13 de Agosto, 2008 Carlos Esperança
Fátima em crise
O alegado fracasso da peregrinação dos emigrantes não se pode atribuir à crise económica pois, como é sabido, a crise económica, a doença e a fome são os melhores ingredientes para relançar a fé.
A redução da clientela deve-se à falta de milagres e à praia, à melhoria dos níveis de instrução e ao cansaço das missas e das procissões, à secularização e à falta de padres que animem os supersticiosos a desfazerem-se dos cordões de ouro e de outros artefactos do vil metal.
É certo que a concorrência de Lourdes, onde o Vaticano vê uma oportunidade para combater a laicidade das instituições francesas, faz mossa na Cova da Iria. Acontece ainda que o comunismo, contra o qual se especializou o santuário de Fátima, deixou de ser uma ameaça e a República cujas leis levaram a Virgem a visitar o local e o Sol a fazer ginástica olímpica, ou seja, a Terra a dar cambalhotas para que o Sol parecesse andar a brincar com a Física, a República – dizia – é hoje uma realidade incontestável.
Fátima, vítima de um marketing obsoleto, com o Papa a beneficiar a com concorrência, arrisca-se a terminar como a Senhora da Nazaré, sem peregrinos, sem milagres e sem negócio.