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16 de Junho, 2004 Carlos Esperança

A visita pascal – crónica piedosa

O Senhor Jesus Ressuscitado viajava, no Domingo de Páscoa, pelas casas da aldeia a recolher o ósculo e a esmola dos devotos. Onde não chegava antes do anoitecer ia no dia seguinte, com desgosto dos paroquianos que o aguardavam. A bênção valia o mesmo, é certo, mas perdia-se o tempo da espera e era diferente. Por isso, para não contrariar os mesmos, todos os anos mudava o itinerário.

Transportava-o o sacristão, que o entregava ao vigário em cada paragem, e era acompanhado por devotos que aliviavam a alma e recolhiam esmolas suplementares para os santos que exornavam a igreja local. Um garoto levava a caldeirinha de água benta que passava ao sacristão enquanto o padre se ocupava da cruz e recolhia-a depois deste despachar a tarefa e de se ocupar do hissope, num movimento de rotação, a aspergir com vigor, em cada lar, um círculo protector das investidas do demo, bênção que não deixaria de acautelar também o vivo que morava na corte, por baixo.

Era um tempo em que não havia vírus nem pneumonias atípicas, as pessoas viviam porque Deus queria e finavam-se quando o Senhor era servido, sem intromissão do médico a estorvar a divina vontade de as chamar.

Em todas as casas as vitualhas aguardavam a visita ao lado de uma garrafa de jeropiga rodeada de cálices. Entrava primeiro o padre, seguido do sacristão e do garoto que conduzia a caldeirinha. Aguardavam nas escadas os outros para depois os revezarem. Genuflectiam-se os da casa, por ordem cronológica, para beijar o pé do Jesus até chegar ao chefe de família que era o último a ajoelhar e o primeiro a soerguer-se. Borrifada de água benta a habitação, recolhida a esmola destinada ao Ressuscitado, a mais substancial, o padre bebia um trago de jeropiga e mordiscava um naco de pão-de-ló, por consideração, enquanto o sacristão aviava o cálice, de um sorvo, e se desforrava nos bolos. Às vezes demoravam-se mais um pouco para que o senhor padre rezasse uns responsos a rogo, geralmente por alma de quem tinha deixado com que pagar o latim.

Havia no séquito que aguardava nas escadas um homem por cada santo que ornava os altares da igreja, disponível para arrecadar a oferenda. Assim, enquanto o padre e o sacristão desciam, subiam eles para recolher, se a houvesse, a esmola que a cada santo cabia, consoante as posses e a devoção dos anfitriões. Creio que os turnos de acesso se estabeleciam em função do espaço e não da liturgia.

Mais de metade da paróquia percorrida, com o padre e o sacristão aguentando o múnus a pão-de-ló e regada a fé a jeropiga, a vingar-se o último, a conter-se o primeiro, a acelerarem todos para as casas que faltavam, o sacristão avaliou mal a distância que o separava das escadas na última casa onde entraram, abalroou o garoto que transportava a caldeirinha que logo a soltou, verteu a água e arremessou o hissope contra a parede. Foi grande o reboliço enquanto o sacristão e a cruz varreram enrolados as escadas sem que alguém do séquito lhes deitasse a mão, impávidos, como se evitassem estorvar se acaso fosse promessa a queda.

O padre, vermelho de raiva e da jeropiga, aguentou-se nas pernas e conteve a língua, ao cimo das escadas, enquanto, sem largar a cruz, se despenhou por entre as alas de acompanhantes o sacristão. Este recuperou rapidamente o alinho e endireitou a cruz, sem ninguém se aleijar, Deus seja louvado, e o padre despachou logo um paroquiano com uma jarra de vidro a caminho da igreja a sortir-se de água benta, com o aviso de se apressar, estava a fazer-se tarde, faltava ainda muito povo para aviar. Se recriminações houve ficaram reservadas para a discrição da sacristia.

No dia seguinte as conversas da aldeia começavam todas por Deus me perdoe, seguidas de persignações apressadas e de risos amplos, terminando em ansiedade, pelo pecado cometido ou pelo temor da desobriga, mas ninguém resistiu a contar o sucedido e a comentá-lo, sendo mais forte a tentação do que a piedade.

15 de Junho, 2004 André Esteves

O «argumento» da existência de deus de 15 de Junho de 2004

Argumento Ontológico Modal

(1.) deus ou é necessário ou desnecessário.

(2.) deus não pode ser desnecessário, logo deus deve ser necessário.

