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9 de Março, 2004 Carlos Esperança

A Conferência Episcopal Portuguesa e o aborto

Recentemente um bando de bispos portugueses, reunidos sob os auspícios da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), lançou um ultimato à Assembleia da República para que definisse «um conceito de vida em termos jurídicos». Desta vez as vozes dos bispos não passaram do céu.

É verdade que o aborto é uma das poucas bandeiras que resta a estes veneráveis anciões a quem a idade e o múnus tornaram castos e atenuaram o cio sem lhes domar o ressentimento para com a sociedade que progressivamente os ignora.

Os bispos gostariam de renovar o Código de 1886 mas isso já nem os deputados mais beatos e boçais da actual maioria estão dispostos a patrocinar. Nem os trogloditas que ainda em 1984 queriam obrigar as mulheres violadas a conceber e as que tivessem fetos mal formados a completar a gravidez, nem esses se atrevem já a contestar a lei que está em vigor, contra a qual votaram então.

Hoje só o Prof. João César das Neves, na aflição de salvar a alma, se presta ao ridículo de ser o porta-voz das aspirações de João Paulo II.

Esta gente sonha ainda com o miguelismo trauliteiro do séc. XIX, que tinha como húmus a ruralidade e defendia a cartilha de Pio IX, papa que JP2 se apressou a beatificar.

Tal como o adultério – igualmente um mal –, que já não leva ninguém a tribunal ou à cadeia, também o aborto vai deixar de ser crime. A sua legalização (daqui a dois anos) não o torna virtuoso, mas resolve um grave problema de saúde pública.

Se os castos machos da CEP, que dirigem a ICAR em Portugal, representam a vontade de Deus, é razão para dizer que Deus chega sempre atrasado.

8 de Março, 2004 Carlos Esperança

Homenagem à Mulher no Dia Internacional. Sobre duas mulheres e dois gestos de heroísmo silencioso

A brutalidade da violência contra mulheres, perpetrada por tribunais islâmicos, de que a condenação à morte por lapidação, em caso de adultério, é apenas a ponta do icebergue da crueldade atávica, aparece com medonha regularidade referida na comunicação social.

Entre a indignação e a revolta vêm-me à memória, vá-se lá saber porquê, dois transplantes de órgãos ocorridos nos Hospitais da Universidade de Coimbra, ambos no ano de 2001.

1 – Num qualquer dia de Abril os médicos removeram uma fracção de fígado de uma mulher saudável. Não foi divulgado o nome nem a idade. Foi apenas uma mulher com muito amor, autora de um gesto nobre, paradigma encantador a dar conteúdo à palavra Mãe. Sem hesitações. Sem medo. Determinada. Serena. Abnegada.

Muito perto, noutra cama, esperava o pedaço de fígado da dádiva uma criança para quem a porção de víscera era condição de sobrevivência.

No sofrimento foi possível a generosidade da mãe, na angústia a esperança da filha, na agonia a vida de uma criança.

É uma história de amor verdadeiramente visceral. É um grito de esperança a ressoar numa vida que não desistiu. É um hino de solidariedade escrito por uma mãe que repetiu o parto e renovou a vida, poema de sangue escrito a bisturi com versos feitos de carne cosida com linha.

O tempo não será mais a medida destas vidas. Cada minuto foi uma centelha de eternidade. É preciso que os deuses tenham ensandecido para não recompensarem o gesto.

E nós, embevecidos com o milagre da cirurgia, nem nos damos conta do milagre maior que é o amor, sentimento que julgávamos já perdido algures entre a livre circulação de mercadorias e a acumulação contínua do capital.

Ficámos a saber que na bolsa de valores da consciência humana ainda há acções que valem a pena, porque são imunes aos humores e rumores do mercado, porque resistem à cotação do dólar e ao preço dos combustíveis fósseis, porque não dependem de ciclos económicos nem de jogos de poder.

Foi há mais de dois anos. Que será feito das vidas de mãe e filha esquecidas no turbilhão de escândalos e intermináveis guerras? Exceptuando o arquivo da unidade de transplantes não é fácil que alguém as recorde. A memória regista mais facilmente o que há de pusilânime e fere a inteligência. E a maternidade é um ofício ancestral que se faz de graça e com naturalidade.

