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25 de Maio, 2004 André Esteves

E pimba!

Vinha eu a passear pelos canais da televisão, quando tropeço na 2:, numa entrevista com Maria João Avillez.

A anunciar o seu último livro de entrevistas com Álvaro Cunhal (feiras do livro, sabem?).

Fiquei estranho. Alguma coisa estava errada.

Muito errada. Extremamente errada.

Transplantaram-lhe a cabeça para outro corpo???

AAAAHHHHHHHHHH!! HOORRROORRR!!!!

Afinal não. (UFA…!)

Habituado a vê-la encostar Cavaco Silva à parede, por usar o nome de deus em vão, ou a adormecer as minhas cadelas com os temas abordados, tinha aceite o seu tailheur conservador como uma segunda pele.

Maria João, mantenha a sarja! Tira-lhe anos! Linda!! (Pelo menos até começarmos a ouvi-la falar.)

24 de Maio, 2004 André Esteves

Sinfest, a festa dos pecados.



Legendas:

1ºQuadrado: À volta do século 19, o ateísmo espalhou-se, como os Backstreet Boys.

2ºQuadrado: Filósofos anunciaram a morte de deus. Psicólogos sonhavam teorias sem necessitarem dele

3ºQuadrado: A igrejas esvaziaram-se. A fé entrou em declínio. As pessoas sentiam-se desiludidas com deus.

4ºQuadrado: Não é de admirar, que ele esteja tão desesperado.

Muito raramente, encontramos a excelência. Sinfest é a excelência. Esta banda desenhada ateia consegue quebrar com todos os preconceitos que possamos ter sobre o tema colocado nos quadradinhos. As histórias andam à volta de um conjunto de personagens que personificam a condição humana moderna. Slick e Monique são o foco central do trama. Ele um epicuriano perverso que procura a realização material sem nenhum esforço. Ela uma vamp que procura esconder a mulher sensível que é, encontrando sempre mais fundo, a vamp que realmente é.

Por sua vez, deus e o diabo, bem como o dragão oriental colocam o pano de fundo filosófico nesta autêntica festa dos pecados. (deus está sempre a lembrar ao diabo que ele não passa de uma marioneta da sua vontade, e procura ignorar a existência do sarcástico e independente dragão oriental, personificando os problemas filosóficos do mal, do livre arbítrio e do choque alienígena das culturas orientais na visão, até à pouco tempo exclusiva, da religião judaico-cristã.)

As paródias politicamente incorrectas misturam-se com caligrafia japonesa e comentários profundos revestidos de uma simplicidade e subtilezas desarmantes.

Tatsuya Ishida, o autor, gosta de se apresentar como um rebelde. E é-o pela excelência. O traço clássico em tinta de Nanquim, quase no plágio de «Calvin e Hobbes» (em que Slick é a homenagem final) é desmontado com regularidade e cuidado sistemático revelando um artista com um controle magistral da sua técnica.

Consumir com meditação e uma boa gargalhada epifânica.

A não perder!

Sinfest – A banda desenhada

24 de Maio, 2004 Carlos Esperança

O culto que a igreja quis silenciar

«Muitos dos habitantes de Asseiceira, Rio Maior, continuam a crer que Nossa Senhora apareceu ali várias vezes a um menino chamado Carlos Alberto. Cinquenta anos depois da primeira aparição, o culto mantém-se apesar da rejeição da Igreja Católica. No local pedem-se graças, pagam-se promessas e movimenta-se dinheiro» – lê-se em «O MIRANTE», semanário regional, de 20 do corrente.

O admirável acontecimento ocorreu pela primeira vez em 16 de Maio de 1954 quando o Carlos Alberto, então aluno da 4.ª classe da escola primária de Asseiceira, se encontrava a rezar. Apresentou-se-lhe como «Mãe do Redentor», junto a um loureiro que ainda lá está de pé. A partir daí, até Janeiro de 1955, a Mãe do Redentor apareceu todos os dias 16 ao garoto, altura em que compromissos de agenda a levaram para outras paragens.

São muitas as pessoas que dizem ter presenciado acontecimentos sobrenaturais e assistido a milagres. No entanto o milagre mais difícil foi o do cego Silvério da Costa que de repente começou a ver.

Não obstante a cura de cegos ser uma especialidade bem difícil, onde JC firmou créditos, nem assim a ICAR procura ir além do que afirmou numa nota patriarcal de 7 de Agosto de 1954 «nada existir que confirme ou pareça confirmar a veracidade de tais aparições», recusando-se a conceder o alvará para exploração do milagre.

