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Categoria: Política

21 de Outubro, 2013 Carlos Esperança

Deus, religião e crentes

Há quem não aceite que Deus é uma criação humana, a muleta para as nossas fraquezas, a explicação por defeito para as respostas que não sabemos, no fundo, uma necessidade para quem se habituou a uma dependência que, quase sempre, lhe foi incutida desde que nasceu e preservada por constrangimentos sociais.

A perversão das crenças reside na origem, na perversão dos homens que as inventaram e que lhes transmitiram a marca genética dos seus preconceitos e superstições.

O humanismo foi construído quase sempre contra as religiões, contra os deuses sedentos de sacrifícios, sofrimento e conservadorismo, defeitos que têm profissionais zelosos ao serviço da sua divulgação.

Ninguém se permitiria condenar à morte quem deixa de acreditar numa lei da física ou num axioma, mas não faltam clérigos a exigir a eliminação física dos apóstatas ou dos hereges, estes meros crentes divergentes na interpretação das alegadas mensagens de um deus imaginário.

A História ensinou-nos a relativizar as ideias na sua permanente evolução, quase sempre influenciadas pelo avanço das ciências e a apoteose de novas descobertas, mas as ideias religiosas resistem até ao absurdo, com polícias dedicados, sempre prontos a castigas os réprobos e a aplicar uma jurisprudência da Idade do Bronze.

A paz não pode ser conseguida com verdades absolutas e imutáveis. É por isso que os Estados modernos, devem tratar as religiões como quaisquer outras associações em que a plena liberdade de formação não as exime ao Código Penal e os seus atos ao escrutínio da lei.

Não percebo por que motivo uma religião possa ter normas jurídicas próprias no Estado de direito, ter conventos de cuja inspeção o Estado se demita, para avaliar se as pessoas estão ali de livre vontade ou se se trata de cárcere privado e, sobretudo, conseguir furtar-se aos impostos sobre as fortunas e ao escrutínio sobre a forma da sua aquisição.

17 de Outubro, 2013 Carlos Esperança

Curiosidades – O Papa e Cavaco

Tarcisio Bertone, de 78 anos, deixou o posto de secretário de Estado, o segundo mais elevado na hierarquia do Vaticano – uma espécie de primeiro-ministro – , depois de ter sido acusado de inépcia para evitar os escândalos morais e financeiros do pontificado de Bento XVI.

O arcebispo Pietro Parolin, de 58 anos, diplomata de carreira do Vaticano, será o seu substituto. Curiosamente, na sequência de uma operação cujo motivo se desconhece, Parolin não esteve presente na cerimónia da sua própria posse.

O Papa Francisco acabou por lhe dar posse apesar da ausência. Deve ter-se baseado no precedente aberto por Cavaco Silva que deu posse à atual ministra das Finanças em um Governo que não existia. Faltava Paulo Portas, irrevogavelmente demissionário, e todos os ministros do CDS.

Acaba por ser honroso para Cavaco ver o Papa a presidir a uma cerimónia igualmente vazia de conteúdo.

17 de Outubro, 2013 Carlos Esperança

A GUERRA CIVIL ESPANHOLA E A IGREJA CATÓLICA (2)

Por

João Pedro Moura

1- Em Tarragona, na Catalunha, no passado domingo, 13 de outubro de 2013, 522 “mártires da perseguição religiosa do século XX” – quase todos padres, freiras e seminaristas mortos durante a guerra civil espanhola – foram proclamados beatos.

Tal recenseamento denota um trabalho enorme, de muitos anos de investigação canónica e histórica, para se apurar tão grande número de pessoas, afectas à mesma conjuntura histórica.

Denota também um intuito pertinaz de valorizar certos padres e monges da Igreja espanhola de antanho, que se aliou à insurreição franquista contra a periclitante democracia republicana…

2- Primeiramente, convém assentar que a violência dum dos contendores poderá estar em proporção com a violência do outro…

Isto é, a violência duma libertação poderá suscitar-se dialeticamente consoante a violência duma opressão.

