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4 de Setembro, 2004 pfontela

O Islão «soft»

Todos nós pensávamos que o Irão era uma teocracia conservadora, opressiva que está fechada ao mundo, mas estávamos errados. De facto, de acordo com um grupo islâmico extremista, o governo de Teerão é brando, está em vias de ser colonizado pelos EUA, Grã Bretanha e Israel e, como se isto não fosse suficiente, ainda incentiva à prostituição e ao desvio da única moral correcta, a do Alcorão. E tudo isto porque (horror dos horrores) algumas raparigas usam lenços coloridos. E muitas chegam mesmo à devassidão de usar jóias.

Estes são os mesmos senhores que, quando houve manifestações estudantis, foram vistos a agredir pessoas, mas, como é para defender os «bons costumes», não há problema. Esta é mais uma situação que quase grita a necessidade urgente de uma secularização nos paises islâmicos para que finalmente possam existir liberdade e progresso, para que saiam da idade das trevas em que se encontram mergulhados.

3 de Setembro, 2004 André Esteves

Desatar o nó do luto



A familiaridade vem com a experiência. E a morte não foge a esse padrão.

Infelizmente, as sociedades moldadas pela religião cortejam a morte, esquecendo-se dos vivos. O luto, que não é mais do que aceitar as consequências da morte dos nossos entes queridos tornou-se um fenómeno esquecido e muito subestimado na sua capacidade de criar sofrimento e dor.

José Eduardo Rebelo é ateu e professor na Universidade de Aveiro, no Departamento de Biologia, sendo um investigador internacional na área da ictiologia (estudo de peixes).

Num terrível acidente de viação morreram-lhe esposa e filhas.

No posterior processo de luto, aprendeu o que pôde para lidar com a sua perda, inclusive frequentando um mestrado de psicologia e fundando um grupo de auto-ajuda que evoluiu para uma associação: a Apelo – Apoio da Pessoa em Luto que funciona tanto na Internet, como na região de Aveiro.

Este livro é um esforço pessoal de José Rebelo para resolver um problema: a inexistência de um livro onde se pudesse encontrar informação que permitisse compreender e resolver a evolução do processo de luto. É um guia útil e fonte de informação pessoal para aprender a lidar com os sentimentos de perda que acompanham a morte de um ente querido.

Poderá encontrá-lo na sua livraria, edição da Editorial Notícias.

O número de livro (ISBN) é o 972-46-1536-7.

Publicaremos no futuro uma pequena entrevista com José Eduardo Rebelo, iniciando uma nova série de artigos no Diário de uns Ateus, em que entrevistaremos ateus portugueses com iniciativa e papel social.

3 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Pilotos aviadores procuram protecção da Sr.ª do Loreto

Paulo Marques, em reportagem no Jornal do Fundão, de hoje, dá-nos conta da dívida que a aviação tem para com a Nossa Senhora do Loreto, padroeira universal da aviação, residente em Alcafozes, concelho de Idanha-a-Nova.

Na festa deste ano, estiveram, entre outros, representantes da Força Aérea, – general Moreira, natural do concelho de Idanha e o capelão daquele ramo das forças armadas padre António Oliveira – «num gesto de respeito pela imagem e de pedido de protecção para todos aqueles que enfrentam os céus, desde pilotos, tripulantes e passageiros».

Dos quatro dias de festa, a segunda-feira foi o mais importante «com a realização às 11 horas da missa campal celebrada pelo padre Adelino acompanhado pela guarda de honra da Força Aérea Portuguesa. Seguidamente teve lugar a procissão que foi sobrevoada por quatro aeronaves Alfa Jet da base n.º 11 de Beja» – informa o jornalista do JF.

« No final, como é tradição, foram lançadas milhares de pétalas sobre o andor, havendo também acrobacia aérea e lançamento de foguetes. Seguidamente, rezou-se a prece dos aviadores: (Ó Maria, rainha do céu, gloriosa padroeira da aviação, ergue-se até vós a nossa súplica? Em vós depositamos a nossa confiança? Sabemos a quantos perigos se expõe a nossa vida; velai por nós?)». O general Moreira, mostrou-se satisfeito com a festa: «a Força Aérea tem muito prazer em estar aqui e penso que continuará a honrar esta tradição», disse ao JF, salientando que a instituição faz-se representar há alguns anos a esta parte, desde os anos 50, pois pede protecção à virgem do Loreto.

