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Categoria: Laicidade

13 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Assim, NÃO

Mesquitas serão proibidas na Áustria

Combater ideias é uma coisa, impedir a liberdade religiosa é outra, inaceitável para a democracia. Como ateu, manifesto o mais vivo repúdio por tal decisão, de contornos fascistas.

12 de Fevereiro, 2008 Ricardo Alves

César conquista Bruxelas

Soube-se oficiosamente há poucos dias que João César das Neves, também conhecido como «Abominável» ou «Cavaleiro da Pérola Redonda», é o responsável da Comissão Europeia, nomeado por Durão Barroso, para o diálogo com as confissões religiosas.

Como os laicistas tinham alertado atempadamente, o «Tratado de Lisboa» arriscava-se a prever no seu artigo 15º (como todas as suas versões anteriores previam, aliás), que «a União [Europeia] estabelecerá um diálogo aberto, transparente e regular com as referidas igrejas». Ou seja, ao invés de ser uma comunidade política laica, a UE pretende dotar-se de um «departamento» para dar um papel às confissões religiosas nos debates políticos europeus.

Curiosamente, apesar de o tratado ainda não estar aprovado, a Comissão Europeia decidiu desde já «avançar trabalho» e proceder à criação de esta espécie de «assessor/director-geral» para o diálogo com as confissões religiosas. E o feliz nomeado para o lugar é João César das Neves.

11 de Fevereiro, 2008 Ricardo Alves

Clericalismos unidos contra a laicidade

    «O chefe da igreja anglicana afirmou que os muçulmanos que vivem no Reino Unido deviam ter os seus próprios tribunais, pois nem todos se conseguem adaptar ao sistema legal em vigor no país, nomeadamente, em questões de conflitos civis entre casais ou em questões financeiras.» (Rádio Renascença)

As declarações do líder da Igreja Anglicana a favor da introdução da chária no Reino Unido (já comentadas pelo Carlos) só podem surpreender quem ainda não compreendeu que uma das principais clivagens políticas deste início de século não é entre capitalismo e socialismo, esquerda e direita, ou «ocidente» e islão, mas sim entre o laicismo e os vários clericalismos (cristãos e islâmicos), que estão sempre prontos a unir-se para o combate contra um mundo onde a política, a ciência e, em breve, a ética, são cada vez mais áreas onde a religião não conta. No futuro, veremos os clericalismos unidos na defesa de uma sociedade em que cada comunidade confessional tenha as suas regras definidas pelas hierarquias das religiões tradicionais, contra o «reviralho» laicista que insiste em que as regras se definem em parlamentos democráticos onde os dogmas das religiões não entram.

Aquando da crise dos cartunes, esta tendência já fora diagnosticada pelos observadores mais atentos (nomeadamente, o Diário Ateísta). As declarações de Rowan Williams, e as reacções de outros representantes religiosos, demonstram que tinhamos razão.

10 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

A Turquia e o véu islâmico

Nos estados laicos, sem risco de recidivas teocráticas, é inadmissível e paradoxal usar qualquer proibição para assegurar a liberdade individual. Vão longe os tempos em que as mulheres católicas eram obrigadas a usar véu, na igreja, porque o apóstolo Paulo de Tarso considerou o cabelo e a voz das mulheres coisas obscenas, convicção que teve outro efeito secundário – a castração de jovens para evitar mulheres nos coros sacros.

Surpreende que quem defende o direito ao uso do véu islâmico não reflicta nos motivos da sua proibição por Mustafa Kemal, o Atatürk, fundador da Turquia moderna, e na oposição, aparentemente paradoxal, dos sectores laicos e progressistas.

Em primeiro lugar a exibição pública do adereço é um confronto aberto com a laicidade estimulado pelos sectores clericais cujo proselitismo tem na agenda, logo que Alá o queira, a imposição da Sharia. Alá não se pronunciou mas o apelo das mesquitas fez-se ouvir e levou à emenda constitucional que permitirá às alunas o uso do véu islâmico dentro das universidades.

