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1 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Subsídios para um dicionário religioso

666 – O número do apocalipse. A besta. Para um cristão ortodoxo corresponde ao presunto e ao preservativo respectivamente dos muçulmanos e católicos.

Aborto – A descriminalização continua refém de uma minoria que parece temer que os seus efeitos se tornem retroactivos e acabe por ter reflexos na sua própria existência.

Amputação – Divertimento idêntico à custa dos ladrões. Só cortam a mão que rouba. Deixam a outra para segunda oportunidade.

Clero – Aristocracia dos crentes de qualquer religião. Os únicos com competência legal para interpretar a vontade divina.

Direitos das mulheres – Incómodo que os hierarcas de quase todas as religiões têm vindo a ter que suportar. Mas há sempre quem resista.

Espanha – A ligação de Aznar ao Opus Dei e o apoio aos EUA são mera coincidência? “O Mundo Secreto do Opus Dei”, de Robert Hutchison, tem como subtítulo: “Preparando o confronto final entre o Mundo Cristão e o radicalismo Islâmico”.

Fátima – Cidade do concelho de Vila Nova de Ourem, importante centro de comércio religioso, procissões, terços, missas e promessas a que a magreza dos milagres não retira o fausto das encenações religiosas. Número da sorte: 13.

Fatwa – Espécie de excomunhão da igreja muçulmana. Costuma ser acompanhada da obrigação de todos os crentes executarem a sentença de morte, actividade que os deixa ansiosos por cumprirem a obrigação.

Lapidação – Divertimento muçulmano à custa da mulher adúltera. A prova pode ser débil mas o prazer de ver uma mulher apedrejada até à morte – prazer que o profeta partilha – compensa largamente.

Monarquia – Bizarra organização do Estado em que o filho mais velho, por mais estúpido que seja, tem direito a ser chefe toda a vida, sem precisar de se submeter a eleições. Os seus defensores não são obrigatoriamente estúpidos, são provavelmente monárquicos.

Papa – Monarca absoluto com o monopólio no fabrico de beatos e santos, exclusividade na criação de cardeais e produção de bispos. Cabe-lhe ainda decidir sobre os anos santos, o valor e o preço das indulgências, a quantidade de bênçãos e o número de excomunhões. Os relatórios da CIA, se ainda lhe chegam, já não são lidos depois da queda da União soviética.

Papabile – “Papável”, isto é, que tem probabilidades de ser Papa. O cardeal Jean Danielou, arcebispo de Paris, tantas vezes foi referido como tal na comunicação social que a loura espectacular Mimi Santoni, de 24 anos, bailarina de strip-tease num cabaré de Paris, quiçá por erro de interpretação, acolhia-o nos seus braços quando um fulminante enfarte de miocárdio resolveu procurá-lo. Não se pode falar de êxtase místico.

Preservativo – Meio eficaz de evitar doenças sexualmente transmissíveis e que produz em JP2 o mesmo estado de espírito que o toucinho a Maomé.

Presunto – Delicioso produto gastronómico com que Maomé embirrou.

Vaticano – Exótico bairro de Roma com o nome de Estado, detentor de valiosas colecções de arte, numerosos dignitários eclesiásticos, sem uma única maternidade nem a mais leve suspeita de princípios democráticos.

31 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

31 de Janeiro de 1891

Nos finais do século XIX, as ideias republicanas começam a singrar no país. O país atravessa um período conturbado económica e culturalmente.

O ultimato inglês acentua o descontentamento nacional e sentimentos patrióticos e, com eles, nasce o desejo de mudança de sistema político. A crise governamental da altura instigou os militares da guarnição do Porto que, com a ajuda das Forças Armadas, proclamaram, pela primeira vez, a República. Só que, sem o apoio das forças políticas nem da maior parte dos militares, os revoltosos capitularam face às forças leais à Monarquia.

A Revolta do Porto foi um epílogo do que haveria de acontecer em 1910.

Num tempo em que o país atravessa, de novo, uma crise política e económica e em que, desde o 25 de Abril, não se viam ataques tão gravosos à Democracia e ao Estado de Direito, há que recordar a axiologia que estive na base de todas as revoluções por que passámos. O desejo de independência, a liberdade, a igualdade, a sociabilidade ou fraternidade, são valores que nos devem ser caros a todos e de que não nos devemos esquecer ou largar por um qualquer comodismo que, infelizmente, nos caracteriza.

31 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Estranho Estado do Vaticano

O binómio Santa Sé/Cidade do Vaticano tem uma natureza jurídica estranha. Teses não estadualistas entendem que é uma entidade sui generis ou, materialmente, uma organização não-governamental (ONG). Isto porquê? Porque, de facto, não se verifica a presença dos elementos clássicos de um Estado: não existe um povo ou uma nacionalidade e a cidadania do Vaticano tem um carácter funcional e temporário.

É de notar igualmente que o território que ocupa é insignificante e o reconhecimento dos outros Estados como condição de obtenção da qualidade de Estado é insuficiente. Relativamente a este último ponto, as teses dominantes inclinam-se para a natureza meramente declarativa (não constitutiva) do reconhecimento: na verdade, não se satisfazem as exigências de reconhecimento no que toca à democracia e ao respeito pelos direitos fundamentais.

