28 de Julho, 2004 Carlos Esperança
A ICAR é uma multinacional que vende ilusões
Se um homem vende pomadas que curam o reumatismo, a enxaqueca, a dor de dentes e a prisão de ventre, é aldrabão;
Se uma cigana lê a sina na palma da mão e anuncia uma viagem para longe e um amor por perto, a troco de alguns cêntimos, é intrujona;
Se um merceeiro exalta a qualidade da mercadoria que é fraca, é um vigarista;
Se um taxista se engana no troco, é ladrão;
Se alguém empresta dinheiro a 10% ao mês, é agiota;
Se um indivíduo ouve conversas privadas e se aproveita delas, é malfeitor.
Sempre que alguém, para sobreviver, transgride a lei, arrisca um castigo. Mas há excepções:
Se um indivíduo distribui uma rodela de pão ázimo e diz que contém o corpo de um defunto famoso, é padre e administra a comunhão;
Se explora e devassa a vida íntima de pessoas simples, confessa;
Se diz que cura os pecados da alma e invoca poderes divinos, exerce o múnus;
Se expulsa demónios para ganhar a vida, exorciza;
Se chateia um garoto a mergulhar-lhe a cabeça numa pia de água e lhe recita uma lengalenga, baptiza;
Se faz cruzes com óleo na testa de um cristão, para lhe confirmar a desgraça, é o bispo da diocese.
Se vigariza multidões, certifica milagres, concede alvarás de santo, cria cardeais e bispos, assume que é o representante de um Deus pior que ele, promete destinos turísticos para depois da morte e vende passagens a prestações durante a vida, é o PAPA.