Não lamentaria o fim das religiões, mas magoar-me-ia que um só crente, qualquer que fosse o seu deus, acabasse molestado. Considero as religiões, todas as religiões, falsas e prejudiciais, mas não imagino que a sua ausência tornasse os povos mais felizes e mais racionais os crentes.
Sendo o mundo o que é e as pessoas como são, porque são moldadas no berço e sofrem os constrangimentos das sociedades onde vivem, seria ótimo se houvesse um módico de racionalidade a suavizar o proselitismo que devora os crentes mais exaltados.
É ocioso referir a crueldade e sofrimento provocados por suicidas que morrem e matam a gritar que “deus é grande”, à espera do ror de virgens e de rios de mel doce que julgam à espera, depois da imolação insana.
O bando de cruzados mentirosos que agrediu o Iraque originou uma tragédia que devia arrepiar os cúmplices de Bush, Blair, Aznar e Barroso. A comunidade de cristãos de 4,5 milhões de crentes que, em 1950, vivia no Iraque, desde o século I d.C., está reduzida a cerca de 200 mil, com tendência a extinguir-se.
O protestantismo evangélico pretende o domínio dos aparelhos de Estado no continente americano e trava uma guerra impiedosa com o islamismo wahabista, pelo controlo de África, na região do Sahel. A violência sionista do judaísmo e o primarismo católico das Filipinas, onde jovens se crucificam na Páscoas cristã, não abrandam.
A atual deriva nacionalista do hinduísmo adicionou a xenofobia à divisão em castas e à humilhação das viúvas que voltaram a casar. Pretende o extermínio dos muçulmanos na Índia, o país das duas comunidades, e alimenta tensões com países vizinhos.
Quase desconhecida é a ferocidade do monge budista Ashin Wirathu, a face mais cruel do terrorismo budista, apelando à limpeza étnica dos 4% da população da Birmânia, que professa o islamismo, assim como a xenofobia manifestada no Sri Lanka ou o ódio entre conventos budistas e, dentro dos conventos, entre os seus monges.
A violência conventual da exótica teocracia monástica do Monte Athos cuja misoginia proíbe o acesso de mulheres e de quaisquer animais fêmeas, é a tendência universal das crenças que o medo da secularização e do livre-pensamento torna intolerantes e cruéis.
É este caldo de cultura que está à solta com a cumplicidade dos Estados que apregoam a separação do Estado e das Igrejas, mas, na prática, traem a laicidade e conluiam-se com o clero que exibe as vestes pias nas cerimónias seculares.
Há 51 anos a inauguração da ponte, que hoje se chama «25 de Abril», tinha como atração as rendas e as vestes talares que o Portugal de Abril não conseguiu erradicar das cerimónias laicas e republicanas.
A solidão é o cimento que cola o abandonado à fé, torna o proscrito crente, faz beata a pessoa e transforma o cidadão num trapo.
A religião é o colchão que serve de cama ao desamparado, o mito que se entranha nos poros do desespero, o embuste a que se agarra o náufrago. É o vácuo a preencher o vazio, o nada que se acrescenta ao zero.
O padre está para a família como o álcool para o corpo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se e finalmente domina.
A religião é um cancro que se desenrola dentro das pessoas e morre com elas. Também metastiza e atinge órgãos vitais. Mas é dos joelhos que se serve, esfolando-os; da coluna vertebral, dobrando-a; e do cérebro, atrofiando-o.
A religião busca o sofrimento e condena o prazer. Preza o mito e esquece a realidade.
Um crente faz o bem por interesse e o mal por obrigação. É generoso para agradar a Deus e perverso para o acalmar. Dá esmola para contentar o divino e abate um inimigo para ganhar o Paraíso.
A religião vive da tradição, do medo e da morte. Começa como doença infetocontagiosa contraída na infância, transmitida pelos pais, através do batismo. O lactente é levado ao primeiro rito mais depressa do que às vacinas.
Depois, o medo, o medo da discriminação na escola, no emprego e na sociedade, leva a criança à catequese, à confirmação, à eucaristia e à penitência. De sacramento em sacramento, missa após missa, hóstia sobre hóstia, com orações à mistura e medo do Inferno, transforma-se um cidadão em marionete nas mãos do clero.
Na cúpula do catolicismo temos o Vaticano, um antro de perversão a viver à custa dos boatos sobre o filho de um carpinteiro de Nazaré e os milagres obrados por cadáveres de crentes de duvidosa virtude, à custa de pesados emolumentos.
O seu negócio é a morte que explora em ossos ressequidos pelo tempo, caveiras, tíbias e maxilares, pedaços de pele e extremidades de membros, numa orgia de horror e delírio.
É assim que a tradição, o medo e a morte continuam a encher os cofres do último Estado totalitário da Europa, que governa pelo medo e se mantém pela chantagem.
A raiva saudita.
14 jovens serão decapitados na Arábia Saudita por se manifestarem contra a monarquia. Entretanto, as potências que são parceiras comerciais deste regime têm um silêncio cúmplice.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.