Há ainda que apontar, como manifestação da inexistência daqueles elementos clássicos, a dependência relativamente ao Estado italiano para a prestação de serviços básicos.

Por último, a natureza especificamente religiosa da missão da Santa Sé, sem a qual o Vaticano perde a sua razão de ser, também é de considerar. O binómio em causa promove uma religião e não os interesses dos cidadãos do Vaticano e actua como uma confissão religiosa e não como um Estado.

Foi com base nestas razões que, na IV Conferência Mundial sobre as Mulheres (1995), foi subscrita uma petição dirigida à Organização das Nações Unidas com o objectivo de se proceder à reconsideração do estatuto da Santa Sé junto daquela organização.

É também com estes fundamentos, conjugados com considerações de igualdade religiosa como valor da comunidade internacional, que as Concordatas celebradas entre os Estados e o binómio Santa Sé/Cidade do Vaticano devem priveligiar o respeito pelos valores substantivos essenciais do direito interno e do direito internacional.

30 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Desconfie dos que se gabam de ter boas relações com Deus



Hitler afirmava: “Deus está connosco”, tendo-se apercebido do contrário antes de se suicidar. Em Portugal, durante a ditadura, dizia-se que Salazar fora enviado pela Providência, hipótese que ganhou alguma consistência por Deus castigar os que mais ama, mas hoje tem-se como certo que foi o diabo. Saddam repetiu à exaustão que “Deus é grande”, num manifesto exagero. Antes da invasão do Iraque o Papa rezou pela paz e comprometeu a infalibilidade. Só Bush teve razão para acreditar que Deus estava com ele, mas aí foi o prestígio divino que saiu prejudicado. Quem escreve em notas verdes que acredita em Deus é porque duvida e prefere o numerário.

Hoje, para descrédito dos que se gabam da intimidade com Deus, ficámos a saber que Saddam para ter uma simples entrevista com um alegado empregado teve de subornar um padre.

Esta é a acusação contra o padre francês Jean-Marie Benjamin – que organizou o encontro de Tarek Aziz com JP2.

Pobre Saddam, se uma entrevista do seu ministro dos Estrangeiros ao papa ficou tão cara, percebe-se que não tivesse dinheiro para falar com Deus.

30 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Os facínoras de Deus não aceitam a modernidade

Poder ter qualquer religião ou nenhuma é um direito indeclinável que a sábia decisão francesa acautela, opondo-se à guerra dos véus desencadeada pelos arcaísmos intoleráveis do islão, que não prescinde de regimes teocráticos.

Há medos e ódios que nascem do proselitismo beato bebido no livro único e acirrado nas madraças. A ofensiva desperta reacções islamofóbicas, semelhantes à violência que o catolicismo romano acordaria se a cartilha de Pio IX fosse restaurada. Tal como esse papa também os próceres islâmicos consideram a fé incompatível com a liberdade e a democracia. Não é, pois, uma questão de religião, é um conflito de poderes.

Sendo o islão o que é, a precisar de reforma, não pode tolerar-se-lhe os ataques à natureza laica do Estado. Os facínoras de Deus não aceitam a modernidade e a civilização não pode condescender com desvarios místicos.

É este o problema que grassa em França para desgraça dos franceses. As raparigas que ostentam o véu não reivindicam um direito, fazem uma provocação, quiçá imposta pelos clérigos. Amanhã exigem a burka, depois uma cantina separada, onde estejam longe da carne de porco, e, finalmente, «direito» à excisão e à poligamia. É a perpetuação da discriminação que os constrangimentos sociais lhes impõem. Ninguém as impede de passarem o dia a rezar ou de fazerem jejuns. Podem virar-se para Meca, não podem virar-se contra Paris.

Quando em 1905 a França foi obrigada a uma laicidade musculada tinha boas razões. Hoje tem razões acrescidas. Há princípios irrenunciáveis e deveres obrigatórios. Viva a França. (in Diário As Beiras, de hoje.)

28 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Ninguém pense que a pedofilia é exclusiva da ICAR



A devassidão é uma tradição do clero que a secularização das sociedades permitiu investigar. Dá a impressão de que a ICAR, sobretudo nos Estados Unidos, se converteu num paraíso de pederastas com forte vocação pedófila, mas não é fácil aceitar que os padres católicos sejam mais perversos do que os mullahs islâmicos ou os dignitários de outras religiões.

Claro que é difícil absolver bispos e cardeais que encobriram a actividade criminosa dos seus padres, que pagaram indemnizações aos ofendidos a troco do silêncio, que transferiram sucessivamente de paróquia os agressores, para ofenderem outras crianças e prevaricarem de novo.

Em França o Bispo Pierre Pican acabou condenado pelos tribunais por ter ocultado as actividades pedófilas do sacerdote René Bissey, condenado a 18 anos de prisão por ter abusado sexualmente de 11 menores.

