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14 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Na revista Sábado on line (FB)

O presidente da Associação Ateísta Portuguesa, Carlos Esperança, sujeitou-se à penitência, como o próprio a classificou, e assistiu à visita do papa Francisco a Fátima

Não veio como chefe do único Estado sem maternidade, veio, nas suas palavras, como peregrino, mas aguardavam-no as genuflexões pias e os beiços ávidos do beija-mão, de crentes ilustres movidos pela fé e pelos vídeos promocionais do PR e de Zita Seabra.

O avião papal percorreu o espaço aéreo nacional escoltado por dois caças da F.A., quiçá para provar aos incréus que o céu existe, porque nele circulam aves, insetos e aeronaves, mas não há registo da navegação aérea da Sr.ª de Fátima, criada pelo clero português, há um século, contra a República.

Carlos Esperança
Carlos Esperança

O Papa Francisco, enviado da Cúria, trouxe os diplomas de canonização de Francisco e Jacinta, que, depois de longa defunção, obraram em joint venture o milagre da D. Emília de Jesus, a entrevadinha que morreu totalmente curada, seis meses depois. Impondo a canonização dois milagres, não se furtaram os defuntos a curar uma criança com “perda de material cerebral” que, depois de transportada “ao hospital, em coma, foi operada”, no Brasil, e os médicos disseram que, “caso sobrevivesse, viveria em estado vegetativo ou, no máximo, com graves deficiências cognitivas”. Valeu-lhe o pai. Pediu à Sr.ª de Fátima e aos pastorinhos a cura do Lucas, caído de 7 metros de altura. Curou-se em três dias. É o troféu dos defuntos que, para as canonizações, careciam do milagre como os diabéticos de insulina para a doença.

Não havendo na Cova da Iria infraestruturas para aviões, requisito desnecessário para a Virgem, o CEO da multinacional da fé católica, aterrou no aeroporto de Monte Real, a 54 km da sucursal.

O Papa deixou uma mensagem à tripulação do avião que o trouxe: «Esta viagem é algo especial, uma viagem de oração de encontro com o Senhor e com a santa mãe de Deus», mas quem encontrou na Base Aérea de Monte Real foi o PR, incapaz de se conter no beija-mão, o presidente da AR e o PM.

Às 17H10, após cumprimentar a referida trindade e outros dignitários da República, fez uma visita à capela da Base Aérea e um curto rali de saudações e beijos. Esperava-o um helicóptero, para voar baixinho e surgir em Fátima, onde era aguardado por centenas de milhares de crentes em apoteose, alguns, com calos nos joelhos, outros, com bolhas nos pés, e todos em êxtase pio, com os olhos no céu, à espera do Papa.

A chegada de Francisco a Fátima foi a 5.ª aparição de um Papa, depois das de Paulo VI, há 50 anos, de João Paulo II (2), reincidente, e de Bento XVI, todas bem documentadas, ao contrário das que, em igual número, ocorreram numa azinheira local, para gáudio de três crianças, em que só uma via e ouvia, visões que, sucessivamente alteradas, revistas e aumentadas, se converteram em aparições.

Eram 17h40 quando os três helicópteros que levaram o Papa e a sua comitiva até Fátima sobrevoaram o céu do Santuário (o céu existe), antes de aterrarem no estádio da cidade. Depois, foi a viagem em papamóvel por entre a multidão ansiosa de o ver, como se na passagem do homem estivesse Deus a acenar aos crentes.

Às 18H30, entregou ao santuário a terceira Rosa de Ouro e dirigiu-se aos peregrinos na língua da Senhora de Fátima. Foi um deslumbramento.

O Papa rezou, abençoou os peregrinos e retirou-se do santuário cerca das 19 horas, para voltar duas horas depois e presidir à procissão das velas, um popular evento da liturgia, abrilhantado este ano pelo «hino do centenário das aparições». Rezou de novo e falou aos peregrinos de um santuário repleto de gente, fé e velas acesas.