A Igreja Católica espanhola, desde sempre e, pelo menos, até à Guerra Civil, foi uma Igreja profundamente reacionária e fortemente mancomunada com os poderes monárquicos. A aliança entre o trono e o altar, por excelência…

Durante a vigência da Inquisição, mormente a do inquisidor-mor, o frade dominicano Tomás de Torquemada, pensa-se que teriam sido executados, em fogueiras e outros tormentos atrozes, cerca de 300 mil desgraçados, tornando tal inquisição a mais mortífera da cristandade.

3- No século XX, a Igreja espanhola tinha uma enorme quantidade de bens, nomeadamente terras (latifúndios), em regime equiparado ao dos latifundiários civis, e onde viviam camponeses pobres, intensamente explorados.

Era também da Igreja uma grande quantidade de colégios, em suma, de boa parte da educação pública, pela qual a Igreja procurava garantir e manter o domínio tradicionalista sobre as novas gerações, contra a progressiva secularização da sociedade.

Com a crescente politização das massas populares, decorrente da ascensão  republicana ao poder, em 1931, e o subsequente decreto sobre a separação entre o Estado e a Igreja, mais a lei agrária de 15 de Setembro de 1932, que expropria os latifundiários, entre os quais a Igreja, os ânimos começam a acirrar-se entre, por um lado, Igreja, monarquistas, fascistas e patronato, em geral, todos corporizados, politicamente, pela Falange e pelas JONS (Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalista), e, por outro lado,  o partido socialista, o comunista, os anarquistas e os trotsquistas.

4- A coisa começa a descambar a partir de Fevereiro de 1936, com a vitória eleitoral da Frente Popular (coligação republicana de socialistas, comunistas e uma facção colaboracionista anarquista).

A laicização aumenta e desencadeiam-se ocupações ilegais de grandes propriedades agrícolas, em tumulto imparável e incontrolável pelo governo. No meio da confusão, 170 igrejas foram incendiadas.

Em toda esta movimentação tumultuosa, destacaram-se os anarquistas, que tinham uma enorme força (a Espanha tinha mais anarquistas que o resto do mundo todo junto!) e controlavam a CNT, Central Nacional dos Trabalhadores.

Os anarquistas, com as suas depredações, foram dos maiores responsáveis pela avançada franquista e clericalista, que, com o “pronunciamiento” de 18 de Julho de 1936, marca o início da guerra civil.

5- É claro que, durante uma guerra, há exageros de ambos os lados…

Em Cádis, em 8 de Março de 1936, foram incendiados 5 conventos, devido a tiros que foram disparados do seu interior contra manifestantes…

Mais tarde, em plena guerra civil, os insurretos franquistas estabeleceram-se em 4 conventos de Barcelona, bem situados estrategicamente, em 1936.

Aqui, na Catalunha, região dominada pelos anarquistas, ocorreu a maior atrocidade feita contra a Igreja católica, durante a guerra civil espanhola, quando, no castelo de Montjuic, num convento sobranceiro a Barcelona, foram disparados tiros de canhão contra posições anarquistas.

A reação destes foi brutal.

Com a conquista destes conventos pela tropa anarquista, que dominava Barcelona, e com a descoberta doutros arsenais em várias igrejas e conventos, esses anarquistas incendiaram tudo o que puderam de igrejas e mosteiros, na Catalunha, causando também uma grande mortandade entre os clérigos, traduzida por massacres consecutivos da generalidade do pessoal religioso na região, padres, frades e freiras. Devem ter sido uns milhares…

Por toda a Espanha, havia pequenos arsenais em numerosos edifícios religiosos, e, dalguns desses edifícios, foram disparados tiros contra os soldados republicanos e a multidão, por parte de padres e monges de armas na mão, propiciando um agastamento mortal do povo republicano contra os membros da Igreja.

Também houve bastantes padres, sobretudo, bascos e catalães, dizimados pela tropa franquista, devido a revoltas anticentralistas e veleidades regionalistas.

6- Querer realçar a beatificação de domingo, como sendo aplicada necessariamente a pessoas impolutas, que teriam vivido um martírio sem nexo e como vítimas duma suposta sanha anticlerical, apenas odienta e cruenta, sem motivação válida, é querer ofuscar e ratificar todo o apoio que a Igreja Católica espanhola deu aos insurretos e, antes, aos opositores do regime republicano democrático e laico.