Comentário: Com a Marinha de Guerra no alto mar, em defesa da moral e dos bons costumes, e a Aviação destacada para Alcafozes, a atirar pétalas ao andor da Sr.ª do Loreto, o casto ministro da Defesa vai percorrendo o caminho da beatificação, enquanto Portugal fica à mercê de contrabandistas e traficantes da droga. Mas, a alma está primeiro.

2 de Setembro, 2004 Palmira Silva

Pedofilia: Falência da ICAR nos US?

Mais de uma dúzia de arquidioceses americanas consideram a declaração de falência na sequência de milhares de acusações de pedofilia perpetrada por padres e outros eclesiásticos da ICAR. Na realidade, um estudo realizado pelo John Jay College of Criminal Justice, em Nova Iorque, indica que pelo menos 4% dos padres em funções no período compreendido entre 1950 e 2002 foram acusados de abuso sexual de menores.

Em 1997 a arquidiocese de Dallas tinha ameaçado declarar falência na sequência de julgamentos em casos análogos. As vítimas deveriam receber 119 milhões de dólares mas, para evitar a falência dessa delegação da ICAR, contentaram-se com pouco mais de um sexto do valor estipulado pelos tribunais: 23 milhões de dólares.

A arquidiocese de Boston já tinha considerado o recurso à falência antes de decidir pagar 85 milhões de dólares às vítimas.

Menos sorte teve a delegação da ICAR em Portland, Oregão, que, para evitar ir a um julgamento com consequências desastrosas e sem hipótese de aligeiramento do montante a pagar, invocou há pouco mais de um mês o capítulo 11 da lei da falência americana. A arquidiocese de Tucson, Arizona, anunciou em Junho passado que está a considerar invocar o mesmo artigo para evitar o julgamento marcado para este mês e as previstas muito pesadas indemnizações. Mais uma falência ou uma tentativa de emular o que aconteceu em Dallas?

A arquidiocese de Los Angeles enfrenta processos que no total correspondem a um bilião e meio (americanos) de dólares de indemnizações. Outra falência à vista? Ou outra chantagem?

Sobre a invocação do capítulo 11 como fuga para a frente da ICAR ler:
The Risk of Bad-Faith and Noncooperative Church Bankruptcies
What happens when a church goes bankrupt?
Bankruptcy seen as dioceses’ shelter
Artigo de capa do periódico católico OSV: Should Boston go bust?
Q&A: Archdiocese bankruptcy

2 de Setembro, 2004 Palmira Silva

Notícias de África

Bébés concebidos por milagre

O evangélico Gilbert Deya, que dirije uma igreja londrina com ramificações em África, especializada em concepções miraculosas, foi acusado de tráfico de crianças quenianas. Quando da prisão as autoridades recuperaram 21 crianças, algumas com apenas algumas semanas. Os bébés produzidos através do milagre da oração vão agora ser sujeitos a testes de ADN.



Genocídio no Ruanda


Começa finalmente em Setembro o julgamento do padre católico Athanase Seromba no International Criminal Tribunal for Rwanda (ICTR) em Arusha, Tanzânia. O padre Seromba é um dos membros da ICAR envolvidos no genocídio que ocorreu há 10 anos no Ruanda. Genocídio de quasi um milhão de Tutsis e hutus moderados conduzido sob o olhar indiferente e muitas vezes colaborante da ICAR. O padre é acusado de ter promovido o assassínio de milhares de Tutsis que se tinham refugiado na sua igreja de Nyange, onde os trancou. A igreja foi depois arrasada por bulldozers com os refugiados lá dentro.

Duas freiras foram condenadas em 2001, por um tribunal belga, a 15 e 12 anos de prisão, Gertrude Mukangango e Maria Kisito, pelo seu envolvimento no massacre de 7000 Tutsis que se tinham refugiado no convento Sovu em Butare, no sul da Ruanda. Não obstante os protestos do Vaticano. O Papa João Paulo II, como precaução, escreveu uma carta em 1996 em que afirma que a Igreja não pode ser responsável pelo comportamento de alguns dos seus membros.

Membros como os padres Hormisdas Nsengimana, reitor do colégio Christ-Roi em Butare, e Emmanuel Rukundo, capelão do exército ruandês, ambos à espera de julgamento por crimes de genocídio.

