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Categoria: Não categorizado

21 de Julho, 2004 jvasco

Para que serve este blogue?

Algures nos comentários, o Ricardo Alves deu a resposta perfeita:

“Para propagar o espírito crítico e o cepticismo, combatendo a superstição e o dogmatismo.

Para promover a laicidade do Estado, defendendo que as leis civis sejam decididas democraticamente e não por imposição de lóbis clericais ou outros.

Para trabalhar pela emancipação individual, contra as peias que dificultam o pensamento.”


Fica esclarecido.

21 de Julho, 2004 jvasco

O Satanismo é uma Religião?

De acordo com o Dicionário Livre, há vários tipos de satanismo na nossa sociedade (quem diria…):

-Satânicos revoltosos, revoltando-se contra o cristianismo na sociedade moderna, com a visão tradicional cristã do satanismo.

-Satânicos filosóficos, também conhecidos por satânicos modernos, que não adoram Satã ou qualquer demónio, mas ao invés procuram inspiração nos vários deuses “negros” e mitos, ou no arquétipo de Satã. A auto-divinização surge nalguns membros deste movimento.

-Satânicos religiosos, também conhecidos por satânicos tradicionais, que acreditam num “Principe das Trevas” (um nome mais genérico que Satã), que adoram, e de acordo com o qual vivem as suas vidas.

  No que respeita ao primeiro e ao terceiro tipo, estamos conversados: são religiões com as suas mitologias e as suas crendices. São religiões mais inofensivas do que o cristianismo, mas só mesmo devido à sua menor dimensão. 

No que respeita ao segundo tipo, é uma estranha mistura entre uma perspectiva filosófica e um conjunto de rituais simbólicos e esotéricos. Quando li em mais pormenor a perspectiva filosófica, considerei-a um pouco bizarra, e, mesmo tendo concordado com alguns pontos, discordei de muitos outros. Mas coloca-se a questão: será este satanismo uma filosofia (bizarra, mas) ateia, ou será uma forma de religião? Este debate também decorreu na Sociedade Terra Redonda (servidor com problemas no momento em que escrevo), e foi muito animado. Foi inconclusivo. Quem considera, como eu, que a descrença numa entidade superior e na metafísica caracteriza um ateu, considera qualquer satanismo uma religião. Considera que um satânico nunca será ateu. Quem considera que o ateísmo é apenas a descrença numa entidade superior, considerará que estes satânicos também são ateus.

19 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Santana Lopes (PSL) rezou na televisão

Acompanhado de uma câmara, para filmar a persignação e as rezas, o primeiro-ministro deslocou-se hoje à campa de Sá Carneiro. Deus podia estar ausente e, assim, ficou documentada a fé, para memória futura.

Não se sabe se PSL foi agradecer o milagre que o guindou ao poder, sufragar a alma do extinto ou cumprir penitência por pecados próprios, mas mostrou aos padres e ao País que é homem que sabe pôr-se de joelhos.

Se PSL for tão competente a governar como hábil a rezar, a Pátria está salva.

Vem aí a prosperidade em troca de ave-marias e padre-nossos.

Está assegurada a retoma por intercessão celestial.

E, se por desatenção divina, persistirem as desgraças que nos bateram à porta, o destino das almas fica melhor acautelado.

Se o Presidente da República não fosse ateu, a tomada de posse do XV Governo teria direito a bênção – a maior bênção de pastas de sempre.

19 de Julho, 2004 Ricardo Alves

A hierarquia das igrejas em Portugal

A hierarquia tradicional das igrejas em Portugal, anterior à proposta de Lei de Liberdade Religiosa de Vera Jardim (de 1999), resumia-se ao reconhecimento estatal de uma única igreja, a ICAR, que gozava de vários privilégios conferidos pela Concordata de 1940, celebrada entre o ditador fascista Oliveira Salazar e o Papa pró-fascista Eugenio Pacelli.

