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Categoria: Política

11 de Dezembro, 2008 Carlos Esperança

O 107.º Aniversário do CADC

Tenho pavor aos adjectivos que qualificam a democracia, nomeadamente os de natureza confessional, embora o Islão abomine também o substantivo, embirração que abrange o álcool, a carne de porco, a apostasia e outros legítimos prazeres com que o cristianismo já parece conformado.
Na comemoração do seu 107.º aniversário, o Centro Académico da Democracia Cristã (CADC) desfiou memórias e evocou nomes para provar que “a democracia, a luta pelas liberdades e a fé católica são compatíveis”, verdade de que há provas, mas de que são escassos os indícios no seio da centenária agremiação.

O combate a Salgado Zenha, quando presidente da Associação Académica de Coimbra, não abona o júbilo com que Manuel Porto e Jorge Biscaia, mais conhecidos na piedade do que na luta pelas liberdades, comemoraram a efeméride, citando Lurdes Pintasilgo e Sousa Franco para legitimarem o D que a sigla exibe e o passado desprezou.

Os esqueletos incómodos, Salazar e Cerejeira, jazem no armário da memória e exigem um acto de contrição em vez da celebração. Quem lutou contra a ditadura, que o CADC guarnecia com os seus mais distintos elementos, esperava a penitência em vez do júbilo e um requiem em lugar da missa de acção de graças que soe assinalar o aniversário.

Ao contrário dos católicos da Capela do Rato, que assumiram a condição de crentes na luta contra a tirania e a guerra colonial, o CADC foi esteio do mais longevo ditador do século passado em toda a Europa.

A conferência de segunda-feira, em Coimbra, lembrou mais um aniversário e procedeu ao usual exercício de branqueamento da sua história, omitindo a vocação totalitária inscrita na matriz genética.

Salazar, Cerejeira, Antunes Varela e outros eram provavelmente crentes, e seguramente católicos, mas a aversão à democracia rivalizava com a dos talibãs. Pode a fé orgulhar-se deles mas a democracia é alheia às pias comemorações do CADC.

8 de Dezembro, 2008 Carlos Esperança

Carta ao provedor da RTP

Tanto quanto sei, a RTP é do Estado. E tanto quanto sei, o Estado é laico, ou seja, equidistante de todas as religiões, sem privilegiar nenhuma delas. O que não se verifica, uma vez que a ICAR é visivelmente beneficiada em “tempo de antena”.

Acontece que a RTP, talvez por uma hipocrisia política de “não discriminação”, vai dando tempo de antena a várias religiões. E eu pergunto: quando será que a RTP se decide a, numa política de verdadeira igualdade, dar voz às associações  ou grupos de ateus, cépticos, agnósticos, etc? Podem argumentar que não existem tais associações e/ou grupos. Não é verdade. Se procurarem bem, encontram, de certeza.
Façam isso, a bem da igualdade, do direito ao contraditório, e… da laicidade.

Já agora: o que me diz de a “primeira-dama” utilizar o Museu da Presidência (será o museu de Cavaco Silva, e eu estou enganado?) para exibir a colecção particular de presépios? Então, o Museu não é do Estado? E o Estado não é, oficialmente, laico?

a) José Moreira

25 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Vaticano – Azedume contra a laicidade

O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, chamou de “ódio anti-religioso” a decisão da justiça espanhola de mandar retirar os crucifixos de uma escola pública.

Em artigo publicado nesta segunda-feira, o autor, o escritor e jornalista espanhol Juan Manuel de Prada, colaborador regular de L’Osservatore Romano, estimou que “os crucifixos podem ofender apenas os que querem que o Estado se transforme em um novo Deus com um poder absoluto sobre as almas”.

23 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Papa enrola crentes na crise financeira mundial

Por

Kavkaz

O Ministro italiano das Finanças, Giuli Tremonti, fez um serviço ao Papa ao elogiar-lhe uma suposta previsão “correcta” de 1985 sobre o “colapso” da economia “devido às suas próprias regras” e que “o declínio observado ao nível da ética poderia “levar a um colapso das leis do mercado”. Será que o Papa acertou? A minha resposta é NÃO!

A actual “crise financeira mundial” tem o seu ponto de partida nos EUA. Entendo haver dois nomes claramente responsáveis pela “crise”: George W. Bush e Alain Greespan.

