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Categoria: Fátima

13 de Agosto, 2008 Carlos Esperança

Fátima em crise

O alegado fracasso da peregrinação dos emigrantes não se pode atribuir à crise económica pois, como é sabido, a crise económica, a doença e a fome são os melhores ingredientes para relançar a fé.

A redução da clientela deve-se à falta de milagres e à praia, à melhoria dos níveis de instrução e ao cansaço das missas e das procissões, à secularização e à falta de padres que animem os supersticiosos a desfazerem-se dos cordões de ouro e de outros artefactos do vil metal.

É certo que a concorrência de Lourdes, onde o Vaticano vê uma oportunidade para combater a laicidade das instituições francesas, faz mossa na Cova da Iria. Acontece ainda que o comunismo, contra o qual se especializou o santuário de Fátima, deixou de ser uma ameaça e a República cujas leis levaram a Virgem a visitar o local e o Sol a fazer ginástica olímpica, ou seja, a Terra a dar cambalhotas para que o Sol parecesse andar a brincar com a Física, a República – dizia – é hoje uma realidade incontestável.

Fátima, vítima de um marketing obsoleto, com o Papa a beneficiar a com concorrência, arrisca-se a terminar como a Senhora da Nazaré, sem peregrinos, sem milagres e sem negócio.

2 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Fátima vista por Pessoa

O poeta português Fernando Pessoa encarava Fátima como o lugar mítico da construção do nacionalismo católico e monárquico que ele repudiava, sustentou hoje o historiador José Barreto, antes de revelar um texto inédito do escritor sobre aquele lugar de culto.

«É um texto irónico, a roçar a sátira anticlerical, em que Pessoa parece regressar ao seu radicalismo de juventude. A intenção não é propriamente anti-religiosa mas anti-católica – uma ‘nuance’ que se deve sublinhar”, disse José Barreto numa conferência sobre “Pessoa e Fátima. A prosa política e religiosa», proferida hoje na Casa Fernando Pessoa.

Começa assim: «Fatima é o nome de uma taberna de Lisboa onde às vezes… eu bebia aguardente. Um momento… Não é nada d’isso… Fui levado pela emoção mais que pelo pensamento e é com o pensamento que desejo escrever», diz o poeta.

O texto inédito descoberto pelo historiador e investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa é apenas «o preâmbulo de um artigo maior que teria um carácter de estudo de caso, permitindo caracterizar aquilo a que Pessoa chama ‘esta religiosidade portuguesa, o catolicismo típico deste bom e mau povo’», explicou, citando o poeta.

«Fatima é o nome de um lugar da provincia, não sei onde ao certo, perto de um outro lugar do qual tenho a mesma ignorancia geografica mas que se chama Cova de qualquer santa», observou.

«Nesse lugar – esse ou o outro – ou perto de qualquer d’elles, ou de ambos, viram um dia umas crianças aparecer Nossa Senhora, o que é, como toda gente sabe, um dos privilégios (…) a que se não (…). Assim diz a voz do povo da provincia e a ‘A Voz’ (jornal católico e monárquico) sem povo de Lisboa», prosseguiu.

«Deve portanto ser verdade, visto que é sabido que a voz das aldeias e ‘A Voz’ da cidade de ha muito substituíram aquelas velharias democraticas que se chamam, ou chamavam, a demonstração científica e o pensamento raciocinado», ironizou.

Pessoa denunciava o aproveitamento da crença do povo por parte do poder político e afirmava: «o facto é que ha em Portugal um lugar que pode concorrer e vantajosamente com Lourdes. Ha curas maravilhosas, a preços mais em conta», escreveu.

«O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja de Fatima, tem tomado grande incremento, com manifesto gaudio místico da parte dos hoteis, estalagens e outro comércio d’esses jeitos – o que, aliás, está plenamente de accordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo – não vão eles lembrar-se de o seguir!», comentou. 

O artigo sobre Fátima – que teria sete páginas tipográficas, de acordo com o sumário que Pessoa deixou escrito – destinava-se a ser publicado no primeiro número da revista Norma, um dos três projectos editoriais de Pessoa no ano da sua morte, em 1935, um quinzenário sobre Literatura e Sociologia que não chegou a concretizar.