Os crentes rezavam e cantavam, excitados pela presença do Papa, quando este se retirou às 23 horas, farto ou cansado, sem lhes falar de novo. Kitsch de Joana de Vasconcelos, o enorme e rutilante terço continuou a iluminar os peregrinos, abatidos com a ausência do Papa, e que rezavam na procissão que se prolongou mais um quarto de hora.

O cronista, considerando que ia longa a sua penitência, refugiou-se em leituras profanas. Escolheu Aquilino e releu algumas páginas de «Andam Faunos pelos Bosques», para se ressarcir do castigo que aceitou.

Voltou hoje, dia 13, antes das 10H00, para as canonizações de Francisco e Jacinta, um inédito privilégio de outorga ao domicílio, e corresponder ao amável convite da revista Sábado. E ia pensando no estranho sortilégio da bênção das velas normais que, ontem, graças aos sinais cabalísticos do Papa, se transformaram em velas benzidas.

Os pastorinhos, bem-aventurados a quem foram concedidos alvarás para obrar milagres, já eram beatos com a cura da D. Emília, e tinham direito a culto nacional. Foi a criança brasileira, em prejuízo de amputados da guerra colonial, que vão anualmente a Fátima e não recuperam os membros perdidos, quem lhes permitiu serem criados santos ou, em linguagem profana, obterem o diploma de canonização e poderem ser cultuados em todo o mundo católico. Que pena continuarem defuntos e não assistirem à grandiosidade da festa pia que lhes reservaram, eles que, em vida, apenas tiveram refeições decentes num dia 13 em que o administrador do concelho de Ourém os levou a almoçar com os filhos, a sua casa, e perderam uma aparição programada.

Às 10H00, teve início a eucaristia de celebração do que os créus e a comunicação social designam por Centenário das Aparições. Começou, aliás, com a canonização de Jacinta e Francisco Marto. Francisco, o Papa, começou por proclamá-los santos e anunciar a sua inscrição no catálogo dos santos da Igreja católica. Os crentes romperam em aplausos. Foi um orgulho para a Pátria e um deleite para os fiéis.

Depois da missa, a bordo do papamóvel, o Papa fez um novo rali de beijos e saudações, desceu do veículo para beijar uma deficiente e dirigiu-se à Casa de Nossa Senhora do Carmo para almoçar com os bispos. O Papa é santo por profissão e estado civil, mas não é como Alexandrina Maria da Costa, a santinha de Balasar, que passou os últimos treze anos e sete meses finais da vida em jejum total e anúria (apenas tomava a comunhão).

Findo o almoço, o Papa Francisco começou a repetir a viagem em sentido inverso com a coreografia prevista. Lá fora, o mundo quase não deu pela visita do Papa a Portugal.

Falta agora enriquecer o catálogo dos santos com Lúcia e Alexandrina cujos milagres já estão encomendados.


13 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Aconteceu

13 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Podia ter acontecido

Antes isto do que aquele  do que o ósculo ao Papa que humilhou a República e comprometeu o seu carácter laico.

13 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Aconteceu

– Vais a Fátima?

– Não, não preciso

– ?????

– Não sou pecador.

12 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP) – Comunicado

Fátima: o centenário de um embuste

Quando a Igreja católica distribui veneras a título póstumo, à semelhança dos Estados, é uma decisão que não merece reparo e apenas diz respeito aos crentes, mas quando o pretexto insiste no desafio à inteligência e ao bom senso, é uma boa razão para o combate ao obscurantismo e à superstição, implícitos nos milagres.

No início do século XX houve várias tentativas para encenar um espetáculo, copiado de Lourdes, contra a República. Em 1917, numa zona rural recôndita, foi possível fanatizar três crianças analfabetas com o catecismo terrorista da época e usá-las na raiva contra o Registo Civil obrigatório, o divórcio e a lei da Separação da Igreja e do Estado.

Em 13 de maio de 1917 foi ensaiado o circo contra a República, usando como fetiche o número 13 e o rosário como amuleto. Em cada dia 13 repetiu-se o teatrinho até ao mês de outubro. Bailou o Sol, saltitou nas azinheiras a Senhora de Fátima, o avatar lusófono da de Lourdes, poisou na Cova da Iria o Anjo de Portugal e as crianças foram repetindo o que o padre doutrinava, enquanto a Igreja comprava os terrenos para o negócio pio.

