, fizeram da carmelita uma das almas mais cultas que guarda cabras no Paraíso.

O bispo de Leiria/Fátima, um parente da vidente, considera a antecipação dos prazos de beatificação o «reconhecimento» do Vaticano pelos serviços prestados ao negócio pela pastorinha que pôs o Sol às cambalhotas e pediu a Marcelo Caetano que se opusesse ao péssimo hábito das mulheres que baixaram os decotes e sobem a bainha aos vestidos.

Como poderia não ser santa a única alma que viu em Salazar o enviado da Providência e no terço a arma mais eficaz contra o comunismo? É preciso ser inveterado ateu para não ver naquela reclusa de olhos vagos uma mensageira do Céu que teve o privilégio de ver o Inferno numa bolsa de estudo que o próprio Cristo lhe ofereceu antes de ser encerrado por JP2 e reaberto por B16!

Parece ter sido um dentista do Porto o primeiro a confirmar que a Lúcia era vidente. Ao ver-lhe a boca descobriu os dois dentes que lhe sobravam dos jejuns e orações e logo exclamou, em êxtase: «Olha, é mesmo «bidente»! O dentista fez o diagnóstico.

24 de Novembro, 2007 Ricardo Alves

RTP 1, 21 horas

Hoje, o programa «A Voz do Cidadão» (organizado pelo Provedor dos telespectadores da RTP) será sobre religião. Às 21 horas no canal RTP 1, e às 19h44m no RTP Internacional, com repetição amanhã às 14h45m no RTP 2, e às 19h45m no RTP N. Vamos ver.

  • Linque RTP (agradeço ao kavkaz esta indicação).
14 de Outubro, 2007 Ricardo Alves

Solidariedade com o catolicismo silenciado!

Confesso (!) que não posso, em consciência, concordar com o Ricardo Carvalho, o Bruno Resende e o Ricardo Silvestre. Eu acho que o Tarcisio Bertone tem razão: existe realmente uma tentativa para silenciar o catolicismo. E vou prová-lo.

Em primeiro lugar, considerem o caso do canal estatal RTP 1: no Sábado, dia 13 de Outubro, apenas 7h15m em 21 horas e 30 minutos de emissão foram preenchidas por programas exclusivamente sobre Fátima; na programação de domingo, o canal do Estado dedicou somente oito horas e meia em vinte e uma a Fátima, o que significa que 60% da emissão não foi monopolizada pelo fatimismo!

Em segundo lugar, constate-se que os jornalistas abordam Fátima de uma maneira crítica, eu diria mesmo obscenamente científica. Um caso particularmente grave é Fátima Campos Ferreira, que é notada por ostentar as suas convicções anti-religiosas e por fazer perguntas difíceis e embaraçosas aos cardeais. Outro, é Marcelo Rebelo de Sousa, um conhecido anticlerical que no seu tempo de antena de Domingo à noite não perde uma ocasião de criticar Fátima e os católicos.

Um terceiro sinal do silenciamento do catolicismo é o facto de o congresso do PSD ter sido marcado para este mesmo fim de semana, o que me leva a suspeitar de que o PSD faz parte de uma tenebrosa conspiração ateísta para silenciar o catolicismo, que conseguiu não apenas que os telejornais começassem com reportagens laranjas e não com homilias de tipos vestidos de branco, mas também que dedicassem meros quinze minutos ao culto fatimista.

Portanto, só me resta dizer aos católicos que a parte afectiva do meu cérebro está solidária com eles, e que chora indignada por serem tão horrendamente silenciados. Coitadinhos!

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
12 de Outubro, 2007 Ricardo Alves

Se

Se alguém disser que viu a Lua a bailar por cima da Charneca da Caparica, e que Júlio César ali desceu numa nuvem e conversou com algumas pessoas para transmitir uma mensagem da maior importância, o mais provável é internarem esse alguém no Hospital Júlio de Matos.

Se um grupo se organizar para isolar as pessoas que «conversaram» com Júlio César, as mantiver incomunicáveis até à morte, e for revelando as «mensagens» de Júlio César, por exemplo «prevendo», em Outubro de 2001, a guerra do Afeganistão, ou apelando a que se usem togas romanas nos tribunais, o mais provável é esse grupo ser tratado como um bando de lunáticos ou charlatães.