Fonte: Sol, 02 de Julho de 2008.

1 de Julho, 2008 Mariana de Oliveira

Fátima vista por Fernando Pessoa

O historiador José Barreto vai revelar quarta-feira, em Lisboa, um texto inédito de Fernando Pessoa a propósito de Fátima, assunto sobre o qual o poeta fez várias referências desde 1920 até à sua morte.

«Trata-se de um texto inédito de cinco páginas manuscritas em que Pessoa reflecte sobre o fenómeno de Fátima», disse José Barreto.

«Pessoa e Fátima. A prosa política e religiosa», será o título da palestra que o historiador apresentará na Casa Fernando Pessoa, quarta-feira às 18h30, no âmbito de um ciclo dedicado ao 120.º aniversário do seu nascimento.

No ano da sua morte, em 1935, Fernando Pessoa «tinha três projectos editoriais ligados a Fátima», afirmou o investigador.

Segundo José Barreto, o poeta «não tinha uma referência especialíssima com Fátima e era, aliás, anti-católico, mas acompanhou o fenómeno desde a sua génese à oficialização do culto e à construção da igreja».

Apesar de anti-católico, «em prol da liberdade, Pessoa defendeu a Igreja Católica contra o radicalismo republicano, em especial do Partido Democrático», explicou o investigador do Instituto de Ciências Sociais.

Esta não é a primeira vez que José Barreto aborda a figura de Fernando Pessoa, sobre a qual tem estado a investigar.

Já publicou na imprensa um artigo sobre esta temática religiosa, mas é a primeira vez que traz a lume o texto inédito intitulado Fátima.

A sua área de investigação tem sido, desde a década de 1990, a história social e política do século XX em Portugal, com destaque para a política católica, as relações Estado-Igreja e Fátima, bem como a história do pensamento político e dos intelectuais portugueses.

Fonte: Sol, 01 de Junho de 2008.

14 de Maio, 2008 Ricardo Alves

Fátima é uma arma (mas ferrugenta)

Fátima sempre serviu à ICAR como arma política. É ali, perante as multidões de peregrinos, que se lançam as grandes campanhas clericais. Este ano, parece que o problema é a perspectiva de o Estado legislar no sentido de reconhecer os casamentos entre homossexuais.

Não há razão para temer o que se vai passar. A ICAR pode fazer a campanha do costume, com a deusa de Fátima a chorar sangue, os padres histéricos e os movimentos de «leigos». Já perderam com o aborto e perderão outra vez no novo regime do casamento. Os tempos mudaram e a ICAR manda cada vez menos.

12 de Maio, 2008 Mariana de Oliveira

Santuário de Fátima pondera apoiar peregrinos

O Santuário de Fátima está a ponderar a criação de um grupo interdisciplinar para acolhimento dos peregrinos, tendo em atenção os seus problemas pessoais e as respostas que procuram quando se deslocam à Cova da Iria.

Segundo o Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto, esta equipa integrará «pessoas especializadas em psicologia, em psiquiatria e em espiritualidade e grupos que estão dispostos a fazer o acompanhamento» dos peregrinos enquanto estes procuram apoio para a resolução dos seus problemas.

«Aconselhamento e orientação» serão duas das vertentes em que assentará o novo serviço, que o Santuário pretende criar, no pressuposto de que os peregrinos são pessoas «com direito a acolhimento específico e especializado para as suas questões».

«Às vezes, na Igreja não há muita sensibilidade prática. Temos que atender à pessoa concreta» , disse D. António Marto em conferência de imprensa, justificando a intenção do Santuário.

Fonte: Sol, 12 de Maio de 2008.

12 de Maio, 2008 Mariana de Oliveira

Pastorinhos no meio de 2200

O cardeal José Saraiva Martins, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, revelou que existem abertos na Santa Sé 2.200 processos de beatificação ou canonização de católicos, entre os quais estão os dos Pastorinhos e da Irmã Lúcia.

Destas 2.200 causas de santificação, 33 são portuguesas, revelou o cardeal que admitiu a dificuldade em confirmar o segundo milagre que sustenta o processo de canonização dos Pastorinhos Jacinta e Francisco Marto.

