13 de Março, 2004 Mariana de Oliveira
Pecado
Santa mãe de Deus, vós, que haveis concebido sem pecado, concedei-me a graça de pecar sem conceber.
Anatole France
Santa mãe de Deus, vós, que haveis concebido sem pecado, concedei-me a graça de pecar sem conceber.
Anatole France
Este pequeno excerto da autoria de Fernando Pessoa é muito curioso:
“Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, aqui estou!
(Isto é talvez ridículo ao ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende que fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e o sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.”
Ouvi na televisão e não acreditei. Li e fiquei perplexo. Será possível que o líder religioso, Omar Bakri, na mais obscena desfaçatez, possa referir-se ao hediondo atentado de Madrid (cerca de duzentos mortos e milhar e meio de feridos), como «uma mensagem»? E que, a partir de Londres, insinue um eventual novo atentado, algures em Itália, como quem faz o anúncio prévio de uma manifestação cívica?
Não bastam uns versículos do Corão para autenticar a assinatura da Al-qaeda, como umas estrofes d’Os Lusíadas não seriam suficientes para incriminar portugueses, mas o islão político é, tal como o cristianismo já o foi, uma ameaça à paz e segurança dos povos, a começar pelos árabes.
O terrorismo é a face mais boçal e cruel da devoção religiosa e precisa de ser contido.
Todos os dias… Debates edificantes…
Elevador do carácter… Confortador da alma…
Aumenta o nosso amor e confiança no próximo!!
A clareza da palavra do evangelho, seguindo as análises de pessoas com formação e anos de experiência a analisar as escrituras…
Hoje à tarde, assisti incrédulo a qualquer coisa como isto:
Observe a decomposição mental, moral e gradual da igreja católica apostólica romana em directo…
Não perca !!!
Miguel Paiva, piedoso deputado do CDS/PP
Quando, há dias, na sequência de um debate sobre mutilação sexual feminina, ouvi um clemente deputado do CDS a divagar sobre o clitóris pensei que era montagem de algum maçom, quiçá de um ateu, a desacreditar o soldado de Cristo-Rei, uma forma de ridicularizar um devoto da senhora de Fátima.
Só quando a comunicação social escrita começou a reproduzir as suas palavras, roubando ao anonimato o insigne cruzado, confirmei a verdade.
Chama-se Miguel Paiva o bem-aventurado, deputado do CDS por Aveiro.
Transcrevo da Visão (N.º 575) o registo da sua inteligente reflexão: «[A importância do clitóris] é algo subjectiva. Tem uma função essencial no prazer sexual mas, para além disso, a sua mutilação não afecta nenhuma função vital [nomeadamente] a função reprodutiva.»
Que sólido talento! – diria o Eça – bem confessado e melhor comungado, a afastar os cinco sentidos, que agradece a Deus, da tentação de um clitóris. O demo, esse tinhoso, convida-o para essa excrescência feminina que tem como única e insuportável função o prazer! Satanás é capaz de lhe solicitar a visão, atrair o olfacto, orientar o tacto, convocar o paladar ou desafiar a casta audição para insuportáveis gemidos. Mas a sólida formação católica defende-o, graças a um ror de padre-nossos e ave-marias que actuam como poderoso demonífugo.
Não é a primeira vez que a Pátria deve tão relevantes serviços ao CDS/PP. Já há anos o não menos casto e igualmente devoto deputado João Morgado tinha afirmado na AR que «o acto sexual só é legítimo para fazer filhos». E, tal como agora, em vez de lhe louvarem o contributo para a moral e o esforço para a salvação das almas, mereceu da então deputada do PSD, Natália Correia, estes versos que aqui reproduzo:
Já que o coito diz Morgado
Tem como fim cristalino,
Preciso e imaculado
Fazer menino ou menina
E cada vez que o varão
Sexual petisco manduca
Temos na procriação
Prova que houve truca-truca
Sendo só pai de um rebento,
Lógica é a conclusão
De que o viril instrumento
Só usou ? parca excepção! Uma vez.
E se a função faz o órgão
– diz o ditado –
Consumada essa excepção
Ficou capado o Morgado.