Não é preciso ser profeta para prever a pressão oriunda da função pública a exigir igual «regalia», sem ter em conta que o véu é um símbolo de opressão da mulher, visto com entusiasmo por homens conservadores e por uma sociedade cuja reislamização não tem parado.

O problema não reside na permissão, surge quando o direito se converter em imposição, os islamitas moderados se tornarem fundamentalistas e o véu for substituído pela burka.

Vital Moreira, sempre tão lúcido e perspicaz, não compreende a proibição e, no campo dos princípios, tem razão, mas quem lê o Corão e reconhece a frenética actividade das madraças não duvida da escalada clerical e dos constrangimentos sociais para fazerem da Turquia laica mais um Estado islâmico com os direitos, liberdades e garantias que o arcanjo Gabriel ditou a Maomé para serem impostos segundo a vontade de Alá.

8 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

Tolerância e ecumenismo

O arcebispo de Canterbury, Rowan Willians, líder espiritual dos anglicanos de todo o mundo, sugeriu ontem a adopção de alguns aspectos da lei islâmica, a sharia, no Reino Unido.

Quando o mais alto dignitário da Igreja anglicana apela à derrogação do Código Penal do seu País, para o deixar substituir, ainda que parcialmente, pelo exercício da violência teocrática para um grupo étnico específico, não é o respeito pelas culturas alheias que o move, é a vontade de restaurar o direito canónico da sua Igreja.

O Iluminismo e a revolução Francesa substituíram o direito divino pela vontade popular e criaram o Estado de direito contra os costumes ancestrais. Hoje, nas democracias, vale mais a Declaração Universal dos Direitos do Homem do que as verdades reveladas cuja aplicação faria as delícias dos trogloditas da fé.

O arcebispo de Canterbury não é uma piedosa alimária a quem os jejuns perturbem a mente, um beato analfabeto que saia da missa dominical aterrorizado com o juízo final, um solípede alucinado com a falta da ração. A sua insólita sugestão, que fez exultar os mullahs, é mais uma ameaça nascida nas alfurjas das sacristias onde germina a raiva à modernidade e floresce o ódio à liberdade.

Os líderes muçulmanos vieram logo dizer que não apoiam as decapitações, enforcamentos e lapidações, EM PÚBLICO, tão do agrado do Profeta. Contentam-se com a aplicação discreta e com a abolição desse modernismo hediondo que exige a igualdade entre homens e mulheres, uma conquista civilizacional de que Maomé nunca ouviu falar ao arcanjo Gabriel ao longo dos vinte anos que viajaram juntos entre Meca e Medina, até aprender de cor o Corão.

A tolerância manifestada pelo arcebispo anglicano é o mais violento ataque aos direitos, liberdades e garantias que as sociedades democráticas conquistaram. No ano passado o Reino Unido removeu o Holocausto dos currículos escolares porque ofendia os muçulmanos, que afirmam que o Holocausto nunca aconteceu.

Os ataques orquestrados à laicidade debilitam a democracia e comprometem o futuro da paz, perante a cobardia face à escalada da violência religiosa.

4 de Fevereiro, 2008 Carlos Esperança

As diversas faces do totalitarismo

Jorge Sampaio é o primeiro alto representante da ONU para o Diálogo das Civilizações, a convite do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon. Pode dizer-se que, pela sua cultura, humanismo, tolerância e capacidade diplomática, foi escolhido o homem certo para o lugar certo e, no entanto, subsistem as mais legítimas dúvidas sobre o êxito dos esforços.

O conflito de civilizações é um mito para esconder o carácter totalitário e o proselitismo das diversas religiões. Não se trata, pois, de estabelecer pontes entre quem aprecia carne de cão e os que preferem leitão assado, entre os que aprenderam a comer arroz com dois pauzinhos e os que precisam de uma colher para o transportarem do prato à boca.