O primeiro, mais conhecido de todos, ainda Presidente dos EUA, é o responsável político pelo envolvimento dos EUA em duas guerras internacionais, a do Afeganistão (iniciada a seguir aos ataques ao WTC de 11/09/2001) e a do Iraque (iniciada em Abril de 2003). Estas duas guerras consumiram muitas centenas de milhões de USD e fizeram disparar as dívidas do Estado americano.

Alain Greespan, foi Presidente da Reserva Federal dos EUA, de Agosto de 1987 a Janeiro de 2006. Foi durante o seu mandato que as taxas de juro subiram e desceram de forma acentuada. Em Dez./2000 Greenspan estabelecia a taxa de juro de referência em 6,5%, mas em Dez./2007 era de 1,5% (desceu mais de 4 vezes). E continuou a descer até Maio de 2004 atingindo 1% (6,5 vezes menos 4 anos depois). Isto deu uma confiança extraordinária aos americanos que pensaram que o dinheiro seria sempre barato e poderiam comprar vivendas, automóveis, tudo, a crédito com baixo custo de juros. Os bancos locais convenciam os clientes a comprarem imobiliário sem entrada. E vendiam as dívidas destes clientes, em pacotes de investimento imobiliário, aos grandes bancos de investimento de Nova Iorque.

Com o esforço da condução das duas guerras pelos EUA e as dívidas enormes do Orçamento estatal a taxa de juro americana começou a subir. Atingiu os 5,25% em Junho de 2006. Subiu 5,25 vezes em 13 meses. Milhares de pessoas que tinham dívidas aos bancos, por terem comprado recentemente a sua vivenda ou carro (o preço da gasolina em USD também subia), deixaram de cumprir o pagamento das suas prestações por estas se terem tornado incomportáveis com a multiplicação do nível dos juros a pagar. Os grandes bancos de investimento entraram em crise por não receberem os pagamentos dos endividados. Alguns faliram, outros foram vendidos. A taxa de juro só começou a descer em Set./2007 e está agora em 1% de novo, desde Out./2008.

São os erros fundamentais destes dois homens, um pelas guerras lançadas e o outro pela loucura das disparidades impostas na taxa de juro americana que provocaram consequências e levaram à actual crise económica nos EUA, que se estendeu a outras regiões do globo, com a perda de confiança dos investidores e a retirada dos capitais das bolsas mundiais.

O Papa não entra em pormenores, como sempre, e fala de “colapso das leis de mercado”. A oferta e a procura existiram e vão continuar a existir. O mercado não termina porque alguém o decide. Os preços sobem e descem pela oferta e procura. O Papa está errado na previsão de 1985 do “colapso das leis do mercado”. Estas continuarão a actuar como dantes.

A crise actual tem dois nomes concretos como principais responsáveis, mas o Papa não soube ou não lhe convém dizê-lo!

17 de Novembro, 2008 Carlos Esperança

Diário Ateísta

À espera dos colaboradores regulares que já manifestaram a sua disponibilidade para a reactivação do blogue, que já foi dos mais lidos e comentados da blogosfera, o DA vai manter-se vigilante contra os piratas informáticos que o desactivaram durante quase três meses e contra o clericalismo que corrói o Estado laico que a democracia criou.

Como repetidas vezes se tem afirmado, o DA não é um órgão da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) e os artigos apenas comprometem quem os subscreve ou publica, mas será sempre um veículo do ateísmo, na diversidade e, até, nas divergências dos seus colaboradores.

Os ateus são livres-pensadores a quem a dúvida estimula e não os detentores de certezas com que os crentes se anestesiam. Por isso são um estorvo às crenças e à superstição.

Perante o proselitismo clerical e agressividade da Conferência Episcopal Portuguesa, que procura manter os privilégios herdados da ditadura de que foi cúmplice, é preciso defender a laicidade do Estado e o direito das famílias a que não lhes fanatizem os filhos.

O DA é um lugar de encontro dos que não precisam de deus para serem felizes, dos que recusam um ente cruel, misógino, homofóbico, vingativo e violento que os homens da Idade do Bronze criaram à sua imagem e semelhança.

Sem deuses nem diabos, sem anjos nem milagres, sem livros sacros nem excomunhões, o Diário Ateísta continuará a defender a liberdade, a paz e o livre-pensamento.

Perante os que matam em nome de deus, o Diário Ateísta exaltará a vida, única e irrepetível, e uma ética descomprometida com as fantasias do sobrenatural.