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11 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Menos treze mil crianças na peregrinação anual a Fátima

Comentários à reportagem do Diário de Notícias

Diário de Notícias (DN) – O bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva, pediu ontem às crianças que rezem pela «paz no mundo» e «pelo pão», na sua peregrinação anual ao Santuário.

Diário de uns Ateus (DA) – Não será uma forma de exploração do trabalho infantil, para fazerem o que os padres deviam fazer? E por que Deus não prescinde das orações para fazer o que deve, caso seja capaz?

DN – Mas a cerimónia esteve, este ano, muito aquém das expectativas. Apenas 12 mil acorreram ao local, menos dez mil do que aquelas que visitaram a Cova da Iria em 2003.

DA – Com as guerras que há, a fome que grassa no mundo, as desgraças que assolam o planeta, é milagre que haja quem acredite em Deus.

DN – Com as suas orações, o bispo de Leiria-Fátima recordava que há, por todo o mundo, crianças que continuam a passar fome e a sofrer as consequências da guerra.

DA – Como se vê a influência das orações é nula. É um quadro superior da ICAR (um bispo) a reconhecê-lo.

DN – Já o reitor do santuário, Monsenhor Luciano Guerrano, incentivou-as «a rezar de um modo especial por Portugal». Mas ontem, queria também uma oração pelas famílias. «Pelas que já existem e também pelos jovens que têm medo de constituir família: rezemos para que tenham coragem de ter filhos», exortou.

DA – Como é que se rezará de modo especial por Portugal? Além do abuso de pedirem tais coisas às crianças, é altura de dizer que os filhos não se fazem com orações.

DN – (…) «Nós não estamos a ter as crianças necessárias», afirmou [Mons. Luciano Guerra], lançando mão dos dados nacionais para fundamentar a sua preocupação.

DA – Que autoridade terão os clérigos para fazerem estas afirmações se não dão o exemplo ou, se dão, procuram ocultá-lo.

DN – Reduzido foi também o número de pequenos peregrinos que ontem estiveram em Fátima. Segundo os números oficias, não passaram dos 12 mil. (…) Nada, porém, que se comparasse com as 25 mil crianças que assistiram às cerimónia do ano passado, às quais se juntaram os familiares, totalizando cerca de 150 mil pessoas.

DA – O negócio está mau para toda a gente. E não está provado que as hóstias de Fátima tenham valor nutritivo (espiritual) superior ao das outras paróquias, ou que a farinha de que são feitas seja de melhor qualidade.

10 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

Tortura – Segundo o Pentágono, Bush não está sujeito a leis contra a tortura. Neste momento não é só Deus que está isento de prestar contas. Já são dois os inimputáveis e, ambos, com um passado pouco recomendável.

Dia do Corpo de Deus – Parece que 10 de Junho é dia de corpo de Deus. Será dia de lhe darem banho? Perguntei a alguns católicos o que era isso de corpo de Deus e não sabiam. Mas não gostaram da minha sugestão.

RTP 1 – Segundo a Agência Ecclesia ao Domingo é transmitida missa dos estúdios da televisão pública, às 10H00. É altura de perguntar por que exigiu a ICAR a «oferta» da TVI, levando o Governo da época a uma vergonhosa cedência. Depois foi o percurso da sacristia até à sarjeta. A televisão da ICAR começou por um acto de gula e acabou transformada em bordel.

ICAR – Ao deparar-me com o tema «Encontro Matrimonial» (Movimento da Igreja Católica, destinado a casais, sacerdotes e religiosas, temi o pior, quando o vi destinado aos «casais que querem manter viva a sua chama de amor». Não será demasiado promíscuo misturar casais, sacerdotes e religiosas?

Sousa Franco – Após a sua morte os maiores dislates cabem ao PPM (uma agremiação de súbditos do Sr. Duarte Pio) em que os vassalos ultrapassam o mestre. Este naco de prosa do comunicado do PPM é elucidativo:

«Não queremos nem devemos dramatizar, nem tão pouco fazer do Professor um mártir, mas a verdade é que o Professor também deveria fazer parte das pessoas que não cuidava da sua saúde. Provavelmente, não media a tensão há muito tempo. A sua morte já estava prevista».

