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7 de Outubro, 2004 Mariana de Oliveira

Pobre Universidade Católica

O Reitor da Universidade Católica Portuguesa, Manuel Braga da Cruz, ontem, durante a sua tomada de posse, queixou-se da falta de apoios por parte do Estado.

«Retiraram-nos apoios financeiros, tentaram dividir-nos geograficamente, quiseram eliminar a nossa liberdade e autonomia, pretenderam impedir-nos de prosseguir com algumas actividades, como aconteceu com o prestigiado centro de sondagens, passamos a ser o país da Europa onde o Estado menos apoia as universidades católicas, de acordo com um estudo recentemente elaborado pela Federação Europeia das Universidades Católicas. E tudo isto, apesar de ninguém ser capaz de negar os relevantes serviços prestados ao país, a excelência do ensino que praticamos», lamentou.

A Universidade Católica é uma universidade privada e, como tal, retira o seu financiamento das propinas que os seus alunos pagam… porque escolheram aquela instituição privada para prosseguirem os seus estudos superiores, tendo possibilidades económicas para o fazerem. Para além disso, o Estado tem vindo a cortar no financiamento das suas próprias instituições de ensino, obrigando-as a aumentar as propinas, a cortar na acção social escolar e a abortar quaisquer possibilidades de melhoria quer das suas instalações quer mesmo do seu corpo docente. Ora, se não há fundos para sustentar o ensino superior público (esse sim tendencialmente gratuito) porque é que a Universidade Católica se arroga do direito de estender a mão quando tem «clientes» mais do que suficientes para a sustentarem Porque é que não recorre à ICAR e às suas múltiplas organizações para pedir financiamento? Porque é que o Estado laico deverá dar preferência àquela instituição em detrimento das outras?

7 de Outubro, 2004 jvasco

Xiitas vs Sunitas

A violência que o fundamentalismo Islâmico provoca não incide apenas sobre os crentes de outras religiões, ou sobre os ateus e agnósticos.

Mesmo entre os próprios crentes em Alá existe terror e sangue devido a diferentes interpretações do Corão.

Atentem nesta notícia do público, segundo a qual um atentado Xiita no Paquistão matou 39 Sunitas.

6 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

O cristianismo odeia a ciência

Nos EUA alguns estados conseguiram a proibição do ensino da teoria da evolução se, ao mesmo tempo, não for ensinado o criacionismo bíblico. E o movimento criacionista alastra como mancha de óleo a conspurcar o tecido científico de um país que tem uma constituição laica. Nas escolas do Estado do Kansas já desapareceram todas as referências às teorias de Darwin e do Big Bang. A lepra do obscurantismo já atravessou o Atlântico e contaminou a Europa. A ministra da Educação da Sérvia ordenou que o ensino da teoria da evolução só pode ser abordada se, entretanto, for descrita a história da vida segundo a bíblia. Esta orientação alargada à geografia só permitirá ensinar o movimento de translação da Terra se, ao mesmo tempo for abordada a deslocação do Sol à volta da Terra.

Alguém vê um bispo a condenar a ignóbil decisão desses beatos analfabetos, o Papa a execrar tal cabotinismo, a Cúria romana a manifestar-se contra a infâmia?

Os milagres fabricados pelo Vaticano são pueris. Constituem um ultraje à inteligência, um recurso à mentira e à superstição, uma vergonha para a humanidade e o ridículo para os fiéis. Já algum dignitário se mostrou constrangido, algum clérigo reclamou, um só crente se atreveu a desmascarar a trapaça?

A fé é incompatível com a ciência mas escusava de ser tão avessa à verdade.

Já se fazem milagres pela televisão, tal como se transmitem bênçãos apostólicas, se apela ao óbolo que alimenta a indústria da fé, a troco da bem-aventurança eterna que se promete pela mesma via. Lenta e seguramente resvalamos para o obscurantismo mais torpe conduzidos pelo clero mais ignaro e o beatério mais lorpa, através dos mais avançados meios de comunicação.

