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Categoria: Laicidade

3 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Eu e os crentes

Conheço e aprecio quase todas as grandes catedrais católicas da Europa, bem como os templos protestantes e ortodoxos, alguns templos budistas e mesquitas.

Do Brasil ao Canadá, de Lisboa a Roma, de Atenas a Marrocos, de Efésio a Londres, da Tailândia aos EUA, nunca deixei de apreciar a arte sacra: a arquitectura, a escultura, a pintura e a música. O ateísmo que perfilho, há meio século, nunca me embotou a sensibilidade nem me levou a desequilíbrios psíquicos que me transtornassem em sítios onde os crentes cantam, rezam e se divertem em festejos místicos.

Nunca pensei entrar num templo para fazer a apologia do ateísmo, gozar os crentes que se ajoelham, rastejam e espojam ao som do latim, do grego, do árabe ou da língua autóctone.

Desprezo as crenças, aborrecem-me os sinais cabalísticos, condoo-me com os embustes com que o clero explora, aterroriza e torna infantis os crentes, mas não interfiro entre o clérigo quer vigariza e o crédulo que cai no conto do vigário.

Podia esperar a mesma postura dos avençados da fé que entram no Diário Ateísta como piolhos em costura. Vêm com surro no cérebro e ódio no coração, fartos de rezas e água benta, a cheirar a incenso e fumo de velas, com o mesmo fanatismo que leva os judeus a quererem derrubar o Muro das Lamentações à cabeçada e os muçulmanos que desejam abrir a porta do Paraíso com explosivos.

Eu sei que a fé os enlouquece, que as orações os embotam e os jejuns os debilitam, mas os padres podiam ensinar-lhes o tino que lhes falta e as maneiras que se usam em casa alheia. Mas vá lá alguém convencer um doido de que não é o Napoleão.

Alguns crentes prometem não regressar ao Diário Ateísta. Enquanto ruminam o acto de contrição prometem não voltar, mas voltam sempre. Garantem não voltar a pôr aqui os pés. Mas põem. TODOS.

1 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Diário Ateísta deseja a paz para 2008

Os anos passam, envelhecem as pessoas e envilecem os clérigos. Os votos de paz que se formulam em noites de passagem de ano, por entre beijos quentes e húmidos, quebram-se no início do novo ano na demência prosélita das religiões que, a troco da miragem do Paraíso, semeiam ódios e colhem guerras.

As religiões monoteístas iam no bom caminho quando começaram a eliminar os deuses. Deixaram um, para comprometerem a felicidade humana, e fizeram da sobra o carrasco da felicidade. Quase chegaram à verdade. Bastava terem deixado no caixote do lixo da História o que restou para desgraça.

Não haverá paz enquanto os parasitas de Deus se esforçarem por impor as suas crenças aos que as não têm e aos que as têm diferentes. A burla da fé corrói as consciências e amolece o carácter, arruína a compaixão e exacerba a raiva. Só a razão e a ciência se podem opor à fé e à superstição, mas são poderosos os interesses, os constrangimentos sociais e os hábitos.

Não são os crédulos que ameaçam a paz e semeiam a cizânia entre os povos, são as religiões, e os que vivem à custa delas, que lutam por um mercado onde a dignidade se perde de joelhos e a honra fica de rastos. São os bandos de sotainas que fanatizam as crianças. São os costumes tribais e o clero que transformam as crianças em crentes e as diferenças em divergências.

O ano que ora nasce podia ser um ano de paz. Bastava que fizessem greve os parasitas que convocam para as orações, os dementes que se afirmam detentores do único Deus verdadeiro e os trogloditas que acirram os crentes para combaterem o livre-pensamento ou o pensamento de quem não pensa como eles.

Em 2008 os talibãs dos três monoteísmos, os defensores do livro único, das cópias com erros de tradução e fraudes históricas, vão continuar a fúria evangelizadora e os ataques aos estados laicos. São os Rottweilers de Deus, sedentos de sangue, na paranóia de que a guerra santa lhes reserva uma centelha de eternidade.