 Não há qualquer conflito entre esquimós e índios, entre indianos e europeus ou árabes e americanos. Não são os usos e costumes que acirram ódios mas sim a vontade de Deus interpretada pelos profissionais da fé, sempre obstinados a converter ou exterminar.

Há hoje um anti-semitismo demente do Islão que o sionismo exacerba, uma islamofobia crescente e generalizada perante o terrorismo que nasce do ódio transmitido às crianças nas madraças e alimentado nas mesquitas aos adultos.

O que está em causa é o ódio entre religiões ou entre seitas da mesma fé, todas com o exclusivo do Deus verdadeiro e portadoras do único alvará da agência de transportes para o Paraíso.

Não são a cruz, o kipá, o crescente islâmico ou o véu islâmico a cobrir a cara que repelem as pessoas, embora sejam muitas vezes a afirmação da identidade e uma provocação ostensiva. O que verdadeiramente divide, intimida e agride é a exigência de cada um a que todos os outros se submetam à sua fé.

Só a separação Igreja/Estado pode assegurar a paz religiosa e a liberdade para todos os credos e para ausência deles e sobrepor a vontade humana livremente manifestada em eleições livres à vontade de Deus tirada de velhas cópias de um livro da Idade do Bronze, adulteradas pelos desejos e tradições tribais dos guardas dos velhos mitos.

3 de Fevereiro, 2008 Ricardo Alves

Liberdade para todos

O Tempo das Cerejas, Vítor Dias escandaliza-se com o reconhecimento estatal da Igreja da Cientologia.
Não percebo porquê. Tudo aquilo que descreve (aliciamento insistente, corte com os laços familiares, controlo da correspondência privada, redes de influência mundial, crenças extravagantes) é comum a outras organizações religiosas mais respeitadas, como o Islão, os mórmones ou a ICAR. É evidente que haverá diferenças de grau, entre todas estas seitas, quanto aos aspectos referidos, mas não há diferença de natureza. Os numerários do Opus Dei também têm a sua correspondência controlada. Jesus Cristo defendeu a ruptura dos laços familiares. E a crença de que Maomé falou com um «anjo» não é melhor do que a de que a ideia cientologista de que houve uma guerra galáctica há milhões de anos.
Ao contrário de Vítor Dias, não me preocupa particularmente que a Comissão de Liberdade Religiosa tenha dado parecer positivo ao reconhecimento da Igreja da Cientologia (se o deu). O problema é o Estado poder conferir esse reconhecimento, distinguindo as comunidades religiosas umas das outras, hierarquizando-as, e que o faça através de uma Comissão onde se sentam representantes de outras comunidades religiosas.
No meu entender, o melhor seria que o Estado não reconhecesse comunidade religiosa alguma. Existe o direito de associação e o direito de manifestação. Quem quer partilhar a sua «vida espiritual» com outros, pode portanto fazê-lo, dentro do quadro legal, sem necessidade de «reconhecimento» estatal da «especificidade» religiosa. E o Estado não pode negar aos cidadãos a liberdade de seguirem uma dada religião, nem pronunciar-se sobre a validade das crenças religiosas.
Ou será que a liberdade é só para os católicos e islâmicos, mas não para os cientologistas?

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

31 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

A Turquia e o véu islâmico

Todos conhecemos a obsessão divina pela roupa feminina e a preferência pelo homem, a ponto de ter feito este, primeiro, e dele, depois, uma espécie de subproduto, a mulher.

Claro que um santo doutor, Paulo de Tarso, certamente pela convivência com o criador, pôde desenvolver um fanatismo misógino que agradava a Deus e fazia as delícias dos homens a quem sempre o poder agradou. Não se pense que a mulher, cuja igualdade foi reclamada por homens corrompidos pelo Iluminismo e pela Revolução francesa e por mulheres que renegam os bíblicos ensinamentos da criação, não é também ambiciosa. Mas o que está em causa é o respeito pela vontade divina interpretada pela legião de profissionais que a estudam e promovem.

