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Categoria: Laicidade

23 de Outubro, 2008 Ricardo Alves

O sermão é uma arma

Quem se arroga a faculdade de enviar ingénuos para o «inferno» ou para o «paraíso» também, facilmente, se auto-atribui o direito de os induzir a votar num candidato ou noutro.
A eleição presidencial nos EUA não escapa a esta regra. Os relatos não param de chegar: ou é um bispo católico que escreve aos seus diocesanos aconselhando a votar contra o «abortista» Obama, ou uma igreja cristã que afixa um cartaz terrorista aconselhando o voto nos conservadores, ou ainda um pastor protestante que apela ao voto em McCain. Os exemplos abundam, até porque existe quem defenda activamente que as igrejas devem fazer política.
Deveria ser óbvio que a liberdade de expressão não inclui a prerrogativa de abusar do poder que se detém («espiritual» ou não), para influenciar a votar num ou outro sentido. A Associação República e Laicidade explicou isto mesmo há uns anos, e foi violentamente criticada. Mas estes sacerdotes eleiçoeiros, com tanto desespero em apelar ao voto em vez de confiarem em «Deus» para a vitória dos seus valores, parecem mais ateus do que eu…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
14 de Outubro, 2008 Carlos Esperança

Democracia e Religião

 

O Presidente da República, José Ramos-Horta, afirmou este fim-de-semana à Agência Lusa que “só um ateu ou um idiota governaria contra a Igreja” em Timor-Leste.

Esta confissão do presidente da República de Timor só pode ser compreendida à luz do fundamentalismo religioso e da capitulação do Estado perante a vocação teocrática dos dignitários eclesiásticos da religião dominante.

Estão ainda na memória as palavras autoritárias do bispo Ximenes Belo a dizer que em Timor nunca seria permitida a entrada de anticoncepcionais e, nem assim, alguém lhe perguntou por que razão nunca foi nomeado bispo titular de Díli.

A bomba demográfica compromete o desenvolvimento de Timor que não acompanha o ritmo reprodutivo do povo maubere e é responsável pelo desemprego que gera o caos e a violência no país onde o planeamento familiar é contrariado pela Igreja católica.

Um Estado nunca governa contra a Igreja, seja ela qual for, ou então não é democrático. Todos os crentes merecem igual respeito, quer acreditem que a Santíssima Trindade tem três pessoas ou trezentas, quer se virem para Meca ou insistam em derrubar o Muro das Lamentações à cabeçada.

O Estado deve ser neutro em questões religiosas e respeitar igualmente todas as crenças, descrenças e anti-crenças. Não há um método que permita diagnosticar qual é a religião verdadeira nem, qualquer uma, conseguiu provar a existência do seu deus.

Em democracia cabe ao Estado gerir o que é público e às religiões lidar com as crenças particulares. A promiscuidade entre a fé e a política só pode conduzir, a curto prazo, à opressão de um povo e, a longo termo, ao confronto entre a modernidade e a tradição.

Uma nação que começa a caminhar de joelhos demora a avançar de pé.

8 de Outubro, 2008 Carlos Esperança

Celebração do centenário da República

Não se discute hoje a superioridade do mérito sobre o direito sucessório, a legitimidade do sufrágio universal sobre a virtude da espécie e a bondade da democracia, comparada com o anacronismo da monarquia.

É verdade que a realeza resiste como ornamento museológico em países avançados onde os soberanos deixaram de ter súbditos e a corte não passa de atracção turística. Em Portugal finou-se a coroa com a morte de D. Manuel II, sem descendência.

Não vale a pena referir o que foi a ditadura de João Franco e o descalabro moral, cívico e financeiro que tornaram a República uma exigência ética e inevitável.

O trono e o altar estavam de tal modo abraçados que caíram juntos, asfixiados. Depois limitaram-se a conspirar sem êxito até se bandearem com a ditadura salazarista.

Portugal deve à República, sobretudo até 1917, um programa de modernidade que, no campo de ensino instituiu cinco anos de escolaridade que a ditadura havia de reduzir a quatro para o sexo masculino e três para o feminino. Foi a República que instituiu o divórcio, criou a lei da separação da Igreja/Estado, tornou o registo civil obrigatório e fundou o Estado laico.

É verdade que a República falhou objectivos e não conseguiu, por exemplo, tornar universal o sufrágio, mas não cometeu a infâmia de o reservar para os apaniguados onde se encontravam os monárquicos com as nobres excepções de Francisco Sousa Tavares, Barrilaro Ruas e poucos mais.

