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Categoria: Política

9 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

EGIPTO (II) : incipientes evoluções do puzzle político-constitucional…

Por

E – Pá

Apesar de não haver uma evidente clarificação da situação político-constitucional egípcia, ontem, começaram a ser dados os primeiros passos nesse sentido.

Primeiro, iniciou-se o processo de derrogação dos decretos presidenciais que tinham criado uma intolerável situação de excepção democrática não aceite por largos sectores da sociedade egípcia. link

Depois, continua em suspenso a realização de um referendo para ratificar (ou rectificar?) uma Constituição ‘islamizante’ redigida por uma Assembleia Constituinte contestada pela justiça e por largas e expressivas franjas liberais e ‘insurreccionais’ que se reivindicam interpretes do genuíno ‘espírito de Tahrir’.

As negociações de ontem, foram pela primeira vez pressionadas pelo Exército que mantendo uma atitude distante, finalmente, manifestou-se – em comunicado – sobre as instituições e a situação política afirmando que não deixarão o país ser arrastado para ‘um túnel escuro’. Trata-se de um aviso com dois destinatários: islamistas e as oposições.

É visível que o presidente Morsi perdeu uma subtil cartada que foi ‘jogada’ em termos muito audaciosos e impensados. A Irmandade Muçulmana pretendeu jogar em todos os tabuleiros ao mesmo tempo: militar, judicial e constitucional.

Começou, ontem, o recuo. Não sabemos onde acabará a rectificação iniciada nestas conversações que revelam um cauteloso esgrimir de forças (políticas, sociais e eventualmente religiosas).

Na verdade, Morsi, para além da legitimidade democrática que lhe advém da sua eleição, no difícil contexto interno, as recentes tensões revelaram um facto que poderá ser algo transcendente: Os islamistas parecem ter perdido a praça Tahrir. Em favor dos ‘liberais’ e ‘avulsos insurreccionais’ que não aceitam uma constituição ‘islamizante’.

A alternativa ao entendimento entre a Irmandade Muçulmana e as Oposições é como os egípcios sabem a ‘fawda’, i. e., o ‘caos’, um cenário doloroso, violento e de desfecho imprevisível, para todos os actores presentemente (ainda) em cena na política egípcia.

9 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

EGIPTO: um indecifrável puzzle político…

Por

E  – Pá

A situação que o Egipto está a viver é deveras complexa, fluida e instável.

Derrubado Mubarak continua incerto o futuro deste País quanto às questões de  regime. Defrontam-se, no terreno, opções contraditórias que – no actual momento – estão longe de uma cabal definição. Ao fim e ao cabo estão face a face dois modelos: uma república islâmica, com laivos teocráticos que remete a inspiração política, social e legislativa para a ‘sharia’ e uma mudança democrática, moderna, laica e ‘ocidentalizada‘ (assente na Declaração Universal dos Direitos Humanos).
Uma terceira hipótese poderá estar a aterrorizar os protagonistas das manifestações de ‘insurreição’ da praça de Tahrir: a ‘persistência’ do regime de Mubarak, sem o rais, mas com retoques islâmicos.

Neste momento estão em confronto estas três vertentes. Será difícil prever qual a ‘solução’ que virá a ter força para implantar-se. Entre os três pólos anunciados poderão existir múltiplas soluções intermédias de compromisso, nesse caso, sempre transitórias e efémeras. Ou seja, apesar da crispação crescente, o futuro pode ser adiado.

Mohamed Morsi, recentemente eleito presidente, é a imagem visível do islamismo político, nascido à sombra da Irmandade Muçulmana (sob o disfarce do partido Justiça e Liberdade) e tem, aparentemente, alguma vantagem no actual contexto. Formalmente, colheu essa posição nas urnas. Com as recentes medidas autoritárias (os 4 decretos presidenciais emitidos a 22.11.2012) Morsi pretendia colocar-se acima de qualquer controlo (nomeadamente o judicial) e esse facto têm sido interpretados como um imediato aproveitamento político da Irmandade Muçulmana à volta do sucesso da intermediação egípcia no recente conflito na faixa de Gaza. Esta ‘jogada‘ visou à consolidação ad hoc do islamismo político.