2 – Em Outubro outra mulher saudável e ainda jovem doou um rim. Um acto simples, apenas o risco assumido da própria vida na coragem de um gesto decidido. À espera, noutra cama, estava o filho.

Dentro de cada mãe há sempre uma mulher que emerge do estigma das milenárias burkas, qual águia presa ao chão sem poder voar, e que, libertando-se com um simples bater de asas, parte as grilhetas do medo e estilhaça a tradição.

Podem cobrir a cabeça de uma mulher com medo de que o pensamento a liberte, ocultar-lhe o corpo para lhe embotarem os sentidos, mas é a alma que alguns homens lhe querem aprisionada com receio de que desperte para o sortilégio da vida.

Quem é capaz de decidir do seu próprio sacrifício é porque encontrou o amor. Quem sabe do que é capaz o corpo, descobriu antes o que podia o espírito. Uma mãe que dá um rim ao filho doente é uma mulher corajosa.

Se a mulher foi criada a partir da costela de um homem ficou-lhe com a melhor. Quem lhe exige a submissão teme-lhe a inteligência ou duvida de si próprio. E nunca saberá amar.

Em Portugal, há apenas três décadas, a mulher precisava de autorização do marido para transpor a fronteira, a magistratura e a carreira diplomática eram-lhe inacessíveis, os direitos mais elementares eram-lhe recusados. Em nome da tradição e da moral.

Depois, foi uma longa e exaltante caminhada no país de Abril. De mãos dadas com os homens, seus irmãos. A caminho da libertação, homens e mulheres.

Hoje, um pouco por todo o mundo, subsistem sinistros guardiões de uma moral obsoleta, beatos implacáveis que sujeitam as mulheres à mais cruel e infamante das submissões. Quem lhes adivinha o rancor que os devora? Quem continuará a permitir-lhes a crueldade de que a mulher é a vítima predilecta? Só a sofreguidão mística do paraíso pode conduzir à louca ambição de erradicar os infiéis, todos os infiéis, num proselitismo demente que atinge o êxtase na embriaguez da morte.

Em tais sociedades nenhuma mulher doará um rim. Não pode decidir como vestir-se e não lhe é permitido despir-se. Nem para doar um rim. Nem para amar. Nesses lugares a mulher não tem rins. Nem filhos. Simplesmente não existe, acorrentada pela violência da tradição e anulada pela atrocidade dos preconceitos.

Mas se à mulher é negado o direito à vida o homem fica condenado à morte.

É por isso que precisamos de libertar-nos das burkas em que pretendem enclausurar-nos, da genuflexão a que querem submeter-nos, do livro único que querem impor-nos, dos lugares santos para que querem virar-nos. É a liberdade que é preciso conquistar e preservar. Para todos, homens e mulheres. Em todo o tempo. Em qualquer lugar.

8 de Março, 2004 André Esteves

Histórias…

Carlos M. tinha sido um imigrante na Venezuela. Formou família no além-mar e encontrou uma nova fé.

Voltou para Portugal porque o seu sonho de oportunidade se tinha demonstrado difícil de realizar.

Um acidente de viação deixou-o em coma durante meses. A sua família que dele dependia,

passou por dificuldades. Voltaram para Portugal, à procura de segurança e refúgio.

Fixaram-se numa zona próxima de Aveiro, terra de origem dos pais de Carlos e com as parcas poupanças

que tinham, construíram uma casa. Encontraram uma congregação onde manter a sua fé, a Igreja dos Irmãos,

protestantes sem denominação e começaram a reconstruir a sua vida.

Carlos M. tinha encontrado conforto e sentido de vida na “palavra de deus” e sentia que devia seguir o

mandamento de cristo “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura.” – Marcos 16:15

e testemunhar a sua fé. Assim começou a dar testemunho aos seus vizinhos e a todos os estranhos que ajudava.

Chamou más atenções… O padre da paróquia falou num sermão: “desses protestantes, filhos do diabo…”.

Carros começaram a passar a alta velocidade pela sua casa, apitando a altas horas da noite. Pedras eram atiradas

contra as janelas da sua casa. Uma das suas filhas, a caminho de casa da escola foi acercada por estranhos de carro.

Refugiou-se numa mercearia.

Um dia, os seus dois cães, que tinham encontrado abandonados, doentes e morrendo de fome na rua, foram mortos.
Empalados vivos com paus, do recto á boca. Espetados no jardim da sua casa.

