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26 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

João César das Neves terá medo de que a despenalização do aborto tenha efeitos retroactivos?

João César das Neves (JCN) no Diário de Notícias de hoje revela, em relação ao aborto, a mesma compreensão que um talibã reserva para a carne de porco.

Qualifica-o de «infâmia suprema», maior (porque é suprema) do que os churrascos da Inquisição, assustado com a luta pela despenalização que sabe imparável.

A serem verdadeiros os fins de que é acusada a “clínica” de Aveiro implicada no julgamento que tanto incomoda JCN presta um serviço público que a falta de enquadramento legal remeteu para a clandestinidade, a fuga ao fisco e a especulação. Não se discute a acção policial mas a iniquidade da lei que criminaliza o aborto e que é urgente revogar.

A despenalização do aborto (1984) nas situações que a lei já consagra não provoca hoje, em Portugal, um simples vagido de piedosa intolerância quando, na primeira discussão e votação no Parlamento, a direita queria obrigar mulheres violadas a conceber, os fetos com graves deficiências a completar a gravidez e nem o perigo de vida da mãe lhes arrefecia os ímpetos persecutórios. Se pudessem substituir o direito civil pelo direito canónico tê-lo-iam feito com o argumento de que a alma está primeiro.

Proibir aos crentes a prática do aborto é um legítimo direito da ICAR, direito de que carece para impor uma lei que persegue as mulheres que, quantas vezes em situações dramáticas, a ele recorrem. O Estado é laico, ainda que alguns governantes o ignorem. Tão iníqua como a lei que criminaliza só outra que obrigue à sua prática, como acontece na China e aconteceu na Índia.

É urgente alterar a lei para que um problema de saúde pública não seja transferido para a esfera dos tribunais através da repressão policial. Para que no combate à ilegalidade se não torne ainda mais dramática uma gravidez indesejada. Para que não volte a ser notícia um parto escondido na casa de banho.

26 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

A sexualidade e a hipocrisia da ICAR

Enquanto a igreja católica vir na sexualidade apenas vergonha e pecado, os crimes sexuais cometidos pelo seu clero atingem uma violência insuportável.

A castidade é uma regra à espera de ser violada, entre duas orações ou após uma ladainha, lamentavelmente da forma mais torpe.

Quem leu a “A vida sexual do clero” de Pepe Rodriguez – Publicações Don Quixote. Ed 1996 não se surpreende com a onda de devassidão que grassa entre o clero. Em Portugal, onde os silêncios são mais pesados que os escândalos, ninguém se atreve a espreitar os piedosos lençóis onde se lê o breviário e se faz o sinal da cruz.

Mas, de vez em quando, chegam ecos de manhãs submersas no silêncio e na impunidade dos seminários. Hoje mesmo Licínio Lima, no Diário de Notícias (site indisponível) transcreve palavras do antigo director do semanário Expresso das Nove, nos Açores: «Eu próprio testemunhei os mais diversos abusos sexuais durante os nove anos em que estudei no seminário do Santo Cristo, em Ponta Delgada, e no seminário episcopal de Angra do Heroísmo». E prossegue: «Tantos colegas – queridos colegas – que vi transformados em tenros objectos eróticos nas mãos de padres – amigos homens solitários, desprovidos de afecto, tal como as crianças que os rodeavam, sedentas de atenção e carinho, a quem eles padres correspondiam com gestos voluptuosos à noite, nas camaratas – cheias de queridos colegas – quando as luzes se apagavam e eles vinham como “grandes mães” vestidas de negro abeirar-se das camas dos seminaristas para os consolarem com as suas carícias, sob os pijamas, sob os lençóis!…».

Não admira, pois, que o padre Arrupa – continuo a citar Licínio Lima – tenha sido enviado para o Canadá depois de ter referido como homossexuais «bispos e padres, acólitos e catequistas, leitores e ministros da eucaristia» para vir assumir a sua própria homossexualidade «…nasci assim e assim tenho de me amar para poder, também, amar os outros».