No Líbano existe um ditado que revela um certo “défice democrático” na cultura daqueles que o apregoam. Suponho que a religião Islâmica e a sua influência cultural não é alheia a isso. O ditado é:
“Quando chegares a casa, bate na tua mulher. Se não souberes porquê, ela sabe.”
Aprendi este ditado ontem, e ainda me impressiona quando o escrevo.
Nas igrejas evangélicas Baptistas é habitual todos os domingos, antes do sermão, realizar-se a chamada Escola Bíblica Dominical.
Os crentes são separados por idade, para diferentes classes, cada uma com temas preparados para a ocasião. É escusado dizer, que a maior parte das crianças vêm cheias de sono…
Principalmente quem veio de longe.
Na classe dos meninos e meninas, a Raquel e o Daniel assistiam à aula.
A Raquel que tinha vindo de longe, adormecia na cadeira, enquanto a professora falava sobre a bíblia, e esta, de rompante fazia perguntas para testar a atenção dos míudos. O Daniel era filho do pastor, e estava sempre a prestar atenção, porque, afinal, tinha a reputação do pai a manter… O Daniel gostava sempre de se sentar atrás da Raquel. Tinha um fraquito por ela…
De repente, a professora vira-se para a Raquelita, que estava de olhos semicerrados a dormir e pergunta:
– Raquel! Diz-me quem é que criou o universo?!
O Daniel que estava por detrás da Raquel, vendo que ela não se apercebia que a pergunta lhe era dirigida, espeta-lhe uma agulha… Num salto, a Raquel levanta-se e exclama:
– DEUS TODO PODEROSO!!!
– Muito Bem, Raquelita…
A professora continua a dissertação sobre Sodoma e Gomorra, e a pequena Raquel volta a adormecer, espraiando-se na cadeira e lentamente fechando os olhos…
Eis que, notando a pose da Raquel, a professora volta á carga:
– Raquel!! Quem é o nosso salvador?!!
O Daniel espeta-lhe outra vez a agulha. Raquel dá outro berro:
– CRISTO!!!
A professora já não percebe o que se passa e resolve esperar e pôr a Raquel em sentido, e com uma pergunta impossível para verificar se ela esteve sempre a prestar atenção…
Quando a menina já está outra vez a adormecer, vira-se e exclama:
– Raquel!! Responda-me imediatamente: O que Eva disse a Adão, depois do seu vigésimo primeiro filho???
Daniel volta a espetar a Raquel, e eis que esta exclama:
– Se voltas a espetar-me com essa coisa horrível, vais ver que te parto a cara!!!
A professora desmaiou redonda no chão…
É cool ser primata!
Eu também o sou…
E tu?
Porque é que não sais do armário?
Afinal, quer queiramos, quer não…
Todos os dias fazemos a dança da evolução…
Hoje é dia de luto. Duas centenas de pessoas morreram e muitas mais ficaram feridas. Hoje é um dia sangrento.
Independentemente da validade das ideologias que defende a ETA ou qualquer outro grupo, morte é sempre morte. Não há desculpa, não há perdão possível para os responsáveis.
Este atentado põe em causa a Democracia e a Liberdade e os culpados devem ser trazidos perante a Justiça. Mas, em nome dos mesmos valores que hoje foram barbaramente atacados, não nos podemos esquecer, não nos devemos esquecer que há direitos a respeitar e que não podemos, a todo o custo, os autores de tais explosões. Os fins não justificam os meios, não nos tornemos no próprio monstro que pretendemos combater.
A brutalidade do massacre hoje ocorrido remete-nos aos piores pesadelos com que a humanidade se defronta. A orgia de horror, na estação de Atocha, onde pereceram ou ficaram feridos centenas de estudantes e trabalhadores, só pode ser obra de fanáticos que encontram na barbárie a satisfação da demência.
É precisa demasiada fé para tamanha crueldade.
Quer sejam os suspeitos do costume, a ETA, o bando islâmico Alqaeda ou quaisquer outros, os autores do covarde atentado, não pode ser frouxa a condenação nem débil a resposta – estão em causa a democracia e a liberdade, que não podem ficar reféns do medo e da violência.
Dito isto, espero que espanhóis se não deixem influenciar pelo ruído de fundo com que os facínoras quiseram interferir nas próximas eleições.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.