2 de Junho, 2004 Mariana de Oliveira
O Governo Espanhol não cede
Na passada quinta-feira, a Conferência Episcopal Espanhola zurziu arduamente o Governo socialista espanhol por os ministros da Justiça e da Saúde terem anunciado reformas em matérias sobre as quais a hierarquia da Igreja Católica tem uma posição diametralmente oposta: reprodução assistida, o aborto e a legislação sobre uniões de facto e casamentos de homossexuais.
A estas críticas respondeu Maria Teresa Fernandez de la Vega, vice-presidente e porta-voz do Governo, dizendo que a Igreja Católica não pode querer impor as suas normas à sociedade. O Estado espanhol não é confessional, e tem normas e valores morais consagrados na Constituição.
A ministra da saúde, Elena Salgado, por seu turno, afirmou que a despenalização do aborto e a supressão de impedimentos à fecundação “in vitro” e à utilização controlada de embriões na investigação biomédica respondem à lógica dos tempos e a necessidades que os cidadãos aceitam com naturalidade. Assim, o documento dos bispos vai contra os desejos da sociedade.
Finalmente, há alguém nesta Península Ibérica que é capaz de tomar uma posição clara e coerente com os valores constitucionais de um Estado moderno e civilizado, nomeadamente com a laicidade e o consequente afastamento da(s) Igreja(s) dos assuntos públicos.
Como resposta à reacção do executivo de Zapatero, a Conferência Episcopal anunciou que a ICAR apoiará mobilizações contra os projectos legislativos do Governo. Enfim, mais uma tentativa de impor a toda uma sociedade plural e multicultural os valores de um único grupo de pessoas.
Infelizmente, estas atitudes de oposição aos interesses da hierarquia católica só se vêem do outro lado da fronteira. Aqui, neste rectângulo à beira-mar plantado, o nosso governo continua a beijar as mãos dos bispos na tentativa de conquistar um lugar no céu.