A catadupa de milagres deste pontificado – manifestação da doença senil do catolicismo romano – é uma forma de distrair as atenções.

26 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Descobertos

A nossa operação foi descoberta pela Voz do Deserto, blog cristão de poucas linhas mantido por um amante de Kurma de Borrego e leitor das orações de teor universalista da irmã L.

25 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Ser usado

Fiz hoje a minha primeira incursão no blog religioso Palavras que voam … e deparei-me com um post intitulado Ser usado por Deus…, que fazia a apologia deste uso só que, para isso, teríamos de estar na sua (de Deus, acho) dependência.

Lembrei-me de várias coisas. Uma que me fazia lembrar de rapazinhos ajoelhados em escuras e húmidas sacristias a aprenderem o significado da citação “vinde a mim as criancinhas”.

Outra, mais profunda, sobre o livre-arbítrio. Se se é usado por alguém (ou deus) esta característca essencial ao Homem esfuma-se, ser instrumento de qualquer vontade, divina ou não, tira a dignidade a qualquer pessoa. Marionetas, se Deus existisse, seríamos marionetas nas mãos de um velhote aborrecido com tendências masoquistas.

Enquanto ateia, a minha autonomia é tudo. Não ser usada por ninguém, a não ser pelos meus ideais, pela minha vontade, é o que me individualiza. Claro que isto acarreta a auto-responsabilidade pelos nossos actos. Quando acreditamos em algo superior, podemos sempre descartar essa responsabilidade para alguém.

25 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Triangularmente divino

Lembrei-me de uma frase muito gira de Montesquieu:

“Se os triângulos fizessem Deus, faziam-no com três lados.”

25 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Em Coimbra há mais respeito pela Ir. Lúcia do que pela ortografia

Em Coimbra toda a gente sabe onde está reclusa a Ir. Maria Lúcia de Jesus do Sagrado Coração, aquela a quem a Senhora de Fátima ensinou o truque para combater o comunismo – rezar o terço – mas poucos sabem que há uma sapataria que faz concertos.

Por isso divulgo esta fotografia, tirada na Praça Machado de Assis, do prédio de gaveto das Ruas Machado de Castro e Virgílio Correia e convido os leitores a entrarem no ambiente calmo da Sapataria Norbal, disponível às horas de expediente, sem grandes aglomerados, numa zona central e aprazível. Uma pérola em dó sustenido, metáfora da cidade dos doutores.

Numa localidade de província as sapatarias dedicam-se apenas a fazer consertos, isto é, a deitar meias solas, engraxar, pregar um salto, vender um par de palmilhas, entregar uns atacadores, coser uma fivela e o mais que é mister.

Em Coimbra – cidade da Ir. Lúcia e com uma estátua de JP2 – tudo é diferente. Mas o melhor é entrarem por alguns instantes na sapataria e, enquanto esperam que a cola reponha o salto do sapato, que não resistiu aos buracos do largo em frente ou à pastilha elástica que o prendeu ao passeio, sempre se deliciam com “concertos rápidos” que não deixarão de aliviar a alma.

24 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Faça agora o teste!

Siga o link e descubra a que tipo de inimigo da fé pertence.

Eu sou uma filósofa/cientista (bela combinação!) e, numa palavra, sou uma ameaça para o cristianismo! MWAHAHAHAHAHAHAHA!!!! :o)

I’m a Philosopher/Scientist!

Que tipo de inimigo da fé é você?

24 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

A página pessoal de Jesus

Jesus, conhecido funcionário de uma empresa religiosa, já tem uma página na internet. Infelizmente, por falta de tempo quiçá, ainda não teve tempo de fazer uma versão multi-lingue portanto, teremos de recorrer aos nossos conhecimentos de estrangeiro para compreender todo o conteúdo.

Na The Jesus Homepage podemos encontrar album de fotografias com imagens da concepção, da infância e até da cruxificação, links malucos para as páginas preferidas do messias e informações pessoais.