Foi a cópia grosseira e ampliada da misoginia judaico-cristã que levou os estudantes de teologia do Afeganistão à criação do ministério da Promoção da Virtude e da Prevenção do Vício.

À semelhança do que já se passa em terras cristãs, na Europa que julgávamos imune à tentação da convivência promíscua entre o Estado e as Religiões, na própria França onde Sarkozi pretende abolir a centenária lei da Separação, a Turquia ataca o laicismo.

O uso do véu não é apenas um desejo que as mulheres querem ver satisfeito quando os espíritos laicos não vêem que é a liberdade individual que está em causa, liberdade que qualquer bom muçulmano quer obrigatória.

Paulo de Tarso considerava o cabelo e a voz das mulheres coisas obscenas. Maomé, mais ousado, considera o corpo todo. É por isso que, num país que impôs o laicismo à força, se exige agora, para começar, a autorização do véu e, depois, a imposição da burka.

O véu islâmico não é um mero símbolo religioso, uma tradição que possa ser subvertida por um estilista, é o símbolo da humilhação da mulher, a condição imposta pelo Corão. A mulher é, como se sabe, propriedade do homem e um direito irrenunciável que agrada ao Profeta e dá imenso jeito aos homens que dele não abdicam.

Surpreende a cumplicidade dos países democráticos no regresso ao obscurantismo.

30 de Janeiro, 2008 Carlos Esperança

Reflexões sobre a fé

«É conhecido o ódio implacável que todos os sectários têm por todos aqueles que abandonam a sua seita». – Voltaire, in Tratado sobre a tolerância – pg. 60.

À semelhança das fadas e duendes deus podia ter sido uma ideia interessante mas tornou-se um pesadelo insuportável. As religiões encarregaram-se de tornar deus cada vez mais intolerante, cruel, vingativo e totalitário, um demente com horror ao sexo e obcecado por roupa feminina.

A fé seria suportável se as pessoas infectadas se limitassem a vivê-la sem tentarem contaminar os outros e deixassem de perseguir os que se curam ou trocam de enfermidade. É verdade que muitas religiões abandonaram os métodos expeditos de evangelização e os castigos que infligiam aos apóstatas mas não foi por benevolência da religião ou dos seus padres, foi porque o poder secular lhes pôr um freio.

A globalização em curso foi a campainha de alarme para o negócio da fé. Os mais devotos lançaram-se numa campanha de proselitismo onde todos os meios são válidos para manterem os feudos tradicionais e tentarem conquistar novas fatias no difícil mercado das almas. A ameaçadora inércia da tradição paira sobre as conquistas civilizacionais com a raiva beata em busca do retrocesso.

As perseguições religiosas e as guerras da fé, esquecida a crueldade de séculos de devoção e massacres, voltaram em força com legiões de fanáticos embrutecidos nos antros das confissões religiosas e, quanto maiores forem a violência e o medo, maiores se tornam a devoção e a raiva.

Em todos os tempos houve pessoas que fizeram o bem, não por serem crentes mas por serem boas; e muitas outras que fizeram o mal, não por serem más mas por serem crentes.

A luta entre a fé e a liberdade está aí, com boçais capazes de matarem e morrerem por um mito perigoso, com as religiões a semearem o medo e a guerra. Quanto mais santa for a guerra mais cruel será nos métodos e feroz na punição dos vencidos.

30 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

Horrorosa perseguição laicista à ICAR

«No passado dia 18 de Dezembro teve lugar a assinatura da Escritura de Doação de terreno urbano para construção de uma Capela e Centro Comunitário na Rua Palmira Sales, no Cintrão. (…) O Município doou o terreno, avaliado em €26.000, conforme tinha sido deliberado em reunião do Executivo Camarário, com a finalidade de ali ser construída uma Capela e um Centro Comunitário.» (Município do Bombarral)