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Categoria: Não categorizado

22 de Fevereiro, 2004 jvasco

Crença, Racionalidade e Fé

Devo dizer que me irrita um pouco esta mania dos crentes de considerarem que os Ateus “têm a certeza” de que Deus não existe. Alguns tê-la-ão (existem até “12 provas da inexistência de Deus”, que é uma obra interessante), mas ser Ateu é NÃO ACREDITAR em Deus. E eu não acredito, tal como não acredito no Pai Natal. MAS não tenho a certeza que nenhum dos dois não exista, tal como não tenho a certeza que f=ma, tal como não tenho a certeza que as formigas não são na verdade um civilização avançada, ou que as bactérias tenham uma inteligência inferior à dos seres humanos. Se formos ao limite, eu não tenho a certeza de NADA.

Por isso eu acredito em coisas. Acredito que estou no Universo, acredito que f=ma, acredito que o Pai Natal não existe, etc… Qual é o critério? É a plausibilidade. Até agora todos os corpos cairam. O que é que é mais provável?

a)Existe uma lei que faz com que os corpos caiam

b)foi tudo uma gigantesca coincidência.

Eu acredito em a), sem ter (no limite) a certeza.

É possível que todas as leis físicas, todos os computadores, máquinas, técnicas agrícolas, etc… tenham funcionado por uma gigantesca coincidência. Posso imaginar que na verdade todos os corpos andam aleatoriamente, e a força da gravidade que nós pensávamos ver (bem como a electromagnética, a nuclear forte e fraca) foi tudo uma coincidência. Uma coincidência que fez com que eu (e toda a vida como a conhecemos) existisse. Isso é possível. Porque é que eu não acredito nisto?

PORQUE escolho acreditar na hipótese mais plausível. É só isso.

Tento descobrir a hipótese mais plausível a partir dos dados que tenho ao meu dispor, pensar sobre eles, e acreditar naquilo que é mais plausível.

A FÉ é o oposto: é acreditar em algo INDEPENDENTEMENTE do seu grau de plausibilidade.

Quando Jesus (alegadamente…) diz a Tomé que a crença deste não vale tanto como a dos outros que não necessitaram de o ver, ele está a defender a FÉ: as pessoas não deviam escolher aquilo em que acreditam com base nos indícios. Acreditar em Cristo depois de o ter visto é “fácil”, não é preciso “FÉ”.

Mas a racionalidade está contra isso. Nós devemos precisamente acreditar mais ou menos em algo EM FUNÇÃO do grau de plausibilidade.

E é isto que distingue os Ateus dos crentes. É este o cerne da diferença.

22 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Ecossistema religioso ameaçado – frades e freiras em vias de extinção

O Expresso de ontem, sob o título «Religiosos à procura da vocação» traz um artigo de Mário Robalo com excelentes notícias.

Ficamos a saber que «As congregações religiosas portuguesas estão a perder membros (padres, freiras e monges) a um ritmo vertiginoso». O rejuvenescimento das 146 instituições de “vida consagrada” é desanimador – segundo palavras do jornalista –, porque mais de metade não tem nenhum candidato em formação.

Nos últimos 5 anos o número de «consagrados» passou de 10.000 para 8.600, tendo 50% mais de 60 anos.

Actualmente 6660 mulheres e 1953 homens encontram-se enclausurados nas 146 congregações. Esta foi a libertação a que a ICAR os condenou.

Congregação religiosa é uma associação de mulheres ou homens que, depois de fazerem votos de pobreza, castidade e obediência, vive em comunidade – diz o jornalista.

Todos sabemos que é feroz a obediência, moderada a pobreza e relativa a castidade mas o perigo reside nos 114 estabelecimentos de ensino que possuem e nos 39.169 alunos que os frequentam.

Os religiosos gostam de se flagelar e de orar mas dessas actividades lúdicas não vem qualquer mal ao mundo.

22 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

Ópio do Povo

A religião é o suspiro da criança acabrunhada, o coração de um mundo sem coração, assim como também o espírito de uma época sem espírito. Ela é o ópio do povo.