Todavia se a tendência religiosa de limitar os milagres por hectare, vier a desaparecer, a Mãe do Redentor de Asseiceira tem condições para se tornar numa das maiores vedetas do culto mariano em Portugal.

24 de Maio, 2004 Ricardo Alves

Sim à Laicidade, não à Concordata (1)

Existem boas razões de princípio para se ser contra qualquer Concordata que comprometa a República de que somos cidadãos.

1) Os direitos necessários ao exercício da liberdade religiosa já são garantidos pela Constituição da República Portuguesa, nomeadamente a liberdade de consciência, a liberdade de culto, a liberdade de expressão e a liberdade de associação (ver os artigos 37, 41, 45 e 46). Os católicos exercem estes direitos diariamente e é legítimo que o continuem a fazer. A Concordata não é, portanto, necessária do ponto de vista da garantia das liberdades fundamentais dos cidadãos portugueses.

Só se compreende a sua existência como forma de impôr privilégios para a comunidade católica portuguesa, ou seja, para criar desigualdades entre os cidadãos. (Este aspecto será desenvolvido num texto futuro.)

2) Qualquer Concordata implica o reconhecimento por Portugal do estatuto estatal do Vaticano. Ora, a Santa Sé não governa um Estado, mas sim uma igreja. Não existe um povo do Vaticano, mas sim cerca de 400 pessoas que acumulam o passaporte da Santa Sé com a nacionalidade de outros Estados, e geralmente também com o estatuto eclesiástico. Além disso, o território administrado é o mais exíguo do mundo, e a Santa Sé não ratificou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, não sendo por essa razão um membro efectivo da ONU. Apenas um acordo de 1929, assinado por Mussolini, impede que a República italiana reclame a soberania total sobre os 0.44 km2 vaticânicos. Este pseudo-Estado, a última ditadura da Europa, tem usado o seu estatuto de “observador” na ONU para impôr concepções dogmáticas em matérias de planeamento familiar (e outras).

A República não deve reconhecer igrejas, mas sim cidadãos livres e iguais. Reconhecer uma igreja como se fosse um Estado é portanto um insulto à laicidade.

24 de Maio, 2004 André Esteves

Pequenos absurdos históricos incómodos

O imperador romano Constantino, o homem que se «converteu» ao cristianismo e o tornou religião do império, morreu há 1667 anos. (e um dia…)

Embora bem morto, o seu corpo embalsamado continuou a actuar como chefe de estado, recebendo as figuras do estado e relatórios diários dos seus ministros, como se nada se tivesse passado.

Esta situação continuou até ao inverno.

Muito cristão… Seria?

Quando li este pequeno pedaço de história (e são tantas histórias) que coloca a nossa visão do passado de sobreolho, lembrei-me de uma pequena piada soviética:

Estaline morreu. Puseram-no em câmara ardente. O «paizinho dos povos» foi visitado por todo o povo de Moscovo. Na noite antes do enterro, reuniram-se os seus comparsas à volta do caixão.

No meio da escuridão, olhavam uns para os outros, desesperados. Enquanto se entreolhavam, sussurravam com horror nos olhos.

– Estaline morreu… Estaline morreu…

E assim continuaram durante horas. Até que Béria finalmente ganhou coragem e disse a meia voz:

– Estaline morreu!

Todos gelaram de terror. Béria perguntou, aterrado:

– E quem é que lhe vai dizer?

23 de Maio, 2004 André Esteves

A Moral encontra-se na religião?

«O cristão em mim diz-me que é errado, mas o guarda prisional em mim diz

‘adoro fazer um homem crescido mijar-se’»

Joseph Darby guarda prisional na prisão de Abu Ghraib, Iraque.

No Público

Onde estava Joseph Darby?

Aos domingos na igreja… Todos os outros dias no «trabalho» e na vida real…

E onde é que se vive a moral?

A moral está no dia a dia.

Não é antinatura, então, que um religioso peça uma teocracia?

Não será natural, para todos os que vivem uma vida natural, pedir uma democracia sem referências religiosas?

No púlpito a moral só está lá, porque a roubaram de todos nós.

23 de Maio, 2004 jvasco

Produtos Milagrosos

Eles prometem tudo!

Se precisarmos de sorte nos exames, de prender a pessoa amada, de encontrar emprego ou de nos curarmos de uma terrível doença, só temos de procurar estes mestres-curandeiros-espiritualistas que fica tudo resolvido num fechar de olhos. É preciso ter cuidado, pois são eles quem nos alerta que “anda muito charlatão por aí”, mas que eles conseguem resultados onde os outros falham.