O alegado milagre, envolvendo uma eventual cura de diabetes, não está devidamente fundamentado para ser considerado como existindo intervenção divina.

«O processo não está parado mas a cura considerada miraculosa» , segundo o «parecer dos médicos da Congregação para a Causa dos Santos, não pode ser considerada um milagre».

O processo de canonização foi aberto devido a um segundo milagre, alegadamente verificado durante a cerimónia de beatificação dos Pastorinhos, em Maio de 2000, e que envolvia uma criança doente com diabetes.

Na ocasião, a mãe, emigrante portuguesa na Suíça, segurou o filho enquanto assistia, pela televisão, às cerimónias de beatificação, presididas por João Paulo II.

No entanto, existem dois tipos de diabetes – só um é considerado incurável — e com a documentação médica recolhida pelos especialistas do Vaticano «não parece claro qual o tipo de doença», explicou D. Saraiva Martins.

A Congregação conta com 60 médicos especialistas que dão pareceres sobre as alegadas curas, indicando se existe «alguma explicação científica» para esses casos.

«Para ser considerado inexplicável, a cura tem de ser instantânea, completa e duradoura» , explicou D. José Saraiva Martins, que comentou ainda os processos referentes à Irmã Lúcia e ao Beato Nuno, o Condestável.

No caso da irmã Lúcia, o processo foi aberto em Fevereiro deste ano — dispensando os prazos canónicos que impunham um mínimo de cinco anos após a morte para o início dos procedimentos — mas o caso continua na Diocese de Coimbra onde a última vidente de Fátima faleceu.

Já no processo de canonização do Beato Nuno, D. Saraiva Martins revelou que os médicos estão a ultimar a análise do alegado milagre, uma cura aparentemente miraculosa de cegueira em Ourém, encaminhando o processo para os teólogos.

A abertura de um processo de beatificação não garante o sucesso desta reivindicação dos crentes, até porque existem muitos casos de figuras da história da Igreja que nunca conseguiram provar a sua santidade perante a Congregação para a Causa dos Santos.

Em muitos destes casos, os promotores têm de fundamentar a continuação dos trabalhos, pedindo autorização para tal à Congregação, explicou o cardeal.

Após a declaração de abertura do processo por parte da Diocese onde a pessoa faleceu, será necessário uma declaração de venerabilidade, reconhecendo as suas virtudes heróicas, refere a legislação canónica.

Depois, terá de haver uma certificação do milagre que justifica a beatificação por uma comissão médica, constituindo-se em seguida um tribunal eclesiástico na Dioceses, que recolhe testemunhos e compõe um dossier sobre a sua vida.

Posteriormente, o processo será enviado para a Congregação para a Causa dos Santos, que pede novos relatórios e depois remete o caso para o Colégio dos Teólogos, com cerca de 30 cardeais ou bispos.

Só no final, caso todos os passos sejam cumpridos com sucesso, o processo será enviado ao Papa, que terá a responsabilidade de promulgar a beatificação.

D. Saraiva Martins rejeitou também a ideia que o actual Papa viesse a diminuir os casos de beatificação ou canonização, considerando que, nesta matéria, «não há nenhuma diferença entre João Paulo II e Bento XVI».

«Isso que se dizia que iriam diminuir as canonizações e beatificações é uma pura fantasia» até porque «os factos estão a demonstrar o contrário: tudo continua igual e as cerimónias de beatificação aumentaram» porque a nova legislação canónica estabelece que o Papa não preside a essas celebrações.

Essas cerimónias devem ser presididas pelo Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, uma alteração canónica que transformou D. Saraiva Martins num ‘globetrotter’, percorrendo dioceses de todo o mundo para presidir a várias cerimónias religiosas.

Sobre a sua presença no santuário mariano português, o cardeal mostrou-se sensibilizado com o convite para presidir às celebrações de Maio apelando aos peregrinos para que «aprofundem a mensagem» católica da Cova da Iria.

«A mensagem transmite-se não só com a boca e as palavras mas com a vida» e o «testemunho», acrescentou o cardeal.

Fonte: Sol, 11 de Maio de 2008.