Em 1930, quando a ditadura clerical-fascista estava em marcha e a Lúcia levava quase uma década de cativeiro, com a Jacinta e o Francisco mortos, a ‘mensagem’ de Fátima virou-se contra o comunismo e para a conversão da Rússia (URSS?). Os ‘segredos’ que alimentaram o medo das populações, embrutecidas pelo primarismo da fé, acabaram de forma pífia com o último a ser apropriado por João Paulo II, convencido de que era, ele próprio, o protagonista, e de que a Senhora de Fátima, em vez de o ter poupado ao tiro de pistola, lhe havia guiado a bala no trajeto através do corpo perfurado.

Implodido o comunismo, Fátima virou-se contra o ateísmo e em 2008 o cardeal Saraiva Martins, vindo do Vaticano, presidiu à peregrinação do 13 de maio, sob o lema “contra o ateísmo”. Foi o ano da criação da Associação Ateísta Portuguesa (AAP).

Depois do milagre da D. Emília dos Santos, agora em nova joint venture, já com a ajuda da defunta Lúcia, os pastorinhos obraram outro milagre: curaram uma criança brasileira com “perda de material cerebral” que, depois de transportada “ao hospital, em coma, foi operada” e os médicos disseram que, “caso sobrevivesse, viveria em estado vegetativo ou, no máximo, com graves deficiências cognitivas”.

Bastou o pai pedir a cura à Senhora de Fátima e aos pastorinhos para ficar sem sequelas, em três dias, e recuperada para vir a Fátima como troféu dos defuntos, que necessitavam do milagre para a santidade programada.

Em Portugal, vítima da superstição e da ignorância, a conferência de Antero de Quental sobre as ‘Causas da Decadência dos Povos Peninsulares’ precisa de ser divulgada.

A Associação Ateísta Portuguesa reprova a cumplicidade dos mais altos representantes da República, a tolerância de ponto aos funcionários públicos e a presença de cadetes fardados no transporte do andor da Senhora de Fátima, na procissão das velas.

A laicidade, imolada no altar da superstição pia, caricatura o Estado laico e desprestigia as instituições.

Odivelas, 12 de maio de 2017.

12 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Infernos não faltam

Diário de uns ateus, sem de rever na crença em Deus, de um frade católico, entende que há diferenças entre um crente inteligente e os talibãs romanos.

Por isso, aqui fica um texto de

Frei Bento Domingues

(in Público – 30 de Abril de 2017)

«Fátima dá uma imagem do catolicismo português que não corresponde à reforma desencadeada pelo Papa Francisco. Falta-lhe ser o centro da nossa evangelização.

1 – Pesadelos do Inferno, evidências do Purgatório e tristezas do Limbo faziam parte da paisagem religiosa da minha infância. As Alminhas do Purgatório habitavam em dois nichos na minha aldeia. Suscitavam devoção e reciprocidade: “Vós, que ides passando, lembrai-vos de nós que estamos penando.” As pessoas lembravam-se e, para tudo o que precisavam, a elas recorriam, sabendo que aliviavam as suas penas. Em favor delas não podiam fazer nada, mas, quando invocadas com promessas cumpridas, eram uma fonte de graças para todas as ocasiões. Não desempregavam Santo António ou S. Bento da Porta Aberta, mas estavam mais à mão. As esmolas que recolhiam serviam para mandar dizer missas pelas mais abandonadas.

Eram Alminhas pintadas. Um dos nichos ficou muito estragado e foi pedido a um habilidoso de muitas artes, que periodicamente passava por lá, para o repintar. Perguntou: querem ver as Alminhas a irem para o céu ou a continuarem no Purgatório? É claro, a irem para o céu. Veio um Inverno rigoroso e a pintura desapareceu. O pintor não aceitou a queixa acerca da má qualidade das tintas. Tinham ido todas para o céu.