O objectivo de Vera Jardim, plenamente atingido com a Lei de Liberdade Religiosa(LLR) aprovada em 2001, consistia em conceder a algumas outras igrejas parte dos privilégios de que gozava a ICAR, não beliscando no entanto a predominância da ICAR. Assim, a LLR exclui arbitrariamente uma igreja do seu campo de aplicação (a ICAR, ver artigo 58º) e introduz uma «Comissão de Liberdade Religiosa» (artigos 52º a 57º da LLR) para «ajudar o Estado» na tarefa que José Policarpo designou, à época, como «separar o trigo do joio», ou seja, decidir quais são as boas e as más religiões. Esta autêntica «Comissão de Opressão Religiosa» seria constituída por um Presidente (a nomear pelo Conselho de Ministros), «cinco pessoas de reconhecida competência científica» (a nomear pelo Ministro da Justiça), três membros indicados pelas igrejas não católicas tendo em conta a sua «representatividade» (e nomeados pelo Ministro da Justiça) e dois membros nomeados directamente pela Conferência Episcopal Portuguesa, apesar de a ICAR ser, recordemo-lo, a única igreja a que a LLR não se aplica.

A 17 de Março de 2004, Celeste Cardona deu posse à primeira «Comissão de Liberdade Religiosa». A título de representantes das «confissões minoritárias» foram nomeados um evangélico da AEP, um muçulmano e uma judia; a título de «especialistas», foram nomeados três professores próximos da ICAR e ainda um ismaelita e um hindu por participarem no «diálogo ecuménico e interconfessional» organizado pela ICAR. A interpretação do critério da «representatividade» ficou assim clara: embora qualquer IURD ou Maná (para nada dizer das Testemunhas de Jeová) tenha mais seguidores do que as associações judaicas ou muçulmanas (segundo o censo de 2001, haverá em Portugal menos de 2000 judeus e cerca de 12000 muçulmanos), as boas relações dos dirigentes destas últimas religiões com a ICAR asseguram-lhes lugares na Comissão.

Chegados a este ponto, o leitor interroga-se, avisadamente, sobre a importância que poderá ter esta Comissão… Os artigos 53º e 54º da LLR estabelecem-lhe as funções e a competência: emitir pareceres sobre o reconhecimento das igrejas pelo Estado e sobre os acordos a celebrar entre estas e o Estado, podendo assim as igrejas instaladas na Comissão dificultar o acesso de outras igrejas aos tempos de emissão na comunicação social, ao ensino nas escolas públicas e aos benefícios fiscais! Constituiu-se desta forma uma hierarquia das igrejas, através da qual a ICAR, coadjuvada pelas igrejas que decidiu co-optar para a Comissão, pode recomendar ao Estado quais são as boas e as más religiões. Além disso, a Comissão emitirá um «relatório anual» sobre os «novos movimentos religiosos», uma atribuição que faz lembrar o Tribunal do Santo Ofício… Situação actual comparável, entre os países da UE, existe apenas na Grécia, onde um local de culto não pode abrir sem a autorização prévia da Igreja Ortdoxa Grega…

Numa República verdadeiramente laica, nada disto seria necessário. Um Estado laico deve ser incompetente em matéria de religião. A «correcta» convicção religiosa ou não religiosa é um assunto da consciência de cada cidadão, no qual o Estado não deve interferir, limitando-se a garantir que, dentro dos limites legais, cada cidadão seja livre de crer ou não crer, de praticar ou não praticar, e que seja tratado em plena igualdade com os demais cidadãos independentemente da sua convicção. Decidir qual é a «boa» opção filosófica é evidentemente uma liberdade individual, e decidir associar-se com pessoas que pensam da mesma forma é uma escolha na qual nenhum grupo de cidadãos deve ser tratado de forma desigual face a outro grupo.

19 de Julho, 2004 Carlos Esperança

É tempo de Deus entrar de baixa

Os clérigos dizem que os ateus não foram «tocados pela fé». E, sempre que podem, não deixam de tocá-los, como quem toca uma alimária que recusa estugar o passo ou um boi que pretende esquivar-se ao açougue.