28 de Dezembro, 2007 Carlos Esperança

Extremistas hindus atacam cristãos

Extremistas hindus atacam cristãos e queimam igrejas na véspera de Natal.

Com a mesma clareza com que denuncio as interferências políticas e o proselitismo do Vaticano, a infiltração e influência dos protestantes evangélicos na Administração dos EUA, a exegese reaccionária do cristianismo ortodoxo ou o demente fascismo islâmico dos suicidas assassinos, também repudio com firmeza a intolerância hindu para com os cristãos.

Parece que o racionalismo e o iluminismo foram esquecidos, que à secularização que enfraqueceu o espírito prosélito e a justiça eclesiástica sucede, de novo, uma ânsia de impor um só Deus a todos os homens e eliminar os que o não aceitem. É a exaltação da fé pelos que não toleram a liberdade. É a exacerbação da violência em nome de Deus.

Estamos a assistir ao agravar dos radicalismos religiosos e, em vez de se pugnar por um laicismo profiláctico, beatos de todos os quadrantes defendem maior influência das suas religiões na esfera pública. É o regresso à Idade Média em que havia indulgências para quem convertesse os outros, a bem ou a mal.

É este erro fatal que leva à limpeza da fé e ao totalitarismo religioso de acordo com a geopolítica. O Islão, que já foi tolerante no fim do primeiro milénio da era actual, há muito que entrou na paranóia prosélita que dilacera o mundo.

Dos EUA os protestantes evangélicos aguardam a vinda do novo Messias e envolvem-se em cruzadas de sabor medieval. Do Vaticano saem instruções para evangelizar os outros e convertê-los à religião verdadeira – a do Papa.

Só faltavam os hindus a queimar igrejas e a perseguir cristãos. Em nome do pluralismo e da liberdade religiosa temos de exigir aos estados civilizados que a natureza religiosa dos crimes seja um factor de agravamento de pena.

A Humanidade precisa de paz e o pluralismo é condição indispensável. À semelhança do que acontece na política, onde a pluralidade partidária é uma exigência democrática, também as religiões se deverão submeter às normas que impeçam o totalitarismo que as devora.

28 de Dezembro, 2007 Ricardo Alves

Sam Harris lança o «Projecto Razão»

Sam Harris, depois do sucesso do seu primeiro livro e da publicação de um segundo, prepara-se para lançar uma fundação («The Reason Project») dedicada a «difundir o conhecimento científico e os valores laicos» na sociedade, com o propósito de contribuir para a «erosão (…) do dogmatismo, superstição e fanatismo». A fundação contará, no seu conselho consultivo, com figuras como Richard Dawkins, Daniel Dennett, Rebecca Goldstein, Ayaan Hirsi Ali, Steven Pinker, Ibn Warraq e Steven Weinberg, e promoverá conferências, produzirá filmes e fornecerá bolsas.

Em muitos casos, o ateísmo militante é uma porta de entrada para a militância laicista ou para a divulgação científica. Em Setembro, na conferência da Atheist Alliance (aqui referida pelo Ricardo Silvestre e pelo Helder Sanches), Sam Harris mostrara já ter compreendido que a religião não vai desaparecer, talvez nem no século 4º da era iluminista, e que os ateus, de facto, têm pouca apetência para «converter» crentes. Efectivamente, não existem, em todo o mundo, muitas organizações ateístas. Os ateus que decidem associar-se optam ou pela intervenção política laicista, ou pela difusão do pensamento crítico e céptico (nalguns casos, pelos dois caminhos), em ambas as situações misturados com outros que não são ateus ou não se definem nesses termos. Em Portugal, temos a Associação República e Laicidade e a Associação Cépticos de Portugal.