Um aviso…

Hoje, Carlos M. e a sua família vivem no medo. As janelas da sua casa estão permanentemente fechadas.

Carlos acompanha as suas filhas e a sua mulher ao emprego e à escola de carro.

Continua a dar testemunho, mas não no lugar onde vive. Viaja os fins de semana visitando e dando testemunho

nas igrejas dos irmãos de outras terras. Na sua terra, os olhos e ouvidos estão fechados com medo do que possam ouvir.

Desabafou com um jovem anarquista ateu e ex-protestante, depois de discutir a fé e de dar o seu testemunho.

Dos políticos de Lisboa não espera nada. Da direita corrupta e servidora lhe dirão que “não deve confundir uma árvore com a floresta”, na esquerda tecnocrata ou pseudo-revolucionária não confia. Os pastores, anciões e elites das igrejas irmãs abanam a cabeça, mas calam-se.

O estado das coisas deve continuar, na sua católica tolerância.

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A história que leram foi baseada em várias experiências reais. Os lugares, bem como o nome das pessoas envolvidas foram alterados para protegê-las.

8 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Dia Internacional da Mulher

Hoje comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Podem surgir dúvidas acerca da razão de ser deste dia: pretende-se que as mulheres atinjam a dignidade inerente à condição de ser humano, mas não será que as estaremos a discriminar atribuindo-lhes um dia especial? Não me parece. Apesar da evolução, a condição feminina continua longe de ser igual à dos homens. É conhecida a situação a que as mulheres estão sujeitas nalgumas partes do mundo árabe: submetidas à vontade dos maridos, pais e irmãos, são obrigadas a seguir um código de vestuário rígido; não têm acesso à educação ou ao emprego; e a Justiça considera-as como partes inferiores, com menos direitos do que a parte masculina.

Na Índia, crianças de tenra idade sujeitam-se a casamentos arranjados pelos pais. Na China, raparigas são vendidas porque são consideradas inferiores.

Em África, grande parte da população feminina encontra-se infectada pelo vírus da SIDA e muitas mulheres são vendidas como escravas.



Mas o problema não se resume a países em vias de desenvolvimento. No nosso mundo ocidental, na nossa civilização de que nos orgulhamos, as mulheres ainda se deparam com a discriminação. No acesso ao emprego, muitas empresas preferem contratar homens uma vez que, naturalmente, uma mulher corre o risco de engravidar. No seio da família, a violência conjugal faz as suas vítimas silenciosas e não são tão poucas como isso. Na rua, está-se sujeita a ouvir impropérios. Na religião, a mulher ainda é vista como a causa do pecado original, um ser vil, traidor, extremamente sugestionável. A nível legislativo continuamos com uma protecção à maternidade insuficiente e com o problema do aborto. Na educação, não há suficiente informação sobre doenças sexualmente transmissíveis e, muitas vezes, as mulheres aceitam a transmissão pelo marido com a maior das naturalidades. O divórcio ainda é visto por muita gente com maus olhos. O adultério feminino é considerado um pecado superior ao masculino (sim, porque é natural que um homem tenha o seu harém).

É por ainda não sermos vistas como iguais aos homens que hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher. É para lhes lembrar e para nos lembrarmos de que temos direitos e dignidade que este dia existe.

7 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

A Mutilação Genital Feminina

Foi anteontem discutido em plenário, na Assembleia da República, a proposta do CDS-PP para tipificar a mutilação genital feminina. A iniciativa foi lograda pelo PSD, que sugeriu que o texto baixasse novamente à Comissão de Assuntos Constitucionais para reanálise.

Não há oposição possível à condenação de tais práticas bárbaras por determinadas comunidades radicadas no nosso país, mas este crime já está previsto no Código Penal, no artigo 144º, que prevê a aplicação de penas de 2 a 10 anos (igual punição está presente no projecto do CDS-PP) para quem “ofender o corpo ou a saúde de outra pessoa por forma a privá-lo de importante órgão ou membro ou a desfigurá-lo grave e permanentemente”. E é aqui que começam os problemas. Para o deputado popular Manuel Paiva, é duvidoso que o clitóris seja um órgão importante ou, sequer, que seja um órgão ou membro do corpo humano!