Por outro lado – e apesar das eleições – o regime de Mubarak não foi totalmente varrido de cena. O poderoso ‘Clube dos Juízes’ ganhou nesta crise um inusitado protagonismo e será uma reminiscência do panarabismo (baasismo) que está na remota origem do Nasserismo de que Mubarak seria um bastardo herdeiro. Neste campo, insere-se ainda o ‘poder militar’ cujos interesses ultrapassam as estritas questões de soberania e de defesa nacional para imiscuir-se na área económica e financeira onde tem incontornáveis interesses.

A ‘solução Morsi’, i. e., a realização de um imediato referendo ao rascunho de um texto constitucional que, longe de ser um documento fundamental e aglutinador, mostra-se como um outro ‘instrumento’ para a consolidação do poder pela Irmandade Muçulmana. Neste texto foi inscrita, apressadamente, uma questão que na elaboração da Lei Fundamental se mostrou controversa e diz respeito à fonte e à inspiração da legitimidade do ‘novo’ poder: a sharia.

Essa manobra (referendo já!) é uma tentativa para resolver tudo de uma assentada mas, na verdade, poderá estar longe de ser consensual ou sequer apaziguadora das actuais tensões políticas, sociais e, já agora, religiosas. Concretamente, a Irmanandade Muçulmana receia o estorvo do Tribunal Constitucional que já se atravessou na sua caminhada para a conquista do Poder. Os últimos desenvolvimentos revelam que não vai ser fácil ultrapassá-lo.

Os mais recentes desenvolvimentos ocorridos no Cairo, como seja o ‘assalto’ ao palácio presidencial perante a total passividade da Guarda Republicana (pretoriana) pelos movimentos opositores ao presidente Morsi (que entretanto o tinha abandonado), mostram como é frágil a sua posição. Não é, na prática, reconhecido como comandante-chefe das Forças Armadas já que tinha ordenado a protecção do palácio (e das sedes da Irmandade) e sucedeu o que se viu…
Por outro lado, apoiantes de Morsi, tentaram tomar estúdios de canais de televisão para controlar a informação. link.
Finalmente, a ‘passividade’ das Forças Armadas é um perturbante enigma do momento, para todas as forças políticas e sociais em confronto. link

Ontem, a frontal rejeição pelas forças coligadas na oposição (Frente Nacional de Salvação) da proposta do presidente Morsi para encetar o diálogo mostra como a situação política decorrente da queda de Mubarak continua confusa e difícil link . Situação que poderá não ser definida nos próximos tempos.

Voltemos ao início. Confrontam-se duas situações: a sobrevivência do ‘antigo‘ regime (com um ‘restyling‘, sem Mubarak, com juízes e militares) ou a deriva islamista (em curso).

Em ambas a democracia sai perdedora. E, igualmente, as esperanças à volta da ‘primavera arábe’ começam a revelar-se como um monumental logro (para entender no futuro).

26 de Novembro, 2012 Carlos Esperança

A Escalada Beata e as Agressões Religiosas

Enquanto os judeus ortodoxos se agarram à Bíblia e à faixa de Gaza, os muçulmanos debitam o Corão e se viram para Meca e os cristãos evangélicos dos EUA ameaçam o Irão e a teoria evolucionista, os conflitos religiosos e o terrorismo regressam à Europa.

A emancipação do Estado face à religião iniciou-se em 1648, após a guerra dos 30 anos, com a Paz de Vestefália, e ampliou-se com as leis de separação dos séc. XIX e XX, sendo paradigmática a lei de 1905, em França, que instituiu a laicidade do Estado.

A libertação social e cultural do controlo das instituições e símbolos religiosos foi um processo lento e traumático que se afirmou no séc. XIX e conferiu à modernidade ocidental a sua identidade.

A secularização libertou a sociedade do clericalismo e fez emergir direitos, liberdades e garantias individuais que são apanágio da democracia. A autonomia do Estado garantiu a liberdade religiosa, a tolerância e a paz civil.

Não há religiões eternas nem sociedades seculares perpétuas. As três religiões do livro, ou abraâmicas, facilmente se radicalizam. O proselitismo nasce na cabeça do clero e medra no coração dos crentes.

Os devotos creem na origem divina dos livros sagrados e na verdade literal das páginas vertidas da tradição oral com a crueza das épocas em que foram impressas.

Os fanáticos recusam a separação da Igreja e do Estado, impõem dogmas à sociedade e perseguem os hereges. Odeiam os crentes das outras religiões, os menos fervorosos da sua e os sectores laicos da sociedade.

Em 1979, a vitória do «ayatollah» Khomeni, no Irão, deu início a um movimento radical de reislamização que contagiou Estados árabes, largas camadas sociais do Médio-Oriente e setores árabes e não árabes de países democráticos.

