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30 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Vasco Pulido Valente pode não ser católico mas também mente

No dia 25 de Abril p.p. Vasco Pulido Valente (VPV) publicou no Diário de Notícias um ensaio sobre o 25 de Abril de 1974 (site indisponível). Não tem a ver com religião nem com o ateísmo, mas podia ter a ver com a verdade. Porque o ateísmo é a luta pela verdade deixo aqui as considerações que o texto de VPV me mereceram.

Não fora José Saramago o Nobel do nosso contentamento e o nosso mais brilhante romancista do séc. XX, e passariam despercebidas as diatribes de que foi alvo, sobretudo de quem não leu o Ensaio sobre a lucidez.

Não fora o propósito ideológico de esvaziar de conteúdo o acto fundador da democracia portuguesa e a tentativa canhestra de rescrever a história, e a aférese do R passaria sem reparo na tentativa de descaracterizar a Revolução de Abril.

Não fora Abril o mês e 25 o dia e o ensaio de Vasco Pulido Valente, publicado no Diário de Notícias, não mereceria reparo. Em 28 de Setembro ou 25 de Novembro não passaria de uma opinião bem escrita e mal fundamentada, injusta e irónica, destinada a incensar Mário Soares pelo mérito que lhe cabe e pelo bónus que lhe atribui.

Mas, por ser a data que era e a injustiça que foi, senti-me revoltado com as seis páginas de difamação da data maior do século XX e dos seus mais lídimos heróis.

Refutar omissões e inverdades exigiria o espaço do ensaio. Mas não é de um texto de história que se trata, é um libelo acusatório aos protagonistas de Abril, uma vingança para com os que fizeram o que outros não tiveram coragem e se ressentiram de não terem sido eles a fazer o que deviam.

O texto de VPV não foi escrito com o cérebro, foi com o fígado, destila bílis. Não faz história, provoca náusea. É injusto e falso. O preconceito ideológico é nódoa que deixou cair no pano da sua prosa e não há benzina que a desencarda. Há, aliás, uma arrogância intelectual insuportável no desprezo a que vota os militares. É por isso que não promove a discussão, causa vómitos. É um ajuste de contas que não o honra.

30 de Abril, 2004 André Esteves

O Ateísmo, a linguagem, a religião, a biologia, a tolerância e os macaquinhos… Parte I

O caminho que tomamos ao afirmarmo-nos ateus não é fácil. Ao desmontarmos toda a «canga» que uma cultura religiosa nos impõe, somos obrigados a rever e a analisar com profundidade as bases éticas e causas da nossa moral, da nossa visão do mundo, das nossas emoções e da nossa razão.

Não é fácil. Nunca é fácil para cada um de nós. E se fosse fácil, não valeria a pena…

O crescimento pessoal, a liberdade mental e a solidez dos valores que obtemos são demasiado importantes para serem menosprezados. Mas o caminho de um ateu será sempre pessoal e único. Partilhá-lo é a nossa maneira de nos reconhecermos uns aos outros. De nos juntarmos à volta da fogueira, e hoje, à frente de um monitor, tentar saltar o espaço entre as nossas mentes, contando histórias…

Esta é uma história…

As religiões do livro (e em certa medida o marxismo através do conceito hegeliano do progresso) criaram uma dualidade entre o homem e a criação1. O homem é um ser especial. Criado com objectivos diferentes do resto da natureza.

Génesis 1:2

25 Deus, pois, fez os animais selvagens segundo as suas espécies, e os animais domésticos segundo as suas espécies, e todos os répteis da terra segundo as suas espécies. E viu Deus que isso era bom.

26 E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais domésticos, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se arrasta sobre a terra.

27 Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

A partir desta visão do mundo, criou-se um duplo sistema de valores. Um para o homem e outro para a criação. A natureza à nossa volta era uma realidade biológica separada. O domínio e usufruto da natureza tinha-nos sido dado por deus. Como seres à imagem e semelhança de deus éramos superiores e com nada em comum com o mundo à nossa volta.

Humbolt, Lamarck e tantos outros naturalistas, puseram a descoberto um novo mundo biológico, de variedade e propriedades até antes inimagináveis. E depois veio Darwin…

Darwin quebrou definitivamente esta mentira. Ao estabelecer a ligação entre todos os seres vivos, através da evolução, obrigou-nos a sacudir a arrogância de nos acharmos especiais perante os outros seres vivos…

Assim, hoje quando olhamos para nós próprios, devemos ver-nos como animais, um pouco mais habilidosos, um pouco mais comunicantes, com um pequeno sentido de história e do tempo. Estamos sempre presos pelas amarras do ADN, do nosso programa genético, dos instintos e capacidades que dele obtemos individualmente. A cultura é a preservação histórica, através do contacto dos vivos, das prácticas e do que escrevemos, no pouco que realmente conseguimos passar uns aos outros, do que vamos aprendendo como seres humanos.

