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5 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Começaram as festas religiosas

O mês de Agosto é fértil em procissões, missas, arraiais e sermões. Os emigrantes regressam às origens e agradecem às santas da sua devoção, às vezes, o simples facto de terem sobrevivido à viagem de automóvel.

Foguetes, música e vinho acompanham a devoção e promovem o turismo religioso. A concorrência entre santas é grande mas não faltam devotos para animar a tradição, passear os andores e pagar promessas. Ás vezes o único milagre é o incêndio ateado pelos foguetes.

No Portugal rural, em vias de extinção, as santas que jazem esquecidas nas peanhas um ano inteiro, saem nesta época ao som da banda, acompanhadas de anjinhos, ave-marias e foguetes. As mais prestigiadas levam bombeiros, cavalos e soldados da GNR.

Há santas em todas os lugares. E todas gostam que lhes façam festas no sítio.

3 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

A «Canção Nova» vai ser codificada

Fui informado de que o piedoso canal «Canção Nova», uma estação de devoção católica com sotaque brasileiro, vai ser alvo de codificação a partir de Outubro próximo. É uma injustiça para as pessoas que exultam com a missa, se comovem com a palavra de Jesus e se divertem com as orações. Após as férias, quem quiser uma dose suplementar de religião ao domicílio, paga-a.

Já tinha acontecido o mesmo ao célebre canal 18, de nada valendo as reclamações dos telespectadores. Esperemos que, desta vez, não haja protestos, para evitar decepções.

Apostila – Estou certo de que os ateus, pelo seu espírito de tolerância, nunca se queixaram dos conteúdos fraudulentos da «Canção Nova» nem da influência eventualmente deletéria nas crianças.

3 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

A ICAR e o aborto

O secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da ICAR ameaça promover no próximo mês de Setembro uma Jornadas de reflexão sobre o tema «Dignidade da Vida Humana: Uma visão Global», eufemismo com que disfarça a campanha contra a despenalização do aborto.

Esta ofensiva vem na sequência da Nota Pastoral publicada em Março pela Conferência Episcopal Portuguesa e insere-se na luta ressabiada contra a lei civil que descriminalize o aborto, um tema recorrente dos celibatários que gerem os negócios da ICAR.

A lei vigente persegue as mulheres, devassa-lhes a intimidade, põe-lhes em risco a vida e a liberdade, mas a ICAR desenvolve uma agressiva operação de intimidação e chantagem para manter a iniquidade. Nem os casos vergonhosos dos julgamentos da Maia, Aveiro e Setúbal aquietaram o exército de sotainas, que não desiste de impor os seus preconceitos a toda a clientela e à sociedade em geral.

«Promover a vida é, para a Igreja, uma missão», esclarece a Nota Pastoral, sem explicar a contradição com a promoção da castidade.

Quanto à procuração divina, de que a ICAR se reclama, nunca exibiu o documento comprovativo.

2 de Agosto, 2004 André Esteves

Problemas genéticos no dogma mormon

Um dos dogmas base do livro dos Mormons, é de que as tribos que ocupavam a América do Norte eram descendentes das tribos hebraicas. Deus ter-lhes-ia dado aquela terra. Mais tarde até Cristo ressuscitado os teria visitado.

Claro que a análise textual demonstra que Joseph Smith teria simplesmente utilizado a versão inglesa da King James Bible, e não obtido qualquer inspiração divina para «traduzir» as tábuas de ouro com o texto original. Uma análise textual é sempre uma análise subjectiva e claro que os obrigatórios comentários das maravilhas da fé e do poder do espírito santo, contrariamente aos espíritos malignos e conspiradores dos académicos envolvidos foram reclamados pelos anciões de Salt Lake City.

O problema é que o livro dos mormons faz afirmações objectivas. E a suposta ascendência hebraica das tribos índias da América do Norte é taxativa no livro dos mormons.

Ora, se a fé dos santos dos últimos dias fosse verdadeira, os genes dos índios deveriam indicar a sua clara ligação à tribo de Israel.