Nos EUA recordamos o Cardeal de Nova York, Edward Egan, que encobriu vários sacerdotes e o Cardeal Bernard Law, Arcebispo de Boston, que se limitava a transferir os delinquentes entre os quais John Geoghan a quem se atribuem 130 vítimas de uma longa e cruel carreira de pederasta.

Não estão em causa as opções sexuais do clero nem a hipócrita exigência da castidade ou do celibato. O que é verdadeiramente inquietante são os crimes contra crianças, vítimas indefesas da confiança cega que os pais depositam nas sotainas.

E não basta que o papa afirme que a Igreja se sente próxima das vítimas. Nestes casos era preferível manter-se um pouco mais afastada.

28 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

Com o CDS no Governo não haverá referendo



Há tempos Miguel Veiga, fundador e destacada personalidade do PPD/PSD denunciou a falta de carácter e de lealdade do ministro da Defesa e recusou aceitar a tutela de quem se comporta “de forma inqualificável”. O histórico dirigente limitou-se a dizer alto o que se murmura em surdina, a exprimir um estado de alma do partido, a gritar o que se cala em público e se diz em privado. Foi a propósito da Cruz Vermelha Portuguesa.

Agora, em relação ao aborto, o pio presidente do CDS volta a portar-se de forma inqualificável, com o Governo refém dos seus preconceitos, das suas virtudes públicas, do seu ódio implacável às mulheres. Nem o espectáculo do julgamento de Aveiro lhe atenua os ímpetos persecutórios.

Podem ser inúteis as 100 mil assinaturas para a realização de um novo referendo que ponha fim à perseguição das mulheres. O referendo corre o risco de encalhar na Assembleia da República onde os deputados do PSD serão obrigados a aceitar a tutela do CDS.

Assim, não é no exemplo de Simone Veil, antiga ministra da Saúde francesa, que a Direita portuguesa se revê, cada vez mais longe do exemplo civilizado da Direita europeia, a resvalar para posições trogloditas e caceteiras.

A presença de Paulo Portas, Bagão Félix e Celeste Cardona no Governo é cada vez mais um furúnculo que urge espremer para evitar a inflamação que corrói o aparelho de Estado.

28 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

MacJesus

27 de Janeiro, 2004 Mariana de Oliveira

Ainda a sexualidade da ICAR

Os homossexuais não são os únicos votados ao ostracismo no seio da Igreja Católica. Esta organização que faz da sua bandeira de combate o amor generalizado e estendido a todos os “filhos de Deus”, o perdão e a aceitação das diferenças, condena não só a comunidade “gay” a uma vida velada e recalcada, mas também os heterossexuais, negando-lhes qualquer possibilidade de relacionamento íntimo.

Não será a castidade é mais contra-natura do que qualquer método contraceptivo? Nestes casos, satisfaz-se uma necessidade essencial ao homem – o sexo – sem os inconvenientes de apanhar uma doença que transforme os órgãos vitais em papa e de ter uma gravidez indesejada.

Qual é a necessidade de não se estar com alguém que se ama? Qual é a necessidade de sacrifício? A esperança de redenção? Uma vida melhor no Além? Porque não ser-se feliz, aqui, acompanhado pela pessoa que se ama… homem ou mulher.

Ter a comunidade entre os lençóis é um pouco demais (mesmo para os amantes de sexo em grupo).

Deus, dizem, fez o homem à sua semelhança – a mulher já não por causa da história da costela, mas não tomemos este caminho -, deu-lhe vontade, mas disse “não comas a maça”; deu-lhe sentido de humor, mas não pode ser usado contra Ele porque é blasfémia; deu-lhe orgasmos, mas não podem ser vistosos, ruidosos, não se podem gostar deles e o que os origina não pode ser praticado muitas vezes… Sinceramente, parece que Deus é um sádico que gosta de ver as suas criações sofrer com dilemas.

Bem, bem vistas as coisas, o problema nem sequer é Dele (sim, não vamos culpar algo que é inexistente). O problema está, isso sim, nas mentes retorcidas de quem faz parte da hierarquia da Igreja.

27 de Janeiro, 2004 Carlos Esperança

O atropelamento do porco

O bispo da diocese andava a dar uma volta, por caminhos rurais, a matutar num milagre para convencer os diocesanos da existência de Deus quando, subitamente, o motorista atropelou um porco matando-o instantaneamente.

O bispo disse-lhe para ir à quinta e explicar o que tinha acontecido. Horas depois, vê o seu motorista a cambalear em direcção ao carro, com um cigarro na mão e com uma garrafa na outra. A roupa estava toda amarrotada.

O que é que aconteceu? – perguntou o bispo.

O motorista respondeu:

Bem, o dono da quinta deu-me vinho, comida, cigarros e a sua encantadora filha de 19 anos fez amor comigo, apaixonadamente.

Meu Deus! Mas o que é que lhes disse? – perguntou o bispo.

– Sou o motorista do bispo e acabo de matar o porco!

Desolado, Sua Excelência Reverendíssima pegou no volante do automóvel e só parou no primeiro café que encontrou aberto. Dirigiu-se ao empregado e perguntou:

– Servem cachorros?

– Servimos toda a gente. Diga o que quer.