(3.) Se é necessário, deve existir…

Comentário:É com estas, que o ateismo.net se demonstra necessário…

15 de Junho, 2004 André Esteves

Diabo salva rapaz em Estocolmo

Um diabo português salvou um rapaz de cair de uma roda gigante, num parque de diversões de Estocolmo.

Ben-Hur Pereira é um filho de artistas circenses de origem portuguesa, que salvou um jovem da morte certa.

Trabalhando, vestido como o diabo, numa casa de horrores do parque de diversões de Estocolmo, viu um dos utilizadores do parque, pendurado da roda gigante. Tendo uma vida de formação como malabarista e acrobata, não hesitou. Subiu pela estrutura e ajudou o rapaz a descer para a segurança do solo.

Tudo isto, enquanto ainda estava com a roupa de serviço: um deslumbrante fato satânico com maquilhagem a condizer…

A notícia do fait divers, pode ser encontrada aqui.

14 de Junho, 2004 Mariana de Oliveira

América continua sob deus

O Supremo Tribunal de Justiça americano decidiu hoje a questão da referência a Deus na Pledge of Allegiance (veja os artigos do Diário de uns Ateus do dia 30 de Março e do dia 08 de Abril.Podemos pensar que os Estados Unidos, terra da oportunidade e da Liberdade, são o mais brilhante farol da democracia ocidental (creio que foi George Bush que o disse, o que não augura nada de bom) e que, apesar de todos os erros cometidos desde o início (a escravatura, a segregação, o Vietname, o Laos e, recentemente, o Iraque), ainda há uma réstia de bom senso, pelo menos, nas instâncias judiciais superiores. Se pensarmos assim, estamos completamente errados.

O Supreme Court entendeu que a pretensão do ateu californiano que deu início a esta batalha jurídica é improcedente. Isto significa que todo o texto continuará a ser recitado na íntegra, diariamente, pelos estudantes americanos… cristãos ou não. Os cinco juizes disseram que Michael Newdow não tinha qualquer legitimidade para iniciar a acção. Newdow, o pai da menina, cuja custódia ainda não está atribuída, não podia falar por ela, disse o tribunal. O juiz relator, John Paul Stevens, escreveu o seguinte: When hard questions of domestic relations are sure to affect the outcome, a prudent course is for the federal court to stay its hand rather than reach out to resolve a weighty question of federal constitutional law.

Outros magistrados disseram também que a referência ao juramento não viola a Primeira Emenda, que prevê a independência do Estado face à religião.

Rehnquist, juiz, afirmou ainda: To give the parent of such a child a sort of ‘heckler’s veto’ over a patriotic ceremony willingly participated in by other students, simply because the Pledge of Allegiance contains the descriptive phrase ‘under God,’ is an unwarranted extension of the establishment clause, an extension which would have the unfortunate effect of prohibiting a commendable patriotic observance.

Por seu turno a Freedom From Religion Foundation felicitou Michael Newdow por ter alertado consciências para a questão da origem secular do Pledge of Allegiance e que a decisão judicial se baseou apenas em pormenores técnicos. Assim, o caminho continua aberto para novas acções judiciais.

14 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Bispo do Funchal saiu a meio de missa para inaugurar hotel



D. Teodoro de Faria no passado dia 30 de Abril deixou a celebração de crisma por «compromisso inadiável», com Alberto João Jardim. O pároco de Santa Rita diz tratar-se de «lapso de hora» – informa o Portugal Diário. E acrescenta «O bispo do Funchal saiu a meio de uma celebração de crismas na paróquia funchalense de Santa Rita para estar presente na inauguração do Pestana Grand Hotel, no passado dia 30 de Abril, ao lado de Alberto João Jardim, presidente do Governo Regional».

O assunto foi motivo de escândalo e objecto das habituais diatribes contra o bispo que o padre Frederico deixou com o prestígio abalado. Mas não se vê motivo para tamanha estranheza, por 3 razões:

Primeiro – Entre a companhia de beatos rudimentarmente alfabetizados e o sofisticado presidente do Governo Regional a escolha é óbvia.

Segundo – Entre compromissos com Deus, cujo pacto antigo lhe assegura a resolução dos problemas, e a obrigação de estar com o sócio principal do Diário de Notícias da Madeira (órgão isento que pertence 80% ao Governo Regional e 20% à Diocese), é natural que escolha a companhia de quem mais o estima.

Terceiro – Entre as rodelas de pão ázimo, sem fermento nem sal, e as deliciosas vitualhas de um hotel a inaugurar, qual é o clérigo que hesita?

