BOM DOMINGO!
Embrenhar Pelos Ouvidos…
De onde vem a expressão que dá nome ao ato de alguém acreditar piamente na primeira conversa que lhe contam, sem questionar a veracidade da mesma,nem tentar ouvir as outras versões de uma mesma estória; e ainda, repassar informações sem rever?
Conta a história que na noite de 23 de dezembro do ano de 428, Procus, arcebispo de Constantinopla, em sermão proferido na presença do patriarca Nestorius, declarou que Jesus Cristo teria entrado no seio da Virgem Maria e dele saído por via auditiva.
Literalmente, assim ele se pronunciou: Le Christ est sortie du sein de la Vierge comme il y est entré, par l’ouïe – O Cristo saiu do seio da Virgem como entrara, pela via auditiva.
Ao adotar essa singularíssima concepção, desde o século 18 a Igreja dá para perceber o raio luminoso do Espírito Santo caindo sobre a orelha esquerda da Virgem-Mãe, fecundando-a….
Vem de longe, portanto, essa incrível lenda, tanto assim que atravessou o milénio e, até recentemente, a maioria das religiosas, freiras e monjas conservavam as orelhas ocultas por toucas, defendendo o seu estado “donzelil” e assim evitando uma fecundação sobrenatural por meio de emanações, sonoridades e sopros, sine concubitu, sem coabitação.
Na atual linguagem popular, aquele que forma julgamento atendendo unicamente às informações orais, desacompanhadas de provas concludentes e positivas, diz-se que se emprenha pelos ouvidos.
Muita gente, aliás, na pureza de sua ingenuidade, entra pelo cano ao aceitar o aparentemente inaceitável.
Todo cuidado é pouco…
Cuidado com a cera nos ouvidos…
Sumo Pontífice respondeu a perguntas dos superiores de ordens religiosas e congregações de religiosos que serão publicadas na revista Civiltà Católica. Francisco abordou temas como o uso do cilício e os abusos sexuais na igreja.
Fernanda Câncio, in DN
«O Tribunal Constitucional já declarou por duas vezes a inconstitucionalidade do carácter obrigatório da disciplina de Religião e Moral católica nas escolas públicas. Fê-lo em 1987 e de novo em 2014, a propósito de um diploma do Governo Regional da Madeira que, como o do Governo da República de 1983, assumia o silêncio dos encarregados de educação como aquiescência em relação às aulas daquela disciplina – era a chamada obrigatoriedade “por defeito”.»
Continue a ler este artigo em defesa da laicidade.
(Enviado por Casa do Oleiro)
Quando o ceticismo se torna mais ameaçador para a religião, é frequente serem evocadas medidas fortes de prevenção. Uma das mais eficazes é também uma das mais transparentes: a velha mentira diabólica. O termo fala da propensão putativa do «Pai da mentira» para aparecer como o seu próprio oposto. É, quase literalmente, um jogo de espelhos e, como muitos bons truques de magia, é tão simples que se torna difícil acreditar que alguma vez pudesse resultar.
Ei-la: “Se alguém, alguma vez, levantar questões ou objeções sobre a vossa religião a que não possais responder, essa pessoa é, quase com certeza, Satanás. De facto, quanto mais razoável a pessoa for, quanto mais tentar envolver-vos numa discussão aberta e simpática, tanta maior certeza podereis ter de que estais a falar com Satanás sob um qualquer disfarce! Afastai-vos! Não a escuteis! É uma armadilha!”
Se eu decidisse planear uma religião falsa, incluiria com toda a certeza uma versão desta pequena pérola – mas teria dificuldade de dizê-la com um ar sério.
O que é particularmente engraçado neste truque é o facto de ser uma surpresa perfeita, tão carente de conteúdo que qualquer seita, credo ou conspiração pode usá-la eficazmente.
Texto retirado do livro de Daniel C. Dennett “Quebrar o feitiço”.
