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14 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Beato J. César das Neves

Sob o título «Manipulação de massas», na sua habitual coluna no Diário de Notícias, João César das Neves (JCN) voltou ontem ao tema do aborto, com a sanha do talibã católico, com as repetidas imagens do assassínio de bebés, para definir a interrupção voluntária da gravidez (IVG).

Na sua homilia (site indisponível), coloca-se no papel de vítima, de quem é acusado de «extremista e fanático», por se opor à despenalização do aborto e lamuria-se também de serem assim tratados os que, no passado, «se opuseram à escravatura, à pena de morte e à discriminação da mulher».

A sua posição, a favor da condenação e prisão das mulheres que recorram à IVG, é respeitável, mas é intelectualmente desonesto que misture IVG, escravatura, pena de morte e discriminação da mulher, porque a ICAR e os seus sequazes, que tanto gostam de condenar mulheres na sequência do aborto, foram normalmente, no passado, os que se opuseram à abolição da escravatura e da pena de morte e são, ainda hoje, os que mais discriminam a mulher.

Basta ver como a ICAR impede o acesso das mulheres ao sacerdócio para exigir a JCN um pouco mais de pudor.

14 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Funerais civis

Vital Moreira, um dos mais lúcidos intelectuais portugueses, escreve no blogue Causa Nossa que «se as exéquias religiosas fazem parte da liberdade religiosa dos crentes, em contrapartida os não crentes têm direito a exéquias não religiosas em espaços civis. O exemplo francês, onde existem serviços públicos funerários a cargo dos municípios, ilustra um exemplo de civilidade laica, onde os não crentes não têm de recorrer forçadamente às capelas funerárias das igrejas e à liberal generosidade da igreja católica (aliás, louvável), como sucede entre nós».

Eis uma advertência à República portuguesa que não encontrou ainda forma de respeitar os não crentes.

14 de Setembro, 2004 André Esteves

Sta Maria e a Capital Nacional da Cultura 2005

De dois blogs de ateus conhecidos (obrigada, O vento lá fora e Lâmpada Mágica ) chega-nos a notícia da escolha da imagem da Santa Maria, para símbolo da Capital Nacional da Cultura, Faro 2005.

Esquecendo a questão da utilização de figuras religiosas, por parte de acontecimentos organizados e financiados pelo estado (Uma questão de laicidade), creio que a Câmara de Faro escolheu mal. É uma imagem datada e que não diz nada aos potenciais frequentadores dos eventos do Faro 2005 – Capital Nacional da Cultura.

O Algarve, antigamente um lugar recôndito e esquecido, graças aos esforços de Câmaras como a de Faro, transformou-se numa região desenvolvida. É certo que os tempos áureos do turismo já lá vão… Mas a criatividade e incentivo autárquico têm contribuído para a manutenção e crescimento, além do período estival, do turismo no Algarve.

Podemos ver a profusão de bares, discotecas, clubes de strip, lutas de mulheres nuas na lama e na geleia, bem como a contínua luta pela limpeza das praias de dejectos plásticos pequenos e a recepção de braços abertos a tantas emigrantes que se constata por todo o Algarve.

Estranho assim, que os responsáveis por este pequeno milagre económico não tenham escolhido um símbolo a condizer com os tempos de que foram parteiros, e que também fosse facilmente percebido pela multidão de algarvios e de turistas a quem a Capital da Cultura é dirigida.

Apresento assim, à vossa esquerda, e procurando um compromisso, uma singela sugestão ao público, (mantendo a escolha autárquica, mas respeitando os tempos que correm no Algarve). Se a escolha não satisfizer às autoridades, a empresa que fornece estes santos objectos, também oferece outras alternativas…

14 de Setembro, 2004 André Esteves

O teste do balão não engana!!!

Da Croácia chega-nos a notícia de que irá ser implementada, na condução de automóveis, a tolerância zero aos níveis de álcool no sangue do condutor. Para quem conhece os hábitos alcoólicos dos países balcânicos, não é nada de estranhar (e sinceramente.. depois da última guerra, a mais estúpida e irracional da Europa, têm razões para beber…)

Imaginem a quem é que não agradou a medida! – à classe eclesiástica católica.

Dizem os padres croatas, que não é justa a medida de tolerância zero, porque ao domingo muitas vezes andam afectados. Com efeito, muitos padres têm que se deslocar entre várias celebrações da eucaristia e o sangue do Cristo sobe à cabeça.