Termino com esta citação do dramaturgo alemão Bertold Brecht:

“Todos chamam caudaloso e violento ao rio que tudo arrasta, mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem.”

16 de Outubro, 2013 Carlos Esperança

A indústria da santidade ao serviço do fascismo

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Para vergonha da Igreja católica, descontados os crimes de eras recuadas, que podem sempre ser atribuídos aos costumes bárbaros da época, mas comprometem a inspiração divina de que se reclama, bastava a cumplicidade e o silêncio perante um dos maiores genocidas da Humanidade – Francisco Franco –, para exigir o pedido de perdão sincero de quem herdou o ferrete da ignomínia.

Todos sabemos que a violência atingiu na Guerra Civil espanhola limites inauditos de crueldade dos dois lados da barricada. Não houve bons e maus, só maus. Não podemos esquecer a violência cruel do anticlericalismo dos anarquistas e liberais e, em menor medida, dos marxistas, cujo ódio à Igreja, implicada com a pior direita, rivalizou com o empenhamento do clero nos crimes mais perversos.

Há, no entanto, duas diferenças capitais entre os que se bateram de um e de outro lado da barricada. Do lado da República, o facto de ter resultado de eleições livres sufragadas pelo povo, e, do lado dos sediciosos, a intenção de derrubar o Governo legal e instalar a ditadura. A segunda diferença, assaz sinistra, resulta do facto de, vencida a guerra, insistirem nas execuções sumárias, perseguições cruéis, assassinatos programados e nas valas comuns, cujos vestígios querem apagar, para onde atiraram as vítimas, fuziladas por divertimento sádico e violência sectária.

As crianças roubadas a mulheres, que assassinavam após o parto, foram distribuídas por casais inférteis de sequazes do fascismo espanhol. Não houve ignomínia, crueldade ou sadismo que os franquistas não cometessem, depois da guerra onde Hitler experimentou o armamento com os aviões da Legião Condor, Mussolini colaborou com submarinos e avões, a Igreja católica concedeu o estatuto de Cruzada aos revoltosos e Salazar apoiou a retaguarda, permitindo o recrutamento dos Viriatos, o abastecimento aos franquistas e impedindo o refúgio das populações leais ao Governo.

Franco teve o apoio entusiasta do Opus Dei, que nunca lhe faltou com bênçãos, missas e ministros para o Governo. Balaguer, além de ter colaborado na guerra, ainda o felicitava entusiasticamente, quase duas décadas depois, em carta de 25 de maio de 1958, carta que a filha do ditador conservou extasiada com a veneração do futuro santo ao déspota.

Depois da dolorosa memória que dilacera Espanha, depois de mais de 400 mil mortos e centenas de milhares de exilados, impede-se a exumação das vítimas do franquismo e exonera-se um juiz corajoso, Baltasar Garzón, que quis identificá-las e reparar a sua humilhação e esquecimento, exumando as valas comuns. Para trás fica o horror galego onde o franquismo instaurou, depois da guerra, o método dos “passeios” , ir às casas das pessoas, buscá-las para as “passear”, isto é, fuzilá-las à noite e deixá-las nas valetas.

Através dos sinistros “passeios”, dos conselhos de guerra contra civis, dos fuzilamentos maciços de prisioneiros e de confrontos armados com a guerrilha, morreram, só na Galiza, 197.000 galegos (fonte “La Guerra Civil en Galicia” edic. La Voz) durante o regime franquista, continuando a grande maioria em valas comuns. Nesse período, cerca de 200 mil galegos exilaram-se noutros países, sorte que não tiveram os que escolheram Portugal e foram entregues, para fuzilamento, pelas polícia de Salazar.

João Paulo II beatificou 233 vítimas religiosas da repressão republicana, ignorando o sofrimento coletivo dos espanhóis e Bento XVI reincidiria com nova beatificação de outras 498 vítimas, a maior beatificação da história da Igreja católica.

A decisão destes dois papas, profundamente reacionários, comprometidos com o Opus Dei, não surpreendeu, apenas indignou os familiares das vítimas republicanas e todos os que ansiavam pelo esbatimento do ódio que dilacerou Espanha.