Mas tal não é exclusivo do homem.

Num esforço3 para clarificar o nosso conhecimento do comportamento dos chimpanzés, foi realizado há 6 anos uma campanha bem planeada e coordenada de recolha de dados comportamentais de dezenas de comunidades de chimpanzés. Estes grupos separados por rios, montanhas, selva e centenas de quilômetros apresentavam comportamentos sociais característicos de cada grupo. Mais… Os comportamentos eram transmitidos de geração em geração, mudavam com o tempo e alguns eram transportados pelas jovens fêmeas que procuravam novos grupos…

CULTURA!!!

Só a cegueira e arrogância divinamente inspirada nos manteve cegos para as verdades da natureza…

Assim, a base do comportamento que nos define como humanidade está profundamente ligada à natureza, à realidade dos constrangimentos da reprodução, sobrevivência, e que está subjacente a qualquer sociedade, ideologia e cultura humanas. Podemos, por exemplo, perguntar-nos:

– Quais serão as bases biológicas da tolerância?

Na próxima parte do nosso artigo, iremos explorá-las nos nossos primos biológicos…

Referências:

1 – “As raízes históricas da nossa crise ecológica” por Lynn White

Lynn White, Jr. “The Historical Roots of Our Ecological Crisis” (Science 155(3767):1203-1207, 1967)

2 – Bíblia, várias dezenas de autores desconhecidos…

3 – “As culturas dos Chimpanzés” por Andrew Withen e Christophe Boesch

Withen, Andrew ; Boesch, Christophe “The cultures of Chimpanzees” (Scientific American:49-55 Janeiro 2001)

29 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Mais alguns dados sobre a Igreja católica e os judeus

Pio XII excomungou todos os comunistas do mundo em 1949 e nem um único nazi, nem o próprio Hitler que nasceu católico. Em Agosto de 1943 ainda Pio XII exortava as autoridades italianas para manterem as leis raciais, leis que na Eslováquia serviram para deportar judeus para Auschwitz com a cumplicidade da igreja católica autóctone.

Daniel Golhagen cita Guenter Levy: «A partir do momento em que Hitler subiu ao poder, todos os bispos alemães começaram a afirmar a sua apreciação pelos valores naturais importantes de raça e pureza racial».

O racismo dos alemães foi responsável pelos massacres em que, juntamente com croatas, lituanos, eslovacos e outros católicos se esmeraram. E a ICAR, que tanto se alheou da sorte dos judeus, não se esqueceu, no fim da guerra, de ajudar a fugir à justiça os carrascos. Até Eichmann, que era protestante, resolveu inscrever-se como católico, no seu recente passaporte, para agradecer aos padres que lhe facilitaram a fuga, em segurança, para a Argentina.

Na Alemanha o bispo militar católico Franz Justus Rarkovski, líder espiritual dos padres incorporados na Wehrmacht era profundamente nazi. Em compensação os crucifixos eram autorizados nas escolas nazis. Os bispos e padres católicos (e também protestantes) mandaram fazer a investigação genealógica, sem protestos ou hesitação, para servir de orientação para a solução final idealizada por Hitler.

A Eslováquia e a Croácia foram os países onde os bispos e padres católicos mais se empenharam a apoiar os assassínios em massa de judeus. Na Eslováquia, os bispos católicos emitiram uma carta pastoral dirigida a toda a nação justificando a deportação de todos os judeus para a morte. Ninguém repreendeu o presidente – padre Josef Tiso, que pregava aos eslovacos que constituía «um acto cristão expulsar os Judeus de modo a que a Eslováquia pudesse libertar-se das “sua pragas”». Acabou executado, pelos crimes cometidos, em 1947. O cardeal August Hlond, o chefe da ICAR polaca, em Fevereiro de 1936, emitiu uma carta pastoral «Sobre os princípios da moral católica» onde se lia que, «Enquanto os judeus continuarem a ser judeus, existe e continuará a existir um problema judaico…»

Os chefes da ICAR lituana «proibiram os padres de ajudar os Judeus fosse de que forma fosse». Pio XII nunca repreendeu padres-carrascos e apoiou Mussolini, que cometeu assassínios em massa. Os bispos eslovacos esperaram até 1943, quase um ano após as deportações dos judeus, com as brutalidades a serem bem conhecidas para emitir uma carta pastoral contra a deportação e isto porque a guerra estava a correr mal aos alemães. Mesmo assim, mandaram que fosse lida em latim.