27 de Dezembro, 2007 Hacked By ./Localc0de-07

O circo de Policarpo

Na edição de 26/12/2007 do Correio da Manhã surgem as normais anormalidades natalícias, os desaforos e ódios vesgos a tudo e todos por parte dos fanáticos católicos, aproveitando a maré de capitalismos cristãos exacerbados, recorrente embora a tempos se identifiquem lufadas de ar fresco. Proselitismo de pré-primária da teologia do niilismo absoluto e chovem os ataques dementes ao que está mais à mão, ao ateísmo, ou mais provavelmente a todos os não-cristãos a tomar em conta determinadas afirmações.

Policarpo assume o discurso fanático e criminoso na página 7 do jornal, no qual se podem encontrar certos paralelos dentro dos discursos dos talibãs, dizendo que “o afastamento de deus ou o seu esquecimento é o maior drama da Humanidade”. Mais vergonhoso para uma Democracia é possivelmente impossível, o sectarismo assume a demência da mentalidade católica dos medievalistas inquisitórios e a plenitude do fascismo emanado pelo Vaticano.

Para este clérigo demente a Declaração dos Direitos Humanos será certamente um documento ao qual nutre o mais profundo dos ódios, declarando como o maior drama da Humanidade tudo o que hoje ergueu explicações para a realidade, para a liberdade de pensamento e expressão, para o desenvolvimento científico e tecnológico que fizeram com que parte do Mundo saísse da idade das trevas da Inquisição. A epidemia da SIDA, ajudada a propagar pela criminosa condenação do preservativo segundo as doutrinas católicas, os milhares de clérigos que abusaram sexualmente de crianças indefesas, as epidemias várias e guerras religiosas oriundas do fanatismo islâmico e cristão nada são comparadas com o drama da liberdade de pensamento e expressão.

Pior ainda, identifica que “todas as expressões de ateísmo tiraram todo o sentido ao natal”, certamente coloca o Hinduísmo, o Judaísmo, o Islamismo, o Budismo, o Jainismo e todas as outras religiões como expressões de ateísmo por não celebrarem a festa que ele apregoa, o que é uma barbaridade colossal, uma demência vácua de minimalismo de racionalidade, uma verborreia infame e vergonhosa que insulta e descrimina todos aqueles que não acreditam no deus que Policarpo apregoa e que não celebram o capitalismo cristão natalício.

As apoteoses de demência fanática católica começam a extravasar todos os limites do bom senso, e atentam aos mais básicos Direitos Humanos.

P.S.: Artigo enviado para o Correio do Leitor do Correio da Manhã, porque o que é demais é exagero.

Também publicado em LiVerdades

24 de Novembro, 2007 Ricardo Alves

RTP 1, 21 horas

Hoje, o programa «A Voz do Cidadão» (organizado pelo Provedor dos telespectadores da RTP) será sobre religião. Às 21 horas no canal RTP 1, e às 19h44m no RTP Internacional, com repetição amanhã às 14h45m no RTP 2, e às 19h45m no RTP N. Vamos ver.

  • Linque RTP (agradeço ao kavkaz esta indicação).
23 de Novembro, 2007 Ricardo Alves

Resposta a vários argumentos habituais

No Jornal de Negócios desta quinta-feira, publicou-se uma entrevista interessante sobre religião, que sistematiza vários argumentos que, não sendo originais, são habituais e portanto merecem ser comentados.