Com mais de duas mil valas comuns por abrir, surpreende que o Papa atual, de quem se cria que não deitasse mais ácido nas feridas por sarar, eleve cerca de quinhentos beatos ao altar do franquismo, numa manifestação de demência episcopal da Espanha que não perdoa e que não se deixa julgar.

Este Papa, depois da lixivia gasta a limpar as nódoas do Vaticano, maculou as vestes e acabou por recordar as boas relações que manteve com Videla.

16 de Outubro, 2013 Carlos Esperança

A indústria da santidade ao serviço do fascismo

Para vergonha da Igreja católica, descontados os crimes de eras recuadas, que podem sempre ser atribuídos aos costumes bárbaros da época, mas comprometem a inspiração divina de que se reclama, bastava a cumplicidade e o silêncio perante um dos maiores genocidas da Humanidade – Francisco Franco –, para exigir o pedido de perdão sincero de quem herdou o ferrete da ignomínia.

Todos sabemos que a violência atingiu na Guerra Civil espanhola limites inauditos de crueldade dos dois lados da barricada. Não houve bons e maus, só maus. Não podemos esquecer a violência cruel do anticlericalismo dos anarquistas e liberais e, em menor medida, dos marxistas, cujo ódio à Igreja, implicada com a pior direita, rivalizou com o empenhamento do clero nos crimes mais perversos.

Há, no entanto, duas diferenças capitais entre os que se bateram de um e de outro lado da barricada. Do lado da República, o facto de ter resultado de eleições livres sufragadas pelo povo, e, do lado dos sediciosos, a intenção de derrubar o Governo legal e instalar a ditadura. A segunda diferença, assaz sinistra, resulta do facto de, vencida a guerra, insistirem nas execuções sumárias, perseguições cruéis, assassinatos programados e nas valas comuns, cujos vestígios querem apagar, para onde atiraram as vítimas, fuziladas por divertimento sádico e violência sectária.

As crianças roubadas a mulheres, que assassinavam após o parto, foram distribuídas por casais inférteis de sequazes do fascismo espanhol. Não houve ignomínia, crueldade ou sadismo que os franquistas não cometessem, depois da guerra onde Hitler experimentou o armamento com os aviões da Legião Condor, Mussolini colaborou com submarinos e avões, a Igreja católica concedeu o estatuto de Cruzada aos revoltosos e Salazar apoiou a retaguarda, permitindo o recrutamento dos Viriatos, o abastecimento aos franquistas e impedindo o refúgio das populações leais ao Governo.

Franco teve o apoio entusiasta do Opus Dei, que nunca lhe faltou com bênçãos, missas e ministros para o Governo. Balaguer, além de ter colaborado na guerra, ainda o felicitava entusiasticamente, quase duas décadas depois, em carta de 25 de maio de 1958, carta que a filha do ditador conservou extasiada com a veneração do futuro santo ao déspota.

Depois da dolorosa memória que dilacera Espanha, depois de mais de 400 mil mortos e centenas de milhares de exilados, impede-se a exumação das vítimas do franquismo e exonera-se um juiz corajoso, Baltasar Garzón, que quis identificá-las e reparar a sua humilhação e esquecimento, exumando as valas comuns. Para trás fica o horror galego onde o franquismo instaurou, depois da guerra, o método dos “passeios” , ir às casas das pessoas, buscá-las para as “passear”, isto é, fuzilá-las à noite e deixá-las nas valetas.

Através dos sinistros “passeios”, dos conselhos de guerra contra civis, dos fuzilamentos maciços de prisioneiros e de confrontos armados com a guerrilha, morreram, só na Galiza, 197.000 galegos (fonte “La Guerra Civil en Galicia” edic. La Voz) durante o regime franquista, continuando a grande maioria em valas comuns. Nesse período, cerca de 200 mil galegos exilaram-se noutros países, sorte que não tiveram os que escolheram Portugal e foram entregues, para fuzilamento, pelas polícia de Salazar.