14 de Junho, 2004 Carlos Esperança

Força Portugal

Força Portugal 1 – A coligação eleitoral sob cujos auspícios foram publicados os execráveis panfletos que aqui se editam, distribuídos em Fátima e em caixas de correio, sofreu uma derrota tão humilhante que até parece que a virgem e o filho passaram a envergonhar-se de tal gente.

Força Portugal 2 – A derrota da selecção portuguesa face à Grécia pôs em evidência a inutilidade de 3 tácticas:

a) – a reza colectiva do padre-nosso nos balneários;

b) – a eficácia de Nossa Senhora de Caravaggio, importada expressamente do Brasil para Luís Filipe Scollari (que não estava benzida ou foi subornada pela colónia grega residente no Brasil);

c) – As orações do Patriarca Policarpo e os seus pios votos, bem como as persignações dos jogadores.

Segundo alguns ateus, era preferível que tivessem jogado bem, recusando-se a admitir que o Deus dos cristãos ortodoxos esteja em melhor forma que o do Vaticano.

14 de Junho, 2004 André Esteves

Santuário de Fátima escapa à crise.

Hoje, segue em notícia no JN que o santuário de Fátima apresentou, discretamente, no final de mais um exercísio, os resultados financeiros de mais um ano de peregrinações.

O santuário apresenta mais um ano de lucros. Um autêntico milagre para o estado de coisas por que Portugal passa.

Os lucros foram «de 8.429.964 euros. O valor representa um acréscimo de 71.513 euros face ao exercício de 2002.»

Sabiamente, a diocese de Leiria e Fátima irá reinvestir o dinheiro no core business do santuário. Para tal, irão ser gastos, em tranches faseadas num esquema que permita uma boa gestão do cash-flow, na construção da nova catedral do santuário.

É o ponto forte da empresa. Como dizem os bons investidores: «Localização! Localização! Localização!»

Os gastos no entanto apresentam-se preocupantes… Como podemos ler no JN: «Em 2003, o santuário gastou 5,3 milhões de euros, mais 663.243 do que em 2002. O “Alojamento”, juntamente com o Serviço de Administração constituem as maiores fatias, respectivamente 1,1 e 2,4 milhões de euros. As despesas do Serviço de Administração incluem o Fundo de Caridade (484.867 euros), através do qual o santuário apoia várias instituições.»

Um santuário destas dimensões exige uma enorme infra-estrutura… Mas há esperança!! A pequena percentagem de gastos com a caridade, demonstra que a gestão mantêm sábios princípios patrimoniais.

A caridade começa em casa.

Ilustração © José Vilhena. Direitos de reprodução gentilmente cedidos para o ateismo.net.

O meu agradecimento, a José Vilhena por facilitar ao Diário de uns ateus, o uso da sua arte.

13 de Junho, 2004 André Esteves

O kitsch religioso da semana

A minha curiosidade foi espicaçada pelas «Notas Piedosas» do Carlos Esperança. Assim, fui visitar a página do movimento Encontro Matrimonial, e o que me esperava.

O texto abunda em promessas e, bem, leiam vocês próprios:

Encontrou a página destinada aos casais que querem manter viva a sua chama de amor.

Redescubra o sonho, o entusiasmo e a ternura do seu tempo de namoro.

Transforme um bom casamento, num casamento muito especial.

Esta é também uma página destinada a sacerdotes e a religiosos(as) convidando-os a renovarem o seu compromisso de amor e de entrega à Igreja e às suas comunidades.

Este pode ser o convite mais valioso que algum dia receberá.

Depois há um link para esclarecimentos…

Os esclarecimentos são esclarecedores:

Não é um retiro espiritual nem terapêutica de grupo, mas sim um programa que dá aos cônjuges, sacerdotes e religiosos(as) a oportunidade de se analisarem a partir de temas de reflexão propostos por uma equipa constituída por três casais e um sacerdote.

O Encontro Matrimonial (E. M.) é um movimento da Igreja Católica, mas o Fim de Semana é aberto a casais de outras religiões e a não crentes.

Dialogue em casal, faça a sua inscrição para participar num Fim de Semana de Encontro Matrimonial e viverá uma experiência que recordará e poderá continuar a viver ao longo de toda a vida.

Aos sacerdotes e religiosos(as) desafiamos também a que tomem a decisão de se inscreverem e virem viver connosco esta experiência.