  1. O entrevistado afirma que «as pessoas, quando excluem Deus das suas vidas (…) ficam com um vazio, que procuram preencher de várias formas, porque sentem interiormente uma necessidade de ir além do material, do perceptível», e que «essa falta (…) dá lugar a procuras alternativas, como a actual moda dos orientalismos e da New Age, o recurso à Astrologia, a ovnilogia». Em primeiro lugar, desconheço as razões (se é que existem) que levam o entrevistado a presumir a universalidade (e portanto inevitabilidade para cada indivíduo) desse «vazio» que ele perscruta nos outros. Conheço muitas pessoas que jamais sentiram qualquer necessidade de «Deus» ou do «sobrenatural» nas suas vidas (serão mutantes?). Essas pessoas, salvo raríssimas excepções, também não me parecem muito dadas a ovnilogias e budismos. (E, numa nota pessoal, quanto acho que há qualquer coisa por explicar vou aprofundar o pouco que sei de ciência. Haverá forma melhor de encontrar respostas válidas?)
  2. Seguidamente refere-se outro substituto, as «religiões laicas» ou «crenças políticas». Sinceramente, a bem do rigor deste género de discussões gostaria que as palavras «crença» e «religião» fossem usadas com um significado mais constante. A «crença» na «ditadura do proletariado» substitui a «crença» no «Reino de Deus»? Psicologicamente talvez actuem mecanismos semelhantes, mas num dos casos não se requer a violação de leis da física, e no outro exige-se a intervenção do «sobrenatural». E se o comunismo (o exemplo é do entrevistado) constitui uma «religião» porque inclui «rituais» (o que também é discutível, mas enfim), será que as reuniões de tribunal também são uma religião?
  3. O entrevistado afirma que «a Ciência não conseguirá eliminar por completo o espaço da crença, da fé», porque «não responde a tudo (…) consegue arranjar uma explicação plausível para o “big bang”, mas deixa por explicar o que aconteceu antes». Eu concordo que há sempre espaço para a fantasia humana e para indivíduos com força de vontade suficiente para afirmarem as fantasias mais disparatadas contra toda a evidência disponível. Por exemplo: não posso refutar a existência de unicórnios cor-de-rosa invisíveis que não respiram por cima do meu ombro, não transpiram, nem são feitos de matéria. E também não posso refutar a existência de quinze milhões de passarinhos que andem a voar em bando em redor do universo, trinando o hino nacional e defecando para fora do dito universo. Para o antes do «big bang», as «respostas» da religião tradicional serão melhores do que os quinze milhões de passarinhos porquê? Porque há um clero que vive disso?
  4. O entrevistado revela-se um relativista epistemológico quando argumenta que «grande parte da nossa estrutura de conhecimento é adquirida pela fé – entendida no sentido lato, de confiança», e que portanto «pessoas igualmente inteligentes e informadas sustentam diferentes visões do mundo e da sociedade». Acontece que duas pessoas que tenham ambas estudado relatividade geral não podem ter visões radicalmente diferentes sobre a curvatura do universo e a sua causa – a menos que uma delas esteja de deliberada má fé. (As «visões da sociedade» são bem mais contingentes, e portanto não entram aqui.) E é bastante diferente acreditar que está realmente a chover e ter fé em que a chuva é causada pelo duende-pai.
  5. Argumenta-se ainda que «a obsessão com o politicamente correcto é um comportamento tipicamente religioso», e eu tendo a concordar, porque efectivamente a intolerância é típica das religiões. Mas o entrevistado cai no pior relativismo ético quando afirma que «quem sai da ortodoxia do pensamento politicamente correcto» é vítima de «verdadeiros processos inquisitoriais». Neste ponto, que alguém me corrija se estiver enganado, mas será que existe algum país da Europa em que as vítimas do temível «politicamente correcto» sejam sujeitas a estas torturas? Está alguma fogueira acesa no Rossio para queimar quem conta anedotas racistas ou sobre a pseudo-«burrice» das mulheres? Se for esse o caso, declaro desde já a minha solidariedade com essas vítimas dessa ditadura atroz que é a «ditadura do politicamente correcto». Se não for verdade, e o «politicamente correcto» não existir, anda-se a gritar «lobo» sem que este exista sequer.
  6. Finalmente, diz-se que «uma das consequências da perda de importância das religiões organizadas foi a perda de uma âncora moral para os comportamentos sociais, levando à prevalência de um relativismo moral que conduz à sucessiva degradação dos padrões morais». Começando pelo fim: eu detesto os «padrões morais» das religiões organizadas, nomeadamente (e para não ir mais longe) a defesa do abjecto e «contra natura» princípio abraâmico de que é legítimo matar um filho se houver ordem «divinamente correcta» para tal. Detesto também a ideia de que se deve fazer o «bem» para agradar a uma divindade ou por medo de um castigo «sobrenatural», e acho éticamente preferível fazer o bem por se reconhecer, em consciência, que se deve fazê-lo. E não vejo nenhuma «degradação» de padrões éticos, pelo contrário registo que existe nas sociedades europeias um repúdio pela pena de morte que não existia há duzentos e cinquenta anos atrás, quando se queimavam pessoas na praça pública. E que ainda há cinquenta anos a tortura se praticava, em Portugal, sem protesto visível dos tais «religiosos organizados». E registo também que bater em crianças é agora quase universalmente condenado, enquanto há duas gerações atrás era a norma. Enfim, se as consequências da perda das «âncoras» religiosas são estas, acho bem que continuemos no rumo actual.
12 de Novembro, 2007 Helder Sanches