Não é uma nova Renascença que chega, é a Idade Média que regressa. Sob os escombros do Vaticano II a ICAR traz de volta o concílio de Trento. O obscurantismo deixou e ser monopólio do islão e do judaísmo ortodoxo e voltou a ser um objectivo do cristianismo.

Quando julgávamos Deus um mero objecto de estudos mitológicos e de adorações residuais, eis que aparece o cadáver a agredir a pituitária das pessoas de mente sã. Da lixeira da história, de entre os resíduos tóxicos, foi exumado por sicários para ser exibido nas escolas, mostrado nas universidades e servir de ameaça à investigação e à ciência. Deus nunca foi uma farol que iluminasse o progresso mas espero que, mesmo agora, não passe do fogo-fátuo de um corpo putrefacto enquanto o mundo gira e avança indiferente ao cheiro.

5 de Outubro, 2004 jvasco

A Ciência avança

É com diferentes passos, uns maiores, outros menores, que a Ciência avança de dia para dia.

Alguns são reconhecidos e recompensados.

A sociedade só tem a ganhar em ser grata para quem investe o seu esforço e criatividade em prol da Ciência.

Com todos os aspectos questionáveis que podem ser levantados, ainda bem que anualmente os prémios Nobel, tal como outras iniciativas do tipo, vão reconhecendo alguns cientistas.

5 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

Viva a República

Viva o 5 de Outubro

Fizeram mais pela liberdade os homens, num só dia, do que Deus desde sempre.
4 de Outubro, 2004 jvasco

O Corão anotado do Céptico

Já tive várias oportunidades de fazer neste espaço alguma publicidade à Bíblia anotada do Céptico: um excelente trabalho que mostra toda a Bíblia com as suas contradições doutrinais, narrativas e históricas, as suas contradições com os valores politicamente correctos, o seu sexismo e homofobia, as suas falsas profecias, etc… A página em questão está muito bem organizada, e vai sendo enriquecida com o tempo, pelo que vale a pena ir espreitando de vez em quando.

Foi por isso mesmo, aliás, que descobri uma excelente adição: o Corão anotado do Céptico. Ainda não está tão completo como a Bíblia anotada do céptico, mas já proporciona argumentos suficientes para demonstrar que este «livro sagrado» também está repleto de erros, contradições, incoerências, sexismo, homofobia e valores anacrónicos.

4 de Outubro, 2004 Ricardo Alves

Comemorar a implantação da República, amanhã

Amanhã, celebrar-se-á o nonagésimo quarto aniversário da Revolução de 5 de Outubro de 1910.

Não faltam alguns, mesmo muito à esquerda, achando que nada haverá a comemorar de uma data que resumem ao fim da monarquia, e que responsabilizam (erradamente) pela ditadura de 1926 e até por uma lendária «perseguição à Igreja Católica». Enganam-se.

1) A República não «perseguiu» a ICAR, a menos que se considere perseguição o ter retirado aos padres o estatuto de funcionários públicos (embora concedendo-lhes pensões generosas), o retirar o ensino da religião do ensino público (que hoje deveria voltar a decretar-se…), instituir o registo civil obrigatório e o divórcio (que destruíram tanto a «família» como o casamento de homossexuais o fará), a abolição dos juramentos religiosos ou a liberdade de consciência e de culto para todos e não apenas para os católicos.

Algumas medidas dos primeiros governos republicanos (como a expulsão dos Jesuítas) poderão parecer, hoje, excessivas (e sê-lo-iam hoje). No entanto, à época a ICAR era bem diferente do que é actualmente. Era ainda a ICAR ultramontana que recusava quer a República, quer a Democracia, quer a Laicidade. E que esteve na oposição activa à República. A ICAR só viria a mudar (e relativamente…) com o Concílio Vaticano 2º.

2) A obra da 1ª República, muito dificultada por uma oposição violenta de monárquicos e católicos que nunca deixaram o regime estabilizar-se, foi também muito mais de enaltecer do que aquilo que os manuais do Estado Novo diziam (e que hoje é repetido acriticamente por muitos!): a fundação de universidades (como o IST); a reorganização da actividade colonial; o direito à greve; o equilíbrio das contas (Afonso Costa conseguiu quase sempre orçamentos superavitários até à guerra). Pergunta o leitor mais desconfiado: então a República caiu porquê? Em boa verdade, a partir de 1918 quase todos os regimes democráticos da Europa foram ameaçados ou caíram, geralmente às mãos daqueles a que hoje chamamos fascistas, e que na ibéria se apoiaram muito claramente na ICAR.