Com um simples clique, pode aceitar Jesus como seu salvador cibernáutico, podendo mesmo imprimir um certificado de salvação.

24 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Paulo Portas – beato e reaccionário

Ciclicamente a descolonização regressa à actualidade. Reaparece a cumprir a função de dividir os portugueses, quando parece esquecida, pela mão dos que deviam calar-se. Recordam-na os que nunca aceitariam qualquer outra como boa e o problema reside mais na sua própria derrota perante a história.

Paulo Portas (PP) tem uma grave dificuldade. Ou diz o que pensa e cria problemas ao governo ou diz o que deve e cria perplexidade no partido.

Sendo estreita a margem em que pode mover-se aconselharia a prudência o silêncio, mas impõe-lhe o feitio o ruído.

Acossado por Mário Soares que gosta de apontar os desmandos reaccionários ao antigo aluno dos jesuítas, atira-se contra a descolonização e, em vez de ferir o Dr. Soares, que tem a pele dura, ofende centenas de milhar de portugueses. Aos retornados acorda-lhes o ressentimento de quem perdeu haveres e alterou o rumo das suas vidas, aos ex-militares impede-os de fazerem a catarse dos anos, longos e dolorosos, da guerra colonial.

Assim, PP, para manter a fé dos que o elegeram, vai sistematicamente à procura de um passado que nada tem de glorioso e, muito menos, de recomendável.

Persiste em Portugal uma direita que, se pudesse arrancar Abril do calendário e suprimir o dia 25 aos meses, continuaria fora da Europa, orgulhosamente só, aliviada de carregar a vergonha do passado, feliz por poder reeditá-lo. É essa direita cuja liderança PP disputa com Manuel Monteiro, direita que nunca ficará satisfeita, que cria instabilidade no aparelho de Estado e no país.

No intervalo de muitas missas e outras tantas hóstias o pensamento desta gente é sempre execrável – na descolonização, no aborto, na imigração. Durante a liturgia ainda há-de ser pior.

24 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Bob, Deus e o Diabo.

Estreou, inserida na nova grelha de programação da Sic Radical, uma nova série de desenhos animados que se debruça sobre os problemas do mundo actual.

A história é esta: Deus está desiludido com a vida na Terra. As pessoas não praticam o bem e não recorrem ao bom senso portanto, o senhor dos senhores está farto e pensa em acabar com tudo. O Diabo não pode em si de contente com tal decisão e fazem uma aposta: se Deus conseguir encontar uma pessoa que prove que o mundo ainda tem salvação, não há inundações e pestes à escala global, caso contrário… o mundo desaparece envolto numa grande bola de fogo de proporções bíblicas. A selecção do indivíduo recai sobre o Diabo que escolhe Bob Alman, mecânico de automóveis que tem uma certa atitude envolta numa apetência especial para a preguiça. Coagido pelo medo, Bob aceita a tarefa hercúlea de tornar a Terra num sítio mais agradável… E tem de o fazer sem quaisquer dicas.

Ainda só vi o primeiro episódio da série e, confesso, tem piada. Bob é o típico cromo que gosta de ir para o bar beber uns copos com os amigos, fazer o download de pornada, ver a bola e coçar a micose. Tem uma mulher e uma filha no início da adolescência e não tem grande esperança na sociedade.

Deus, e é isto que me chateia, é um velhote porreiro, manda umas piadas, bebe cerveja sem alcóol (claro!) e espera que façam o trabalho dele.

Por sua vez, o Diabo, que esperava que fosse uma personagem com estilo, distinção, humor refinado, bem parecido, enfim, um poço de pecado, não o é. É um tipo frustrado que tem por um ajudante um bicho estúpido e idiota que manda piadas foleiras. Para além disso, os seus planos para destruir os heroísmos de Bob saem sempre frustrados porque no fundo, aquele cidadão médio americano, é boa pessoa e ensina-nos uma bela lição da vida… *blergh*

Podem encontrar mais informações, nomeadamente acerca do elenco e sinopses dos episódios, aqui.