Karl Marx

21 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

Pensamentos de um ateu moribundo

No último álbum dos Muse (grande grupo britânico), Absolution, está esta música. Partilho a letra convosco para que a comentem, interpretem e digam se concordam ou não com o que se diz…

Thoughts Of A Dying Atheist

Eerie whispers trapped beneath my pillow

Won’t let me sleep, your memories

I know you’re in this room, I’m sure I heard you sigh

Floating in-between where our worlds collide

It scares the hell out of me

And the end is all I can see

And it scares the hell out of me

And the end is all I can see

I know the moments near

And there’s nothing we can do

Look through a faithless eye

Are you afraid to die

It scares the hell out of me

And the end is all I can see

And it scares the hell out of me

And the end is all I can see

It scares the hell out of me

And the end is all I can see

And it scares the hell out of me

And the end is all I can see

21 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Os treinos da selecção nacional para o Euro 2004

Vem hoje no Expresso (pg. 25) que o treinador Scolari deu um importante passo na preparação dos jogadores: pô-los a «rezar em conjunto». O pai-nosso foi a arma escolhida para subornar o Altíssimo e, assim, alterar a verdade do jogo.

Sabe-se que o pai-nosso é uma droga que as análises não acusam, mas não há a mais leve suspeita sobre a sua eficácia.

O prestigiado treinador sabe que um placebo pode ser útil e, por isso, recorre ao pai-nosso. Não é justo, contudo, que deixe mal colocado o deus em que os jogadores acreditam ou, em caso de improvável vitória, com o ónus vergonhoso de se ter deixado subornar por umas orações colectivas.

20 de Fevereiro, 2004 Carlos Esperança

Resposta a um artigo da Visão, de 19 de Fevereiro

No artigo «Ateus graças a Deus» (n.º 572) Pedro Norton (PN) zurze a “lei dos véus” de forma sectária e pouco esclarecedora.

Considerá-la «na linha do jacobinismo e do anticlericalismo mais primário», «a mais estúpida da V República» e «um privilégio das ideias verdadeiramente cabotinas», é não compreender as razões que levaram ao amplo consenso entre deputados e na sociedade francesa.

O véu é um símbolo da opressão da mulher cujo uso os fundamentalistas islâmicos impõem e com o qual afrontam e provocam o carácter laico da escola francesa.

O que está em causa é o combate contra o fascismo islâmico que não abdica de um regime teocrático e que não tolera a modernidade. Hoje impõe o véu, amanhã reivindica a excisão, depois a poligamia e, finalmente, a charia.

O perigo para as democracias, ao contrário do que pensa PN, reside no clericalismo e no proselitismo que desenvolve nas mesquitas, igrejas e sinagogas, com uma agressividade que urge conter.

20 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

O que é um padre?

Padre: um homem que se encarrega de tratar dos nossos negócios celestiais como maneira de melhorar os seus negócios na Terra.

Ambrose Bierce

19 de Fevereiro, 2004 Mariana de Oliveira

Immanuel Kant

Kant morreu a 12 de Fevereiro de 1804. Este ano comemoram-se os 200 anos sobre a morte de um dos mais eminentes filósofos da modernidade.

Immanuel Kant viveu em pleno Iluminismo e todo o seu pensamento está imbuído de um espírito de “igualdade, liberdade e fraternidade” e constituiu as bases axiológicas das Revoluções Americana e Francesas e, posteriormente, das Revoluções Liberais que percorreram toda a Europa.

Na sua Crítica da Razão Prática. onde o céu representa a ideia da razão que ultrapassa os limites da experiência sensível, diz que duas coisas preenchem o espírito de uma admiração e de uma veneração crescentes e renovadas, à medida que a reflexão nelas incide: o céu estrelado sobre mim e a lei moral em mim. Isto refere-se a uma moral sem Deus – inegável contributo para a laicidade do Estado -, a uma lei moral que tinha sido formulada num conhecido imperativo categórico universal, decorrente de uma exigência absoluta da razão: age de maneira a que a máxima da tua vontade possa também servir para sempre de lei universal.

Assim, o homem volta-se para si mesmo, compreendendo como fundamentos únicos do seu saber e da sua acção, a razão e a liberdade.