De modo que pedem compensações monetárias por irem ser incomodados!

Do que os padres croatas não se lembraram é que com tanta esperteza saloia e mesquinhice, acabaram por se ridicularizar e destruir as suas próprias crenças. Alguém ainda se lembra, do dogma católico, que o pão e o vinho (hóstia) se transformavam no corpo de Cristo para lavar do crente os seus pecados?

Afinal, o teste do balão não engana!!!

A notícia [Inglês]

13 de Setembro, 2004 André Esteves

Cover-up pedófilo pelo cardeal Sodano?

Sete padres americanos fugidos das suas paróquias, foram descobertos pelo jornal Dallas News a trabalhar e a oficiar em Roma. Pelo menos dois deles, foram reclamados de volta pelos seus bispos para serem investigados pela polícia americana. O pedido realizado ao Cardeal Sodano, prior da Opus Dei e número dois do Vaticano foi ignorado, tendo as cartas com o pedido, sido remetidas de volta com o carimbo »Devolver ao remetente».

Claro que devemos presumir uma certa inocência do bom cardeal. Um homem cujo magistério na Opus Dei exige a excelência no trabalho! Muitas cartas perdem-se.

No máximo, ele deverá ser da mesma opinião de D. Marcelino, bispo de Aveiro, veiculada numa entrevista há uns meses no jornal Diário de Aveiro, de que o problema pedófilo na ICAR americana, não passava de uma conspiração dos judeus através dos jornais…

A notícia [Inglês]

13 de Setembro, 2004 Ricardo Alves

É grave

O Carlos Esperança publicou há tempos um texto em que referia a atitude complacente (senão de encobrimento activo) da ICAR perante os casos de abuso sexual de menores em que estão implicados padres. Não faltaram os católicos, visitas habituais das caixas de comentários, que protestaram. Referi na altura que existia um documento secreto do Santo Ofício exigindo o segredo absoluto nestes casos. Puseram em dúvida a existência de tal documento. Está aqui.

Lido o documento, fica claro que a ICAR entende que o abuso sexual cometido por um sacerdote (sobre menores ou não) não deve ser denunciado às autoridades civis. Deve apenas ser tratado internamente, e no maior secretismo. Efectivamente, tais casos são considerados «segredos do Santo Ofício» que não podem ser revelados sob pena de excomunhão (parágrafo 11). Os defensores, juízes e testemunhas do processo fazem um juramento que os obriga ao silêncio absoluto sobre o processo excepto se o Santo Ofício ou o Sumo Pontífice os desobrigarem (Anexo). Além disso, as denúncias devem ser efectuadas até um mês após o abuso sexual (parágrafos 15 a 19) e os documentos do processo devem ser destruídos se o tribunal do Santo Ofício concluir que a acusação é falsa (parágrafo 42). O juiz do Santo Ofício deve exortar o acusado à confissão, mas não o pode comprometer a dizer a verdade por intermédio de um juramento (parágrafo 52)!

Tudo isto é muito grave, mas esclarece porque a ICAR se tem revelado incapaz de punir padres pedófilos. O entendimento é claramente o de que a lei canónica (a de «Deus» via ICAR) está acima das leis civis. Um padre que saiba de um colega que abusa sexualmente de menores é encorajado a nada revelar à polícia, e se tomar parte no processo fica mesmo sujeito à pena de excomunhão se falar. O prazo (ridiculamente curto) de um mês para a realização de uma denúncia protege igualmente os padres contra crianças abusadas que habitualmente só no final da adolescência ganham coragem para denunciar estas situações.

A ICAR tem colégios e instituições de solidariedade social protegidas e financiadas pelo Estado. As famílias que lá colocam as suas crianças deveriam ser informadas do «código deontológico» interno da ICAR. E o facto de a Concordata estipular que os padres podem legalmente não revelar os crimes de que tomem conhecimento durante a confissão (artigo 5º da nova Concordata) é particularmente grave à luz destes factos.