Discutir um problema, que exige reflexão e levanta dúvidas, com certezas derivadas de preconceitos e a intolerância herdada do maniqueísmo judaico-cristão, é mau caminho.
Há quem defenda a pena de morte e, simultaneamente, seja contra a eutanásia e, no lado oposto, quem seja contra a pena de morte e defenda a eutanásia, sem quaisquer reservas.
A melhor maneira de centrar a discussão sobre o tabu, mais ideológico do que racional, é conhecer a legislação dos países que a aplicam, as circunstâncias em que é permitida e a experiência adquirida.
Conhecidas posições antagónicas entre juristas, crentes, ateus e políticos da mesma cor, é fácil concluir que as posições irredutíveis são pouco racionais, incluindo as católicas, coerentes, mas destinadas a ganhar as primeiras batalhas e a perder a guerra.
A inviolabilidade da vida humana não é sinónimo de imposição nem incompatível com a decisão individual de a findar ou de a solicitar sem que a piedade seja criminalizada.
Entendo que os direitos individuais não devem ser referendáveis e que há situações em que a elementar humanidade não pode impor a perpetuação do sofrimento, em nome de uma crença, quando é irreversível a agonia e intolerável o sofrimento.
Penso mesmo ser arrogância querer impor a quem não acredita ou a quem, acreditando, não suporta o ónus de continuar a existir, as posições ditadas por uma crença do foro privado.
É obrigação do Estado defender os cidadãos de atos criminosos e da eventual má fé de quem, na incapacidade, os represente, mas é inimaginável que a Segurança Social, os médicos, herdeiros, e companhias de seguros se conluiem para lhes abreviar a morte.
É urgente divulgar a legislação dos países que nos precederam para reflexão pública.
O Governo austríaco decidiu proibir o véu integral nos espaços públicos e limitar o uso de símbolos religiosos aos funcionários públicos, para garantir a neutralidade do Estado e impedir certas campanhas de proselitismo salafista.
O preâmbulo da decisão legal, justifica as medidas governamentais tomadas em Viena.
“Acreditamos numa sociedade aberta que também se baseia na comunicação aberta: os véus integrais nos espaços públicos opõem-se a isso e, portanto, serão proibidos”.
A medida faz parte de um pacto entre social-democratas e conservadores e abrange um amplo leque de reformas, com medidas económicas, educativas e de segurança para favorecer a integração. Esta foi a resposta à extrema-direita que pretendia a proibição do Corão.
Vem a propósito recordar que, em 19 de maio de 2016, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos indeferiu o recurso de Zoubida Barik Edidi, advogada muçulmana a quem a Audiência Nacional impediu de sentar-se no Tribunal com o lenço islâmico (hijab) que se recusou a tirar durante um julgamento por terrorismo islamista, em outubro de 2009.
O desafio prosélito à laicidade do Estado é uma provocação antidemocrática recorrente, tão inaceitável como a proliferação de senhoras de Fátima nas enfermarias do Hospital de Coimbra.
A tibieza dos Estados e o contubérnio com religiões assumidas como maioritárias levam ao abuso de outras religiões, mais danosas e violentas, e criam o húmus onde florescem os extremismos políticos num mimetismo a que urge pôr cobro.
Fonte: El País de 31de janeiro.
Em entrevista à edição de hoje do jornal ‘L’Osservatore Romano’, o secretário da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada (Santa Sé) frisou que, apesar de uma parte dos religiosos abandonar os hábitos “para casar”, a primeira causa para o abandono é “a perda da fé”, são as “questões espirituais”.
“Entre 2015 e 2016 tivemos cerca de 2300 abandonos, incluindo 271 decretos de demissão de institutos, 518 despensas do celibato concedidas pela Congregação para o Clero, de 141 sacerdotes religiosos incardinados em diferentes dioceses e 332 dispensas de votos de religiosas contemplativas”, explicou D. José Rodríguez Carballo.
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