12 de Maio, 2008 Mariana de Oliveira

GNR também inova em Fátima

A GNR de Fátima estreou ontem uma nova sala de controlo das operações, totalmente informatizada, com ligação às câmaras de vídeo-vigilância, transmissão de dados e de rádio e um acompanhamento on-line do estacionamento.

Na véspera do início da peregrinação internacional de Maio, as autoridades concentraram num único local do posto todas as informações para gerir grandes multidões, desde investigação criminal à gestão do trânsito rodoviário.

«Isto está pronto para funcionar 365 dias por ano», afirmou o tenente-coronel Vítor Lucas, da GNR de Santarém, quando mostrava a sala.

No centro da sala, está um mapa digital da cidade onde é possível localizar e apontar as ocorrências ou os principais problemas que necessitem de uma resposta das autoridades.

No posto, é possível controlar directamente as quatro câmaras colocadas nas principais artérias da cidade, podendo encaminhar o trânsito para as zonas mais descongestionadas.

Em breve, Vítor Lucas conta ter também o controlo das câmaras de vídeo-vigilância no interior do Santuário de Fátima, um processo que está em fase de legalização pelas autoridades.

Além dos procedimentos legais, cujo pedido foi já feito pela GNR, Vítor Lucas explicou que já foi também entregue ao Santuário um estudo sobre a localização ideal dos equipamentos.

«O Santuário está a fazer um esforço de compatibilização do sistema» analógico que possui para poder ser controlado e inserido no conjunto gerido pela GNR.

Além disso, a instituição religiosa está a adquirir outras câmaras para responder às novas exigências técnicas das autoridades que contam com estes equipamentos para um melhor controlo dos carteiristas e dos furtos no interior do recinto.

Além da identificação dos carteiristas, as câmaras poderão apoiar as autoridades na gestão de grandes grupos de peregrinos, integrando o sistema na rede de equipamentos do género existentes junto da auto-estrada e das principais vias.

Embora seja um espaço privado, o recinto do Santuário não está vedado e tem uma utilização pública, uma situação que dificultou o processo de legalização daquelas câmaras por parte da instituição religiosa.

Fonte: Sol, 11 de Maio de 2008.

12 de Maio, 2008 Mariana de Oliveira

Novas instalações em Fátima

A nova Igreja da Santíssima Trindade, em Fátima, tem a partir de ontem o culto do Santíssimo Sacramento (Lausperene), um dos locais de maior devoção dos crentes, concluindo o processo de transferência de serviços do complexo do Santuário.

Nesta peregrinação internacional, evocativa das Aparições de há 91 anos, o Santuário coloca a nova Igreja da Santíssima a funcionar em pleno, já com os 46 confessionários – 12 dos quais para peregrinos estrangeiros – e as restantes capelas de um corredor subterrâneo anexo, denominado Zona da Reconciliação.

Estes espaços foram inaugurados pelo cardeal Tarcisio Bertone em Outubro, mas nunca ficaram abertos aos peregrinos. Mas o ponto mais sensível para os peregrinos é o culto do Lausperene (mais conhecido como o Santíssimo) que será transferido da capela actual, junto à Basílica, para a nova Igreja da Santíssima Trindade. Desde o dia 1 de Janeiro de 1960 que o Santíssimo Sacramento está exposto e é adorado dia e noite pelos peregrinos, ficando o culto nocturno a cargo das Irmãs reparadoras de Nossa Senhora das Dores de Fátima.

Para a peregrinação de Maio, que tem início segunda-feira e termina às 18h00 de sábado, já se tinham inscrito 107 grupos organizados de peregrinos, com um total de dez mil pessoas de 28 países. A maior parte destes peregrinos estrangeiros são oriundos da Polónia, Alemanha, Estados Unidos e Itália.

Fonte: Sol, 11 de Maio de 2008.

29 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Em ritmo de tango ou valsa?

O Papa Pio XII (1939-1958) escreveu que em 1950, enquanto passeava pelos jardins do Vaticano, e um dia antes de proclamar o dogma mariano da Assunção, assistiu ao “milagre” do “sol que dança”, o mesmo fenómeno que a Igreja Católica diz ter acontecido após as aparições de Nossa Senhora de Fátima.