João Paulo II beatificou 233 vítimas religiosas da repressão republicana, ignorando o sofrimento coletivo dos espanhóis e Bento XVI reincidiria com nova beatificação de outras 498 vítimas, a maior beatificação da história da Igreja católica.

A decisão destes dois papas, profundamente reacionários, comprometidos com o Opus Dei, não surpreendeu, apenas indignou os familiares das vítimas republicanas e todos os que ansiavam pelo esbatimento do ódio que dilacerou Espanha.

Com mais de duas mil valas comuns por abrir, surpreende que o Papa atual, de quem se cria que não deitasse mais ácido nas feridas por sarar, eleve cerca de quinhentos beatos ao altar do franquismo, numa manifestação de demência episcopal da Espanha que não perdoa e que não se deixa julgar.

Este Papa, depois da lixivia gasta a limpar as nódoas do Vaticano, maculou as vestes e acabou por recordar as boas relações que manteve com Videla.

8 de Outubro, 2013 Carlos Esperança

Aniversário da atribuição do Nobel da Literatura a Saramago

José Saramago, um Nobel para a língua portuguesa

No dia de hoje, há quinze anos, José Saramago, o maior ficcionista português do século XX, foi laureado com o prémio Nobel da Literatura, o Nobel do nosso contentamento.

Para trás ficou o ressentimento de Sousa Lara, censor de um Governo de Cavaco Silva, que lhe vetou “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” para concurso a um prémio literário.  Esquecida está já a avaliação da sua obra por uma figura grotesca, de quem o presidente da Câmara do Porto, recentemente eleito, é admirador, que o chamou «senil» e definiu a obra como «uma ganda [sic] merda», confessando nunca ter lido qualquer livro seu – o Sr. Duarte Pio.

Foi superado o rancor do Vaticano à atribuição do Nobel a um comunista, decisão que o papa de turno, anticomunista primário que aguarda agora a canonização, não digeriu.

Esvaem-se as invejas, os ressentimentos e as desilusões de quem usa o fígado em vez da inteligência e, para a posteridade, fica a obra ímpar de um escritor singular que honrou a língua portuguesa e a levou, no esplendor da sua criatividade, a viajar pelo mundo culto.

5 de Outubro, 2013 Carlos Esperança

Movimento Republicano 5 de Outubro (MR5O)- Coimbra

O 5 DE OUTUBRO, A REPÚBLICA E O DECORO

A Revolução de 5 de Outubro de 1910 é a marca identitária do regime e uma referência da liberdade. Nessa data, os heróis da Rotunda redimiram Portugal da monarquia e da dinastia de Bragança, e foram arautos da mudança numa Europa que rejeitou os regimes anacrónicos ou os remeteu para um lugar decorativo.

Comemorar a República é prestar homenagem aos cidadãos que rejeitaram ser vassalos, aos visionários que quiseram o povo instruído, aos patriotas que impuseram a separação da Igreja e do Estado. Os revolucionários de 1910 anteciparam, por patriotismo, a queda de um regime esgotado e abriram portas para uma democracia avançada que a Grande Guerra, as conspirações monárquicas e clericais e os erros dos governantes sabotaram .

O 5 de Outubro de 1910 não se limitou a mudar um regime, foi portador de um ideário libertador que as forças reacionárias se esforçaram por boicotar. As leis do divórcio, do registo civil obrigatório e da separação Igreja/Estado são marcas inapagáveis da História de um povo e do seu avanço civilizacional.

A República aboliu os títulos nobiliárquicos, os privilégios da nobreza e o poderio da Igreja católica. O poder hereditário e vitalício foi substituído pelo escrutínio popular; os registos paroquiais dos batizados, casamentos e óbitos, pelo Registo Civil obrigatório; o direito divino, pela vontade popular; a indissolubilidade do matrimónio, pelo direito ao divórcio; o conluio entre o trono e o altar, pela separação da Igreja e do Estado.

Cessou com a República a injúria às famílias discriminadas pelo padre no enterramento das crianças não batizadas, dos duelistas e suicidas. O seu humanismo assentiu direitos iguais na morte aos que dependiam do humor e do poder discricionário do clero ou do exotismo do direito canónico.