Nos primeiros dias de Maio de 1945, o cardeal da Alemanha, Bertram, ao saber da morte de Hitler, não quis abandoná-lo, ordenando que em todas as igrejas da sua arquidiocese fosse rezado um requiem especial, nomeadamente «uma missa solene de requiem em lembrança do Führer».

28 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

Mas se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos,

ou pudessem desenhar com as mãos e fazer obras como as dos homens,

representariam os deuses, o cavalo semelhante aos cavalos,

o boi aos bois, e fariam corpos

como os seus próprios


Xenófanes, in “Fragmentos”

28 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Milagres originais são cada vez mais raros

A rainha Santa Isabel, mulher de D. Dinis, apesar de nascida em terras de Espanha, é sobrinha da também Isabel (e igualmente rainha) da Hungria, santa muito antes dela e provável pioneira do bonito milagre que a sobrinha obrou (transformar pão em rosas) – lê-se no Diário de Notícias de hoje.

Talvez ignorasse o pio edil de Coimbra, Dr. Carlos Encarnação, o plágio do milagre quando atribuiu à ponte Europa o nome da rainha que se limitou a fazer um truque de família. De qualquer modo um milagre assim produz sempre belos efeitos e justifica uma canonização.

Os mais atentos sabem que os milagres são geralmente plagiados. As Senhoras chorosas, por exemplo, começaram por ser uma especialidade italiana que se adaptou bem nos países onde a ICAR se expandiu, quiçá, desiludidas com as pessoas que dormem de costas, quando deviam dormir de lado para não acicatar a luxúria que, como é sabido, é obra do demo e conduz à perdição da alma.

Hoje poucos as levam a sério, apesar de terem variado as lágrimas da cera ao óleo de lubrificação automóvel, do sangue de pomba ao de origem desconhecida.

O santo prepúcio, produto da circuncisão de Jesus Cristo ao 8.º dia, segundo a lei, que a velha judia que praticou a operação guardou num vaso de alabastro, em óleo de nardo, fez excelentes milagres durante séculos. Foi das relíquias mais prestigiadas e promotora de grandes devoções. Um dia veio a ser declarado falso e impróprio para novos milagres porque enquanto uns exegetas admitiam que JC ressuscitou com outro, naturalmente ressarcido pela alimentação, ganharam os que entenderam que ressuscitou com o prepúcio original.

Conclusão: Não há prepúcio que resista nas mãos do clero e as relíquias e os milagres têm prazos de validade.

28 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Alguns dados sobre a mercearia dos milagres

Pio XI bateu todos os antecessores ao criar 27 santos e 41 beatos. Pio XII acabou por suplantá-lo no que se refere aos santos, mas foi com JP2 que a ICAR se lançou na criação em série, dando início a uma indústria moderna. Nem os honorários dos médicos, avençados para autenticarem milagres, o tolheram. No dia 25 de Abril último ia em 477 santos e 1337 beatos a produção, dos quais só 3 couberam a Portugal.

28 santos e 56 beatos é o número total de portugueses habilitados a intercederem junto de Deus na obtenção de favores a troco de orações, géneros ou dinheiro. No entanto os próximos milagres vão ser obrados pelos 31 candidatos que se encontram em lista de espera.

Os negócios da fé vão bem. Soem florescer nos períodos de depressão e Portugal está a importar mão de obra especializada para obstar à falta de vocações autóctones. A criação de santos e beatos insere-se numa política de captação de recursos humanos.

As preces para conversão da Rússia são hoje orientadas para despertar vocações e já pouco se usam para prevenir tremores de terra ou, sequer, trovoadas – uma especialidade outrora exercida por Santa Bárbara. Há imensas vagas no sector terciário (o dos terços) à espera de jovens do sexo masculino, de preferência castos, para se estabelecerem por conta própria em paróquias vagas.

27 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

Deus morreu. Não digas que isso é absurdo e ininteligível, só porque as seitas religiosas enxameiam hoje o mundo. Porque é quando uma doença é incurável que há mais abundância de remédios para a curar. Como a proliferação de religiões no fim do império romano era o sinal de que a religião de Roma estava a acabar.