Já não estamos propriamente no tempo em que o corpo da mulher era visto como centro de todos os pecados carnais e não carnais! A libertação sexual no mundo ocidental já ocorreu há algumas décadas e já é altura de todos terem a consciência de que a mulher, tal como o homem, tem órgãos/membranas/partes do corpo que são mais ou menos erógenas e que, quando estimuladas, dão muito prazer. E reconhecer isso não é motivo de vergonha ou de libertinagem. O senhor deputado, se calhar, ainda pensa que a boa mulher é aquela que só tem relações sexuais para ter filhos ou porque apetece ao marido (e vade retro às relações não-matrimoniais!), que não tem prazer e que determinada ginástica sexual não deve ser feita por quem dá beijos aos filhos… Enfim, uma boa mulherzinha temente a Deus e ao marido.

Eu, como mulher, vejo essa pequena parte do corpo como um órgão ou membro e, se bem me lembro das aulas de ciências naturais, é assim que os cientistas a classificam. Para além disto, é uma peça importante para o bem-estar e para a satisfação interpessoal (duvido que seja agradável para um homem estar com alguém que não sinta prazer no que está a fazer). Miguel Paiva, com toda a clarividência, afirma que “a sua mutilação não afecta nenhuma função vital”. Claro que se pode viver sem o clitóris… como também se pode viver sem testículos. Provavelmente, se estivéssemos a falar da anatomia genital masculina, o senhor deputado não teria tantas dúvidas acerca da importância ou não de tal órgão.

Vale a pena ler o dossier do Público sobre a mutilação genital feminina.

6 de Março, 2004 jvasco

Religião: Civilização ou Barbárie – Desabafo pessoal

A tendência de qualquer pessoa é associar o desenvolvimento da Religião à Civilização: os animais não têm Religião, as tribos primitivas têm uns rituaizitos, as sociedades Civilizadas têm Igrejas organizadas e poderosas. Os monumentos religiosos são símbolos de Civilização, e a Religião é um elemento caracterizador de uma Civilização.

Eu sou da opinião que a Religião é sinal de barbárie e de bestialidade.

Pelas razões acima expostas, essa opinião é controversa (não entre os leitores deste Blogue) mas suponho poder sustentá-la com recurso aos seguintes argumentos:

1- A Religião é contrária ao Racionalismo, por ser uma forma de superstição (claro que um indivíduo pode ser Racional e Religioso, tal como muitos Cientistas no passado o foram, mas a Religião não deixa de ser uma forma de superstição, que por definição é contrária ao Racionalismo). O Racionalismo é a “espinha dorsal” da Civilização.

2- A Religião floresce na ignorância, tal como pode ser sustentado por inúmeras estatísticas que relacionam a percentagem de crentes com os índices de analfabetismo. A ignorância é contrária ao Conhecimento, e este sim é um verdadeiro símbolo da Civilização.

3- As instituições religiosas tendem geralmente a querer manter o sistema vigente, de onde costumam contribuir para evitar que os Homens tenham um papel transformador no mundo em que vivem. Essa vontade transformadora é o cerne do “desenvolvimento civilizacional”.

4- A Civilização tende a florescer com o intercâmbio de ideias e produtos entre diferentes povos. A Religião, ao encorajar (na generalidade dos casos) a intolerância e a aversão à diferença, inibe estas trocas.

5- A Religião por diversas vezes encorajou conflitos e guerras: símbolo de barbárie. Apadrinhou opressões e tiranias, que resultaram em castigos e conflitos bárbaros.

A Religião representa parte das nossas reminiscências animais: os impulsos evolucionários racistas, o medo ancestral do que é diferente, o medo do desconhecido e da natureza que nos rodeia, a territorialidade, etc…

À medida que os seres humanos foram evoluindo, foram criando sistemas humanos e civilizados: Escolas e Universidades para compreender o mundo que os rodeia e manipulá-lo, Tribunais para garantir o cumprimento de códigos de Ética que garantissem a Liberdade, Quintas para poder comer sem estar tão dependente daquilo que a Natureza oferece.

Mas a sua Natureza animal não conseguiu impedir que cada um desses domínios fosse corrompido: ao lado das Escolas e Universidades estão Igrejas e Seminários, ao lado dos Tribunais está a Polícia e o Exército, a rodear as Quintas estão as cercas. Qual macaco cheio de verniz, os povos, por irracional desperdício de recursos oportunidades e vidas, continuam a guerrear-se e a odiar-se; a ensinar superstições e rituais às novas gerações, a juntar aos códigos de Ética regras de submissão ao poder instituído. Em suma, o dinamismo dos povos assenta AINDA numa irracionalidade extrema: quais meras formigas, o homem escraviza o homem; quais meras matilhas, perdem-se tribos inteiras numa guerra animal até à extinção; quais meros macacos, continuam a usar-se rituais inexplicáveis sem função social útil.