Se esse grupo, chamemos-lhes os «cesaristas», comprar o terreno na Charneca da Caparica «visitado» por Júlio César, lá construir um templo, e recolher dinheiro das pessoas que lá vão prometendo-lhes vagamente que talvez se possam curar do cancro ou das micoses, é bem possível que sejam visitados pela ASAE e até talvez responsabilizados em tribunal pela fraude que organizaram.

Se mesmo assim alegarem que a crença na descida de Júlio César dá sentido à vida de algumas pessoas, e que por isso as vozes críticas se devem calar, serão tratados como oportunistas e hipócritas.

Se encorarajarem as pessoas que lá vão a flagelarem-se e a passarem fome, serão atacados pelos conservadores como uma seita perigosa que deve ser ostracizada, e que talvez devesse mesmo ser vigiada pela polícia.

Se afirmarem que as pessoas que vão ao terreno da Charneca da Caparica legitimam as ideias que os «cesaristas» têm sobre o casamento e a contracepção, ou ameaçarem que, se o Estado não lhes der dinheiro, incitarão as pessoas que lá vão a revoltar-se contra o Governo e os cidadãos que não acreditam na «aparição» de Júlio César, o escândalo será enorme.

Se a dimensão do movimento «cesarista» for grande, o normal será que os jornalistas investiguem, os media denunciem e os fazedores de opinião se indignem contra esta aldrabice organizada. Talvez até alguns políticos queiram dizer publicamente que enganar as pessoas para as manipular politicamente e ficar-lhes com o dinheiro é feio.

Todavia, se tudo isto se passar num contexto religioso católico, as consequências normais não se seguirão e a aldrabice ficará impune.

26 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

É um padre católico quem o diz

  • «Na devoção a Fátima, “há muita ignorância e ingenuidade”»
    (Luciano Guerra, «Reitor do Santuário de Fátima»).

O senhor Luciano poderia ter dado o passo seguinte e ter assumido que a ignorância e a ingenuidade sempre foram lucrativas para a ICAR.

28 de Maio, 2007 Ricardo Alves

Frei Gambozino e a dança que faz vertigens

No Público de domingo, Bento Domingues, por alcunha (merecida) o Frei Gambozino, diz-nos que em Fátima, a 13 de Outubro de 1917, o sol «dançou vertiginosamente num céu coberto de nuvens». Algumas perguntas simples: se o céu estava coberto de nuvens, como pode Frei Gambozino garantir que o sol «dançou»? O candeeiro mexe-se por detrás da cortina? Ou é a cortina que se mexe à frente do candeeiro? Frei Gambozino tentou as duas experiências? Ou acredita sem raciocinar? (Será essa a definição de fé?) E acredita na hipótese menos plausível porquê? Por interesse comercial e religioso? Por gostar de dançar o tango ou a lambada? Ou porque considera «estúpidos, cretinos e idiotas» os habitantes do hemisfério (e foram a esmagadora maioria…) que não viram o sol «dançar» naquele dia? Preferir as vertigens a manter os pés na terra é considerado uma virtude entre os crentes. Com os maus resultados que se podem constatar…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
25 de Maio, 2007 Ricardo Alves

John Charles Sword ajoelhar-se-á em Fátima?

Na última edição do Expresso, o militante clerical João Carlos Espada saiu em defesa do catolicismo em geral e da variedade fatimista em particular. Diga-se que eu costumava apontar este ideólogo da direita mais extrema como um dos maiores inimigos do pensamento crítico e da herança iluminista e científica em Portugal, a par do inefável João César das Neves e do obscurantista Boaventura Sousa Santos. Infelizmente para quem o aprecia, John Charles Sword tem-se limitado nos últimos anos a perorar sobre a obrigatoriedade da gravata e a produzir exortações ao «cavalheirismo» e ao consumo de chá, temas a propósito dos quais consegue sempre citar quatro ou cinco filósofos ingleses ou políticos neoconservadores num único parágrafo. Em suma, embora a sua influência não cesse de aumentar, a sua combatividade tem declinado.