Não se detêm a reflectir como é possível que, havendo um único Deus verdadeiro – como alegam -, o dito Deus seja, conforme a latitude, mais cruel, estúpido ou prepotente; de acordo com o regime político, capaz de punir os homens com a pena de morte ou ter de aguardar, cinicamente, para os condenar depois às perpétuas penas; consoante o período histórico, fomentar guerras santas ou resignar-se à liberdade e ao desprezo que lhe votam as criaturas cuja criação lhe atribuem.

Se Deus não fosse o pretexto para a intolerância, a prática de crimes e a crueldade, mereceria aos ateus a mesma simpatia dos deuses gregos ou romanos, das lendas e das fantasias que se perpetuaram de geração em geração.

Quem será capaz de explicar as idiossincrasias que levam Deus a babar-se de gozo com as penitências, as genuflexões, as orações, os jejuns, as flagelações ou as peregrinações? Que mania o leva a reprimir a sexualidade, a ofender a dignidade da mulher ou a ditar a moda no vestuário? Deus consegue ter todas as taras dos homens e nenhuma das suas virtudes.

Na coutada da Igreja Católica (ICAR) Deus era um entusiasta de churrascos para hereges, bruxas e judeus e revelou aos empregados imaginativos instrumentos de tortura com que se deliciava a observar os esgares de dor enquanto um padre os confortava com a exibição da cruz; no Médio Oriente pela-se por decapitações e amputações e atinge o divino gozo com as vergastadas públicas ou as lapidações de adúlteras; na Índia o senhor Deus lá do sítio ainda hoje não compreende que uma viúva recuse acompanhar o defunto à pira funerária.

Há quem leve Deus a sério e lhe agradeça o mal que faz.

18 de Julho, 2004 Carlos Esperança

A vida está difícil. A fé é que salva… alguns



A Igreja católica (ICAR) tem vindo a perder clientela, que muitos atribuem ao anacronismo das suas propostas e ao carácter autoritário do seu clero. É uma explicação insuficiente, quiçá errada, e perigosa. O islão é ainda mais retrógrado e não lhe faltam prosélitos, mártires e conversos. Numa análise empírica dir-se-ia que, quanto mais reaccionária é uma igreja maior é o seu poder de sedução, quanto mais violento e cruel é o seu Deus, mais dóceis e piedosos se tornam os crentes. As aparências escondem o carácter decisivo que o controlo do aparelho de Estado e dos meios de produção exercem sobre a fé.

Pode ver-se como, no Islão, os aparelhos militares, políticos e administrativos se encontram nas mãos do clero, sem prescindirem do aparelho repressivo que estimula a fé, quando esta vacila.

 Qualquer religião que perca o domínio económico e o aparelho de Estado, agora que o conhecimento deixou de ser monopólio eclesiástico, perde influência e tende a exercer um papel residual na sociedade.

Claro que as superstições e alguma apetência pelo fantástico serão sempre aproveitadas para conduzir as ovelhas ao redil da salvação. A ignorância e o desespero fazem o resto. 

 

Isto é válido para as religiões com alvará e para as que se estabelecem nas esquinas dos bairros pobres. Os métodos não variam muito, apenas a sofisticação.

18 de Julho, 2004 jvasco

Mas o que é que isso interessa?

Se Deus não existe, porquê debater a sua existência?

Se Deus não existe, porquê perder tempo a falar sobre ele e sobre as diferentes religiões e igrejas?

Para que é que servem as páginas e textos sobre ateísmo?

Para que é que serve este blogue? 

Penso que quem tenha uma postura racional, por muito convencido que esteja de uma determinada opinião, está sempre disposto a ouvir a oposta e a debatê-la. Não vê isso como uma fragilidade sua, mas sim como uma força: sabe que se a sua opinião está correcta, os seus argumentos são bons, por isso não há que temer confrontá-los. Sabe que se eventualmente descobrir que uma opinião sua estava errada, isso só vai tornar as suas opiniões melhores com o tempo.