Nesta batalha entre Humano e Besta, são os ecologistas os humanos, e os “eco-despreocupados” as Bestas: só o nosso lado humano se preocupa pelas consequências que a nossa acção tem no ambiente. Se fôssemos animais, e a nossa acção danificasse o ambiente (e a nós por consequência), acabaríamos por exemplificar a teoria de Charles Darwin e extinguir-nos-íamos. Se os “eco-despreocupados” vencerem esta batalha pelo nosso eco-impacto (elevado ou reduzido; nefasto ou positivo) no planeta, a vida na terra provavelmente sobreviverá (adaptando-se a novas condições), mas nós não. Nós teremos sido uma espécie animal que não alcançou um estádio suficientemente elevado de Civilização para ter REAL consciência dos seus impactos no ecossistema (como nenhum animal tem) e agir em conformidade com isso.

Nesta batalha entre Humano e Besta, houve vitórias do Humano: A imprensa, o Liberalismo, o fim (?) da escravatura, a Física Quântica. Até o 25 de Abril foi uma pequena vitória. É nesta batalha que se situa a batalha entre Ateus e Crentes, entre Democratas e Despóticos, entre Anarquistas e Fascistas, entre Ecologistas e “eco-despreocupados”, entre Idealistas e Conformistas, entre Universalistas e Nacionalistas, entre Cientistas e Místicos, entre a Liberdade de Expressão e a Censura.

Depois das vitórias do último século (fim (?) do colonialismo, derrota do Nazismo, derrota do machismo (?) ) estamos nesta década a sofrer o contra-ataque das forças da irracionalidade. Os povos começam a ser menos Universalistas, mais aguerridos, mais Religiosos, o FMI tem um poder sem precedente e o défice Democrático começa a apresentar-se como um problema, os movimentos místicos recomeçam a ganhar importância, o Idealismo começa a estar “fora de moda”, ao contrário do Conformismo. É PRECISO TER CUIDADO. NÃO podemos perder os bastiões conquistados! Os direitos civis, a Democracia, a Liberdade de expressão, o Laicismo do Estado são fortalezas na fronteira para que se possam atacar as mais desejadas (Paz entre os Povos, Racionalismo, fim da Opressão, Eco-Equilíbrio, etc…), mas mesmo essas ESTÃO AMEAÇADAS.

Nesta mensagem acabei por referir muitos assuntos que não têm tanto a ver com Religião.

Foi um grande desabafo pessoal.

6 de Março, 2004 jvasco

Animações engraçadas

Este link dá para uma página de animações engraçadas. São pequenas sátiras, na sua maioria sem estarem relacionadas com a temática religiosa. Mas aquela que eu apontei está, tal como uma ou outra que por lá andam. De qualquer forma, há muitas outras engraçadas.

6 de Março, 2004 André Esteves

Quem mente? Quem engana? Não é um ateu certamente…

Veio a público, que a organização Juntos pela vida, que faz parte do movimento anti-aborto sancionado pela ICAR, tem distribuído folhetos entre as crianças de vários estabelecimentos de ensino, nomeadamente em colégios católicos.
O conteúdo dos folhetos é aparentemente chocante, demonstrando até que ponto, estão os apoiantes do movimento anti-aborto, dispostos a ir, para criar nas «futuras elites» do país, um terreno fértil para a sua influência.

Aliás, bastará aceder à pagina do movimento Juntos pela vida para descobrir todo um entulho pseudo-científico, de artigos, estudos e citações que transformam o aborto na causa de todos os problemas do mundo, desde o cancro da mama, à violência doméstica. É característica dos «cruzados» não olharem aos meios para atingirem os fins.


A imagem que foi utilizada nos folhetos, faz parte de um mito urbano que corre na internet, há já 3 anos… Trata-se do artista chinês Zhu Yu, que numa exposição de arte «choque» intitulada «Comendo pessoas», se auto-retratou a comer um «feto», que na realidade não passa de um pato assado com a cabeça de um boneco.