O Inferno era outra história. Por tudo e por nada, uma mãe zangada com os filhos (ou até com o gado), juntamente com um palavrão, exclamava: metes-me a alma no Inferno! Não era grave. Grave, muito grave, eram os sermões de preparação para o “confesso”: quem não confessasse, com todas as circunstâncias, os pecados mortais e morresse nessa situação, ia direitinho para o Inferno. A alma caía num lago de fogo, atiçado por uma multidão de diabos feios e maus e nunca mais de lá saía. O relógio infernal repetia “sempre, nunca”: aqui entraste, aqui ficas e daqui nunca sairás!

O Inferno era eterno, mais eterno que o infinito amor de Deus que nada podia fazer contra essa Instituição. O diabo tinha vencido o Anjo da Guarda e o próprio Deus.

Para as pessoas de bom senso, não havia lenha para tanta eternidade nem alma que aguentasse tanto fogo! Um bom caminho para a descrença: um deus que fabrica tais enormidades é inacreditável.

O Limbo, nem triste nem alegre, para onde iam as crianças que morriam sem baptismo, era o além mais povoado, não passava de um eterno aborrecimento. Bento XVI encerrou-o sem protestos.

2 – Voltei a ler as Memórias da Lúcia de Jesus. O que diz acerca do Inferno não excede o que também eu ouvi em criança: “Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saiam, juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas em os grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor. Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes e negros.” [1] Como sugestão para um filme de terror, não está nada mal. Diz a Lúcia que a Jacinta perguntava: “Porque é que Nossa Senhora não mostra o inferno aos pecadores? […] Às vezes perguntava ainda. Que pecados são os que essa gente faz para ir para o inferno? Não sei, talvez o pecado de não ir à Missa ao Domingo, de roubar, de dizer palavras feias, rogar pragas, jurar. E só assim por uma palavra vão para o inferno? Pois! É pecado. Que lhes custava estar calados e ir à Missa? Que pena que eu tenho dos pecadores, se eu pudesse mostrar-lhes o inferno!” [2]

Passando da Terceira para a Quarta memória, há revelações curiosas. “Então Nossa Senhora disse-nos: não tenhais medo, eu não vos faço mal. De onde é vossemecê? Sou do Céu. E que é que vossemecê me quer?, lhe perguntei. Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora, depois direi quem sou e o que quero. Depois voltarei aqui uma sétima vez. E eu, também vou para o Céu? Sim, vais. E a Jacinta? Também. E o Francisco? Também, mas tem que rezar muitos terços.

“Lembrei-me então de perguntar por duas raparigas que tinham morrido há pouco, eram minhas amigas e estavam em minha casa a aprender a tecedeiras com minha Irmã mais velha. A Maria das Neves já está no Céu? Sim, está. Parece-me que devia ter uns 16 anos. E a Amélia? Estará no Purgatório até ao fim do mundo. Parece-me que devia ter 18 a 20 anos. Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores? Sim, queremos. Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.” [3]

3 – Nossa Senhora mostrou que era uma pessoa muito organizada e pouco supersticiosa com o dia 13. Estou um bocado desapontado com a pouca originalidade das suas revelações e pedidos. Por tudo o que li, parece-me que os Pastorinhos levaram para os locais do seu pastoreio o que rezavam em família, o que aprendiam no catecismo e nas pregações. Deviam ser crianças bastante impressionáveis. A revelação mais extraordinária é, também, a mais incrível: não bastando à Amélia ter sido violada, vir de Nossa Senhora a afirmação de que ficaria no Purgatório “até ao fim do mundo”, é de mais. Isso não se faz!

A edição crítica das Memórias de Lúcia de Jesus, as investigações históricas já realizadas e em curso, vão oferecer um panorama da vida e religiosidade da freguesia de Fátima que irão atenuando os delírios acerca destes fenómenos nomeados como aparições ou como visões.

11 de Maio, 2017 Carlos Esperança

Fátima

Confirma-se a concessão dos alvarás de santos a Francisco e Jacinta, depois de aprovados os 2 milagres obrados em joint venture.

O Papa não vem como chefe do único Estado sem maternidade, vem como estafeta da Cúria entregar os alvarás de santos de Francisco e Jacinta.

Francisco vai aparecer do Céu, em Fátima, mas, contrariamente à Senhora de Fátima, conhece-se o meio de transporte e o combustível usado.