Surpreendente é ver integrar a «Comissão consultiva das celebrações do centenário da República» o bispo do Porto, Manuel Clemente, cujos pergaminhos republicanos se desconhecem. Não creio que seja pessoa para chamar Cristo-Presidente ao monumento de Almada, primeira-dama dos céus à virgem Maria, tão consistente como está na Igreja católica o paradigma monárquico.

Pode suceder que o bispo do Porto seja um republicano impoluto mas, à primeira vista, parece-me tão exótico o convite para ser consultor das celebrações da República como me pareceria insólito que a Igreja católica instasse um membro da Associação Ateísta Portuguesa a integrar uma comissão idêntica para o centenário das alegadas Aparições de Fátima.

4 de Outubro, 2008 Carlos Esperança

U.S.A. – Em defesa da laicidade

«Grupo de ateus e agnósticos processa George W. Bush por causa do Dia Nacional da Oração

Um grupo de ateus e agnósticos nos Estados Unidos processou judicialmente o Presidente George W. Bush, o governador do Wisconsin e outros responsáveis por causa de uma lei que designa um Dia Nacional de Oração. (Leia mais…)»

28 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Ordem dos Médicos – Finalmente acordou

Novo código deontológico permite que assistam ‘barrigas de aluguer’, mesmo que a maternidade de substituição seja prática vedada por lei. Aprovado na sexta-feira, o código deixa de condenar o aborto e dá mais voz aos doentes terminais que não querem viver a todo o custo.
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Comentário: Finalmente a OM reconheceu o anacronismo do código por que se regia.
26 de Setembro, 2008 Carlos Esperança

Hospitais da Universidade de Coimbra (2)

No convite feito pelo Conselho de Administração dos HUC a todos os funcionários para a comemoração do dia de S. Jerónimo, em que homenageia funcionários não podia faltar a Celebração eucarística por Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Coimbra (Capela dos HUC).

 

Subject: CONVITE do Conselho de Administração

Com os melhores cumprimentos,

__________________________________

Gab. Comunicação, Informação e RP dos HUC

Telef. 00.351.239.400.472  – Ext. Int. 15144

Fax 00.351.239.483.255

 

 

A Igreja católica, à medida que perde influência nos cidadãos, ganha poder nas instituições.

A infiltração de prosélitos nos mais altos cargos da Administração Pública tem conduzido ao esmagamento das outras religiões, ao desrespeito pelos livres-pensadores e ao ataque ao carácter laico das instituições do Estado.

Os Hospitais da Universidade de Coimbra tinham no projecto um espaço destinado aos crentes e não crentes onde, nas horas de tristeza, pudessem recolher-se para meditar ou rezar.

É um espaço amplo onde a Igreja católica, na sua gula insaciável, começou por colocar uma cruz, depois o patrono do hospital (santo certamente virtuoso) e finalmente reuniu a sagrada família. Hoje até a Senhora de Fátima jaz numa peanha a lembrar aos católicos que, se querem curas, é a ela que devem meter a cunha para o divino filho.

Há sessenta cadeiras e genuflexórios e, nos anexos, dois capelães ganham a vida a cuidar das almas. Os vencimentos dos eclesiásticos são pagos pelo Hospital. No fundo são médicos das almas sem necessidade de se submeterem a concursos públicos.

 

É um exagero falar de liberdade religiosa num hospital público onde o espaço de reflexão se transformou numa capela católica, onde os crucifixos sobem pelas paredes das salas de consulta, fixados com adesivo, onde o período de visita aos doentes é interrompido para a comunhão aos doentes e rezas de orações.  

 

Como se vê, os membros do Conselho de Administração do H.U.C. não têm o sentido da ética republicana, confundem funções públicas com devoções privadas, desconhecem a neutralidade religiosa a que os agentes do Estado são obrigados e preferem pôr-se de joelhos a viver de pé.

11 de Setembro, 2008 Ricardo Alves

ICAR depende do Estado – é um bispo quem o diz

É o próprio Carlos Azevedo, porta-voz da conferência episcopal portuguesa, quem reconhece que a assistência social que a ICAR realiza depende do Estado. No fundo, dá razão ao que sempre dissemos aqui no Diário Ateísta: que o apoio social que a ICAR presta só existe porque o Estado o paga.

Portanto, quando os católicos quiserem encher o peito com a «caridade» católica, pensem duas vezes: é caridade com o dinheiro dos outros…