Vergílio Ferreira, in “Escrever”

27 de Abril, 2004 jvasco

Ateísmo e Ética

Embora exista um consenso geral em relação à correlação positiva entre educação e Ateísmo (documentada nas referências do meu artigo anterior), a maior parte das pessoas desconhece que os dados também demonstram uma correlação positiva entre Ateísmo e comportamento ético.

Eu já sabia que havia menor percentagem de Ateus nas cadeias que na sociedade (embora isso também se pudesse dever ao factor educação que referi no meu artigo anterior), e também sabia que nos EUA um estudo verificou que a percentagem de Ateus entre as pessoas apanhadas a fugir aos impostos é menor que a do resto da sociedade (vi isto num documentário no BBC prime), além de que já tinha essa ideia intuitiva.

Mas NESTA referência (a mesma do meu artigo anterior), cheia de estudos científicos devidamente referenciados, as conclusões são muito claras e esse respeito, e desfazem todas as dúvidas. Vou traduzir parte:

“De acordo com a revista Skeptic vol.6 #2 1998, em vários estudos, há uma correlação negativa entre teísmo e moralidade. De acordo com o estudo de 1934 de Franzblau, há uma correlação negativa entre religiosidade e honestidade. O estudo de 18950 de Ross 50 mostra que ateus e agnósticos mais facilmente mostram a sua vontade de ajudar os pobres que os profundamente religiosos. Em 1969, Hirschi e Stark não encontraram relação entre a probabilidade de uma criança desrespeitar uma lei e o facto de frequentar ou não a igreja.”

Creio que esta correlação entre comportamento ético e Ateísmo se deve principalmente à correlação entre educação e comportamento ético. Devido à correlação exposta no meu artigo anterior entre Ateísmo e educação, estabelece-se assim uma correlação entre ateísmo e comportamento ético. Creio que esta é a razão principal, mas duvido que seja a única.

26 de Abril, 2004 Carlos Esperança

Beata Alexandrina de Balazar, rogai por Portugal

Em 25 de Abril a Pátria fez-se representar pela ministra dos Negócios Estrangeiros, Teresa Gouveia, o embaixador de Portugal no Vaticano, Ribeiro de Menezes, e o chefe de gabinete da ministra, que se deslocaram ao Vaticano onde o papa certificou os milagres de que é acusada a falecida Alexandrina Costa, de Balasar. Com as autenticações milagreiras do dia, JP2 elevou para 477 o número de santos e 1377 o de beatos que lhe devem a distinção.

A Pátria ficou eufórica com a beatificação da venerável Alexandrina cuja intercessão foi decisiva na cura de uma portuguesa. Obrou um milagre magnífico, que não teme confronto com os que se fazem lá fora, realizado na área da neurologia, para benefício de uma emigrante residente em França.

A beata Alexandrina há muito que merecia a distinção. Dedicou-se à oração, com excelentes êxtases às sextas-feiras, defendeu a virgindade e passou os últimos treze anos e sete meses finais da vida em jejum total e anúria (apenas tomava a comunhão), facto igualmente confirmado por JP2. Deve-se-lhe o pedido ao papa para a consagração do mundo contra o comunismo, vontade satisfeita com resultados arrasadores.

Dos ataques violentos que a apoquentaram, devidos certamente a possessão demoníaca, foi convenientemente exorcizada várias vezes, até que o Maligno desistiu da peleja.

Foi, pois, com júbilo que a Pátria assistiu à elevação aos altares da primeira dos 32 candidatos nacionais que esperam os bons ofícios do cardeal D. José Saraiva Martins, ilustre filho dos Gagos, concelho da Guarda, Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos.

À dívida para com a Senhora de Fátima que, após o naufrágio de um petroleiro, preservou as costas portuguesas da maré negra, facto muito apreciado pelo ministro da Defesa, soma-se a alta distinção com que João Paulo II quis agraciar a santinha de Balazar.

Agora espera-se a rápida canonização de Nuno Álvares Pereira que não carece da adjudicação de qualquer milagre pois, segundo D. José Policarpo, Urbano VIII fez uma excepção para quem há mais de 200 anos era prestado culto e reconhecida, pelo povo, a santidade.

O país, com 200 mil portugueses com fome, 500 mil sem trabalho e mais de um milhão de pobres, merece estas auspiciosas notícias. É a retoma que aí vem.

26 de Abril, 2004 jvasco

Ateísmo e Educação

Quando fiz um comentário a um artigo qualquer, referi umas estatísticas acerca da relação entre o Ateísmo e uma melhor educação/formação e um superior comportamento moral.