Reflectir o meu ateísmo – Parte 3

Promover uma laicidade pró-activa

A questão da separação do estado e da Igreja está na ordem do dia nos Estados Unidos. Após o 11 de Setembro, a resposta norte-americana foi, na minha opinião, a pior possível e aquela que melhor serviu os interesses das linhas mais conservadoras de ambos os lados da barricada. Pior do que guerras santas, só mesmo guerras económicas mascaradas de guerras santas. Às religiões serve-lhes a aparente luta contra os infiéis ou fundamentalistas e aos governos assenta-lhes que nem uma luva a máscara dos motivos religiosos. Entretanto, as multinacionais sorriem e o povo chora!

Que no princípio do séc. XXI se vivam cenários como este parece-me lamentável, mas não surpreendente, face aos factos históricos recentes. Mesmo sem 11 de Setembro, creio que a tendência estava desenhada para um aumento da visibilidade das religiões nas sociedades ocidentais. Alguns factores estariam já a contribuir para esse fenómeno, tendo o 11 de Setembro apenas acelerado o processo. Senão, vejamos:

  • Desde os anos 70 que na maioria dos países ocidentais se tem vindo a acentuar uma maior descrença no sistema político;
  • A globalização também está ao alcance das “religiões privadas” – seitas – tendo permitido que algumas delas crescessem nas últimas décadas para dimensões de fazer inveja à religiões tradicionais em muitos países;
  • O extremismo islâmico tem-se propagado por todo o mundo desde os anos do Ayatollah Khomeini;
  • A secularização da maioria dos países ocidentais não lhes permite controlar fenómenos de propagação religiosa, quer activos, quer reactivos;
  • A incapacidade demonstrada para uma solução política no conflito do médio oriente é um convite a uma resolução patrocinada pelo divino (guerra santa).

A meu ver, é imprescindível que as democracias seculares ocidentais criem mecanismos para se protegerem elas próprias não apenas dos perigos externos mas, principalmente, dos internos. Não defendo um estado ateu, defendo, isso sim, um estado fortemente laico; forte ao ponto de ser pró-activo nessa laicidade e não apenas um mero gestor ou observador.

A liberdade de fé, crença e religião deve existir mas sempre fora de todo e qualquer contexto estatal. As organizações religiosas não devem de usufruir de nenhum benefício fiscal ou legal, devendo o Estado abster-se de qualquer patrocínio ou subsídio às organizações religiosas. Apenas os serviços comprovados de acção social deverão estar enquadrados nesses benefícios em regime de igualdade com outras organizações não religiosas de índole social.

Não devem ser permitidas quaisquer referências religiosas no discurso político, independentemente do órgão de soberania em causa. As cerimónias oficiais devem dispensar qualquer participação de representantes religiosos, devendo a representação religiosa ser totalmente irradiada do protocolo de Estado. Igualmente, aos órgãos de comunicação do Estado – RTP, RDP, etc – deverá estar proibida a terminologia religiosa.