Utilizando certas partes do genoma humano, ligadas às características étnicas podemos seguir as ligações de indivíduos a um grupo e das relações entre os grupos de populações. Por exemplo, os tipos de sangue predominantes, os elementos identificativos na superfície das células do nosso corpo perante o sistema imunitário, etc. Analisando a taxa de mutações nessas áreas do genoma podemos reconstruir o passado genético das populações.

Ora pelo estudo genómico, os índios americanos descendem da população asiática original. Algures no seu passado genético, tiveram antepassados que resolveram atravessar o estreito de Bering, a seu custo, em vez de judeus perdidos depositados numa terra prometida, pelas mãos do deus de Israel.

Claro que o Mormonismo não desaparecerá. Qualquer grupo têm a sua inércia reprodutiva e social interna. Os livros de Mormon serão reinterpretados. A interpretação literal desaparecerá.

Onde é que já vimos isto?

Será que os seres humanos não aprendem nunca?

2 de Agosto, 2004 André Esteves

Um Santo Truca-Truca

Um cena bizarra brindou os transeuntes do aeroporto internacional do Malawi.

Uma carrinha, com estores baixados, estacionada no parque de estacionamento do aeroporto parecia ter vida própria, abanando e oscilando como que possuída por um espírito maligno.

Chamada a polícia, esta procedeu à averiguação da situação.

Tossindo e batendo na carrinha, o agente da autoridade pediu aos ocupantes da viatura que se identificassem. Obedientes, os ocupantes identificaram-se enquanto vestiam os seus hábitos…

Um padre e uma freira no santo truca-truca.

O caso foi a tribunal por indecência na via pública. Os arguidos foram condenados a 6 meses de prisão com trabalhos forçados, mas com a sentença comutada por terem mostrado arrependimento…

A freira afirmou, publicamente, que tinha tido um lapso de mau julgamento. O padre afirmou que reconhecia ter caído na tentação do demónio.

Porque é que os machos atiram sempre as culpas para os outros?

A notícia do fait divers [Em inglês]

2 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

Meia década a servir ateus

Em comemoração de meia década de funcionamento, o Ateísmo.net, aderiu às tendências e fez uma plástica. Para além do novo visual, os leitores poderão contibuir com as suas notícias e críticas literárias.

Espero que gostem!

1 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Violência religiosa no Iraque

Pela primeira vez, após a invasão dos EUA, verificou-se neste primeiro domingo de Agosto uma onda de ataques a templos cristãos.

Carros armadilhados explodiram junto de igrejas católicas de Bagdade e Mossul, durante os actos de culto, produzindo pelo menos 14 mortos e vários feridos.

Os crimes perpetrados por bandos de fanáticos muçulmanos merecem o maior repúdio e a mais firme das condenações.

Os ateus, ao manifestarem a sua indignação pelos assassínios, solidarizam-se com as vítimas indefesas que praticavam a sua religião, um direito que as tropas ocupantes tinham obrigação de garantir.

O ateísmo não compreende o ódio que os fanáticos de um deus desenvolvem pelos crentes de um deus concorrente e exigem que o direito de praticar qualquer culto e o de não praticar, sejam defendidas pelo Estado na mais absoluta neutralidade perante a concorrência religiosa.

A ICAR, apesar da benevolência com que tradicionalmente encara as atrocidades perpetradas por católicos contra crentes de outras religiões reagiu com a firmeza que a caracteriza quando as vítimas são católicas.

“É terrível e preocupante porque é a primeira vez que igrejas católicas estão a ser atingidas no Iraque (…) parece estar a haver uma tentativa de intensificar as tensões procurando afectar todos os grupos sociais, incluindo igrejas” – declarou o porta-voz do Vaticano, segundo a SIC online.

A religião é uma epidemia que produz numerosas mortes e profundo sofrimento.

1 de Agosto, 2004 Carlos Esperança

Mais um milagre nacional

Com grande celeridade, capaz de fazer inveja ao sistema judicial português, seguiu para o Tribunal eclesiástico o milagre que a diocese de Leiria e o Vaticano tinham combinado para elevar a santos os pastorinhos de Fátima, Francisco e Jacinta.