Por sua vez, o judaísmo, numa atitude simétrica, viu os movimentos ultraortodoxos ganharem dinamismo, influência e armas, empenhando-se numa luta que tanto visa os palestinianos como os setores israelitas laicos.

O termo «fundamentalismo» teve origem no protestantismo evangélico norte-americano do início do séc. XX. Exprimiu o proselitismo, a recusa da distinção entre o sagrado e o profano, a difusão do deus apocalíptico, cruel, intolerante e avesso à modernidade, saído da exegese bíblica mais reacionária. Esse radicalismo não parou de expandir-se e contamina o aparelho de Estado dos EUA, mesmo com os democratas no poder.

O catolicismo, desacreditado pela cumplicidade com regimes obsoletos (monarquias absolutas, fascismo, ditaduras várias), debilitou-se na Europa e facilitou a secularização. O autoritarismo e a ortodoxia regressaram com João Paulo II, que arrumou o concílio Vaticano II e recuperou o Vaticano I e o de Trento.

João Paulo II transformou a Igreja católica num instrumento de luta contra a modernidade, o espírito liberal e a tolerância das modernas democracias. Tem sido particularmente feroz na América Latina e autoritária e agressiva nos Estados onde o poder do Vaticano ainda conta, através de movimentos sectários de que Bento XVI foi herdeiro e protetor, se é que não esteve na sua génese.

A chegada ao poder de líderes políticos que explicitam publicamente a sua fé, em países com fortes tradições democráticas, foi um estímulo para os clérigos e um perigo para a laicidade do Estado. Por outro lado constituem um exemplo perverso para as populações saídas de velhas ditaduras (Portugal, Espanha, Polónia, Grécia, Croácia), facilmente disponíveis para outras sujeições.

A interferência da religião no Estado deve ser vista, tal como a intromissão militar, a influência tribal ou as oligarquias, como uma forma de despotismo que urge erradicar. A competição religiosa voltou à Europa. As sotainas regressam. Os pregadores do ódio sobem aos púlpitos. A guerra religiosa é uma questão de tempo a que os Estados laicos têm de negar a oportunidade. Só o aprofundamento da laicidade nos pode valer.

Talvez por isso o ódio de B16 à laicidade se tornou patológico. E do Islão nem vale a pena falar.

20 de Novembro, 2012 Carlos Esperança

A guerra – Israel e Palestina

Os horrores sofridos pelos judeus ao longo dos séculos, o cheiro a gás dos campos de concentração nazi e a orgia genocida do antissemitismo levaram a ONU a conceder uma pátria a um povo martirizado pela persistência em manter a identidade.

A má consciência mundial, três anos após a libertação de Auschwitz, esteve na origem da decisão.

Os fantasmas religiosos nunca deixaram de estar presentes e atiçar ódios a um país que foi outorgado aos judeus e de que os palestinianos nunca abdicaram.

Sessenta e quatro anos deviam chegar para erradicar o imperialismo sionista e para persuadir os palestinianos a aceitarem a existência de Israel. Este país, apesar das críticas que suscita, não obstante o fundamentalismo beato e agressivo dos judeus das trancinhas, é um estado próspero e rege-se por normas democráticas.

Os palestinianos islamizados até ao absurdo, pobres e abandonados, tornaram-se a carne para canhão das ambiciosas teocracias que emergem como potências regionais e o álibi para alterar o mapa geopolítico.

Os judeus acreditam que são o povo escolhido por Deus, os palestinianos têm a certeza de que Deus os ajudará a destruir Israel e os cristãos evangélicos dos EUA anseiam pelo regresso dos judeus à Palestina para anteciparem o regresso de Cristo à Terra.

Entre a demência mística, os interesses estratégicos, a maldição do petróleo e os negócios internacionais, o barril de pólvora está cada vez mais próximo do rastilho que ameaça explodir o Médio Oriente e alastrar a outras regiões do globo.

De pouco valem posições equilibradas de quem se opõe simultaneamente à destruição de Israel e ao expansionismo sionista.

Sem paz entre os judeus e os palestinianos não há futuro para nenhum deles e sobram ameaças para o resto do mundo.

16 de Novembro, 2012 Carlos Esperança

Espanha – derrota do PP e da Igreja católica

O casamento gay é aceite pela sociedade e não afeta o direito ao casamento

O casamento entre pessoas do mesmo sexo não afeta o direito fundamental de qualquer pessoa a casar-se nas mesmas condições de igualdade que estabelecia a legislação anterior à sua aprovação pelo anterior Governo socialista.