Poucos dias depois de um Parlamento democrático ter aprovado uma Concordata com a ICAR, e porque, portanto, faz todo o sentido continuar o combate dos republicanos de 1910, nós, os que não partilhamos a visão salazarista/católica da Revolução de 1910, pensamos que faz todo o sentido comemorarmos a República.

A Associação República e Laicidade estará presente, às 10 horas e trinta minutos, junto à estátua de António José de Almeida, e posteriormente na deslocação aos túmulos dos caídos na implantação da República e num almoço no Centro Republicano Almirante Reis, às 13 horas e trinta minutos.

3 de Outubro, 2004 André Esteves

Planeta dos cristãos

Às vezes tenho pesadelos que este seja o futuro que nos espera.

3 de Outubro, 2004 Carlos Esperança

A azia do bispo Marcelino

D. António Baltasar Marcelino, bispo de Aveiro, suspeito de ser progressista, boato que lhe valeu a animosidade dos crentes mais reaccionários e influentes da diocese da Guarda, que o vetaram quando da sua alegada indigitação, vem revelando nas páginas do Primeiro de Janeiro um proselitismo incompatível com a sociedade plural que só a separação da Igreja e do Estado garantem.

No artigo de 3 de Outubro, sob o título «Afinal, Estado Laico significa portas abertas ao laicismo?», D. António, após algumas diatribes contra os parlamentares portugueses, direito que um Estado laico lhe consente – e bem -, mas que sua Ex.a Rev.ma não estimaria contra a Conferência Episcopal, manifesta uma enorme animosidade às leis que se afastam da visão clerical.

O Sr. Bispo devia lembrar-se da tragédia portuguesa, igual à de tantos países, sempre que o trono e o altar deram as mãos; ter presente o meio século de ditadura que a ICAR caucionou, com tão poucas e honrosas excepções; recordar o combate sem tréguas que moveu à lei da separação da Igreja e do Estado e à do Registo Civil Obrigatório, leis que anunciaram o dealbar da modernidade protagonizada pela República; repudiar a patética oposição ao ministro Salgado Zenha quando este legalizou o divórcio de cônjuges casados canonicamente; e, sobretudo, olhar para o exemplo actual das teocracias muçulmanas com o seu cortejo de horrores a lembrar a Idade Média onde o cristianismo fomentou as Cruzadas e a Inquisição.

É, pois, com perplexidade que vejo o bispo condecorado com a Grã Cruz da Ordem de Mérito, outorgada quando da celebração das suas bodas de prata episcopais, a indignar-se com a liberdade de imprensa que critica leis porque «não são tão laicas como deviam ser, não estão em sintonia com as leis dos países mais avançados da Europa». Quando condena as leis por serem «dissonantes da nossa cultura e tradição e, por isso mesmo, dos interesses nacionais», o Sr. Bispo esquece a tradição autoritária e repressiva da matriz católica que lhe serve de paradigma. Felizmente rompemos com a tradição, ainda que isso custe à Igreja católica e cause azedume aos seus bispos. Finalmente quando afirma que «O laicismo tem-se infiltrado nas mentalidades e traz no seu bojo o complexo do medo, que o torna, progressivamente, atrevido, agressivo e pouco racional», não estará a referir-se ao clericalismo que na véspera conseguiu uma vitória indecorosa com a aprovação da Concordata? Os privilégios deviam fazer corar de vergonha a Igreja e de remorso os deputados que a aprovaram de joelhos e mãos postas, com despudorado desprezo por ateus, agnósticos e crentes de outras religiões cujos direitos são iguais numa sociedade democrática.

Afinal as portas abertas ao laicismo deixam entrar e respirar a democracia e as portas escancaradas aos Estados confessionais transformam os cidadão em bandos de beatos e assassinos, como o exemplo dos países islâmicos tragicamente ilustra.