O milagre com que se iniciaram no ramo, e que lhes valeu a beatificação, foi obrado na pessoa da D. Emília dos Santos, uma entrevada que começou a andar depois de lhes meter uma cunha com uma oração. Que isto foi verdade confirmaram-no três médicos de Leiria – o Dr. Felizardo Prezado dos Santos, a esposa e a filha de ambos. Como é que o Vaticano podia duvidar de três médicos tão devotos? A D. Emília morreu pouco depois, completamente curada.

Agora os pastorinhos mudaram de ramo. Viraram-se para a área da endocrinologia e curaram um rapaz de quatro anos, filho de pais portugueses emigrados na Suíça, o que torna o milagre ainda mais difícil por ser feito para o estrangeiro, com a dificuldade suplementar de a Suíça não pertencer à comunidade europeia. A criança curou-se de uma doença incurável – diabetes mellitus I.

O padre Kondor, um húngaro naturalizado português, entusiasta de Fátima e promotor dos milagres, explicou que os pais já tinham tentado o milagre junto à campa dos pastorinhos, mas que essa tentativa falhou. Finalmente, quando o Papa beatificou os videntes, «a mãe estava em casa, na Suiça, com a criança em frente da televisão que transmitia em directo a cerimónia de Fátima e pediu de novo».

D. Serafim, responsável pelo bazar dos milagres de Fátima, afirma-se disponível para constituir o tribunal eclesiástico para julgar o processo. O povo português reza para que o bispo da diocese onde reside o menino miraculado não estrague o milagre. O padre Kondor diz que ignora a posição desse bispo, para estimular a ansiedade entre os crentes.

Apostila – A Irmã Lúcia está impedida de patrocinar o milagre por se encontrar viva.

1 de Agosto, 2004 Mariana de Oliveira

JP2, o anti-feminista e anti-homossexual

O papa criticou, ontem, numa carta enviada aos bispos da ICAR, intitulada Carta aos bispos da Igreja Católica sobre a colaboração de homens e mulheres na Igreja e no mundo, o feminismo radical, a luta entre os sexos e a defesa da homossexualidade.

João Paulo II (JP2)começa por criticar «a tendência para sublinhar fortemente a condição de subordinação da mulher, com vista a suscitar uma atitude de contestação», manifestada por alguns grupos norte-americanos que pretendem justificar novas formas de sexualidade. A consequência disto é a seguinte: «a mulher, para ser ela própria, porta-se como rival do homem. Aos abusos do poder, responde com uma estratégia de busca do poder e esse processo conduz a uma rivalidade entre os sexos».

O papa também censura uma outra consequência do feminismo exacerbado: «a ideia de que a libertação da mulher implica uma crítica às Sagradas Escrituras, que veiculariam uma concepção patriarcal de Deus, vista como uma cultura essencialmente machista».

Mantendo a tendência da ICAR dos últimos tempos, JP2 afirma que «isso tem inspirado ideologias que promovem o questionamento da família, por natureza biparental e composta de uma mãe e um pai, colocando num mesmo plano a homossexualidade e heterossexualidade».

No entanto, este documento centra o seu ataque no movimento feminista radical americano liderado por Judith Butler. A carta foi elaborada pela Congregação para a Doutrina da Fé, sucessora do Tribunal do Santo Ofício e chefiada pelo cardeal Joseph Ratzinger, cuja actividade principal é condenar e bloquear qualquer ideia ou teoria que contradiga o Vaticano.

Para lutar contra os movimentos que promovem a luta dos sexos, o papa reitera a necessidade da «presença das mulheres no mundo do trabalho e nas instância da sociedade».

«É necessário que as mulheres tenham acesso a postos de responsabilidade que lhes dêem a possibilidade de inspirarem os políticos e de promoverem soluções novas para os problemas económicos e sociais», refere ainda JP2 no texto.