Para quem não conhece os meandros do comportamento humano e religioso, todo este movimento pode parecer inofensivo. A realidade pode ser algo diferente. Para quem tenha percorrido e explorado o mundo das religiões, sabe que a mecânica de um casal dedicado pode ser muito útil.

O controle mental e comportamental é feito pelos cônjugues de parte a parte, a um nível e intimidade difíceis de obter nas sociedades humanas (talvez, no passado, só nas casernas espartanas). A dedicação e recompensa são internas ao próprio casal. O laço biológico do amor e compromisso confunde-se com o da instituição e missão.

Podemos encontrar múltiplos exemplos da força que uma equipa marital apresenta. A sociedade teosófica e muita das suas variantes assentam a base das suas organizações nacionais em casais. É natural, encontrar sempre casais como missionários, de missões interdenominacionais evangélicas e protestantes. Uma igreja evangélica activa e bem sucedida, normalmente baseia-se, numa boa equipa de pastor e mulher do pastor, que fazem o papel de polícia bom e polícia mau. São um elemento comum nas embaixadas de nações com tradições de serviços de informação, em que um dos membros do casal tem uma posição oficial e o outro trabalha na recolha de informações (nos serviços secretos e de negócios estrangeiros existe um ambiente e tradição que fomentam este género de arranjos).

Este movimento, como todos os movimentos dentro da ICAR serve vários objectivos… Proselitismo, criação de redes e angariação de novas bases de influência. Os casais mais dedicados e fanáticos serão angariados para missões e posições de confiança.

O grande problema da ICAR, é que mistura casais com celibatários. E os celibatários têm um inconsciente manhoso. Aliás, especulo que o «motor» do movimento ou é celibatário ou tem uma vida sexual muito má. Se lerem os extractos da página do movimento, notaram um certo erotismo inconsciente na escolha dos argumentos e palavras. Basta compará-lo com os textos de um clube de swingers. Inicialmente, é uma suspeita. Mas quando vemos o símbolo do movimento, obtemos a confirmação. Um símbolo ou logotipo mal cozinhados podem ser terríveis.

Os dois círculos são, obviamente, os elementos do casal. Numa alusão aos diagramas de Venn, na intersecção dos dois encontramos o que têm em comum: cristo ou a ICAR (o símbolo confunde-se no inconsciente lusitano). Acima do casal está o coração que representa o amor, que está externo ao casal. O que também é revelador. A ICAR vem primeiro.

Mas qual seria a semiótica inconsciente e perversa do símbolo, na mente do seu criador? Ora bem… Os círculos intersectados produzem uma clássica vulva e nela encontramos a cruz, símbolo fálico por excelência, a penetrá-la… Se os círculos representam a mulher, na sua vulva e traseiro redondinho, a cruz e o coração representam o homem. A própria escolha das cores é elucidativa. Tanto definem as partes (Amarelo para a mulher. Vermelho para o homem) como aos significados a que estão associadas inconscientemente. (O Amarelo é passivo, dá sem reclamar, como o sol que tudo ilumina… O vermelho é a cor da acção.) E claro, a base hormonal do amor masculino é só e só descarregar os tomates. O coração são os testículos, e a cruz o falo que penetra e conclui o «encontro matrimonial». Como a imagem ilustra eloquentemente.

A um ateu só resta aceitar o seu lado «polimorficamente perverso» e utilizá-lo positivamente (neste caso, fazer o leitor rir); ao religioso escondê-lo e negá-lo pois, reconhecer a sua existência, é reconhecer que a sua religião é falsa e anti-humana.

Mas ele sempre se manifesta. Nunca podemos fugir do inconsciente e do animal dentro de nós.

12 de Junho, 2004 Carlos Esperança

As relíquias da ICAR estão a baixar a cotação



A bolsa de valores religiosos tem sofrido, com os tempos, uma lenta erosão no que diz respeito às relíquias, que envaideciam os proprietários e levavam a confiança aos domicílios onde repousavam.

Tempos houve em que a febre das relíquias deu origem a um próspero negócio e à criação de uma indústria de falsificações cujos exemplares rivalizavam com os verdadeiros a conceder graças e a obrar milagres.

Assim se distribuíram por paróquias uma dúzia de braços de S. Filipe, só ultrapassado por Santo André a quem colocaram 17 para gáudio e piedade de crentes de igual número de paróquias.

Às vezes eram bizarras as relíquias, mas não menos inspiradoras de piedade, como aconteceu com o rabo do burro que carregou a Virgem Maria, com uma pena de asa do arcanjo Gabriel ou com as línguas do Menino Jesus. Mas foi a piedade, a imensa piedade, e a raridade de peças genuínas no mercado, que levou Santa Juliana a ter 40 cabeças dispersas para piedosa contemplação dos crentes.