Por último, os partidos políticos e os seus representantes não deverão prestar declarações públicas de favorecimento religioso em períodos eleitorais.

Nenhum destes princípios é contrário à livre actividade religiosa. No entanto, previnem por um lado a utilização da religião como arma política e, por outro, garantem uma equidistância do Estado com todos os cidadãos de qualquer religião ou de religião nenhuma. Repare-se, ainda, que estes mecanismos não só permitem proteger o Estado da influencia religiosa, mas também o contrário. O único compromisso das religiões com o Estado é o de cumprir a lei, tal como qualquer outra pessoa individual ou colectiva.

Admito que esta matéria seja talvez das mais complexas e susceptíveis de causar polémica. Exactamente por isso é que o Estado deve defender, em primeiro lugar, os direitos implícitos nos seus princípios de secularismo e laicidade. Só depois, então, é que o Estado se deve comprometer a garantir outros direitos também fundamentais, como liberdade de fé, culto e religião.

(Publicação simultânea: Diário Ateísta / Penso, logo, sou ateu)

1 de Novembro, 2007 Ricardo Alves

Mina Ahadi é a «secularista do ano»

No Reino Unido, Mina Ahadi venceu o prémio «Secularist of the year» de 2007 da National Secular Society.Mina Ahadi é de origem iraniana, ateísta de convição e politicamente laicista, e passou à clandestinidade no Irão, em 1980, depois de se envolver numa campanha contra a obrigatoriedade do uso do véu islâmico. À época, a sua casa foi assaltada pela polícia islamista, e o seu marido e quatro camaradas seus foram presos e executados pelos islamo-fascistas. Mina Ahadi exilou-se na Europa em 1990, e vive na Alemanha desde 1996. Fundou em Março deste ano o Comité dos Ex-Muçulmanos da Alemanha, uma ideia que foi seguida pela fundação de organizações semelhantes no Reino Unido e na Holanda.

A nomeação de Mina Ahadi para este prémio é particularmente feliz por se tratar de uma mulher ex-muçulmana. Nos países de tradição muçulmana, é a luta pela liberdade das mulheres e pela sua igualdade de direitos com os homens que mudará sociedades ainda dominadas pela aliança entre a religião tradicional e o machismo. Como afirmou Richard Dawkins na cerimónia de entrega do prémio:

  • «Sinto há muito tempo que a chave para resolver a a ameaça mundial do terrorismo islâmico será o acordar das mulheres, e Mina Ahadi é uma líder carismática que trabalha para esse fim.»

Para além de Mina Ahadi, várias mulheres de origem iraniana estão actualmente na vanguarda do laicismo na Europa: Maryam Namazie, Chadortt Djavann, ou Azar Majedi. Espera-se que sejam um exemplo para o seu país de origem e para o resto do mundo muçulmano.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

27 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Caro leitor católico

Imagine que está numa cama de hospital, enfraquecido pela doença e amansado pela medicação. Vê aproximar-se da cama um desconhecido, que lhe diz:

-Já pensou em abandonar a sua religião?

Atónito, ainda tenta reagir. Mas o seu interlocutor está de melhor saúde e remata-lhe:

-O «céu» e o «inferno» são tretas. Não há vida depois da morte, esqueça essas ilusões.

Como se sentiria, caro leitor? Agredido? Invadido na sua privacidade? Pois então já sabe como se sente um ateu quando tem de mandar embora um padre que o vem incomodar à cama do hospital.

Imagine ainda que o desconhecido que o incomodou é pago pelo Estado para fazer exactamente o que lhe fez a si. Desagrada-lhe a ideia? Ainda bem. Devo dizer que concordo consigo, caro leitor católico. É justamente porque concordo consigo que defendo que só deve receber assistência espiritual quem a pedir por escrito, e que essa assistência não seja paga pelo Estado. Estamos de acordo?

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]