Esse é o principal argumento por que o Tribunal Constitucional espanhol recusou o recurso apresentado em 2005 pelo PP contra os casamentos homossexuais.

8 de Novembro, 2012 Carlos Esperança

Obama – a vitória desejada

 

Com as sucessivas más notícias sobra a economia portuguesa, o desolador aparecimento público do PR apenas para fazer prova de vida e os organismos internacionais a fazerem chantagem sobre o PS com o que chamam «consenso nacional», só a vitória de Obama nos traz a fugaz esperança de que a tragédia ainda pode esperar.

Creio que o mais elementar bom senso nos faz temer a crise do capitalismo e recear que seja esta a última sem divisarmos alternativa. Obama é a esperança a que nos agarramos neste desconforto em que estamos por causa das dívidas soberanas, moléstia que poucos entendem mas cujos efeitos todos sofremos. Obama é o bombeiro com que contamos na escalada bélica, embora sabendo que mandam mais os interesses do que um só homem.

Estou feliz com a vitória de Obama, pelo que ela representa para as minorias e para os direitos das mulheres, pela esperança que desperta no combate à pobreza nos EUA e, por imitação, naquilo que a Europa ainda pode e deve fazer.

Maior do que a satisfação pela vitória do homem culto, humanista e sensível, é o prazer pela derrota da América obscurantista, retrógrada e evangélica, o caldo de incultura em que emerge uma espécie de calvinismo intolerante e vingativo e que tem no Tea Party a sua versão mais boçal e troglodita.

Sendo a América (EUA) o país mais poderoso do mundo, e o único império, não é justo que a população do Planeta, todos os eleitores do mundo, não possa votar. Pelo menos, desta vez, não caiu na Casa Branca um indivíduo que aumentaria o medo e a ansiedade.

Não se tornou ainda obrigatório o criacionismo, a obrigatoriedade religiosa e a presença permanente da religião. Já basta o juramento que este presidente vai fazer sobre um manual xenófobo, racista e intolerante – a Bíblia.

5 de Novembro, 2012 Carlos Esperança

A Espanha, o aborto e o aborto do ministro da Justiça

A promessa do ministro espanhol da Justiça, Alberto Ruiz-Gallardón, de alterar o atual quadro legal para pôr fim ao direito à interrupção voluntária da gravidez, incluindo previsíveis anomalias fetais, levou os profissionais de saúde a mobilizarem-se.

Centenas de ginecologistas e obstetras opõem-se ao retrocesso civilizacional pretendido pela direita mais reacionária, que impele o Governo para posições superadas e regressar à discussão política de temas já considerados pacíficos.

O problema de saúde pública que levanta e o risco para as famílias a quem cabe o ónus de cuidar de deficientes graves, que um módico de humanidade pode evitar, não coíbe o ministro de abrir velhas guerras e restringir os direitos conquistados pelas mulheres.

O mais elementar exame de consciência da direita espanhola, daquela direita que calou o genocídio franquista contra o povo, a existência do garrote como método de execução para a pena de morte, as valas comuns e as bombas alemãs sobre Guernica, essa direita jurássica não pretende apenas manifestar as suas convicções, pretende impô-las a todos os espanhóis num processo de retaliação de que não prescinde.

O espírito dos reis católicos, Fernando e Isabel, a frieza de Torquemada e os métodos da Inquisição continuam a habitar a velha Espanha franquista, a sempiterna Espanha que se distinguiu pela crueldade da evangelização da América do Sul e extermínio dos índios.

O regresso à discussão do aborto serve para disfarçar a crise internacional que, tal como em Portugal, fustiga Espanha e, sobretudo, para distrair o povo da tragédia económica e social que o Governo é impotente para enfrentar e a que a União Europeia tarda em dar resposta.

22 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

A blasfémia, a catarse e o Código Penal

A blasfémia está para os incréus como a confissão para os beatos. A primeira é pública e atinge primores de imaginação em Espanha e, particularmente, no sul de Itália. Quem melhor blasfema, na cultura judaico-cristã, são os povos que mais oprimidos foram pelo clero e pelos constrangimentos sociais.

A confissão é uma arma ao serviço da Igreja, a blasfémia é um desabafo individual. Na primeira, as pessoas põem-se de joelhos e falam baixo para uma só pessoa – o padre; na segunda, fala-se alto, para quem quiser ouvir, através de vocabulário indecoroso nos salões mas frequente nas feiras, nas tabernas e no Porto.