10 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Concordata não serve

O EXPRESSO de hoje, edição antecipada por causa do feriado, publica em «Correio Azul», com o título em epígrafe, um texto da minha autoria, já editado neste «Diário» com redacção ligeiramente diferente.

Assinalo em itálico o parágrafo não publicado.

O mundo árabe é um exemplo trágico da promiscuidade entre o sagrado e o profano, o que deveria evitar fenómenos de regressão no processo de secularização que se verificou nos países ocidentais e, em particular, na Europa.

É por isso que a Concordata, negociada entre Portugal e a Santa Sé, assume foros de anacronismo. Não se sabe o que ganhará o Estado democrático com ela e sabe-se o que ganhou a ditadura e perdeu a Igreja com a de 1940, para não falar do que ganharam outras ditaduras com idênticas concordatas.

A religião não se impõe por tratados nem a propagação da fé se confia aos Estados. A Concordata, não pode ser um tratado de Tordesilhas que submeta à órbita do Vaticano um país a que a Cúria trace o meridiano.

Esta revisão fere princípios de universalidade e de igualdade de direitos e de obrigações, que a lei geral estabelece e acautela. Acresce que é difícil harmonizar-se com a lei geral na medida em que a Igreja católica apostólica romana (ICAR) exige tratamento especial no que lhe diz respeito e enuncia deveres religiosos como se o princípio da separação não impusesse ao Estado total alheamento.

Por ser bizarro, cite-se o n.º 2 do Art. 15: «A Santa Sé, reafirmando a doutrina da Igreja Católica sobre a indissolubilidade do vinculo matrimonial, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio canónico o grave dever que lhes incumbe de se não valerem da faculdade civil de requerer o divórcio». Imagine-se que, por dever de reciprocidade, havia um n.º 3 com esta redacção: «A República Portuguesa, reafirmando a doutrina do Estado sobre o casamento civil, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio civil o grave dever que lhes incumbe de se não valerem da faculdade canónica de requerer o matrimónio religioso».

Ou ainda o n.º 5 do Art. 9, onde se lê: «A Santa Sé declara que nenhuma parte do território da República Portuguesa dependerá de um bispo cuja sede esteja fixada em território sujeito a soberania estrangeira». Será a forma ínvia que o Estado Português encontrou para reconhecer a soberania espanhola a Olivença?

É minha firme convicção de que esta concordata não serve e outra não é precisa.

Talvez só o facto de ter sido assinada apenas entre Durão Barroso e o cardeal Angelo Sodano nos tenha poupado à primeira frase da de 1940: «Em nome da Santíssima Trindade».

10 de Junho, 2004 jvasco

Derrota para a Al-Quaeda

No Público pode ler-se: «A polícia de Milão deteve na manhã de ontem Rabei Osman Sayed Ahmed, conhecido como “Mohammad, o Egípcio”, acusado de ter planeado os atentados de 11 de Março em Madrid.»

Que bom!

A Al-Quaeda é para o século XXI aquilo que as Cruzadas foram para a idade média e a Inquisição foi para o período entre o Renascimento e o Iluminismo: um exemplo sinistro do mal que pode advir do fundamentalismo religioso.

9 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Ao Luís Almeida Henriques

Faz hoje 2 anos que foi a enterrar o médico ilustre, cidadão exemplar, democrata e homem solidário. No funeral, civil, à guisa de oração fúnebre, antes de baixar à cova, foi lido o texto que lhe dediquei. Aqui o publico para recordar o amigo e homenagear de novo Luís Almeida Henriques. E para dar a conhecer o homem, bom como poucos, e um cidadão como devia haver muitos: republicano, socialista, ateu.

Eis o texto:

Só as lágrimas amaciam esta revolta que sentimos. A tua ausência é chumbo derretido na ferida da saudade que abriste com o gume do teu enorme afecto.

A tua partida, Amigo, obriga-nos a uma dolorosa viagem à memória. E como pode ser tão sofrida essa viagem onde tropeçamos na esperança que transmitias, na alegria contagiante, na ternura com que nos envolvias!

Tu eras o rio impetuoso que não suportava as margens. Eras a voz irreverente de quem não se conforma com as injustiças, de quem acredita no homem e na sua capacidade de transformar o mundo. Foste voz de Abril antes da liberdade conquistada, para seres a consciência crítica dos que tão depressa se acomodaram. Sonhaste cravos antes de florirem. Não deixaste de os regar quando lhes quiseram roubar o viço ou desejaram vê-los murchar.