Em Londres havia um que prometia que era capaz de fazer o filho nascer rapaz. Cobrava 500 libras, mas devolvia o dinheiro se o ritual não funcionasse. O ritual “funcionava” metade das vezes o que já era suficiente para obter uma média de 250 libras por cliente.

Foi com prazer que li no público que o astrólogo Baglu foi condenado a pagar 2000 contos pela Comissão de Aplicação de Coimas em Matéria de Publicidade. É considerada ilegal “a publicidade que, explorando a ignorância, o medo, a crença ou a superstição dos destinatários, apresente quaisquer bens, produtos, objectos, aparelhos, materiais, substâncias, métodos ou serviços como tendo efeitos específicos automáticos ou garantidos na saúde, bem-estar, sorte ou felicidade dos consumidores ou de terceiros, nomeadamente por permitirem prevenir, diagnosticar, curar ou tratar doenças ou dores, proporcionar vantagens de ordem profissional, económica ou social, bem como alterar as características físicas ou a aparência das pessoas, sem uma objectiva comprovação científica das propriedades, características ou efeitos propagandeados ou sugeridos”.

O astrólogo recorreu para o tribunal constitucional alegando que tal proibição atenta contra diversos direitos fundamentais seus, tais como a liberdade de expressão e o direito a informar, bem como a sua liberdade de iniciar uma actividade económica. Mas não há dúvidas de que o direito à liberdade de expressão está condicionado, quer para evitar a difamação, quer para regulamentar a publicidade. No fim, o Tribunal Constitucional condenou astrólogo Baglu a pagar os tais 2000 contos com as custas e ainda uma taxa de justiça no valor de 1335 euros.

23 de Maio, 2004 Carlos Esperança

Portugal não abdica da referência a cristianismo na futura Constituição europeia

«A lista de signatários integra a Itália, Polónia, Lituânia, Malta, República Checa e Eslováquia. Segundo o porta-voz do ministério polaco dos Estrangeiros, Boguslaw Majewski, o documento está aberto à adesão de outros países» – lê-se no Jornal de Notícias.Como se vê, estes países constituem a fina flor dos arautos da democracia, os exemplos mais estrénuos na defesa da liberdade religiosa, a vanguarda histórica do respeito pelos direitos humanos.

Violentas ditaduras e a subserviência ao Vaticano são desgraças que lhes enchem a alma de orgulho e o passado de vergonha.

Portugal, cuja Constituição é omissa em referências religiosas, não se resigna a alardear, por intermédio dos elementos do Opus Dei que integram o Governo, o desejo de alterar o laicismo da Constituição actual, nostálgicos da Constituição de 1933 onde se afirmava que «Portugal é um país tradicionalmente católico».

O sonho maior de um beato é impor uma teocracia e este Governo recusa-se a ver o crepúsculo moral a que a sua aliança com o CDS o conduz.

O desvario teocrático que grassa no mundo islâmico foi o sinal de alerta que levou os países europeus a resistir aos apelos fanáticos de JP2 de introduzir a referência ao cristianismo na futura Constituição europeia, fartos de lhe ouvirem exaltar a santidade e o martírio numa conduta equivalente à dos ayatollahs. Mas não consideremos a vitória adquirida.

Não podemos consentir que a igreja se transforme no lupanar da liberdade, onde se prostitua a democracia com o incenso a servir de permanganato.

22 de Maio, 2004 Ricardo Alves

A luta continua, "Deus" para a rua

A primeira pedra no edifício das democracias modernas é a separação da igreja do Estado. Apenas quando os governantes deixaram de o ser “em nome de Deus” (que não sabiam como consultar) e passaram a sê-lo em nome do povo (e embora nem sempre o consultem), se criaram as condições para o advento das democracias modernas.

A actual obsessão do Vaticano e de alguns políticos conservadores com uma referência explícita, primeiro a “Deus”, e agora ao “património cristão” no Preâmbulo da Constituição Europeia parece assim uma tentativa pitoresca de regressão ao tempo da monarquia por direito divino.

Na verdade, a histeria em torno da “referência cristã” tem servido para esconder que a ICAR conseguiu uma importante vitória com a adopção do artigo I-51 da Constituição Europeia, que não apenas garante que a Constituição não afectará o estatuto das igrejas como garantido pelo direito nacional, mas também cria um mecanismo de consulta das igrejas nos processos legislativos europeus. Não por acaso, a Conferência dos Episcopados Europeus já declarou estar muito satisfeita com o actual projecto de Constituição…