Nem vale a pena falar do santo Prepúcio, relíquia comovedora, por ter pertencido a Jesus Cristo. Dos vários que houve (prepúcios, porque JC só houve 1), a um único foi passado certificado de garantia e, depois, até esse foi declarado falso. Entenderam os cardeais que JC não poderia ter ressuscitado sem ele e, a partir daí, pairou a ameaça de excomunhão para os crentes que se lhe referissem, mesmo para os que tinham obtido graças por seu intermédio.

Enfim, as relíquias da ICAR, quase sempre a roçar o macabro, peças de santos desidratadas ou mumificadas, estão hoje com cotações tão baixas que arruinaram o mercado das falsificações. Só as peças de santos e beatos fabricados no pontificado de JP2 exigiriam armazéns imensos e uma rede de frio de invulgar capacidade para as conservar. Ficaria mais cara a armazenagem do que o valor da mercadoria.

Na primeira visita que fiz a Itália, há mais de 30 anos, fartei-me de ver relíquias, ao mesmo tempo que me inebriava com a beleza das pinturas e esculturas que decoravam magníficas catedrais onde várias vezes voltei deslumbrado pela beleza, desprezando a piedade.

Mas foi na primeira vez que, depois de muitos ossos exibidos, a guia obrigou o grupo a observar um esqueleto inteiro, em excelente estado de conservação, devido às virtudes que em vida exornaram o proprietário. Mais importantes do que as graças que concedia eram os exemplos de piedade que tinha deixado. Era o orgulho da paróquia, uma pequena localidade próxima de Nápoles, pertença de uma pequena comunidade que possuía uma igreja e relíquias de fazer inveja a muitas cidades.

Estava a guia empolgada, a falar das virtudes do santo cujo esqueleto exibia, quando alguém lhe perguntou de quem era um esqueleto mais pequeno que se encontrava próximo. Sem perder o fio à meada, respondeu de imediato:

– Era do mesmo santo, quando era mais novo.

12 de Junho, 2004 jvasco

O Inferno é exotérmico ou endotérmico?

Num artigo meu anterior acerca da temperatura relativa entre o Céu e o Inferno um leitor comentou (e bem) que os cálculos efectuados partiam da presunção que a pressão no Inferno era a pressão atmosférica. Um pressuposto bastante questionável…

Comecei imediatamente uma pesquisa sobre a pressão do Inferno, que me levou a uma história muito interessante que aqui reproduzo. Consta que um professor perguntou num teste se “O Inferno é exotérmico”. Ao que um aluno terá respondido:

«Primeiramente, postulamos que se almas existem entao elas devem ter alguma massa. Se elas têm, entao uma mole de almas também tem massa. Então, a que taxa se estão as almas movendo para fora e a que taxa se estão movendo para dentro do Inferno? Eu acho que podemos assumir seguramente que uma vez que uma alma entra no Inferno ela nunca mais

sai. Por isso não há almas a sair.

Para as almas que entram no Inferno, vamos considerar as diferentes religiões que existem no mundo hoje em dia. Algumas dessas religiões pregam que quem a ela não pertença vai para o Inferno. Como há mais de uma religão desse tipo e as pessoas não possuem duas religiões, podemos concluir que todas as pessoas e almas vao para o Inferno. Com as taxas de natalidade e mortalidade como estão, podemos esperar um crescimento exponencial das almas no Inferno. Agora vamos olhar a taxa de mudança de volume no Inferno. A Lei de Boyle diz que para a temperatura e a pressão no Inferno serem as mesmas, a relaçao entre a massa das almas e o volume

do Inferno deve ser constante. Existem entao duas opções:

1) Se o volume do Inferno se expandir a uma taxa menor do que a taxa com que as almas entram, entao a temperatura e a pressão no Inferno vão aumentar até que este expluda.

2) Se o volume do Inferno se expandir a uma taxa maior do que a entrada de almas, então a temperatura e a pressão irão baixar até que o Inferno congele.

Então, qual das duas hipóteses é verdadeira?

Se nós aceitarmos o que a menina mais atraente da FATEC me disse no primeiro ano: “haverá uma noite fria no inferno antes de eu me deitar contigo”, e levando-se em conta que ainda NÃO obtive sucesso com ela, nem se prevê que obtenha, entao a opção 2 não é verdadeira.

Por isso, o Inferno é exotérmico
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