E nunca, mas nunca, foste neutral. Marginal, muitas vezes. Rebelde, sempre. Havia em ti um gosto irreprimível pela liberdade, tão intenso como o prazer da transgressão. E é nesse exemplo cuja memória guardamos que havemos de rever-nos nos dias que ainda tivermos, no tempo que ainda formos, nos tempos que nos desafiam a lutar pelos ideais que sempre foram teus e que serão sempre nossos.

Se há um paradigma de livre-pensador conseguiste-o. Empenhado em todos os movimentos cívicos em que te reviste, apoiante de todas as causas que julgaste justas, foste dos homens mais solidários e nobres que conhecemos. E dos mais fraternos. Foste excessivo a dar, sem nada querer de volta.

Amaste a Pátria por cuja liberdade arriscavas a tua. Amaste a família, os amigos, Viseu. À tua volta nascia uma tertúlia em cada mesa de café, em cada banco de jardim, em cada esquina onde paravas rodeado de afectos, em cada ágape que eras o primeiro a promover.

Há talvez uma década, num jantar de anos do Dr. Fernando Vale, maravilhado pela frescura do seu discurso, disseste que, enquanto vivesses, não lhe faltarias com o teu abraço em cada aniversário. E cumpriste. Não o farás pela primeira vez no próximo dia 30 de Julho, quando completar 102 anos.

Luís, tu não tinhas ainda que partir. Nem esperaste pelo solstício que se avizinha.

Não podias ter esperado um pouco mais? Não podias, ao menos, transferir a força do teu entusiasmo, a coragem e determinação que eram teu apanágio, para nos ajudares a defender as causas e os princípios que nos irmanaram?

Não. Claro que não. Tu já não vês sequer as lágrimas que as flores que te cobrem escondem nos nossos rostos. Dizem que é feio chorar. O raio que os parta, Luís. Feio seria não chorar um homem como tu, não sofrer a partida de um irmão destes, não sentir a perda de um amigo assim.

Fica em paz amigo, companheiro, camarada, irmão. Nós ficamos desolados.

Cemitério de Nelas, 10 de Junho de 2002

9 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Sobre a Concordata

Foi hoje publicada no Diário de Notícias, na secção Tribuna Livre, o texto do Diário de uns Ateus, com os cortes assinalados em itálico:

A cerimónia de despedida do núncio apostólico em Lisboa, em 2002 deixou as piores apreensões sobre os bastidores das negociações da Concordata.

O então MNE, Martins da Cruz, prometeu o que não podia, nem devia, prometer ? o reforço da influência da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) no domínio «do ensino, da assistência social, da cultura, nos múltiplos domínios em que nos habituámos a ver uma Igreja activa e empenhada em contribuir para a solução de problemas nacionais». É sempre através da rede de assistência social (lares, hospitais, escolas, creches, templos) que a Igreja se infiltra para controlar o quotidiano dos cidadãos. A tragédia dos países árabes onde o islamismo tem hoje a mesma influência que a ICAR tinha na Europa, na Idade Média, devia fazer reflectir os cidadãos, os crentes e os não crentes.

E, com total impunidade, afirmou ainda: «Como católico considero um privilégio ocupar a pasta dos Negócios Estrangeiros no momento desta importante negociação».

O país livrou-se do ministro mas não se escapou à Concordata.
A experiência de 1940 devia ter-nos vacinado contra a reincidência. A própria ICAR, refém da ditadura fascista e associada à repressão de meio século, devia evitar a tentação dos privilégios, embora ninguém, com privilégios, admita que os tem.

Acontece que esta Concordata foi negociada à sorrelfa e não foi fácil aceder-lhe, mesmo alguns dias depois de assinada. É importante discutir o texto que, depois de ratificado, se torna direito interno português, directamente aplicável.

A religião não se impõe por tratados nem a propagação da fé se confia aos Estados. O mundo islâmico é o exemplo trágico. A Concordata, não pode ser um tratado de Tordesilhas que submeta à órbita do Vaticano um país a que a Cúria trace o meridiano. A subserviência à tiara não augura um futuro de tolerância e esta revisão ficou à mercê do promíscuo contubérnio entre ministros de Deus e de Durão Barroso. O resultado está aí.