Muitos ateus defendem esta postura racional, e notam que o ateísmo tem tudo a ver com ela. Por outro lado verificam que quanto mais debatem sobre o tema do ateísmo (quer com crentes, agnósticos ou outros ateus), mais completa e coerente fica a sua forma de ver o Universo (e Deus tende a parecer cada vez mais implausível, quanto mais se entende o funcionamento do Universo…).

Mas existe uma outra razão que é mais importante e mobiliza ainda mais ateus para este debate: muitos ateus não gostam da ideia de serem agentes passsivos do mundo em que vivem. Sabendo que não existe nenhuma divindade que vá oferecer o Paraíso para quem passar a vida em fervorosas orações, sabemos que o paraíso só passará de um sonho se o construirmos nós – temos de intervir na sociedade e no mundo, tornando-os melhores.

E para intervirmos, não podemos ignorar o que se passa à nossa volta. Como eu disse algures nos comentários recentes: se um indivíduo ateu quer construir um mundo melhor, “então não pode ser alheio às igrejas e às superstições: quando a OMS acusa a igreja católica de estar a agravar um genocídio; quando o islamismo motiva a Al-Quaeda, quando os bispos espanhóis estão contra a possibilidade de existirem casamentos entre homossexuais em Espanha; quando um milhão de pessoas é condenada pela cultura hindu a trabalhar removendo fezes de latrinas, o impacto da crença em Deus no mundo que o rodeia é inquestionável. Se essa crença é uma mentira ou não, é uma questão importante que pode e deve ser debatida.”

17 de Julho, 2004 jvasco

Um tipo de Agnosticismo (e outras considerações…)

Tenho sobre a posição agnóstica (por si) um elevado respeito e consideração.

No entanto, sei que existem vários tipos de agnósticos, com diferentes motivações e razões.

Há quem veja na questão religiosa algo de “artificial” e pouco importante, que só serve para dividir as pessoas, fazendo-as discordar. Com horror à discórdia, à discussão e ao debate, essas pessoas preferem assumir a posição que consideram menos conflituosa. Não são “ateus”, para não ofender os crentes, dizendo que não acreditam, mas não são “crentes” porque simplesmente não acreditam.

 

Considero saudável que numa sociedade e cultura seja normal a discussão de ideias, o desacordo, a argumentação. A ideia de que discutir a actualidade política, a religião ou outros temas do género num jantar de amigos é desagradável, é uma ideia que acho nefasta: as pessoas tendem a manter as suas ideias, sem as “arejar” pelo seu confronto, tendem a desinteressar-se dos assuntos citados, tendem a desinteressar-se mesmo de qualquer assunto “sério”.

 

O facto de algumas pessoas que se dizem agnósticas serem na verdade ateus, com o temor do confronto que referi, é um sintoma deste problema.

Que se discutam temas sérios! Que se dêem bons argumentos! Que se oiçam e respeitem as diferentes opiniões e perspectivas! Que se confrontem ideias diferentes!

As ideias de todos tendem a subir de nível quando a discussão acontece. 

16 de Julho, 2004 Carlos Esperança

Incêndios devastam Portugal

As sucessivas consagrações de Portugal ao Imaculado Coração de Maria, à Virgem Santíssima, à Senhora de Fátima, ao Divino Espírito Santo e a outros heterónimos da fauna celeste, têm-se revelado inúteis. Depois dos devastadores incêndios de 2003, com duas dezenas de pessoas carbonizadas e a maior área ardida de que há registo num só verão, já arderam este ano 20 mil hectares de floresta.

Ou o prazo de validade das consagrações é curto ou a utilidade nula.

Não sei se é a maldade de Deus ou a incúria dos homens que vai reduzindo o País sistematicamente a cinzas.