O que diz Espada desta vez? Que a recente «manifestação» de Fátima foi «não política» e que o fim das ditaduras no sul da Europa e na América Latina foi parte dos «contributos (…) da religião cristã para a liberdade». Começando por aqui: o papel da ICAR nessas transições para a democracia não foi de as apressar; foi de as atrasar. O apoio da nomenclatura católica ao fascismo português foi indefectível, com uma ou duas excepções (honrosas) devidamente denunciadas à PIDE pelos superiores hierárquicos. O 28 de Maio iniciara-se em Braga, capital católica de Portugal, no momento em que aí tinha lugar um «Congresso Mariano», o qual foi visitado pelos golpistas reaccionários para recolherem conselhos e um apoio que foi adequadamente recompensado a seu tempo. O papel evidente da ICAR no nacional-catolicismo franquista, ou a bênção de Pinochet por Wojtyla, são outros exemplos que dispensam mais comentários. Querer passar um certificado de antifascismo à ICAR é uma ironia de mau gosto de que só John Charles Sword se lembraria.

Quanto a Fátima: só alguém desorientado pelo pior relativismo epistemológico pode considerar plausível a ideia de que o sol pode dançar o fandango quando visto das proximidades de Leiria e manter-se aparentemente imóvel para todo o restante hemisfério. Persistir em «respeitar» essa ideia é renunciar a desmascarar uma mentira óbvia que tem sido mantida para financiar a ICAR (não as «obras sociais» para as quais pede dinheiro ao Estado, mas as suas faraónicas catedrais) e combater o espírito científico. Espada não pode pretender dar lições de «cavalheirismo» e de «carácter», e simultaneamente transigir com quem mente e promove uma fraude com evidentes objectivos políticos e comerciais. Muito menos me parece que seja digno de cidadãos livres e emancipados andarem a rastejar de joelhos à volta de uma árvore qualquer, mas admito que o britânico conceito de dignidade de John Charles Sword inclua a prescrição dessas práticas públicas. Se for esse o caso, João Carlos Espada é livre de dar o exemplo e rastejar no joelhódromo…

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
15 de Maio, 2007 Helder Sanches

Madeleine McCann em Fátima


Como pai e como alguém que adora crianças, lamento profundamente os acontecimentos à volta do desaparecimento da pequena Madeleine McCann. Como lamento o desaparecimento de todas as crianças portuguesas que, todas juntas, nunca fizeram gastar tanta tinta e tanta concentração de meios para a resolução dos seus casos. Sinceramente, ainda bem para a pequena Madeleine que esses meios estejam disponíveis para ela. Esperemos que este seja um novo padrão a que a nossa policia nos venha a habituar. O ideal seria que tais meios nunca voltassem a ser necessários; mas isso só aconteceria se o mundo, de repente, passasse a ser perfeito.

O que eu não suporto mesmo é a ignorância mascarada de fé saloia. Então, não é que em Fátima, nas celebrações dos 90 anos do embuste-mor nacional, proliferavam as imagens da pequena Maddie com preces para que a pequena fosse encontrada sã e salva!?!

Mas, afinal, onde estava o deus desta gente quando a pequenita desapareceu? Porque é que não se viram cartazes a perguntar ao tal deus ou à sua virgem concubina porque deixaram que a pequena e inocente Maddie desaparecesse, assim, sem mais nem menos? Não é suposto esse tal omni-tudo olhar pelas criancinhas e pelos inocentes? Afinal, ou esse ser que gosta de ser bajulado não sabia o que estava a acontecer e não é omnisciente ou sabia e não fez nada. Pergunto eu: não fez porque não quis ou porque não pôde? Se foi porque não pôde, não é omnipotente. Se foi porque não quis, de facto, não me surpreende; é o que se pode esperar de quem condena um filho à morte por pura vaidade e necessidade de afirmação, num autêntico frenesim de egocentrismo!

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

11 de Maio, 2007 Ricardo Alves

A ICAR é pobre?

Muitos responsáveis da ICAR gostam de dizer que «a igreja é pobre». Ai sim? Se é pobre, como será possível que tenha 60 milhões de euros (12 milhões de contos em moeda antiga) para pagar uma basílica faraónica como a que está a ser terminada em Fátima?

Vejamos quanto são 60 milhões de euros: 60 milhões de euros seriam suficientes para financiar 15% do que o Estado gasta anualmente em Ciência e Tecnologia; ou para subsidiar 60% do orçamento anual da Fundação Calouste Gulbenkian; ou para pagar dois anos inteiros de orçamento de uma Câmara Municipal como Beja; ou ainda para pagar dez salários anuais a um jogador de bola como Luís Figo.

E depois disto ainda vão dizer que a ICAR não apenas é pobre, como só gasta dinheiro em «assistência social»… Haja paciência.