Não consta que a ICAR tenha sentido qualquer limitação ao exercício do seu múnus nestes anos de democracia. Que pretendia mais, ou o que pretende proibir?

A concordata fere princípios de universalidade e de igualdade de direitos e de obrigações, que a lei geral estabelece e acautela; opõe-se à lei geral na medida em que a ICAR exige tratamento especial naquilo que lhe diz respeito; e enuncia deveres religiosos como se o princípio da separação não impusesse ao Estado o total alheamento quanto a tais «deveres».

Por ser bizarro, cite-se o n.º 2 do Art. 15: «A Santa Sé, reafirmando a doutrina da Igreja Católica sobre a indissolubilidade do vinculo matrimonial, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio canónico o grave dever que lhes incumbe de se não valerem da faculdade civil de requerer o divórcio».

Imagine-se que, por dever de reciprocidade, havia um n.º 3 com esta redacção: «A República Portuguesa, reafirmando a doutrina do Estado sobre o casamento civil, recorda aos cônjuges que contraírem o matrimónio civil o grave dever que lhes incumbe de se não valerem da faculdade canónica de requerer o matrimónio religioso».


Esta concordata não serve e outra não é precisa. Não foi objecto de negociadores, foi um arranjo de negociantes.

Talvez só o facto de ter sido assinada apenas entre Durão Barroso e o cardeal Angelo Sodano nos tenha poupado à primeira frase da de 1940: «Em nome da Santíssima Trindade».

8 de Junho, 2004 André Esteves

O estudo nunca parece avançar



O cartaz que podem ver em cima, estava hoje espalhado pela Universidade de Aveiro.

Aproveitando o período de exames, o CUFC ( uma instituição prosélita católica no meio estudantil), veio oferecer à comunidade mais uma oportunidade para ganhar paz de espírito por não ter estudado durante o ano inteiro. É de louvar!

Tenho assistido ao longo dos anos, à evolução da pastoral universitária e é com satisfação que constato que cada vez mais se parecem com os esforços evangélicos e protestantes ao apelar às massas universitárias. Há progresso! Apesar das afirmações do responsável da pastoral universitária, o senhor padre António Bacelar, «o nosso foco são os professores, os alunos entram e saem, os professores ficam.»

Receio no entanto, que toda esta gente tenha perdido o problema de vista. O nível de interesse e dedicação dos alunos diminui. O cansaço mental instala-se e a autoconfiança dos alunos arrasta-se pelas ruas da amargura, e chega ao ponto de, como alguns fidelíssimos professores afirmam entre si, o nível médio da inteligência dos alunos parecer ter diminuído. Já não é o mesmo de quando eram estudantes!

Segundo esta notícia o problema parece ter uma solução simples.

Sugeria, então, que o CUFC e tantas outras instituições do mesmo género, pegassem o touro do problema pelos cornos!

Aproveitando as amplas e confortáveis instalações de que dispõem poderiam disponibilizar espaços privados com respectivas instalações sanitárias, onde os estudantes poderiam, regularmente, resolver o seu problema, num ambiente sadio e fraterno como só estas instituições conseguem fornecer.

8 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Consternação mundial – 1 morto

O falecimento de Ronald Reagan levou a comunicação social a enaltecer o papel do antigo presidente dos EUA. Houve uma quase unanimidade na exaltação das qualidades que exornaram o antigo presidente. O papa JP2, pese a pouca credibilidade que merece, acusou-o de ter «uma alma nobre» e ter «difundido a liberdade».

A generalidade dos órgãos de comunicação social teceu-lhe os maiores encómios. Foi assim que me dei conta do estado lastimoso da minha memória. Tinha uma ideia completamente contrária do indivíduo.

Só fiquei um pouco mais tranquilo quando li que o papa assegurou à viúva que «rezava pelo eterno descanso do seu esposo». Afinal não sou o único a sentir que ele precisa de muitas orações para se redimir do que fez em vida, ainda que a companhia não me agrade.

Mas já não é a primeira vez que me encontro do mesmo lado de pessoa tão pouco recomendável, João Paulo II. Aconteceu na ocupação do Iraque.