A nível da teoria do Estado, Kant concebe-o como uma pessoa moral e, assim, sujeito ao princípio de não se imiscuir na constituição e governo de outro Estado. Associada a esta ideia de paz perpétua está a da instauração de uma situação cosmopolítica universal. Esta seria uma república mundial fundada num direito cosmopolítico, complemento do direito civil enquanto direito entre privados. Neste pensamento podemos ver o dealbar da Sociedade das Nações e, mais tarde, da Organização das Nações Unidas.

É inegável que, duzentos anos depois do seu desaparecimento, o pensamento de Immanuel Kant continua actual e perfeitamente aplicável ao que se passa à nossa volta.

19 de Fevereiro, 2004 André Esteves

O contra-argumento ao medo de Pascal…

Paris, 23 de Novembro, de 1654. Uma carruagem atravessa uma ponte sobre o rio Sena.

De repente, os cavalos que a puxavam, assustam-se e com um esticão, levantam a carruagem no ar.

Aterrando sobre a berma da ponte, a carruagem inclina-se perigosamente, deslizando para o rio abundante

que corre por debaixo. Por um milagre, a berma encaixa entre as rodas da frente, imobilizando, pendurados,

a carruagem e os seus ocupantes.

Do silêncio que se tenta impor, depois, entre os transeuntes, não sobra nada…

Dentro da carruagem, Blaise Pascal grita, aterrorizado, olhando a morte à sua frente.

Em mais de uma discussão sobre a não-existência de Deus, tenho encontrado pessoas, que, pomposamente, invocam a chamada «Aposta de Pascal». A «Aposta» é, supostamente, um argumento probabilístico para convencer qualquer homem, a crer em Deus, se racionalmente fizer uma análise custo/benefício de manter uma fé num redentor.

Na sua forma original:

Deus ou existe ou não existe. Por necessidade, temos que fazer uma aposta:

Se aposto por ele e ele existir: lucro máximo.

Se aposto por ele e ele não existir: nenhuma perda.

Se aposto conta ele e ele existir: perda máxima

Se aposto contra ele e ele não existir: nem perda, nem lucro.

Ou seja, segundo Pascal, a melhor estratégia a seguir é apostar pela existência de deus, porque nas alternativas, não ganhamos nada com isso…

O argumento é intelectualmente desonesto. Porque para o considerarmos, seriamente, temos que aceitar as premissas…

Ou seja. Que se deus existir, ele é cristão. E que pretende pôr todos os pecadores no inferno…

Quando se trabalha com probabilidades é preciso ser-se rigoroso. Num problema em que queiramos determinar a probabilidade de uma proposição, temos que considerar todas, mas TODAS, as possíveis consequências dessa proposição… É exactamente sobre este número que se determina o valor das probabilidades que desejamos conhecer.

Assim, temos que reformular o problema, em termos de probabilidades compostas…

1. Entidades metafísicas existem ou não existem. Logo 50% de probabilidades para cada uma das possibilidades.

2. Qual a probabilidade de uma entidade metafísica existir? Temos que dividir em números iguais, os 50 % pelo número de divindades conhecidas… ( para não falar nos deuses desconhecidos… lembremo-nos de Paulo em Atenas… mas vamos nos restringir aos deuses conhecidos)

É trivial ver que a probabilidade de Deuses não existirem, é sempre maior que a probabilidade de um deus qualquer existir… E não podemos considerar os 50 % das entidades metafísicas como um todo.. Afinal os deuses existem, em exclusão dos outros…

É óbvio, então chegar à conclusão que a aposta mais sensata, é não apostar em deuses…

E procurar a felicidade nesta terra, para nós e para os outros.

Mas, porque é que Pascal, um génio polimático, forçou o argumento? Por causa do medo…

Quando nos deixamos possuir pelo medo e temor. Da morte, deus, inferno, apocalipse ou outro fim qualquer…

Deixamos de viver a vida e também de aplicar a razão…

Forçamos os nossos argumentos, para que justifiquem as nossas emoções.

E no medo, a alternativa é sempre assustadora.

Mas a aposta de Pascal tem um final triste.

Oito anos depois do terrível acidente que o atirou para o ascetismo e obsessão, Pascal morria, acamado, no meio de dores horrendas.

Um cancro do estômago, causado por úlceras de origem nervosa, espalhou-se pelo seu corpo.

Ao mesmo tempo que o seu sistema imunológico, debilitado, sucumbia à tuberculose…

Morreu do medo que tinha de viver.