Na China comunista, nas fomes dos anos 60, suspeita-se que tenham sido comidas crianças, bem como estranhos que passavam nas estradas das aldeias. Mas a fonte mais persistente das histórias de canibalismo fetal chinês, é ironicamente uma religião. O Taoismo defende que para se obter saúde e longevidade é necessária a maior variedade possível de alimentos. Esse princípio naturista formou uma das características da culinária chinesa, que é o uso de uma extensiva variedade de alimentos e carnes, e que no passado, até incluía carne humana… (Numa ironia da natureza, foi exactamente este comportamento , que permitiu a entrada do vírus da pneumonia atípica nos seres humanos…).

Hoje, o canibalismo na China continental, bem como em Taiwan é proibido e sancionado pela lei.

Tal é do conhecimento público.

Utilizar uma imagem daquelas, carregada da carga emocional que lhe está associada, sem um aviso, ou com o objectivo de demonstrar o absurdo ou o mau-gosto, mas com a intenção de enganar, só demonstra a falta de ética científica (de que se reclamam…) bem como falta de rigor intelectual e de honestidade…



É caso para perguntar: Quem come quem?



Distribuí-las entre crianças, demonstra ou uma ingenuidade gritante, ou uma estupidez congénita ou uma vontade maléfica de manipular pelo trauma as mentes expostas na sala de aula.

Justificando-se, o Padre Jerónimo Gomes afirma que «as imagens não são chocantes» e argumenta que «tudo se pode dizer (às crianças) desde que seja científico e de maneira simples»

Científico não é. E a simplicidade é enganadora….

O Padre Jerónimo Gomes defendeu-se, dizendo que o folheto era aprovado pela hierarquia da igreja, na figura do Padre Feytor Pinto. Este negou-o publicamente, dizendo que só «aceitava a inclusão do folheto nas pastas distribuídas no Encontro Nacional da Pastoral da Saúde».

Quem mente? Os dois? Ou um, duplamente…

Portugal Diário: Notícia do folheto


Público: A «reacção» do Padre Feytor Pinto


As fotografias usadas no folheto ( ATENÇÃO – Imagem susceptível de causar repulsa. )


O mito urbano desmontado

6 de Março, 2004 Carlos Esperança

O padre Jerónimo Gomes – um talibã da ICAR

Os folhetos anti-aborto que estão a provocar enorme repúdio inserem-se na habitual política de terrorismo ideológico da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR).

Só quem já esqueceu o catecismo do Ensino Primário, durante a ditadura, pode agora surpreender-se. Os horrores que, segundo os padres, Deus reservava aos pecadores – choro, ranger de dentes, noite perpétua, caldeirões de azeite fervente onde o diabo mergulhava as almas dos pecadores com garfos de três dentes – faziam parte do inferno que povoava as noites das crianças.

Durante séculos foi o medo de Deus, e o pavor ainda maior dos seus funcionários, que serviu de caldo de cultura para o autoritarismo do Estado com a cumplicidade do clero.

Com a democracia, a ICAR tem procurado adaptar-se e aceitar a modernidade mas, de vez em quando, o terrorismo beato dos seus próceres vem à tona. Não resiste a querer transformar cidadãos num bando de beatos, tímidos e idiotas genuflectidos à vontade dos seus padres.

Foi o que aconteceu agora com a distribuição de panfletos pela Associação S.O.S. – Vida, um direito que lhe assiste mas que a boçalidade do Padre Jerónimo Gomes levou às últimas consequências ao entregá-los a crianças dos 6 aos 9 anos.

Imagine-se o que se diria – e bem – se as Associações que defendem a descriminalização do aborto abordassem crianças dessa idade para defenderem os seus pontos de vista!

As preocupações com os traumas que podem causar às crianças não interessam aos padres. Eles sabem que a fé é um trauma de infância que, às vezes, dura a vida inteira.

O terrorismo ideológico, crueldade visual e péssimo gosto que agora se execram não são fruto de um acto infeliz, é uma acto deliberado inserido na metodologia habitual.

Aliás, há três pecados que a ICAR combate com inusitada violência, talvez porque são os únicos que os seus padres e bispos não podem cometer: o aborto, o adultério e o divórcio – o primeiro porque as mulheres estão excluídas do sacerdócio e os dois últimos porque este se encontra condenado ao celibato.