Carta da African Rights ao Papa João Paulo II em relação ao envolvimento de eclesiásticos da ICAR no genocídio de 1994.

1 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

A religião e os interesses nacionais

Como várias vezes foi aqui referido no Diário de uns Ateus, a obsessão do Papa JP2 por uma Croácia católica precipitou a desintegração da Jugoslávia e provocou a imensa catástrofe que se conhece.

Os interesses da Alemanha e do Vaticano conjugaram-se para fazer da Croácia, país que foram os primeiros a reconhecer, a brecha por onde emergiram as rivalidades étnicas, se acicataram os ódios religiosos e despontou o caos.

Helmut Kohl, europeísta convicto que aprecio, e João Paulo II, sem qualquer razão para admirar ou respeitar, foram os principais responsáveis pela maior tragédia europeia depois da guerra de 1939/45.

No julgamento a que está a ser submetido no Tribunal Penal Internacional, Slobodan Milosevic, criminoso de guerra que foi Presidente da Sérvia, eleito democraticamente (ao contrário do Papa), acusou o Vaticano e a Alemanha de terem formado uma «união perfeita» para destruírem os Balcãs e o Vaticano de querer «destruir a Sérvia para assegurar a sua expansão em direcção ao Leste». (1)

Independentemente dos crimes de que é acusado, e pelos quais responde, as suas acusações não são calúnias de um vencido, são verdades que a história corrobora. Infelizmente só os criminosos caídos em desgraça são julgados. Os outros dizem missas, fabricam santos, vendem indulgências, intrigam e corrompem ou gozam a reforma.

Apostila – (1) As negociatas em torno do ícone de Kazan revelam o proselitismo que devora o Papa. A devolução à igreja ortodoxa russa da imagem extorquida, tem sido acompanhada de forte movimentação diplomática do Vaticano para permitir a JP2 a realização de um comício na Rússia. O desejo tem-lhe sido sistematicamente recusado, por questões de defesa do mercado da fé cujo monopólio a Igreja ortodoxa pretende assegurar, à semelhança da sua concorrente ICAR nas regiões onde domina.

1 de Setembro, 2004 André Esteves

Cristo na Índia

Confesso que gosto de investigar o lado estranho das coisas. Encontramos nas franjas da nossa visão do universo as incoerências dessa mesma visão. E surge aí a oportunidade para a descoberta. Sou um leitor regular do «Fortean Times». A sua regularidade e qualidade das exposições são um ponto de referência.

Charles Fort era um jornalista inglês, do século XIX, que dedicou a sua vida a investigar todo o género de fenómenos estranhos que escapavam à visão contemporânea das coisas. Fantasmas, monstros, fenómenos meteorológicos estranhos, extra-terrestres, todos os mitos do nosso presente foram por ele acompanhados, quando ainda nem sequer havia arquétipos para essas «histórias».

Apesar de ser um utilisador do método científico e amante do rigor dos factos, sempre foi um grande crítico da prática corrente da ciência, por querer ignorar os fenómenos que mais se afastavam das abstracções dos académicos (que também temos de compreender, em retrospectiva, primeiro precisamos de bases sólidas antes de investigar o resto da realidade).

Um renegado numa época positivista. Por isso, hoje, ele têm a minha atenção.

Encontra-se neste momento no site do Fortean Times, um artigo deveras interessante:

Terá Cristo estado na Índia? [Inglês]

Algures, na Caxemira em guerra, existe um edifício deveras singular: o lugar onde talvez esteja enterrado Jesus Cristo…

1 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Secretaria de Estado do Turismo

O secretário de Estado deslocado para o Algarve elegeu como primeiro acto oficial uma visita ao bispo de Faro.

Desconhece-se se o beija-mão de Carlos Martins se insere num gesto de subserviência à Igreja ou integra o programa de Governo para o sector do Turismo.

Não foi o bispo que visitou o governante, mas o contrário, num acto que envergonha a República e compromete o carácter laico do Estado. Parece importar mais ao ajudante do ministro Telmo Correia a salvação da alma do que a defesa dos interesses de um sector vital para a economia nacional.

31 de Agosto, 2004 André Esteves

Obrigado

Pedimos as vossas sugestões e críticas.

A todos, obrigado.