Blasfemar é um ato catártico que alivia as tensões e conduz ao bem-estar enquanto a confissão é uma forma de humilhação que obriga à penitência e mantém o hábito de andar de rastos ou de joelhos.

Dizer, como Mark Twain, que «o Antigo Testamento mostra Deus como sendo injusto, mesquinho, cruel e vingativo, punindo crianças inocentes pelos erros de seus pais e pessoas pelos pecados de governantes, vingando-se em ovelhas e bezerros inofensivos, como punição por ofensas insignificantes cometidas pelos proprietários», é a blasfémia erudita. Prefiro a forma popular dos espanhóis a dirigirem-se à hóstia ou a nomearem a Virgem mas nada é tão estimulante como ouvir um calabrês, com a bela sonoridade da língua italiana, a classificar Deus.

Para o espírito obtuso dos clérigos é uma blasfémia duvidar do pobre Moisés que subiu a pé o Monte Sinai, para receber de Deus as tábuas com os Mandamentos, ou do arcanjo Gabriel que voou até à Palestina para dizer a uma pobre judia que estava grávida. Esta gente deve fumar erva suspeita ou tem azar na escolha dos cogumelos.

O que surpreende é o facto de os códigos penais de países civilizados acolherem como crimes atos tão estimulantes como a blasfémia e de os punirem com penas de multa ou de prisão. Eu admito que Deus não goste do que eu penso dele, já que me é indiferente o que ele pensa de mim. Irracional é poder ser-se punido por insultar quem não existe. E pior, sem o ofendido, se queixar!

O crime de blasfémia é uma sobrevivência medieval que ainda contamina os códigos penais de alguns países republicanos, laicos e democráticos.

19 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

À sombra de um clérigo

Boa disposição entre Obama e RomneyOs dois candidatos presidenciais participaram, muito relaxados, na gala de beneficência em Nova York. / AFP (M. TAMA) – El País

18 de Outubro, 2012 Carlos Esperança

O Patriarca, a Concordata e as manifestações

O patriarca Policarpo, é contra as manifestações que lhe perturbem a tranquilidade e os interesses pios. No dia 13 de outubro, a partir de Fátima, afirmou: «Não se resolve nada contestando, indo para grandes manifestações», apesar do paradoxo de quem se esforça por manter mobilizados os crentes para as grandes manifestações… da fé.

Não se indignou com as manifestações dos bispos espanhóis que incitaram diariamente o povo a ocupar as ruas de Madrid, contra Zapatero, contestando as leis sobre a família, mas condenou as manifestações contra o orçamento do atual Governo português quando ele próprio presidia a uma de 160 mil, fiéis que foram à Cova da Iria aclamar a Senhora de Fátima.

Foi este patriarca que promoveu a manifestação de júbilo, encabeçada pelo presidente da república, acolitado por Paulo Portas, quando Nuno Álvares, depois de ter curado o olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos de óleo fervente de fritar peixe, ganhou a promoção a santo, um ato que os incréus consideram uma ofensa ao herói medieval, com vários séculos de defunção. E não se coibiu de recrutar os créus que foram ao Vaticano em manifestação de regozijo pela canonização que ele encarou como honra e outros como afronta.

Para Sua Eminência, há manifestações boas e manifestações más. As boas destinam-se a louvar ao deus do Sr. Cardeal e são más as que esconjuram as malfeitorias do Governo.

E disse mais, sobre o orçamento, o ilustre purpurado: «Sejamos objetivos e tenhamos esperança. Este sacrifício levará a resultados positivos, não só para nós como para a Europa», talvez temendo manifestações que exijam o fim da isenção de impostos à Igreja católica no património imobiliário das Misericórdias, nos lucros da hotelaria, da assistência e do ensino, bem como das Fundações religiosas que o Estado está impedido de fiscalizar.

Não se aceita que, em época de restrições, se sustentem duas embaixadas em Roma, a escassos quilómetros de distância, uma junto do Governo italiano e outra da Santa Sé e que, com o desemprego de milhares de professores, se mantenha a Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), com professores isentos de concursos e dependentes do poder discricionário dos bispos das dioceses.

Urge denunciar a Concordata.

Manifestações, só as que sirvam a Igreja. Para o povo… vem à memória a iconografia do concelho donde o ilustre purpurado é natural.