Em 5 de outubro de 1910, ao meio-dia, na Câmara Municipal de Lisboa, Eusébio Leão proclamou a República, aclamado pelo povo, perante o júbilo de milhares de cidadãos. É essa data que, hoje e sempre, urge evocar em gratidão aos seus protagonistas.

Cândido dos Reis, Machado dos Santos, Magalhães Lima, António José de Almeida, Teófilo Braga, Basílio Teles, Eusébio Leão, Cupertino Ribeiro, José Relvas, Afonso Costa e João Chagas, além de Miguel Bombarda, foram os heróis, entre muitos outros, alguns anónimos, que prepararam e fizeram a Revolução.

Afonso Costa, uma figura maior da nossa história, honrado e ilustríssimo republicano, granjeou sempre o ódio de estimação das forças reacionárias e o vilipêndio da ditadura fascista, mas é o mais merecedor da homenagem de quem ama e preza os que serviram honradamente o regime republicano.

Não esperaram honras nem benefícios os heróis do 5 de Outubro. Não se governaram os republicanos. Foram exemplo da ética por que lutaram. Morreram pobres e dignos.

Nós, republicanos, é que não podemos aceitar que o 5 de Outubro se mantenha o feriado rasurado no calendário por quem não tinha cultura, memória e amor à Pátria. E honrá-lo-emos sempre.

Glória aos heróis do 5 de Outubro. Viva a República. Viva Portugal.

a) MR5O

24 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

A laicidade em França

Por

Teresa Amorim

Em França, as pessoas começam a receber formação sobre República, laicidade, Direitos do Homem, da Mulher e da Criança desde a mais tenra idade. Existe um programa de ensino muito bem estruturado e adequado a cada ciclo de estudos. Em Portugal não temos nada disto…

Em França, as pessoas estão preparadas para compreender o conteúdo da carta, em Portugal, infelizmente, não. A carta até pode vir a ser afixada, mas os visados não estão preparados para assimilar o seu conteúdo e tudo o que vamos conseguir é armar barafunda, mais uma vez, com os acólitos da Igreja.

Na minha opinião, o que devemos fazer, é começar a actuar discretamente para pôr a funcionar um programa nas escolas Portuguesas à semelhança do que é feito em França. Proponho mesmo a criação de um grupo de trabalho para pôr em marcha a elaboração de conteúdos e estudo de implementação. Estou disposta a iniciá-lo já e, como tal, gostaria de saber com quem posso contar.

Tenho em minha posse os conteúdos que são fornecidos em França e conheço o método com que são aplicados.  (…)

Parece-me mais importante Trabalhar para implementar com solidez Pérolas do que andar a ‘Deitar Pérolas a Porcos’. Afixar essa carta, assim sem mais nada, em Portugal, é deitar pérolas a porcos…

(…)

a) Teresa Amorim.

19 de Setembro, 2013 Carlos Esperança

Nuno Crato – De honrado professor a ministro medíocre

Nuno Crato, dizia hoje no telejornal das 20H00, na RTP, que o ensino do inglês deixava de ser de oferta obrigatória no 1.º ciclo porque «à palavra ‘obrigatório’, preferimos (plural majestático?) a palavra liberdade».

O ministro da facultativa Educação e Ciência, que acrescentou ao curriculum académico o pouco glorioso epíteto de ministro de Passos Coelho, acaba com a obrigatoriedade do ensino de Inglês no 1.º ciclo, retrocesso civilizacional que coloca os filhos dos pobres em desigualdade com os filhos de quem pode pagar o ensino da referida língua.

Melhor dito, o ensino do língua inglesa fazia parte obrigatória das chamadas Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC), embora estas fossem de frequência facultativa. Agora, graças à ‘liberdade’, segundo Crato, deixou de fazer parte obrigatória, forma que encontrou para o banir e contribuir para o regresso à discriminação social.

Curiosamente, as aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), continuam a ser de “oferta obrigatória”, como dizem os docentes discricionariamente nomeados pelos bispos diocesanos e obrigatoriamente pagos pelo Estado Português.

Há vidas que minam a honra e corroem a decência, num trajeto sombrio, de quem vem da escola pública para a arruinar, fazendo medrar colégios privados e escolas pias.