I – As pessoas em geral não duvidam que, de facto, existe uma correlação positiva entre a educação e o Ateísmo. Lembramo-nos que nos períodos da história com maiores taxas de analfabetismo foi quando o Ateísmo era completamente desprezável e temos a consciência que o crescimento do Ateísmo acompanhou o crescimento das taxas de alfabetização. As pessoas também têm, em geral, a noção de que nos meios Académicos a percentagem de Ateus é superior à percentagem de Ateus na sociedade. Esta correlação não é, em geral, posta em questão nem por Crentes nem por Ateus, embora se possa questionar qual de dois motivos leva à existência de tal correlação:

a) Será que é uma “maior tendência para o Ateísmo” (consubstanciada numa personalidade com espírito crítico, gosto pela reflexão, curiosidade, etc…) que leva a que o indivíduo em questão adquira uma formação mais avançada?

b) Será que é a educação, treinando o espírito crítico, fazendo as pessoas encararem ideias diferentes, encorajando um debate livre e sério, fazendo entender o funcionamento do método científico, que encoraja o Ateísmo?

c) A correlação não prova nada, nem mostra que o Ateísmo é desejável. Também existe uma correlação entre a educação e a probabilidade de fumar canabis nas sociedades ocidentais, além da correlação existente entre educação e probabilidade de se suicidar.

—-

Em geral o debate parte de I e centra-se na discussão entre a), b) e c). Os Crentes costumam alertar para c) e os Ateus podem acreditar mais em a) ou b) consoante o indivíduo em questão. Eu acho que a) ou b) são igualmente verdadeiros.

Mas o “Atento” duvidou de I. E pediu-me estatísticas.

Como acredito no valor do espírito crítico, só podia respeitar o pedido dele, e prometi que só voltaria a escrever neste blog quando tivesse encontrado tais estatísticas. Nem sabia aquilo em que me estava a meter…

O que se passa é que eu já tinha visto as estatísticas. Mas não na Internet… em papel, e já nem sabia onde estava a maioria das minhas referências.

Eu queria encontrar várias coisas:

1-Uma distribuição actual das taxas de analfabetismo por país. Encontrei um relatório da UNESCO aqui.

2-Uma distribuição da percentagem de Ateus por país. Encontrei estes dados.

Com estes dados já poderíamos tirar algumas ilações e sustentar parte das conclusões que afirmei. Mas eu queria mais.

3- Estatísticas sobre a evolução das taxas de analfabetismo. Procurei muito, muito muito. Não encontrei dados acerca das taxas de analfabetismo ou qualquer outro indicador da educação inferior a 1970…

4- Estatísticas sobre a evolução do ateísmo ao longo da história. Eu poderia recomendar as fontes onde tinha visto a evolução do Ateísmo mundial ao longo do último século, mas sem as hiperligações respectivas (o livro “A Guerra das Civilizações” vai buscar esses dados a uns artigos de jornais de referência que poderei referenciar se alguém estiver interessado). Mas na Internet, por mais que procurasse, não encontrei nada.

Os dados 3 e 4 não eram necessários para sustentar qualquer afirmação que já não pudesse ser sustentada pelos 1 e 2. Mas seriam um complemento muito útil. Lamento muito não ter encontrado. Se alguém encontrar, agradeço que coloque nos comentários deste artigo.

5- Estatísticas que mostrasem a relação entre a formação Académica de um indivíduo e a probabilidade de ser Ateu. Estava à espera que fosse impossível encontrar isso na internet, principalmente depois dos meus insucessos à procura de 3 e 4 (que esperaria serem muito fáceis de encontrar). No entanto, encontrei isso e muito mais. Ora vejam ISTO.

São estatísticas sobre “Inteligência e crenças Religiosas”. Todos referenciados, tem dezenas de estudos científicos sobre esta temática. E quais são as conclusões gerais? Vou citar (e traduzir) parte:

“Porque é que esta correlação [entre educação e ateísmo] existe? A primeira resposta que nos vem à cabeça é que as crenças religiosas tendem a ser menos lógicas ou incoerentes do que crenças laicas […]. Mas tal explicação será seguramente rejeitada por pessoas religiosas, que procurarão outras explicações e racionalizações.”

Confirmem. Vão lá à página e vejam por vocês.

Como bónus ficamos a saber que, enquanto entre a população em geral (cerca de) 10% das pessoas não acredita em Deus, entre os Cientistas essa percentagem é de 60%. Entre os Físicos essa percentagem é de 80% (estou espantado, diria que era maior!).