13 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Funeral de Estado

A reportagem do Expresso sobre o funeral do ilustre cidadão Dr. Nunes de Almeida, presidente do Tribunal Constitucional (TC) e, nessa condição, a quarta figura do Estado, levanta muitas dúvidas e alguma perplexidade:

– Em primeiro lugar, ser considerado pelo Presidente da República o local apropriado para um funeral de Estado, a que o defunto tinha direito, um templo católico e, no caso, a Basílica da Estrela;

– O facto de a referida basílica ser propriedade da Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR), donde se pode concluir que o Estado, para prestar as honras devidas, não tem casa própria;

– A possibilidade de ser dificultada ou impedida a realização de cerimónias maçónicas para cumprimento do desejo manifestamente expresso pelo defunto;

– Poder o Patriarca impedir o elogio póstumo, a fazer pelo vice-presidente do TC, como solicitado pela família, inclusive na área da capela mortuária;

– A proibição do enterro católico, como retaliação da cerimónia maçónica.

Em meu entender, a proibição do enterro católico não podia ser o efeito da retaliação do Patriarca pela cerimónia maçónica, mas um acto de respeito por quem, seguramente, se não revia na religião proprietária do templo.

O cidadão Nunes de Almeida não foi poupado à leitura de uma passagem do Evangelho pelo padre Melícias, de quem era amigo, nem a um «pai-nosso», mas livrou-se da missa, de que não era frequentador, e da «encomendação da alma».

Pela minha parte não se livra do respeito e consideração que lhe devoto pelo que a democracia e a jurisprudência constitucional ficam a dever-lhe. Preocupa-me, todavia, a promiscuidade entre o Estado e a ICAR trinta anos depois de Abril. A República não encontra o tom certo para um país laico.

12 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Notas piedosas

Reguengos de Monsaraz – A devoção autóctone atingiu o êxtase com o abate de um touro preso ao muro da arena, um acto de diversão em honra do Nosso Senhor Jesus dos Passos, patrono das festas religiosas que conduziram à imolação do animal. Em Roma largavam-se feras contra os cristãos – diz a lenda – hoje largam-se cristãos contra as feras, como se vê.

Igreja Ortodoxa – O patriarca grego de Alexandria e de toda a África, Pétros VII, morreu ontem no mar Egeu onde se despenhou o helicóptero em que viajava com outras 16 pessoas. Ou o helicóptero estava benzido e foi inútil ou não estava e foi incúria. Eis um caso típico de acidente onde não se sabe se as pessoas vão para ao céu, mas há a certeza de que caíram do céu.

ICAR – Na sequência da evocação do acto terrorista de 11 de Setembro de 2001, JP2 recebeu bispos americanos a quem informou de que rezava pelo fim do terrorismo. Se o Papa tem provas da eficácia da oração deve aumentar a frequência, duração e intensidade das rezas. Se não tem provas deve abster-se de intrujar os crédulos.

12 de Setembro, 2004 Carlos Esperança

Bispos e liberdade

Um artigo recente da Mariana Pereira da Costa refere os ataques do arcebispo de Pamplona, D. Fernando Sebastián, ao processo de laicização em curso, em Espanha.

O dever cívico e político de conceder a cada espanhol o direito de ter qualquer religião ou de não ter, provoca o azedume do arcebispo que duvida da modernidade da laicidade. A atitude não mereceria atenção se o arcebispo Fernando Sebastián fosse um mero epifenómeno de uma Igreja convertida à democracia, mas, desgraçadamente, é um bispo típico da ICAR espanhola, que apoiou com entusiasmo o franquismo e os seus crimes e não se resigna à perda de privilégios.

Afirmar que «a legislação deve conter referências a Deus e à lei divina» é um desafio ao Estado, que legitimamente devia exigir à «lei divina» referências aos direitos do Homem. Mas a «lei divina» ignora a liberdade e os seus intérpretes odeiam-na.

A tolerância não é apanágio de nenhuma religião, nem os livros sagrados (Tora, Bíblia, Corão) consentem o pluralismo, aceitam os direitos do Homem ou permitem o livre pensamento. Não se encontra em qualquer deles a mínima referência ou, sequer, complacência para com a liberdade ou o exercício de quaisquer direitos cívicos. A igualdade entre o homem e a mulher, o direito de voto, a liberdade de renunciar a uma religião para aderir a outra ou de se libertar da fé, são direitos que não se adquirem com a ajuda das religiões mas contra elas.

A democracia é a forma de Governo conseguida a partir da separação da Igreja e do Estado, execrada por clérigos de todas as religiões, abominada pelos papas, odiada por crentes, combatidas pelos que exigem sobrepor a vontade de Deus à dos homens. Nenhum livro sagrado expurgou os interditos que envergonham as sociedades modernas e tornam os homens e as mulheres infelizes. Malditos livros.